Atualmente, possuímos cerca de 5745 manuscritos do Novo Testamento. Esses manuscritos são classificados em quatro grupos: 1) Alexandrino ("Neutro" ou "Egípcio"); 2) Ocidental; 3) Cesariano e; 5) Bizantino ("Maior" ou "sírio"), de acordo com sua forma de texto.

Desses quatro grupos, o texto denominado "Bizantino" é o mais abrangente: Cerca de 80% para 90% de todos os manuscritos do Novo Testamento grego disponíveis representam o texto bizantino, que constitui o texto "majoritário" (HOLMES, M. W. "The 'Majority Text Debate': New Form Of An Old Issue", Themelios, 1983, Volume 8, No. 2, p. 15.).

No entanto, o texto do tipo Bizantino, quase unanimemente é considerado como o pior texto-tipo em relação aos demais textos do Novo Testamento. Somado a isso, o texto do tipo bizantino corresponde aos manuscritos mais tardios que conhece, datando dos meados da Idade Medieval, a partir do século 9 d.C.

Os manuscritos que realmente possuem qualidade correspondem a não mais que 10% de todos os manuscritos existentes. Portanto, os críticos textuais preparam suas edições críticas do Novo Testamento grego com base em manuscritos selecionados, não menos que 5% e não mais que 11%.

A Nestlé-Aland Novum's Testamentum Graece (26a Edição), por exemplo, utiliza 522 manuscritos no total, totalizando apenas 10% de todos os textos; a edição Metzger's é a menor, usa apenas 266 manuscritos, 5% do total, e assim por diante.

Desse modo, se para que se possa estabelecer uma análise acerca da corruptibilidade e restauração do Novo Testamento, deve-se levar em conta apenas um pouco mais de 10% de todos os manuscritos existentes, segue-se que os demais 90% dos manuscritos existentes não possuem relevante importância para a reconstrução do texto do Novo Testamento, sendo que em sua maioria trazem os mesmos erros e variações dos textos mais antigos, e são tardios demais para que possam corresponder ao texto primitivo.

Portanto, sendo que a maior parte dos 5745 manuscritos do Novo Testamento são manuscritos ruins e provenientes do 9° século, ficamos com um número bastante reduzido de manuscritos que podem (ou não) trazer luz sobre como era o texto mais primitivo do Novo Testamento.

Para que se possa estabelecer a fidedignade textual do Novo Testamento, devemos recorrer para os textos mais antigos, pois os mesmos possuem grande probabilidade de não terem sido alterados e de não conterem variantes.

No entanto, até cerca do século II d.C. – a tarde mais próxima possível dos manuscritos originais – não possuímos mais que 6 fragmentos de manuscritos. Até o século III d.C. possuímos apenas 48 fragmentos de manuscritos do Novo Testamento.

Apenas 1.48% de todos os mais de 5745 manuscritos do Novo Testamento podem ser datados do século 4° para trás.

Como já afirmamos, 91% de todos os manuscritos datam do século 9° em diante.

Desse modo, 94% dos manuscritos do Novo Testamento, datam do período Medieval tardio, aproximadamente 800 anos depois do nascimento de Jesus.

Somente não mais que 6% de todos os manuscritos do Novo Testamento ao final da Idade Antiga e possuem uma maior probabilidade de serem confiáveis.

A natureza fragmentária dos mais antigos manuscritos do Novo Testamento

Uma rápida olhada sobre os dados revela que o Evangelho de João tem a mais antiga evidência manuscrita (P52, c. 125-150 d.C.), enquanto que as cópias mais antigas dos livros de 1ª e 2ª Timóteo e o 3ª João foram preservadas em manuscritos tardios (cercar do 4 ª século).

A maioria dos manuscritos mais antigos dos documentos do Novo Testamento é muito fragmentada, sendo que às vezes não contém nada mais que um par de versículos ou até menos. A maioria dos manuscritos data entre 200-300 anos depois de Jesus e, portanto apresentam um enorme abismo entre o registro escrito e a época em que os eventos relatados ocorreram.

