Análise crítica de Mariel M. Arence e Paraguassu G. Arence sobre Cães da Provincia.

Qorpo-Santo – Abrindo os olhos da população

Mariel Mendes Arence¹

Paraguassu G. Arence²

 

Objetivo:

            Este trabalho é voltado à interpretação do desvelamento das classes sociais mais altas, principalmente, criada pelo personagem Qorpo-Santo da obra de Assis Brasil “Cães da Província”. Para isso usa-se trechos da obra e fundamentação teórica fenomenológica, estudada no 3° semestre do Curso de Letras-Espanhol (UNIPAMPA).

Introdução:

            O livro “Cães da Província”, por sua vez, chama a atenção já em seu titulo por ter uma bagagem de interpretações possíveis muito ricas. Mostra a mediocridade de espírito da sociedade que é igualada a um cão, isto porque essa população é manipulada, domada e extremamente obediente às normas e costumes impostos pela província. Percebe-se desde então imagens impactantes que segundo a teoria fenomenológica ativa o nosso psiquismo, surgindo um produto direto da emoção.

“A critica fenomenológica visa uma leitura totalmente “imanente” do texto, absolutamente imune a qualquer coisa fora dele. Todos os seus aspectos estilísticos e semânticos são percebidos como partes orgânicas de um todo complexo, interessam-nos as estruturas profundas de sua mente, que podem ser encontradas nas repetições e padrões de imagem...” (p.81)

A partir disto analisa-se a intervenção do personagem principal Qorpo-Santo, que tem um papel essencial em toda a trama.

Desenvolvimento:

            A trama narra várias histórias vivenciadas na cidade de Porto Alegre, durante o reinado do Imperador D. Pedro II, quando a cidade era chamada Província de São Pedro do RS (Rio Grande do Sul).

O personagem Qorpo-Santo interage em todas as histórias, desvelando os problemas e os mais escuros e sombrios defeitos da população, principalmente das classes mais altas e governantes como pode-se observar no trecho:

“Antes de procurarem resolver os crimes meramente achando os criminosos, antes de jogarem toda culpa das insanidades desta Província em meus ombros, seria mais útil resolverem os pequenos homicídios diários, perpetrados nos lares, os desejos insatisfeitos dos coronéis, das esposas ardorosas que procuram à noite seus maridos nos leitos desabitados, dos padres que tem seu sangue fervendo ao sentir os perfumes femininos invadindo as grades dos confessionários, das moças da alta-roda que devem manter a castidade até que um bruto que lhes dão por marido as desvirginem sem o menor carinho.” (p.128 Assis Brasil)

E por ser uma pessoa extremamente critica e pensante, a vista da população e dos poderosos da Província, é visto como louco. Qorpo-Santo vive em fluxo de consciência, chega a conversar com um personagem imaginário que ele chama de Napoleão III. Tudo isto uma estratégia para seguir expondo seu ponto de vista e criticas contra toda população que até então é alienada à Província.

A sociedade hipócrita até os tempos de hoje vive com estes defeitos, que por todos são velados. E Qorpo-Santo ao final do livro cita um trecho que impacta a todos.

“Assim é a vida. Onde termina a mentira começa o sonho; e onde este acaba começa a mentira. E o mar, adentrando nas sombras, guarda os mil segredos desta tarde magnífica.”

Conclusão:

            Por fim Qorpo-Santo vive extremamente um dos princípios fenomenológico e psicológico ao decorrer de toda obra, o conceito de o que apontarem como verdade deve ser questionada.

“Minha consciência não é apenas um registro passivo do mundo, mas constitui ativamente esse mundo, ou “pretende” fazê-lo. Para termos certeza, então, devemos primeiramente ignorar tudo, ou “colocar entre parentes” qualquer coisa que esteja além de nossa experiência imediata;”

Partindo desse ponto de vista percebe-se uma obra escrita com maestria, muito rica, podendo ser analisada em vários pontos de vista.