ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA SOBRE A ECONOMIA CAFEEIRA

 

Esse artigo tem por finalidade uma análise reflexiva sobre as transformações socioeconômicas e da política no Brasil, no que se refere à economia cafeeira apresentando relatos sobre as linhas historiográficas pesquisadas sobre essa economia que foi de extrema importância na transformação econômica, política e social do país, tornando um símbolo da economia do Brasil Império e República, na contribuição da política imigrantista do país, assim como no surgimento da indústria nacional , com sua fase de grandeza e posteriormente declínio.

Através de pesquisas bibliográficas, demonstrarei as articulações e a dinâmica da economia cafeeira e os aspectos que influenciaram a expansão dessa pelo país, a influência dessa economia na política, obtida nesse período, as relações de trabalho, o surgimento do setor industrial, assim como a crise de 1929 e suas relevantes influências nesse ciclo econômico (SILVA 1986).

O objetivo desse artigo é fazer uma análise historiográfica sobre a economia cafeeira e desse processo histórico da economia nacional, com proposta referencial teórica e documentada para a materialização dos fatores da economia cafeeira, não somente com o imaginário da época, mas a partir de conceitos econômicos.  O período que se estendeu nas últimas décadas do século XIX até a primeira metade do século XX, de maneira geral, é visto pela historiografia como momentos decisivos, que marcaram, de forma contundente, a trajetória do país rumo às transformações econômicas e política do país  (PRADO JUNIOR 1998).

 Durante a pesquisa o intuito foi fazer um roteiro de análise que abrangesse várias facetas e temáticas desse processo histórico, segundos vários estudiosos brasileiros assim como: Caio Prado Junior, Celso Furtado, Paula Beiguelman, Sérgio Silva, Wilson Cano, entre outros que citarei nas referências, aprofundando seus estudos históricos econômicos, oferecendo uma visão bem ampla dessa complexidade econômica do país, apresentando resultados na qual pode ser vista situações no qual viabilizou uma transformação na formação política e econômica, assim como na estrutura social do país. 

A pretensão com essas análises é mostrar a transformação enfatizando as contribuições da economia cafeeira para o país, com embasamento historiográfico de fatos ocorrentes tanto nas áreas de produção do café, como na própria economia do país.  

É importante esclarecer alguns fatores que antecederam a economia cafeeira, os quais funcionaram como uma “acumulação primitiva” para o complexo que se estabeleceu a partir do século XIX. O Brasil viveu um período de estagnação no meados do século XIX onde havia poucos pontos positivos, onde foi necessária, a construção de um sistema administrativo, que foi a de um banco nacional, visando não só a preservação da unidade do País, mas também a construção de uma identidade através do setor econômico. Nesse momento o país estagnado precisava de uma economia sustentável com expansão no comércio internacional. 

Estamos em face de duas perspectivas que se excluem, e entre as quais devemos optar: ou o status-quo e a perpetuação do sistema atualmente predominante na economia brasileira, ou a renovação e transformação desse sistema (PRADO JÚNIOR, 1954: 1823).

 Antes da expansão do café, o país contraiu empréstimos no exterior que não surtiu efeito, ao não ser, um apanhado de dívidas externas, portanto as condições internas do país somente pioraram. O comércio do açúcar do algodão  do fumo, do arroz, do cacau e do couro estava decadente e nem o comércio da cana-de-açúcar  eram grandes, e nem o suficiente para mover a economia brasileira. 

  O país precisava de uma cultura sustentável no uso do solo, pois sua grande extensão territorial estava associada com terras improdutiva, empurrando o país para uma solução econômica comercial de sustentabilidade. Porém, segundo Wilson Cano, em Raízes da Concentração Industrial em São Paulo (1997), nos mostra que foi através do café que o Estado de São Paulo conseguiu já durante a Primeira República desenvolver relações capitalistas avançadas. Isso ocorreu devido à expansão dos negócios ligados ao produto e à formação de um complexo econômico em função dessa diversificação. No entanto, outras economias regionais mesmo de grande importância, não conseguiram alcançar o mesmo êxito, devido aos produtores trabalharem isoladamente, ao contrário do que aconteceu no Estado São Paulo, com a formação de complexo econômico com a produção do café.

Para Cano a economia cafeeira do Estado de São, surge como força de um complexo formado a partir da atividade produtora do café, da agricultura produtora de alimentos e matérias primas, da atividade industrial, da implantação e desenvolvimento do sistema ferroviário paulista, da expansão do sistema bancário, da atividade do comércio, da importação e exportação e do desenvolvimento da atividade criada com infraestrutura dessas atividades dentro do Estado, tanto do governo federal como do estadual principalmente, formando assim em conjunto o complexo cafeeiro. Essa nova economia vinda através da produção do café, no final do século XIX, remete devidamente à aceitação comercial em vários países europeus, e também no EUA, que nesse período se encontrava no auge progresso econômico, assim pode dizer que a economia cafeeira assim como toda economia estava relativamente dependente de outros países, tanto no progresso, quanto no seu declínio, pois economia é dependente de amplos laços comerciais internos ou externos, como aconteceu com a produção do café. 

