CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICA, AMBIENTAIS E DE SAÚDE
CURSO DE GEOGRAFIA E ANÁLISE AMBIENTAL


ANÁLISE ESPACIAL DAS OCORRÊCIAS DE ACIDENTES RODOVIÁRIOS DE PRODUTOS QUÍMICOS PERIGOSOS

Ana Carolina Barbosa Pereira *
Osvaldo Rodrigues Araújo *
Maíra Campolina **

Resumo: Este artigo tem como finalidade realizar a espacialização das ocorrências dos acidentes envolvendo o transporte rodoviário de produtos químicos perigosos para os municípios do estado de Minas Gerais, sendo possível identificar os locais de maior ocorrência, tipos de acidentes e tipos de produtos envolvidos.

Abstract: This article aims to achieve the spatial occurrence of accidents involving the transport of hazardous chemicals products to the cities of Minas Gerais State, making it possible to identify sites of highest incidence, types of accidents and types of products involved.

Palavra chave: Transporte rodoviário, produtos químicos perigosos, espacialização.

1. APRESENTAÇÃO

O desenvolvimento econômico de uma sociedade conduz ao crescimento do consumo de produtos químicos perigosos e o transporte dos mesmos, passando estas atividades a serem fundamentais para o crescimento e desenvolvimento das sociedades, visto que tais produtos abastecem as indústrias de transformação, indústrias extrativistas, a construção civil, comércio, dentre outros diversos ramos de atividades.

__________________________________________________________________
*Estudantes do curso de Geografia e Análise Ambiental do Centro Universitário de Belo Horizonte do 2º semestre de 2010. E-mail: [email protected] / [email protected].
**Orientadora, Professora do curso de Geografia e Análise Ambiental do Centro Universitário de Belo Horizonte. Mestre em Geografia. E-mail: [email protected]


Assim, tal necessidade de comercialização dos produtos químicos perigosos realiza-se através do transporte rodoviário, ferroviário, aeroviário, dutoviário e hidroviário.
Na década de 50 o modal rodoviário destacou-se dentre os demais meios de transporte, para atender aos interesses das industriais automobilísticas e o crescimento econômico entre 1950 e 1980 (Anuário estatístico dos transportes, GEIPOT¹, 1995/95).
Tal fato conduziu à rápida expansão da infra-estrutura de transporte rodoviário principalmente na década de 70, quando a economia brasileira cresceu a um taxa anual média de 8,6 % (BRASIL, MME², 1997). Em decorrência desta escolha o transporte rodoviário se destacou dentre os outros meios de transporte (podendo citar o ferroviário, aéreo, hidroviário e dutoviário). O transporte rodoviário de cargas perigosas no Brasil tem início na década de 70, devido ao desenvolvimento econômico e industrial, principalmente na região sudeste (Anuário Estatístico dos Transportes, GEIPOT, 1995/95).
Até o final da década de 70, segundo Pimentel (1999), quase todos os investimentos governamentais foram direcionados para a construção de rodovias. Todavia, com a extinção do Fundo Rodoviário Nacional, em 1988, houve uma redução significativa nos investimentos no segmento rodoviário, inclusive redução dos custos na manutenção das vias. Esta política gerou graves problemas na economia do país, elevando os custos do transporte (PIMENTEL, 1999).
Durante o governo Juscelino Kubischeck, ocorreu um grande investimento em construção de estradas, o que contribuiu para a urbanização ao longo dos trechos das rodovias.
Neste período, ocorreu uma intensificação das atividades econômicas e industriais, principalmente do setor químico, gerando a necessidade de transporte destes materiais, utilizando-se para isto de diversos modais, porém, foi dada prioridade para o modal rodoviário, mesmo estando este, suscetível a acidentes de trânsito, devido a sua massificação.


