Análise Temática
Pequena História da Linguística, Harold Robins.
Capítulo 8: A Linguística do Século Atual.

ROBINS, R.H. A linguística do século atual. In: Pequena história da linguística. Editora ao livro tecnico, Tradução: Prof. Luiz Martins Monteiro de Barros.

O capítulo aborda de foma valorativa o estudo diacrônico (histórico) da formação da linguística no século XX. Há uma definição de três linhas de estudo:
a) Pesquisa Gramatical: desenvolvida pelos europeus; b) Valorização do saber linguístico hindu: fonética e fonologia; e c) Identificação da Ciência Linguística: comparativismo, evolucionismo, positivismo; ciência histórica. Há mudanças no estudo histórico. Pessoas e obras nos são mais familiares, entretando é mais difícil estabelecer uma ótica panorâmica, com isso, obras de autores que não detêm devida atenção de seus sucessores perdem valor e são esquecidas. Todavia, hoje, há muito mais cientistas da linguística por conta da vasta valorização do seu estudo nas universidades. Existe um contraste evidente entre duas formas de estudo da linguística: Descritiva (sincrônica) e Histórica (diacrônica). A primeira é bastante utilizada no século atual. Temos como maior representante das mudanças na linguística, entre os séculos XIX e XX, Saussure que, embora não tenha escrito muito, seus discípulos se encarregaram de apresentar suas ideias. É perceptível uma relação entre os estudos de Humboldt e Saussure, porém não se sabe até que ponto há interferência das ideias do segundo sobre os estudos do primeiro. Os estudos de Saussure foram mais valorizados que os de Humboldt devido à forma de análise usada (sincrônica) que não foi muito aceita na época de Humboldt. Podemos elencar algumas importantes contribuições de Saussure para a linguística: ele formalizou e definiu as dimensões exatas dos estudos sincrônico e diacrônico; distinguiu claramente a langue da parole (a primeira é o léxico, a gramática ? fonética, fonologia, morfologia, sintaxe ? que é inalterável e à qual ele atribui maior importância. A segunda é a oralidade, os "dados imediatamente acessíveis ao observador"; valorização da langue com ampliação de suas dimensões, caracterização de seus compostos como sendo interrelacionados, não objetos autônomos, que se manifestam em dois eixos: sintagmático ? ordenação sequencial ? e paradigmático ? associação de elementos contrastivos ?. Princípio saussuriano: a linguística estuda a língua e somente ela, considerada em si mesma e por si mesma. Relatos apontam a existência de um extremista saussuriano cujos estudos enfatizaram a dicotomia "substância vs. forma", estudando gramática e a fonologia (expressão escrita e oral) utilizando o princípio de que não deve haver influências de quaisquer critérios extralinguísticos (de outras disciplinas), bastando o estudo das relações entre seus próprios elementos. A isto deu-se o nome de "autonomia linguística saussuriana". Ainda sobre Saussure, é sabido que foi feito um estudo estrutural do significado (semântica), mas foi no campo da fonética que ganhou destaque. Na Inglaterra, são objetos de estudo a fonética e as atividades a ela relacionadas. William Jones interessou-se intensamente pelos estudos deste assunto e estabeleceu diferenças entre letra e som numa análise que era muito voltada para a valorização da grafia oriental em detrimento do inglês, seu idioma nativo. Até o final do século XIX há o surgimento de diversos trabalhos escritos no campo da gramática, com atribuições diferenciadas das letras, fonemas, distinções vocálicas e consonantais além de uma definição mais concreta do alfabeto fonético internacional. A família Bell, nos Estados Unidos, tem interesse pela fonética e pela (re)produção da fala. Alexander Graham Bell é conhecido por ter inventado o telefone e sua família influenciou os estudos linguísticos de Henry Sweet na Alemanha. Sweet estudou a fonética de forma sincrônica, fazendo uma investigação linguística que desconsiderava qualquer relação histórica. Por isso, pelo seu intenso senso crítico e pelo seu temperamento forte, não obteve reconhecimento no seu país de origem (Grã-Bretanha) e nem pode lecionar numa universidade britânica. Adendo: Saussure foi quem definiu a existência concreta de fonemas na fala e suscitou pesquisas feitas pela Escola de Praga, instituição de grande importância para a teoria fonológica). Década de vinte foi o marco do desenvolvimento dos estudos linguísticos na américa. Universidades dos Estados Unidos fomentaram bastante o estudo da linguística. Com isso, em 1924, há a fundação da Sociedade Linguística da América (que criou a importante revista Language). Tivemos três importantes linguistas americanos: Franz Boas, Edward Sapir e Leonard Bloomfield. Além desses, muitos outros dedicaram-se ao estudo de idiomas indígenas, o que foi algo de extrema relevância já que na época não haviam informações prévias sobre estes; os estudiosos utilizavam procedimentos de descoberta para analisar, interpretar e descrever estes idiomas. Recentemente, K. L. Pike e seus colaboradores desenvolveram um estudo de línguas indígenas nas américas do sul e central com uma visão mais diferenciada da gramática de Bloomfield. Tais estudos (conhecidos como tagmênicos) possuem visão ampla e analisam os períodos em cadeias, ao invés de observar cada termo separadamente. Na Grã-Bretanha, Firth utilizou trabalhos de antropólogos para agregar maior importância ao estudo da linguística dentro do campo acadêmico. Também foi um linguista que se preocupou muito com fonologia e pouco com gramática, elaborando a Fonologia Prosódica em 1948. Houve o surgimento de três doutrinas principais nos anos trinta as quais se complementavam: Jones com uma teoria simplificada e direta; Bloomfield complementando de forma rigorosa os traços fonéticos; e Firth apresentando funções específicas para cada traço fonético relacionando com uma análise gramatical própria de cada língua. Em sequência, temos N. J. Marr, dogmático soviético que impôs, à época, teorias próprias de história da linguística, contradizendo todos os pensamentos de seus contemporâneos europeus. Marr analisou a linguística de forma fantasiosa e extravagante e foi contestado por Stalin que disse que "a linguagem não dependia da organização econômica, já que a língua russa usada no capitalismo e no comunismo era a mesma". Por fim temos Chomsky inaugurando a era gerativo-transformacional da linguística publicando Syntactic Structures em 1957 (mudança mais significativa dos últimos tempos). O livro trata de uma descrição detalhada de tudo o que constitui competência linguística para um nativo do seu próprio idioma, ou seja, a descrição completa e categorizada da língua. Isto é feito através da criação de regras para a elaboração de frases (Gramática de Regras), cujas normas mais recentes sempre tomam por base as suas predecessoras. O fonema torna-se unidade linguística independente, há integração do léxico, da gramática e da fonética além de exercer ampla influência na investigação sobre a linguagem (teoria e prática).

1 Graduando em Letras/Inglês pela Universidade Tiradentes, Aracaju-SE, Brasil.