Ainda segundo autor, o desenvolvimento da economia cafeeira levou a um processo de fracionamento da elite cafeeira, o capital cafeeiro, no qual se tornou ao mesmo tempo comercial, industrial e agrária. Desta forma, que essa elite direcionou por diferentes segmentos econômicos que possuíam o café como elo, sendo capaz de satisfazer às necessidades do complexo econômico assim formado.

 É incontestável a importância da economia cafeeira para o processo de transformação e desenvolvimento da economia brasileira, este produto tornou-se fator determinante no processo da formação do capitalismo brasileiro, sendo por isso, alvo de constantes intervenções, articulações e regulamentações de acordo com a importância que esse produto assumia na posição prioritária no contexto da economia nacional, levando ao surgimento de um Estado Oligárquico que valia tanto para o caso do governo federal, quanto para os estaduais e principalmente os municipais, e no contexto da política, foi por muito tempo esse núcleo econômico que esteve no comando, no entanto que quem quisesse exercer um papel político precisava negociar com os coronéis, esses grandes produtores de café. Para a grande maioria destas elites, a política apesar da República, continuava a ser um negócio, por vezes bem lucrativo. 

Para o autor Sergio Silva (1986: 53), sobre a questão do núcleo econômico brasileiro, é necessária uma análise aprofundada para chegar ao entendimento que o desenvolvimento da economia cafeeira foi completamente diferente da economia açucareira, transformando radicalmente pensamentos ideológicos, percebe-se assim que a economia cafeeira propiciou um novo desenvolvimento político e social nos grandes proprietários de terras, levando esses á grandes homens de negócio na defesa do café, gerando a denominada “burguesia cafeeira”, fazendo com que mais tarde, essa economia de capital cafeeira ultrapassasse as lavouras.

Sendo que os produtores de café, esses os principais líderes dessa nova economia brasileira, não se limitaram somente no plantio do produto, e sim se organizando e dirigindo essas plantações de café, além de adquirir experiência comercial e política de acordo com seus interesses, sendo esses bem mais abrangentes.

O setor do complexo cafeeiro em expansão foi determinante na influência do desenvolvimento em vários setores do país, com relação às novas tecnologias, como a construção das ferrovias tanto, quanto aos maquinários modernos em função das necessidades com o aumento desse produto e sua demanda no mercado internacional.

 

 

 OSCILAÇÕES DE PREÇOS 

 

Quando o país obteve a abertura internacional para o comércio do café com uma grande demanda de mercado, tornando-se, então, o principal produto de exportação do país, o café tornou-se assim uma economia sustentável. É interessante ressaltar que o custo dessa produção era menor do que a produção de açúcar, primeiro porque se utilizava da mesma mão de obra escrava, mas com um diferencial relevante, a cultura do café, era permanente e os equipamentos utilizados na sua manutenção era de pouco custo e que muitas vezes era produzido nos próprios locais do plantio do café. 

 A elevação do preço do café, que acorreu nos fins do século XVIII, foi fator determinante para o aumento da produção de café em várias partes da América e da Ásia, devido ao bom preço, ocorrendo assim, uma elevação significativa na produção de café, em contrapartida ocorreu um aumento na demanda desse produto, demanda essa significativa para que mais tarde ocorresse queda no valor do produto. A partir desse período, o café começou a experimentar diversos períodos de oscilações de preços, mas ainda assim nos anos de 1857 a 1868, 1869 a 1885, 1886 a 1906 foram caracterizados por preços ascendentes. 

Porém, de acordo com o aumento do valor do café, ocorre à duplicação das áreas plantadas no Estado de São Paulo, e a produção do país continuava a aumentar, os produtores brasileiros viam no café a oportunidade para utilizar os recursos produtivos ociosos provenientes da decadência da mineração e de outras economias que se encontravam em retração, para utilizá-los na expansão dos cafezais e produzir mais e mais café. Porém, no percurso da produção ocorreram também grandes dificuldades, como por exemplo, o escoamento do produto em algumas áreas do plantio até os portos, um exemplo dessas áreas é Minas Gerais, fazendo com que os grandes produtores de café repensassem em uma disponibilidade de capital para a construção de estradas, tanto terrestres quanto o início das primeiras ferrovias. 

Na última década do século XIX criou-se uma situação excepcionalmente favorável à expansão da cultura do café no Brasil. Sendo que a produção asiática passava por dificuldades, em consequência da destruição ocorrida nos cafezais na ilha do Ceilão. Enquanto isso no oeste paulista o café encontrava condições naturais que favoreceram ainda mais expansão cafeeira, devido ao grande desenvolvimento de ações dos chamados "barões do café". Eles haviam acumulado um elevado estoque de capitais, decorrente do café, tornando-se ricos e poderosos, passando a interferir na política obtendo facilidades como acesso ao crédito, inclusive estrangeiro, que lhes permitiam expandir as áreas plantadas. Essas ações colaboram também no sentido de facilitar o transporte e a exportação da produção de café, acelerando o processo das construções de ferrovias e de aparelhamento dos portos. No auge desta fase, o Brasil chegou a praticamente monopolizar o comércio do café com a Europa e os Estados Unidos, período em que o país experimentou elevado crescimento econômico, iniciando um processo de modernização do país. 