¹ GEIPOT ? Grupo Executivo Integrado de Políticas de Transporte.
²MME ? Ministério de Minas e Energia.
Ademais, conseqüentemente, houve um desgaste das rodovias, devido a falta de manutenção adequada e vários trechos ficaram em péssimas condições de tráfego, o que acabou contribuindo para a ocorrência de acidentes cada vez mais freqüentes.
Do exposto anteriormente, resulta que o Brasil ainda apresenta uma distribuição modal no transporte de carga excessivamente centrada nas rodovias, decorrente de um processo que se estendeu por várias décadas e onde predominou o crescimento rápido e desproporcional do segmento rodoviário se comparado ao conjunto das demais modalidades.
Os dados da matriz de transportes são, naturalmente, resultado de um processo histórico, e as distorções apresentadas não devem, no entanto, servir para desconsiderar a importância do segmento rodoviário, que, afinal, é o modal mais utilizado no país, sendo responsável por movimentar cerca de 60% do total de cargas transportáveis (FLEURY, 2003).
Acrescenta-se que o "Transporte Rodoviário de Produtos Químicos Perigosos" foi regulamentado no Brasil através da aprovação do Decreto nº 96.044, de 18 de maio de 1988. Enfatiza-se que a caracterização e enquadramento dos produtos químicos como perigosos para o transporte restringe-se àqueles constantes dentre as nove classes de materiais estabelecido na Resolução 420/04 da ANTT ? Agência Nacional de Transportes Terrestres, que baseia-se nas principais classes de produtos químicos definidos como perigosos, estabelecidos pela ONU (1997), a saber:
Classe 1 ? Explosivos
Classe 2 ? Gases
Classe 3 ? Líquidos Inflamáveis
Classe 4 ? Sólidos inflamáveis
Classe 5 ? Substâncias oxidantes ? peróxidos orgânicos.
Classe 6 ? Substâncias tóxicas e as infectantes
Classe 7 ? Materiais radioativos
Classe 8 ? Corrosivos
Classe 9 ? Substâncias perigosas diversas

Assim, diante do exposto, problematiza-se que o transporte rodoviário de produtos perigosos apresenta-se como uma atividade passível e potencial quanto a uma série de riscos ambientais, uma vez que nessa operação os produtos estão sujeitos a uma série de situações combinadas pelos fatores adversos, tais como o estado precário das vias, a falta de manutenção, volume de tráfego, falta de sinalização, condições atmosféricas adversas, estado de conservação do veículo e experiência do condutor.
Avançando na discussão, segundo estudo realizado nos anos de 2006, 2007, 2008 e 2009, sob coordenação e direção do IBAMA, o transporte rodoviário de produtos químicos é o que representada a maior parte de acidentes causadores de algum tipo de impacto ambiental em todo o Brasil (IBAMA, 2010).
Os dados levantados pelo IBAMA apontam que em 2006 foram registrados 37% de acidentes de origem rodoviários, em 2007 ? 23,5%, 2008 foram registrados 34,1% e 2009 um aumento de 37% em relação ao ano de 2008.
Dessa forma, faz-se importante ressaltar a potencialidade dos registros efetivos de acidentes envolvendo o transporte rodoviário de produtos químicos perigosos fazendo-se necessário, portanto, de estudos capazes de espacializar a concentração dessas ocorrências visando tomada de ações.
A partir deste pressuposto, almeja-se o mapeamento e análise da distribuição espacial dos acidentes devido ao transporte rodoviário de produtos perigosos em Minas Gerais, com base nos registros do IBAMA para anos de 2006 a 2009, com o intuito de analisar a distribuição espacial dos acidentes envolvendo o transporte de produtos perigosos no estado de Minas Gerais.
Além disso, objetiva-se identificar os principais tipos de acidente, tipos de produtos envolvidos nos acidentes registrados para o estado de Minas Gerais, dando ênfase aos municípios de maior ocorrência.
Identificar os principais tipos de acidente, tipos de produtos envolvidos nos acidentes registrados para o estado de Minas Gerais, dando ênfase aos municípios de maior ocorrência.




