Alexandre Serrão*
Bruna Lago Dourado*
Carine Mota Lima*
Dorivânia Amaral Miranda Santos*
Patrícia Morais Rosendo Dourado*

Robério Pereira Barreto*

RESUMO: Este artigo propõe uma análise semiótica do conto Felicidade Clandestina de Clarice Lispector, pautada na teoria semiótica de base gremasiana. O objetivo deste estudo é mostrar como se dá a leitura e a interpretação do conto, tendo em vista que a construção do sentido de um texto ocorre em três níveis: fundamental, narrativo e discursivo. A passagem de um nível para o outro é chamada de percurso gerativo do sentido. Num primeiro momento, aborda-se o estilo da autora, em seguida o conceito do gênero textual "conto", assim como os elementos que o constituem, posteriormente apresenta-se a análise semiótica, intercalada com a teoria para possibilitar uma melhor compreensão do texto.

PALAVRAS- CHAVE: Felicidade Clandestina ? Semiótica ? Ciúme

1. Introdução

O conto "Felicidade Clandestina" é um dos 25 que compõe o livro que tem por título o nome do conto, escrito por Clarice Lispector, e publicado em 1971, redigido em primeira pessoa, retrata momentos da infância da autora. A felicidade almejada pela menina no conto está a todo o momento subordinada a oportunidade de acesso ao livro. Por estar em busca de algo que a complete, essa felicidade se torna clandestina a partir do momento que ela deseja ter o que não possui, permitindo que a outra menina a manipule.
*Graduandos do II semestre de Letras da Universidade do Estado da Bahia, campus XVI ? Irecê ? BA.
*Professor orientador
Essa "Felicidade Clandestina" é claramente percebida na última frase do conto: " Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante". A utilização da palavra amante reforça o sentido da clandestinidade por ela significar algo que não lhe pertence.
Clarice Lispector é uma escritora que foge à regra, de linha introspectiva, seus textos dizem respeito às angustias da alma, o tempo utilizado é psicológico, tendo a narrativa centrada na mente dos personagens, sendo estes muitas vezes anônimos. Suas historias não possuem uma seqüência tradicional com começo, meio e fim, pois os personagens vivem momentos de fluxo de consciência e epifania, mesclando entre o presente e a imaginação ocorrendo situações de revelação, onde o personagem passa a ter uma visão mais aprofundada da vida.
Neste conto a narradora relembra sua infância no Recife, ela era apaixonada pela leitura, mas, por ser de família pobre, suas condições financeiras não eram suficientes para comprar livros, então ela vivia pedindo-os emprestados para uma menina que era filha do dono de uma livraria. Essa menina não gostava de ler, era gorda, baixa, sardenta, enfim, de aparência esteticamente feia, se sentia inferior as outras meninas, sobretudo a narradora.
Certo dia a filha do livreiro disse-lhe que possuía o livro "As Reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato, e iria emprestar-lhe, pediu que ela fosse buscá-lo em sua casa. A menina então começou a sonhar com esse livro, sua ingenuidade e a vontade de ler eram tão grandes que ela não percebia que a menina na verdade estava planejando uma vingança. Todo dia sem variar, ela ia à casa da filha do livreiro, e a menina sempre dizia que o livro estava emprestado. Até que um dia a mãe da menina cruel percebeu que algo de errado estava acontecendo e interviu na atitude da filha, emprestando o tão sonhado livro que a menina tanto queria, por quanto tempo desejasse, o que a deixou extremamente feliz.
O gênero abordado apresenta como tema a felicidade, sua estrutura composicional caracteriza-se por tratar de uma narrativa ficcional curta, com espaço, tempo e personagens reduzidos.
Para a realização deste estudo, será utilizada a teoria de Algirdas Julien Greimas, cujo estudo concebe o texto como sendo constituído por um plano de expressão e um plano de conteúdo. Para esta análise será contemplada somente o plano de conteúdo.
Para construir o sentido do texto, essa teoria admite o seu plano de conteúdo sobre a forma de um percurso gerativo que se divide em três níveis: fundamental - o mais simples e abstrato dos três; narrativo ? que é organizado sob o ponto de vista do sujeito e discursivo ? em que a narrativa é assumida pelo sujeito da enunciação.