 

 

 

 

  EXPANSÃO DA CULTURA CAFEEIRA

 

  Na primeira década do século XIX a cultura cafeeira já havia atingido o Rio de Janeiro, começando pelo litoral. Porém, foi no vale do Paraíba que o café prosperou, a fixação do café no vale do Paraíba deveu-se às condições geográficas excepcionais, como clima adequado e regularidade das chuvas. Na metade do século XIX, toda energia econômica estava voltada para o cultivo do café, que então era vendido, sem concorrência, aos mercados internacionais, conseguindo sua estabilidade econômica junto ao Império.  Entretanto, a economia cafeeira não alterou os quadros sociais herdados do passado colonial. Ao contrário, ela se fortaleceu, inclusive a escravidão, a grande propriedade, a monocultura e a produção voltada para o mercado externo. 

Porém, após uma extensiva e predatória exploração do solo, aconteceu uma estagnação e a consequente decadência do vale do Paraíba. Contudo, isso não significou a decadência da cafeicultura, que nesse momento já se expandia para o oeste paulista. Seu núcleo inicial foi Campinas, difundindo-se para Mogi-Guaçu e chegando à região de Ribeirão Preto por volta de 1880. Em seguida, a cultura se expandiu para o extremo Oeste paulista e atingiu o Estado do Paraná.

Havia diferenças significativas entre o vale do Paraíba e o Oeste paulista. No vale o terreno era acidentado o que gerava muitas dificuldades no plantio e na colheita do café. Já no Oeste paulista, o plantio ocupava vastos quilômetros quadrados de solo excepcionalmente fértil, a chamada terra roxa, oriunda da decomposição das rochas vulcânicas. Assim, embora o sistema de cultivo fosse o mesmo, a regularidade do relevo favorecia a melhor conservação do solo no Oeste paulista, assegurando por mais tempo a qualidade do café. A isso se deve acrescentar uma maior facilidade no escoamento do produto, que era beneficiado por um custo menor, graças às redes viárias disponíveis, como por exemplo, o deslocamento do produto para o porto de Santos. (PRADO JUNIOR, 1998:161). 

Porém, as relações entre São Paulo e as regiões com as quais pretendia manter e expandir o comércio do café dependia da expansão do setor de transportes paulista. Nesse aspecto, havia a coincidência entre os interesses do setor ferroviário, do setor comercial, de grande parte do setor agrícola e do governo paulista, diferentes frações do capital cafeeiro ganharam com a concretização deste circuito de comércio.

Com a expansão do plantio do café para o interior de São Paulo, tornou-se necessário encontrar solução para a problemática do transporte até o porto de Santos, pois no início se utilizava transporte animal, porém à medida que as distâncias aumentaram e o volume da safra se multiplicou, por iniciativa dos próprios cafeicultores foram construídas as estradas de ferro, a São Paulo Railway, ligando Santos á Jundiaí (1868), Ituana, ligando Itu a Campinas (1873) e a Mogiana, ligando Campinas a Ribeirão Preto e a Sorocabana, que começaram a ser construídas em 1875. 

O momento de surgimento das ferrovias em substituição ao transporte feito por animais se deu quando os senhores do café, diante da necessidade de ampliação da área plantada, buscaram soluções que não se limitaram somente no problema de transporte, ou da mão-de-obra, mas ao conjunto da produção cafeeira, também no que se refere à descentralização republicana.

 Os grandes produtores de café foram uns dos maiores defensores da instauração do regime republicano no Brasil, onde problema da imigração passou a ser controlado pelos estados, sendo abordado de forma mais ampla e positiva pelo Estado de São Paulo. As ferrovias representavam então, nova oportunidade de inversão para o capital cafeeiro, ao mesmo tempo em que provocava uma redução apreciável nos custos do transporte do café. Surge então, como parte dessa economia o complexo cafeeiro, contribuindo para a realização do sistema de produção agroexportador.

Assim, apesar de sua formação enquanto empresa, formando o complexo cafeeiro a construção e implantação das ferrovias, passaram por concessão estatal, atendendo basicamente às necessidades dessa elite empresarial que se torna hegemônica no aparelho de Estado até 1930. A ferrovia em São Paulo surge após a primeira metade do Século XIX e ocupa geograficamente todos os pontos cardeais do Estado, montando uma verdadeira rede de captação de café em direção ao porto. Seu período de construção e de expansão também é limitado ao tempo já citado, em que as oligarquias dominaram o aparelho de Estado. De 1867 até a década de 1930 estava "concluída" a ocupação ferroviária paulista. Nesse período, dezoito ferrovias foram construídas para atender basicamente ao transporte de café, desse total, nove com menos de cem quilômetros, serviam praticamente de ramais de captação de cargas para as grandes e médias companhias. 

Com expansão crescente de áreas plantadas, consequentemente, houve um aumento da produção, a oferta de café existente no mercado era demasiada, sinalizando para uma queda acentuada dos preços do café em curto prazo. Os produtores do café, ciente dessa realidade, cujo poder político e financeiro fora amplamente acrescido com a descentralização política, tendo inclusive vários cafeicultores tendo se tornado governadores e até presidentes da república, celebraram em fevereiro de 1906, na cidade paulista de Taubaté, um convênio visando à valorização dos preços, que em resumo, consistia, ao restabelecimento e o equilíbrio entre oferta e demanda do café, através de intervenção do governo, comprando os excedentes da produção. O financiamento destas compras seria feito através de empréstimos contraídos no exterior pelo governo, o serviço deste empréstimo seria coberto com um novo imposto cobrado em ouro sobre cada saca de café exportada, a fim de solucionar o problema num maior prazo. 