2 ? JUSTIFICATIVA

Os acidentes envolvendo transporte de produtos perigosos representam risco para a saúde de pessoas, para segurança pública e para o meio ambiente. Ademais, a ONU, através do Programa Ambiental das Nações Unidas (United Nations Environmental Programme - UNEP, 1995), constatou que um dos grandes problemas dos países em desenvolvimento é a falta de infra-estrutura para a condução de emergência, no caso de incidentes com produtos quimicos perigosos para garantir a segurança do público e do meio ambiente.
Diante do exposto, justifica-se a empregabilidade de estudos voltados a temática da ocorrência dos acidentes que envolvam transporte rodoviário de produtos perigosos, no intuito de distribuir espacialmente tais ocorrências no estado de Minas Gerais, visando contribuição a partir da análise dos principais tipos de acidentes e produtos envolvidos, principalmente nos municípios de maior incidência.

3 ? METODOLOGIA

Inicialmente, visando mapeamento dos locais de ocorrência, serão levantadas listas de ocorrência de acidentes disponíveis nos relatórios de acidentes ambientais, de autoria do IBAMA para os anos de 2006 a 2009.
Os relatórios disponibilizados anualmente pelo IBAMA são compostos por todas as ocorrências ambientais registradas pelo órgão, importante ressaltar que inicialmente não se trata exclusivamente dos acidentes envolvendo transporte de produtos químicos perigosos, este levantamento contempla todos os locais de acidentes ambientais registrados no Brasil, exemplificados conforme tabela 1.

Tabela 1
Distribuição das ocorrências de acidentes ambientais no Brasil ? 2006 a 2009
2006 2007 2008 2009
Aeronave Armazenamento Rodovia Rodovia
Armazenamento Duto Outro Outros
Duto Embarcação Embarcação Indústria
Embarcação Ferrovia Indústria Embarcação
Ferrovia Indústria Ferrovia Plataforma
Indústria Plataforma Plataforma Armazenamento
Oficina de manutenção da empresa Posto de combustível Barragem Ferrovia
Plataforma Rodovia Terminal, portos, ancouradouros Terminal, portos, ancouradouros
Rodovia Terminal - portos, ancoradouros Armazenamento Duto
Terminal - portos, ancoradouros Outros Duto Posto de combustível
Outros Sem informação Posto de combustível Barragem
Sem informação - Refinaria -
- - - -
Fonte: Adaptado de IBAMA, Distribuição das ocorrências dos acidentes ambientais no Brasil, 2006 a 2009.

Cada relatório contempla, além do local de acidente, a data da ocorrência, estado, município, produto envolvido e descrição da ocorrência.

Segue exemplo de tabela da distribuição das ocorrências dos acidentes ambientais registrados pelo IBAMA conforme tabela 2.
Tabela 2
Acidentes registrados pelo IBAMA
Item Ano Data UF Município Produto Breve descrição
1 2006 4/8 MG CARANDAI Hidróxido de sódio Caminhão tanque da empresa Jupel colidiu com outro caminhão (transportando ardósia) e com um veículo de passeio. Com a colisão o caminhão tanque tombou, derrubando aproximadamente 9 mil litros de soda cáustica no solo.
Fonte: IBAMA, Relatório de acidentes ambientais, 2006/2007.

De posse destes dados, agrupamos as ocorrências para o estado de Minas Gerais envolvendo o transporte rodoviário de produtos perigosos, gerando assim um novo relatório de distribuição para os anos de 2006 a 2009.
Assim, o presente artigo contempla as informações de acidentes envolvendo exclusivamente o transporte rodoviário de produtos perigosos ocorridos no estado de Minas Gerais, produto envolvido, município e breve descrição, que foi analisada para definição do tipo de acidente.
De posse de tais dados, foram elaborados mapas Coropléticos, representativos das seguintes informações: tipos de acidentes e produtos envolvidos por ano estudado; intensidade da distribuição do número de acidentes por município e ano; além de mapa geral da distribuição do número de acidentes por município englobando todo o período de 2006 ? 2009. Para geração dos mapas foi utilizada a plataforma de Geoprocessamento referente ao software Arcgis.