As evidências manuscritas antigas possuímos são listadas em ordem cronológica a seguir:

Século = 2° // Manuscritos do Novo Testamento = 2 // Percentual Cumulativo = 0.03 %

Século = c. 200 // Manuscritos do Novo Testamento = 6 (somado aos anteriores) // Percentual Cumulativo = 0.11 %

Século = 2° / 3° // Manuscritos do Novo Testamento = 8 // Percentual Cumulativo = 0.15 %

Século = 3° // Manuscritos do Novo Testamento = 38 // Percentual Cumulativo = 0.73 %

Século = 3° / 4° // Manuscritos do Novo Testamento = 48 // Percentual Cumulativo = 0.92 %

Século = 4° // Manuscritos do Novo Testamento = 77 // Percentual Cumulativo = 1.48 %

Ou seja, até no ano 200 d.C. temos apenas 8 (oito) manuscritos.

Qual o estado desses manuscritos?

Mateus = Manuscritos antigos = P64, P67, P104 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos

Marcos= Manuscritos antigos = P45 //DATA = 3° séc. //Condição = Muitos fragmentos

Lucas = Manuscritos antigos = P4 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmento

João = Manuscritos antigos = P52 //DATA = c. 125-150 //Condição = Fragmento

Atos = Manuscritos antigos = P38 DATA = 3° séc. //Condição = Fragmento

Romanos = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos

1 Coríntios = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos

2 Coríntios = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos

Gálatas = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos

Efésios = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos

Filipenses = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos

Colosenses = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos

1 Tessalonicenses = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos

2 Tessalonicenses = Manuscritos antigos =P92 //DATA =3° / 4° séc.//Condição = Fragmento

1 Timóteo = Manuscritos antigos = (Sinaíticus) //DATA =4° séc. //Condição = Completo

2 Timóteo = Manuscritos antigos = (Sinaíticus) //DATA =4° séc. //Condição = Completo

Tito = Manuscritos antigos =P32 //DATA =c. 200 //Condição = Fragmento

Filemom = Manuscritos antigos =P87 //DATA = 3° séc. //Condição = Fragmento

Hebreus = Manuscritos antigos =P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmento

Tiago = Manuscritos antigos = P23, P20 //DATA = 3° séc. //Condição = Fragmento

1 Pedro = Manuscritos antigos = P72 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos

2 Pedro = Manuscritos antigos = P72 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos

1 João = Manuscritos antigos = P9 //DATA = 3° séc. //Condição = Fragmentos

2 João = Manuscritos antigos = 0232 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos

3 João = Manuscritos antigos = (Sinaíticus) //DATA =4° séc. //Condição = Completo

Judas = Manuscritos antigos = P72 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos

Apocalipse = Manuscritos antigos = P98 //DATA =2° séc. //Condição = Fragmento

Ou seja, todos os manuscritos do Novo Testamento mais antigos, copiados até o início do 4° século, foram preservados até nós na forma de fragmentos.

(cf. ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. The Text of The New Testament: An Introduction to the Critical Editions and to the Theory and Practice of Modern Textual Criticism. 2nd Revised Edition. William B. Eerdmans Publishing Company: Grand Rapids (Michigan), 1995).

A "confiabilidade" dos manuscritos do Novo Testamento

A Crítica Textual conseguiu alcançar a valiosa soma de 85% de segurança acerca da precisão do texto do Novo Testamento. No entanto, esse percentual não significa exatamente que texto do Novo Testamento seja 85% preciso. Em geral, esses 85% de segurança equivalem à fidedignidade de nossos textos críticos atuais em relação aos textos existentes no século IV d.C. Isso significa que a precisão do texto do Novo Testamento pode ser garantida na faixa de 85% somente em até aproximadamente cerca de 300 anos após esses textos terem sido escritos.

Por isso, afirmar que 85% do texto do Novo Testamento é preciso, equivale a afirmar que 85% do texto do Novo Testamento corresponde com precisão aos textos existentes no século IV. A história desses textos e sua confiabilidade não podem ser construídas com precisão antes dessa data.

Em contrapartida, foi exatamente entre o final do século I d.C. e entre os séculos II e III d.C., que as maiores alterações textuais foram realizadas, inclusive testemunhadas na literatura da época.

A natureza fragmentária dos papiros mais antigos, que datam do século II d.C., não nos permitem analisar as variações textuais existentes no texto do Novo Testamento em uma data antiga. Da mesma forma, tais fragmentos estão longe de ser capazes de trazer alguma luz sobre a questão de se o texto do Novo Testamento que possuímos é o mesmo que existia no século II d.C. Trata-se apenas de fragmentos muito pequenos, com poucos trechos de alguns livros do Novo Testamento. Pelo fato de serem fragmentários, não se pode compará-los com os manuscritos mais tardios, como os do século IV d.C. em diante, muito menos com a Bíblia que temos hoje.