O primeiro esquema de valorização foi posto em prática pelos estados cafeicultores, liderado por São Paulo, esse esquema não teve o apoio do governo federal, obtendo êxito financeiro da experiência no qual essa consolidação de vitória dos cafeicultores que reforçou seus poderes por mais um quarto de século, até 1930, quando Getúlio Vargas chegou ao poder. O complicado mecanismo de defesa da economia cafeeira funcionou com relativa eficiência até fins de 1930.

 

 

  CRISE cafeeira

 

A crise da economia cafeeira não ocorre isoladamente em 1929. Na realidade se arrasta desde 1893 com a crise econômica dos EUA e com graves consequências para o preço da saca de café no mercado mundial. Utilizando mecanismos de depreciação externa da moeda, a elite cafeeira acabava por repassar para a sociedade a sua crise procedente da queda dos preços do café. Políticas como o convênio de Taubaté de 1906, que consistia em intervenção do governo através da compra de excedentes utilizando empréstimos externos e desencorajamento da expansão das plantações. Segundo Celso Furtado (1976), o êxito financeiro da experiência veio a consolidar a vitória dos cafeicultores que reforçaram seu poder até 1930 logrando submeter o governo central aos objetivos de suas políticas econômicas. Porém, o complicado e caro mecanismo de defesa da economia cafeeira não resistiram, à crise mundial de 1929, então podemos considerar que essa crise não afetou diretamente só a produção do café e sim todo complexo envolvente, assim como o grande investimento nas ferrovias tendo em vista as implicações da economia cafeeira na estrada de ferro que podemos ligar mecanicamente ambos os seguimentos econômicos. Assim, não devemos perder de vista que basicamente toda a rede ferroviária paulista formou-se no período entre 1880 e 1940, quando pequenas, médias e grandes ferrovias se formaram dentro de um verdadeiro surto ferroviário, e que, após esse surto, passaram por um processo de total reestruturação operacional e administrativa para adaptar-se à nova realidade político-econômica.

A crise mundial de 1929 desencadeada com a quebra da bolsa de Nova York teve efeitos desastrosos sobre a economia dos Estados Unidos, assim como em toda Europa, justamente os maiores compradores do café, além de diminuir a demanda, ocorreram também à interrupção dos empréstimos internacionais ao Brasil, que se viu sem recursos para continuar adquirindo o excedente produzido pela indústria cafeeira, causando assim excesso de oferta e preços em acentuado declínio. Começou então a grande crise da economia cafeeira no país, tendo como um dos reflexos o enfraquecimento das oligarquias dos cafeicultores e o abalo das estruturas da República Velha, cujo, a oportunidade de domínio estava nas mãos desses produtores. 

Essa crise da economia americana de 1929, que se estendeu por todo o mundo capitalista, e que, obviamente, afetou a economia do Brasil, tendo grandes aspectos negativos, mas não podemos deixar de observar o lado positivo. O ponto negativo foi a recessão da economia, sobretudo com a contração dos lucros dos setores oligárquicos rurais e da burguesia exportadora, e o ponto positivo, foi que o setor industrial interno viu, nesse contexto, uma deixa para mostrar seu poder e, claro, aumentar sua inserção na economia nacional, e com essa transformação surgiu para a sociedade brasileira um novo período econômico no país. 

O setor da industrial surgiu, ainda que de modo não hegemônico, com uma expansão capitalista voltada para uma nova economia sobressaindo de um comércio interno da acumulação vinda da produção do café, para a indústria nacional de bens de consumo, isto é, produtos que visavam o mercado interno, para consumo interno. Nesse período já se verificava uma diversificação do setor, que passou a inserir bens de capital e insumos, em algo que já tinha certo andamento para essa concretização no comércio de produtos, mas que com a crise de 1929 obteve a possibilidade  de adentrar ao setor industrial com uma maior visibilidade  e desenvolvimento para o comércio interno. 

 A crise mundial atinge o setor cafeeiro no Brasil no momento em que já se definia uma situação de superprodução estrutural, como resultado, há um declínio do preço do café no mercado internacional e a formação de excedente de produção. Mas após a Revolução de 1930, o Governo de Vargas decide investir na defesa do café tendo em vista não só pela pressão das oligarquias cafeeiras, mas também pelo interesse nacional, por meio de novas articulações na política. Essa nova política de investimento do café, seria a compra dos estoques excedentes do produto e da queima de parte desses estoques, utilizando recursos provenientes, que segundo Celso Furtado foi da expansão do crédito. O autor tem uma visão desse episódio, como uma estratégia política, onde o governo transformava a política de defesa do setor cafeeiro em programa de promoção rural, construindo as famosas pirâmides com objetivo, keynesiano, no qual é de uma visão futura de intervenção estatal na economia do país, que mais tarde veio acontecer. (FURTADO 1976: 203). 