4. MARCO TEÓRICO

4.1. UM HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA GEOGRAFIA QUANTITATIVA E DA ANÁLISE ESPACIAL

A Geografia Teorético Quantitativa surge abordando metodologia baseada no positivismo lógico, com mudanças no estudo científico focado na re-organização do espaço, foco da ciência geográfica.
Na visão da Geografia, e principalmente, dos geógrafos tradicionais, até o advento da Revolução Industrial, o estudos do espaço passavam por uma imobilidade, com a visão de uma paisagem parada e compartimentada.
Após a Revolução Industrial e da chamada segunda Revolução Industrial na virada do século XlX ? XX, há uma diversificação das relações de espaço, devido a implantação de novas tecnologias e de processos de industrialização acelerados. Os espaços são globalizados e há uma desorganização de valores e o domínio de um modo de produção baseados no capitalismo.

Durante muitas décadas, a geografia foi gradativamente sofrendo modificações. Nos anos 50, ocorreu uma revolução quantitativa, que consistiu na mudança de paradigma, uma vez que a geografia precisou buscar modelos, teorias matemáticas e estatísticas, assumindo um caráter mais científico. O desenvolvimento da tecnologia da informação ligada à eletrônica, com o advento principalmente do computador e do satélite, foi fundamental para o aprimoramento não só da Geografia, mas de toda a ciência (ABREU, BARROSO, 2003. p.50).

Após a segunda guerra mundial, nas décadas de 1940/50, alguns geógrafos buscam uma transformação metodológica da natureza da Geografia, estando diretamente relacionados a análise espacial, utilizando-se da lógica matemática e a concepção de sistemas e modelos lógicos, baseados em instrumentos de estudos científicos e racionais.
Temos assim, uma busca de ruptura com o modo tradicional construindo uma Geografia com uma nova concepção, que inseri um modelo analítico e mais objetivo na tentativa de se criar leis e técnicas, aprimorando a formulação sistemática da organização espacial da sociedade e de suas subdivisões.
Durante a década de 1960, esta nova Geografia obteve força nos Estados Unidos, com vários geógrafos quantitativos controlando diversos departamentos acadêmicos e criando revistas específicas.
Na Europa ocorreu certo atraso para que os geógrafos absorvessem a nova corrente da Geografia.
No Brasil, os grandes centros divulgadores da nova escola foram a Universidade de São Carlos em São Paulo e a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Esta nova Geografia é embasada em estudos científicos elaborados por geógrafos como Burton (1963,1967), Daves (1977), Bunge (1966), Haggett (1966), Harvey (1969), que tinham como objeto principal o conceito e estudos epistemológicos da análise geográfica.
Este conceito de organização espacial valorizando o estudo do espaço propriamente dito é citado por Corrêa (1975 p.20) que diz: "o espaço aparece, pela primeira vez na história do pensamento geográfico, como conceito chave da disciplina".
Os estudos de Bunge (1966), Pattison (1964/1976), reconhecem que o espaço se fundamentaria e daria unidade a ciência geográfica reafirmando a importância da análise espacial a partir de abordagens fundamentadas na visão teorético quantitativa propondo mudanças na natureza da Geografia, como ressalta Cristofoletti (1985) que, "ao deslocar o foco da análise para o das organizações espaciais, estava se propondo modificação substancial..." no que tange a epistemologia da Geografia.

4.2. APLICAÇÃO

A chamada revolução quantitativa em geografia atingiu intensamente a cartografia, permitindo o aparecimento, de forma concreta, de mapeamentos referentes, como por exemplo, de distâncias temporais, de custo, de interação espacial. Dessa forma, os Sistemas de Informações Geográficos pode ser utilizados na solução de problemas relacionados aos serviços administrativos públicos e privados; de saúde pública, meio ambiente, monitoramento florestal, agrícola e de transportes (ABREU, BARROSO, 2003. p.50).