Desse modo, para que se possa estabelecer o grau de corruptibilidade e confiabilidade do texto do Novo Testamento, a Crítica Textual recorre aos mais antigos manuscritos possíveis, ou seja, a somente cerca de 10% de todos os mais de 5745 manuscritos do Novo Testamento existentes.

A corrupção dos manuscritos do Novo Testamento

Kurt Aland e Barbara Aland, em seu livro The Text Of The New Testament apresentam uma tabela que compara o número total de variantes em versículos livres da edição crítica Nestlé-Aland com outras edições, como a de Tischendorf, Westcott-Hort, von Soden, Vogels , Merk, e Bover. Para agravar a situação, essa comparação não leva em conta as diferenças nas variantes ortográficas:

Mateus = N°. de versículos = 1071 //N°. de variantes = 642 //Porcentagem = 59.9%

Marcos = N°. de versículos = 678 //N°. de variantes = 306 //Porcentagem = 45.1%

Lucas = N°. de versículos = 1151 //N°. de variantes = 658 //Porcentagem = 57.2%

João = N°. de versículos = 869 //N°. de variantes = 450 //Porcentagem = 51.8 %

Atos = N°. de versículos = 1006 //N°. de variantes = 677 //Porcentagem = 67.3 %

Romanos = N°. de versículos = 433 //N°. de variantes = 327 //Porcentagem = 75.5%

1 Coríntios = N°. de versículos = 437 //N°. de variantes = 331 //Porcentagem = 75.7%

2 Coríntios = N°. de versículos = 256 //N°. de variantes = 200 //Porcentagem = 78.1%

Gálatas = N°. de versículos = 149 //N°. de variantes = 114 //Porcentagem = 76.5%

Efésios = N°. de versículos = 155 //N°. de variantes = 118 //Porcentagem = 76.1%

Filipenses = N°. de versículos = 104 //N°. de variantes = 73 //Porcentagem = 70.2%

Colossos = N°. de versículos = 95 //N°. de variantes = 69 //Porcentagem = 72.6 %

1 Tessalonicenses = N°. de versículos = 89 //N°. de variantes = 61 //Porcentagem = 68.5%

2 Tessalonicenses = N°. de versículos = 47 //N°. de variantes = 34 //Porcentagem = 72.3%

1 Timóteo = N°. de versículos = 113 //N°. de variantes = 92 //Porcentagem = 81.4%

2 Timóteo = N°. de versículos = 83 //N°. de variantes = 66 //Porcentagem = 79.5%

Tito = N°. de versículos = 46 //N°. de variantes = 33 //Porcentagem = 71.7%

Filemom = N°. de versículos = 25 //N°. de variantes = 19 //Porcentagem = 76.0%

Hebreus = N°. de versículos = 303 //N°. de variantes = 234 //Porcentagem = 77.2%

Tiago = N°. de versículos = 108 //N°. de variantes = 66 //Porcentagem = 61.1%

1 Pedro = N°. de versículos = 105 //N°. de variantes = 70 //Porcentagem = 66.6%

2 Pedro = N°. de versículos = 61 //N°. de variantes = 32 //Porcentagem = 52.5%

1 João = N°. de versículos = 105 //N°. de variantes = 76 //Porcentagem = 72.4%

2 João = N°. de versículos = 13 //N°. de variantes = 8 //Porcentagem = 61.5%

3 João = N°. de versículos = 15 //N°. de variantes = 11 //Porcentagem = 73.3%

Judas = N°. de versículos = 25 //N°. de variantes = 18 //Porcentagem = 72.0%

Apocalipse = N°. de versículos = 405 //N°. de variantes = 214 //Porcentagem = 52.8 %

Total = N°. de versículos = 7947 //N°. de variantes = 4999 //Porcentagem = 62.9%

Ao visualizar tais números, logo se percebe que quase dois terços do texto do Novo Testamento, em sete edições revisadas por Aland, não estão de acordo entre si, sem contar com as diferenças ortográficas e outros detalhes não inclusos nessa análise.