Através do desequilíbrio externo, a reprodução do capital impõe transformações necessárias à acumulação: o nascimento da indústria e a consequente elevação da produtividade tão importante para a expansão do excedente e o prosseguimento da acumulação. Assim, através da constante solução e recolocação do desequilíbrio externo, o capitalismo brasileiro segue seu caminho, escondendo no palheiro das atribulações financeiras a contradição que explica o seu próprio desenvolvimento (SILVA, 1976: 109).

 

 

 MÃO DE OBRA  cafeeira

 

Durante todo Brasil colônia, a mão de obra era escrava, inicialmente todos os trabalhadores das fazendas de café eram escravos, sendo assim capital, que os fazendeiros adquiriram no período do trafico, ou já adquiriram dos mineradores, visto que o plantio de café exigia elevada quantidade de trabalhadores. Sem abundância de capital, o escravo representava para os cafeicultores mão de obra de baixo custo, uma vez que o principal fator de produção da lavoura cafeeira era a terra e esta os fazendeiros possuíam em grande quantidade. A prosperidade da lavoura cafeeira acabava estimulando a transferência de trabalhadores escravos da região nordeste proveniente da lavoura de cana-de-açúcar, já em decadência, para os cafezais da região sudeste, tendo em vista que o escravo tinha duplo valor, além de mercadoria em caso de necessidade, podendo ser vendido ou alugado, esse em grandes quantidades servia de status e poder, seus senhores (VIOTTI 1998: 69). 

 O plantio do café se deu com a mesma mão de obra das economias anteriores, que era a mão obra escrava, mas tendo em vista que no início do século XIX havia a possibilidade da proibição do tráfico que não era nenhuma novidade para as classes dominantes. A questão do tráfico já era discutida desde 1815 com a assinatura do Tratado de Viena, com a lei de novembro de 1831, e a promulgação da Lei Bill Aberdeen de 1845, mas só validada finalmente com a lei Eusébio de Queirós do dia quatro de Setembro de 1850. De certo modo, o problema da colonização do Brasil, e consequentemente a substituição da mão-de-obra escrava, já estava sendo ensaiada desde a experiência no período de D. João VI, mas que fracassou (VIOTTI, 1998, p. 70). 

 Segundo Emília Viotti (1998), a imigração para o Brasil não chegava a entusiasmar, tendo em vista a precariedade das condições brasileiras em relação à possibilidade da imigração para os EUA, para onde se dirigia espontaneamente as correntes imigratórias. Enquanto isso, a convivência com medidas momentâneas, como o tráfico interprovincial, enquanto os ensaios de colonização arrastaram-se até a década de 1840, quando a pressão pela abolição chega ao limite. É diante da necessidade de ampliação da produção do café conforme a demanda do mercado, sendo a imigração solução do problema da escassez de mão de obra, que o senador Vergueiro, fazendeiro da região de Limeira, apresenta em 1845 uma emenda ao orçamento autorizando o governo a despender de verbas para a importação de colonos, para o trabalho nas lavouras de café em forma de parcerias. 

Com a chegada das primeiras levas de imigrantes para o setor cafeeiro em primeira fase, os descontentamentos, não tardaram a aparecer devido o objetivo e anseios dos imigrantes europeus, era em fazer riqueza, chocava-se frontalmente com os interesses dos fazendeiros, que viam nos imigrantes somente uma forma de reprodução do capital, ainda com pensamentos escravocratas. No entanto, há indícios de que os barões do café prepararam o “terreno” para o recebimento dos imigrantes europeus, pode ser constatado com a promulgação da Lei Nº. 601 de 1850, regulamentada em 1854 que dispunha sobre a ocupação da terra a partir daquele período. Enquanto até 1822 vigorou o regime de sesmaria, onde a apropriação legítima da terra era concessão do poder público, a partir de 1822, a falta de uma forma institucional específica de legitimação da apropriação, acabava sendo as ocupações ou posses. 

 Nesse sentido, a Lei de 1850/54, vem na prática, impedir o acesso a terra pelos seguimentos marginalizados uma vez que a apropriação legítima passa a ser feita através da compra junto ao Estado, ou através da compra de terras de pequenos produtores onde a opressão e os argumentos das armas eram de formas a serem negociadas. A partir da Constituição de 1891, ocorre a transferência para os Estados federados o domínio das terras devolutas. No caso do Estado de São Paulo, a Lei Nº. 323 de 22 de junho de 1895 dispunha sobre as terras devolutas, sua medição, marcação, aquisição e legitimação. A ela seguiram mais cinco leis e dezesseis decretos até 1930, sintoma de que o poder público não conseguia regular com eficácia o processo real de apropriação de terras no Estado de São Paulo até esse período. 

Segundo Emília Viotti (1998), com a proibição do tráfico internacional de escravos, decretado pela Inglaterra, já descrito anteriormente e posteriormente a abolição da escravatura no Brasil, a utilização de mão de obra escrava já não era mais possível e representava alto custo, visto que era necessária agora, remuneração do negro liberto. Os fazendeiros por sua vez preferiram estimular a imigração de trabalhadores provenientes da Europa, principalmente Itália e Alemanha ao invés de remunerar o negro liberto, tendo sido o Estado de São Paulo o principal estimulador e facilitador da importação desses imigrantes, e ao contrário do que aconteciam com os escravos, esses imigrantes trabalhavam em troca de salário ou mesmo participação na colheita. 