Segundo Christofoletti e Teixeira et al. apud Abreu, Barroso (2003) as aplicações do SIG³ podem ser utilizadas em diversas disciplinas cujos objetivos de estudo possuem dimensão espacial sendo orientados para as atividades de planejamento, pesquisa e como suporte à tomada de decisões.
Segundo Abreu e Barroso (2003) durante a década de 1950, começaram a surgir às primeiras aplicações, que envolvem a análise espacial. Estas aplicações tornam mais perceptíveis as interações espaciais por permitirem, dentro de um único sistema, a associação de atributos a elementos gráficos.

Conceitualmente, SIG tende a tratar os elementos gráficos como as unidades básicas para a coleta de dados (limites territoriais, vias, cursos d?água, pontos específicos, dentre outros). Os atributos por sua vez, constituem-se das informações que caracteriza essas entidades ?a proporção da população feminina, a atividade econômica, predominante, o número de imigrantes dentre outras? (ABREU, BARROSO, 2003).

Comparando esta aplicação na distribuição dos acidentes envolvendo o transporte rodoviário de produtos perigosos no estado de Minas Gerais, podemos definir que os municípios seriam os elementos gráficos e as ocorrências seriam os atributos relacionados a cada elemento gráfico.






³ "SIG: sistemas... constituídos por uma série de programas e processos de análise, cuja característica principal é focalizar o relacionamento de determinado fenômeno da realidade com sua localização espacial". (ABREU, BARROSO, 2003 p.118)
Os atributos podem ser distinguidos por classes de fenômenos (tipos de acidentes: tombamento, colisão), por ordem ou tamanho (referente ao município), classe do produto químico (classe I, II, III), tipo de produto envolvido (óleo, ácido, gás), tipo de rodovia (duplicada, simples, federal, estadual) e nível de urbanização do município. Os atributos exercem uma relação espacial com os pontos de ocorrência de acidentes (os elementos gráficos).
Para realização a relação dos elementos gráficos com os atributos utiliza-se dos métodos citados por Abreu e Barroso (2003):

O SIG possui duas tecnologias computacionais, que se desenvolveram em ramos distintos da informática, o da Cartografia digital, que cria os elementos gráficos, e os sistemas gerenciadores de banco de dados (SGBD), que permitem a construção e a comparação dos atributos desses elementos. (ABREU E BARROSO, 2003).

A tecnologia que mais se aplica ao estudo em questão é o Sistema Gerenciador de banco de dados (SGBD).

5. A GEOGRAFIA DOS TRANSPORTES
Atualmente é impensável a falta da rede de transportes para o desenvolvimento da vida moderna. O transporte, em geral, faz parte de nosso ritmo diário de vida. Devido à complexidade em que se insere, o tema é ponto de estudos em várias áreas do conhecimento, por se tratar de um fenômeno de relações sociais, é uma temática inserida na multidisciplinaridade.
Certamente o fenômeno dos transportes, abordado seja pela perspectiva econômica, social, cultural, histórica, etc., não pode e nem deve ser desassociado de um contexto territorial. A importância que os sistemas de transportes assumem na contemporaneidade, ao possibilitar a conexão e a mobilidade de vários atributos territorialmente dispersos, torna a temática emergente nas discussões geográficas, porque a análise dos fenômenos, localização e sua distribuição pela superfície terrestre, constituem uma das preocupações básicas da Geografia. Tais análises não seriam diferentes em se tratando dos transportes.


6. DESENVOLVIMENTO

Visto a aplicação da metodologia detalhada anteriormente, procedeu-se a elaboração dos mapas da distribuição espacial dos acidentes rodoviários envolvendo o transporte de produtos químicos perigosos ocorridos no estado de Minas Gerais, nos anos de 2006 a 2009, apresentados a seguir.
Elaboramos mapas para cada ano estudado, 2006, 2007, 2008 e 2009. Onde identificamos em cada um os municípios onde ocorreram os acidentes, o tipo de sinistro e o produto químico perigoso envolvido.
Ressalta-se que estes consistiram na base principal para as análises que se seguem.