A lista mostra perfeitamente que 62,9% dos versículos do Novo Testamento são variantes e, portanto não representam a alegada "pureza" afirmada pela apologia cristã. A proporção varia de 45,1% no Evangelho de Marcos para 81,4% em 2Timóteo.

O número total de variantes livres nos Evangelhos bíblicos é representado da seguinte maneira:

Mateus = N°. de versículos = 1071 //N°. de variantes = 642 //Porcentagem = 59.9%

Marcos = N°. de versículos = 678 //N°. de variantes = 306 //Porcentagem = 45.1%

Lucas = N°. de versículos = 1151 //N°. de variantes = 658 //Porcentagem = 57.2%

João = N°. de versículos = 869 //N°. de variantes = 450 //Porcentagem = 51.8%

Total = N°. de versículos = 3769 //N°. de variantes = 2056 //Porcentagem = 54.5%

Esse percentual de 54,5% de variação nos quatro evangelhos corresponde a um pouco mais da metade de seu conteúdo. Isso significa que a metade do texto dos Evangelhos bíblicos é longe de ser puro.

No que se refere ao número total de variantes livres nos escritos paulinos (Romanos à Hebreus), temos os seguintes dados:

Total = N°. de versículos = 2335 N°. de variantes = 1771 Porcentagem = 76.5%

É por esse motivo que as comissões de crítica textual têm procurado indicar o grau relativo de segurança por meio das letras A, B, C, D e, dentro de "chaves" {} no início de cada conjunto de variantes textuais. As suas decisões são hipotéticas, baseadas tanto em considerações internas, como em evidência externa.

"{A}" significa que o texto é praticamente certo, enquanto que "{B}" indica que existe certo grau de dúvida. A letra "{C}" significa que existe um considerável grau de dúvida, enquanto que "{D}" mostra que existe um grau muito elevado de dúvida sobre a leitura.

Ou seja:

"{A}" = texto seguro

"{B}" = certo grau de dúvida

"{C}" =considerável grau de dúvida

"{D"} = grau muito elevado de dúvida

Estas classificações são tabuladas nas notas de rodapé de cada edição crítica do Novo Testamento grego, incluindo a The Greek New Testament Aland.

A seguinte classificação foi realizada pela ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. The Text of The New Testamen, 1995. Ela retrata o grau de confiabilidade textual do texto do Novo Testamento de acordo com a classificação "{A}" (= texto seguro), "{B}" (= certo grau de dúvida) "{C}" (=considerável grau de dúvida) e "{D"} (= grau muito elevado de dúvida):

Classificação {A} = 8.7 %

Classificação {B} = 32.9 %

Classificação {C} = 48.4 %

Classificação {D} = 9.9 %

Ou seja: o texto do Novo Testamento possui somente 8,7% de confiança, enquanto 91,2% do texto oscilam entre pouco duvidoso e muito duvidoso.

Isso significa que só podemos ter confiança absoluta a respeito do texto do Novo Testamento em apenas 8,7% de seu conteúdo.

Diante desses dados alarmantes, precisamos definir se esse alto número de variações é realmente significante para a leitura bíblica. Metzger e Ehrman, ao discutir a história de várias edições do texto do Novo Testamento grego no período crítico moderno, respondem a essa questão, ao afirmarem que existem cerca de 1724 conjuntos de leituras variantes foram selecionados, todos eles, ao contrário da proclamação da apologista, de grande importância, dada sua "importância exegética", para a leitura do Novo Testamento. (Cf. B. M. Metzger & B. D. Ehrman. The Text Of The New Testament: Its Transmission, Corruption, And Restoration, 2005, Fourth Edition, op. cit., pp. 192-194).

D. João Mehlmann O.S.B., doutor em Teologia e em Ciências Bíblicas, durante muito tempo professor da PUC-SP, afirmou que:

"Sendo o Novo Testamento o livro mais copiado na Antiguidade, é lógico que na transmissão manuscrita seja um dos livros que MAIS VARIANTES apresentam. Se todas as palavras do Novo Testamento não chegam a 150.000, as variantes são cerca de 200.000. As causas dessas variantes, que podem dividir-se em não-intencionais e intencionais [...] Talvez umas 200 variantes influem no sentido do texto [...] e talvez umas 15 se referem a verdades dogmáticas". (cf. História da Palestina nos Tempos do Novo Testamento,1961, coleção da Revista de História. Volume I (História Política da Palestina nos Tempos do Novo Testamento).