Segundo a autora Emília Viotti (1998) a mão de obra utilizada para o plantio do café durante o século XIX no Vale do Paraíba foi à mão de obra escrava, essa mão de obra foi durante esse período de grande importância para expansão cafeeira e contribuindo ativamente com o desenvolvimento do país, sendo assim o escravo teve desde tempos da colônia um papel importante no que se refere á economia. Mas, esse legado histórico, destacou também em outras cidades do interior de Minas Gerais e São Paulo, essas por ter sido fazendas de café conectadas a duas regiões importantes. A primeira próxima ao oeste de São Paulo, e a segunda, próxima à Zona da Mata e Poços de Caldas em Minas Gerais e a cidade de Ubá em São Paulo. Esses territórios foram registrados como berço da tradição senhorial que enfrentou a questão da emancipação dos escravos tradicionalmente dependentes do trabalho escravo, mas esses senhores do café também não encontraram alternativa, a não ser o recurso de mudança à mão-de-obra estrangeira, da imigração. “Emancipação e imigração ficavam, dessa forma, intimamente relacionadas.” (VIOTTI, 1998: 109). 

 Todavia, o fato da imigração teve grandes turbulências, num longo processo de adaptação, porque os fazendeiros “Barões do café”, assim chamados, haviam herdado de seus antepassados a mentalidade escravista da época das lavouras da cana de açúcar e das Minas, mas com a expansão do plantio do café era exigido uma grande quantidade de mão de obra, que na época, possuir escravos também significava prestígio social já citado acima. Nesse processo de demolição das concepções escravistas, permaneceu a concepção da dominação pessoal do fazendeiro. Através do endividamento do trabalhador, estes foram subjugados. Nesse caso o imigrante italiano esteve, portanto diretamente inserido nos dilemas criados pela substituição do trabalho escravo.

Assim, no campo como na cidade, no negócio como em casa, o escravo é onipresente. Torna-se muito restrito o terreno reservado ao trabalho livre, tal o poder absorvente da escravidão. E a utilização universal do escravo em vários misteres da vida econômica e social acaba reagindo sobre o conceito de trabalho, que se torna ocupação pejorativa e abandonada (PRADO JÚNIOR, 1942: 277).

Várias cidades ensaiaram experiências alternativas para a substituição dos escravos pela mão de obra estrangeira. A política imperial variou entre duas orientações, aquela de iniciativas de colonização, introduzindo colonos, com a condição dos fazendeiros e pôr a venda ou a aforamento os estabelecimentos em lotes de terra de regular extensão, a assim chamada imigração de povoamento, de interesses dos fazendeiros, como no caso dessas regiões onde o trabalho livre ainda não era compatível com a grande propriedade e com a produção para exportação e necessitava de maior demanda de mão de obra. Podendo assim dizer que até 1870, o escravo era a mão de obra dominante na produção do café em expansão (VIOTTI, 1998:196). 

 Após 1875, novas leis brasileiras autorizam a emissão de apólice para auxiliar o pagamento de passagens de imigrantes da Itália e é fundada a Associação Auxiliadora de Colonização (VIOTTI, 1998: 234). Essas solicitações do governo brasileiro não apontam somente a preocupação com a mão de obra, mas evidencia claramente a questão racial, em querer branquear uma raça, num momento em que a questão racial estava em evidência e o negro por sua vez era considerado uma raça inferior. Auxiliado a essa questão as autoridades italianas em dificuldades políticas e econômicas acreditavam que o Brasil poderia ser o país que realizaria o sonho de muitos italianos de ter acesso a terra. 

 A utilização em massa do trabalho assalariado representou a primeira fase de desenvolvimento do capitalismo no Brasil, associado com o capital cafeeiro e também essa formação do mercado de trabalho assalariado adquiriu um ritmo mais intenso depois da falência definitiva do sistema escravista. Ao mesmo tempo, ele chegou num momento da história brasileira em que o país não buscava apenas a forma social de substituição do escravo, mas chegado o momento em que se abriam oportunidades econômicas, com a liberação de capitais decorrentes do fim do tráfico negreiro, a partir de 1850.

 Com o fim progressivo da escravidão, considerando as baixas taxas de crescimento vegetativo da população escrava e das crescentes dificuldades de importação de escravos a partir de 1850, os produtores começaram a introduzir o trabalhador livre assalariado. Recorrendo, sobretudo, à imigração européia, dadas as dificuldades associadas ao recrutamento de mão de obra no setor cafeeiro. A partir de então, com a abolição em conjunto com o trabalho livre passa a ser predominante, oferecendo condições para a criação de um mercado interno com sistema capitalista. Remunerações monetárias atingem uma classe com alta propensão a consumir produtos de primeira necessidade, produtos esses produzidos no país, visando uma nova possibilidade na economia com “eixo” oficial a produção do café. Assim, os gastos dos assalariados do setor exportador o “café” se transforma em renda de produtores locais, no qual por sua vez, têm alta propensão a consumir bens (FURTADO, 1976: 151).