6.1. Análise das ocorrências de 2006

Analisando o mapa de 2006, foi possível identificar que dentre os doze acidentes, estes ocorreram nos municípios de Belo Horizonte, Campos Altos, Juiz de Fora, Nova Ponte, Carmo da Cachoeira, Carandaí, Três Corações, João Molevade, Rio Casca, Leopoldina, Uberada e Maripa de Minas
Enfatiza-se que as doze ocorrências de acidentes envolvendo o transporte rodoviário de produtos químicos perigosos aconteceram em municípios diferentes, não havendo concentração das ocorrências por município, apenas por região.
Destes, nove estão concentrados na região sul/sudeste, região que faz divisa com os principais pólos industriais (São Paulo e Rio de Janeiro) que têm como principais eixos rodoviários a BR-381 e BR-040. Ainda relata-se três ocorrências na região do triângulo mineiro.
Dentre estas ocorrências, foi possível identificar que onze delas foram relacionadas à eventos de tombamentos e uma delas relacionada a colisão, sendo que as ocorrências que envolvem tombamento são geralmente associadas a algum tipo de derramamento que, potencialmente, acarreta impactos e danos ambientais.
Os acidentes identificados no ano de 2006 se enquadram na classe 3 (Líquidos Inflamáveis) e classe 8 (Corrosivos), por ordem de maior ocorrência.


6.2. Análise das ocorrências de 2007

É possível identificar, dado um total de doze ocorrências, que destas dez delas ocorreram nos municípios de São Domingos do Prata, Nova União, Juatuba, Extrema, Muriaé, Itatiaiuçu, Uberlândia, Carandaí, Jampruca, Lagoa da Prata, além de dois acidentes concentrados no município de Belo Horizonte.
Destas ocorrências, seis concentram-se na região central de Minas Gerais, sendo que os municípios de ocorrência dos acidentes abrangem as três principais rodovias federais (BR-381, BR-040 e BR-262).
Quanto ao restante das ocorrências, quatro estão localizadas na região sul, uma na região nordeste, sendo estas regiões que fazem divisa com os principais pólos industriais (São Paulo e Rio de Janeiro). Ainda, relata-se uma ocorrência na região do triângulo mineiro.
Ademais, fez-se possível identificar que oito dos acidentes foram relacionadas a tombamentos e quatro deles relacionados às colisões, sendo que volta-se a destacar que as ocorrências envolvendo tombamento são, geralmente, associadas a algum tipo de derramamento que causam impactos e danos ambientais.
Os acidentes identificados no ano de 2007 se enquadram na classe 3 (Líquidos Inflamáveis) e classe 4 (Sólidos Inflamáveis), por ordem de maior ocorrência.
Observa-se que tanto os acidentes ocorridos no ano de 2006 e 2007 caracterizam-se pela mesma quantidade de acidentes envolvendo o transporte de produtos químicos perigosos, nos dois anos foram identificadas doze ocorrências por ano, além disso, as áreas de ocorrência são próximas e os sinistros ocorrem basicamente nas mesmas rodovias.
É expressivo denotar que a maioria dos acidentes ocorreram por tombamento, característica esta que pode estar relacionada ao fato de as rodovias apresentarem um traçado bastante sinuoso. Sabendo-se que o estado de Minas Gerais caracteriza-se por possuir um relevo montanhoso e que os traçados das rodovias acompanham o traçado deste relevo.

Nas regiões sul, nordeste e central de Minas Gerais, predominam a ocorrência de tombamento, estas regiões caracterizarem-se por uma ocupação urbana considerável, pressupõe-se que a ocorrência destes tombamentos são fatores potencias de causar algum dano sócio ambiental, bem como, contaminação do solo, da água, do ar, além dos problemas sóciais que podem gerar para a sociedade que está sob influência.



