 

 

  SURGIMENTO DAS INDÚSTRIAS  

 

Pensar na origem da indústria no Brasil, tem que incluir necessariamente a economia cafeeira como “eixo” principal, sendo essa desenvolvida no país durante o século XlX e boa parte do XX, pois ela foi quem deu as bases para o surgimento da indústria no país em diversos setores, que começou a ocorrer ainda na Segunda metade do século XlX. Dentre as contribuições da economia cafeeira para a industrialização, podemos mencionar a entrada dos imigrantes no país, se não um dos fatores principais, mas foi somente no final do século XIX que começou uma aceleração desse desenvolvimento industrial. Muitos cafeicultores passaram a investir parte dos lucros do capital cafeeiro, obtidos com o comércio de exportação do produto, em vários estabelecimentos indústrias, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Momento que surgiram as fábricas de tecidos, calçados e outros produtos de fabricação mais simples. A mão-de-obra usada nestas fábricas era, na maioria, formada por imigrantes italianos. 

A cafeicultura que estava em pleno desenvolvimento necessitava de mão de obra. Isso estimulou a entrada de um número considerável de imigrantes, que trouxe novas técnicas de produção de manufaturados. Assim constituíram um mercado consumidor indispensável ao desenvolvimento industrial, bem como força de trabalho especializada. O setor que mais cresceu foi o têxtil, favorecido em parte pelo crescimento da agricultura. Acumulação de capital necessário para o processo e criação de infraestrutura, formação de mercado de consumo, mão de obra utilizada, especialmente dos migrantes europeus como os italianos. 

A produção, cafeeira, segundo Furtado (1976), passa a ser responsável pela formação de uma nova classe empresarial. Diferentemente dos produtores de açúcar do nordeste, que se limitavam ao pólo da produção, deixando as atividades comerciais aos monopólios holandês ou português, os produtores de café desde muito cedo entrelaçaram os interesses da produção e do comércio essa esses produtores de café estruturou-se com a aquisição de terras recrutamento de mão de obra, organização e direção da produção, transportes e comercialização nos portos e interferência na política econômica e financeira. 

Para Sergio Silva (1986), no final do século XIX, esse quadro dominado pela economia agroexportadora começou a se transformar. Entre 1886 e 1894, a industrialização ganhou impulso, embora a sua origem fosse anterior a 1880.  Ainda segundo o autor, o surgimento das indústrias e todo desenvolvimento dessas sempre estiveram relacionados ao desempenho da economia exportadora sobre o complexo cafeeiro, mesmo as primárias. Isso até a crise de 1929, quando então a economia agroexportadora foi superada avançando no setor industrial, que passou a ocupar o centro vital da economia no país, a industrialização não ocorreu em todo o país simultaneamente e com a mesma intensidade. O seu pólo dinâmico situava-se no sudeste, área essa de grande produção de café, particularmente em São Paulo, onde se localizava a mais poderosa economia exportadora, os grandes “Barões” do café, que a partir desses houve um maior desempenho nas indústrias devido o capital cafeeiro já antes citado, com consequência gerando uma nova classe econômica no país, sendo essa a burguesia comercial. 

A economia cafeeira paulista em questão desenvolveu, no contexto da transição do trabalho escravo para o livre, ampla possibilidade de expansão nas terras férteis e ao mesmo tempo no setor industrial, em uma conversão próspera das economias agroexportadoras para uma economia industrial. Que por esses fatores, e essa razão, foi ali que por consequência a industrialização desenvolveu-se com mais rapidez. No início, a industrialização fazia parte da economia cafeeira, ou melhor, do "complexo cafeeiro", pois a produção e a exportação do café dependiam de uma complexa organização de fatores favorecendo o crescimento industrial. Além da sua própria organização assim dizendo, o complexo cafeeiro incluía ainda em seu processamento organizacional, outros fatores contribuintes para o setor industrial, como o sistema de transporte, assim as ferrovias tinham como função no comércio de importação e exportação, os bancos e, por consequência um aumento, industrial. 

Ainda segundo Sergio Silva (1986), todo processo de industrialização foi acompanhado no ritmo do setor exportador, nos momentos de expansão cafeeira, os investimentos industriais aumentavam e se contraíam em momentos de retração do mercado internacional. Até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Estado não adotou nenhuma política de estímulo à industrialização. No entanto, ela era estimulada direta ou indiretamente quando o governo aumentava as tarifas alfandegárias e, sem pretensão, consequentemente protegendo as indústrias da concorrência estrangeira, sendo assim quando desvalorizava a moeda nacional desestimulando as importações, ou então quando adotava as duas medidas ao mesmo tempo. 

A questão é que para Furtado (1976) não ocorreu uma grande diferença do governo em relação à industrialização com o modelo econômico agroexportador que o Brasil herdara da colônia. Segundo esse modelo, o Brasil exportava produtos tropicais e, em troca, importava produtos manufaturados. Essa tradição persistiu na economia cafeeira, o fazendeiro, através de seu comissário, realizava compras para si e para os escravos nas grandes casas importadoras, que forneciam a quase totalidade dos produtos de consumo de origem industrial. Portanto, segundo o modelo agroexportador não havia necessidade de desenvolver a industrialização, contudo, a produção em pequena escala de produtos manufaturados estava disseminada pelo Brasil em pequenas oficinas artesanais. 

O primeiro passo no sentido da industrialização foi dado com a substituição dessa pequena produção por unidades industriais maiores. E isso começou a acontecer no final da década de 1870 com fortalecimento do complexo cafeeiro, e sua grande desenvoltura ,quando então a abolição encontrava-se no fim, e a chegada dos imigrantes começou a ser considerada como alternativa principal. No alargamento desse processo, alterou-se também a estrutura do mercado consumidor, com a gradual eliminação desse comissário como intermediário no comércio exportador e importador, os exportadores foram direto aos produtores e os importadores espalharam representantes pelo interior. 

 O processo de industrialização, que vinha, desde o final do século XIX, crescendo de acordo com a expansão das exportações, ganhou uma nova direção a partir da Primeira Guerra. O primeiro efeito da guerra foi à drástica redução dos investimentos industriais. A produção do café que se expandia a partir de então com a utilização plena da capacidade instalada, teve seu declínio, mas começou a declínio por consequência pelo rápido crescimento tornando-o muitas vezes com aspectos negativos, por falta de matérias-primas, máquinas e equipamentos importados. 

O principal efeito da Primeira Guerra Mundial sobre a indústria foi a mudança da atitude do governo, mas o principal fator foi o capital acumulado da produção do café. Até então, não existia o que poderíamos chamar de política industrial que mais tarde em conjunto com crise de 1929, esses fatores contribuíram para o mercado interno e o avanço industrial. Esse conjunto de fatores, entretanto, evidenciou os limites e as inconveniências de um país destituído de um mercado interno e um campo industrial compatível. Por esse motivo, o governo começou a adotar conscientemente e deliberadamente um incentivo para o desenvolvimento industrial, a fim de promover a diversificação de um mercado interno.

Mas a industrialização ainda era incipiente, era mais vantajoso investir no café, por exemplo, do que na indústria, e somente com a crise de 1929, que ocorre uma real transformação da economia brasileira com apoio do Governo ao setor industrial e o desenvolvimento para um comércio interno. Com a subida ao poder Vargas, que emerge o pensamento urbano industrial, na chamada era Vargas, o processo de industrialização é impulsionado, com base políticas de caráter keynesiano. A partir de então, o intervencionismo estatal na economia é cada vez maior, momento das empresas estatais como, Petrobrás, Eletrobrás, com o objetivo de industrializar o país. 

 Porém, a importância  do investimento industrial só veio se acentuar  após o golpe de 1964, pois o governo ditatorial utilizou desse investimento como instrumento de ação econômica e política, e por essa consciência clara de seus próprios interesses que eles se diferenciam dos grupos dominantes as oligarquias cafeeiras anteriores. De acordo com a historiografia clássica, a industrialização de São Paulo jamais teria ocorrido na forma que ocorreu se não fosse à acumulação do capital cafeeiro, apontado assim as relações econômicas entre o café e indústria, sendo esses processos históricos bem desenvolvidos por Sérgio Silva (1986) e Celso Furtado (1976). 

 No entanto, estes estudos não apenas reconhecem a origem dos empresários industriais através do capital cafeeiro, mas também a relação desse capital cafeeiro com os imigrantes, e afirmando claramente que “a burguesia” industrial nascente encontra suas origens na imigração europeia (SILVA,1976: 91), mas principalmente percebeu o caráter eminentemente contraditório ou dialético do café com a indústria no Brasil. Segundo Sergio Silva (1986) diz que é preciso falar a respeito dos fatos, ao examinar os diferentes aspectos da questão concluindo que as relações entre o comércio exterior de um lado e o capital cafeeiro do outro, está a indústria nascente, do outro lado, esses fatores implicam, ao mesmo tempo, a contradição, na influência dos imigrantes e nos produtores do café. 

 Sendo questão fundamental discutida o desenvolvimento capitalista baseado na expansão cafeeira, não só provoca o nascimento e o desenvolvimento das indústrias, nos limites impostos ao desenvolvimento industrial pela posição dominante da economia cafeeira e na acumulação de capital (SILVA, 1976: 103). Assim, segundo Sergio Silva (1986), assim como Celso Furtado (1976), o desenvolvimento da nascente indústria nacional estará sempre relacionado com o capital cafeeiro.

 

 

  ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

 

Em todo contexto desse artigo a pretensão foi através dos estudos historiográficos de vários estudiosos sobre o tema, fazer uma análise sobre a economia cafeeira.  Após uma leitura desse processo histórico foi possível perceber a transformação econômica da economia cafeeira demonstrando toda dinâmica e articulações dessa economia. A percepção da  mudança de todo um sistema político e econômico, que ocorre concomitante à transição do capitalismo. A transformação econômica de um país apenas agroexportador que se torna também industrializado, mesmo que com restrições. Com o avanço da pesquisa também se comprova  que a progressão da economia cafeeira através de um organizado complexo econômico, foi por vários anos um aparato estatal sustentável, indo além do que se poderia supor.

SIQUEIRA, AP, ELIANA. Analise historiográfica sobre a economia cafeeira. Pesquisa Bibliográfica, São Paulo, novembro de 2011.