6.3. Análise das ocorrências de 2008

No ano de 2008, foi possível identificar que da totalidade dos dezessete acidentes, estes ocorreram nos municípios de Prata, Belo Horizonte, Diamantina, Uberlândia, Itatiaiuçu, Sul de Minas, Itamonte, Barbacena, Juiz de Fora, Nova Era, Araxá, São João Nepomuceno, Belo Oriente, Carmo da Cachoeira, Curvelo, Catas Altas da Noruega e Uberlândia.
Destas ocorrências, seis delas concentraram-se na região central do estado de Minas Gerais, cujos municípios abrangem as rodovias federais BR-381, BR-040 e BR-262 como principais eixos. Outras cinco ocorrências estão concentradas na região sul/sudeste e outras quatro ativeram-se a região do triângulo mineiro, área de influência da BR-262.
Dentre as dezessete ocorrências identificadas, quatorze delas estão relacionadas aos eventos de tombamento, uma ocorrência relacionada ao evento de colisão, uma por incêndio do veículo e uma por vazamento de produto químico.
Os acidentes identificados no ano de 2008 se enquadram na classe 3 (Líquidos Inflamáveis) e classe 8 (Corrosivos), por ordem de maior ocorrência.
Analisando as ocorrências do ano de 2008, em comparação com os anos anteriores (2006 e 2007), percebe-se que houve um acréscimo de cinco ocorrências, porém as ocorrências se mantiveram nas regiões Sul, Sudeste e Triângulo Mineiro.
Nota-se, ainda, que o evento de tombamento manteve-se como principal fato de ocorrência dos acidentes ambientais de transporte de produtos químicos perigosos.










6.4. Análise das ocorrências de 2009

No ano de 2009, foi possível identificar a totalidade de quarenta e dois acidentes para o estado de Minas Gerais, sendo que trinta e sete ocorreram nos municípios de Juiz de Fora, Nova Lima, Carandaí, Paracatu, Divino das Laranjeiras, Governador Valadares, Betim, Nova Lima, Timóteo, Itutinga, Janaúba, São Domingos do Prata, Teófilo Otoni, Lavras, Carnópolis de Minas, Piunhi, Pouso Alegre, São Sebastião do Paraíso, Congonhas, São Lourenço, Itabirito, Muriaé, Poços de Caldas, Timóteo, Muzambinho, São Gonçalo do Rio Abaixo, Padre Carvalho, Ibiá, Tapira, São Gotardo, Santo Antônio do Amparo, Salinas, Carnopolis de Minas, Ibaratinga, Perdões, Ribeirão das Neves, mais duas ocorrências em cada um dos municípios de Diamantina, Três Corações e Belo Horizonte.
Destas, onze ocorreram na região central, quinze na região sul/sudeste, três no triângulo mineiro e oito na região norte do estado de Minas Gerais, cujos municípios que fazem parte das regiões acima citadas, têm as rodovias federais BR-381, BR-040 e BR-262 como principais eixos de ocorrência.
Apesar do aumento do número de acidentes em 2009 em comparação com as ocorrências dos anos de 2006, 2007 e 2008, observa-se uma incidência dos acidentes envolvendo o transporte de produtos químicos perigosos nas regiões central, sul, sudeste e triângulo mineiro.
Dentre estas ocorrências identifica-se que quarenta e duas estão relacionadas a eventos de tombamento e uma ocorrência relacionada a capotamento. O que também pode estar relacionado ao fato de o estado de Minas Gerais ser caracterizado por um relevo bastante montanhoso. O estado de Minas Gerais está situado em uma área de planalto, com altitudes que variam de cem a mil e quinhentos metros. Grande parte do estado localiza-se no Planalto Atlântico, com um relevo de topos ondulados o que caracteriza os "mares de morros, com altitudes médias de setecentos metros (JAMES & MENDES 2005/2006)
Os acidentes identificados no ano de 2009 se enquadram na classe 3 (Líquidos Inflamáveis) e classe 4 (Sólidos Inflamáveis) por ordem de maior ocorrência.
Alteia-se que no ano de 2009, houve um acréscimo de mais de 300% em relação aos anos anteriores, sendo registrados quarenta e três acidentes, deste total 99% ocorreram por tombamento. Estes dados tornam-se preocupantes, pois são potencialmente causadores de algum tipo de dano ambiental, que podem atingir os meio físicos, biótico e sócio econômico. Os acidentes ocorreram próximos a áreas de grandes concentrações urbanas devido a proximidade e características dos municípios em que houve os acidentes, e como neste tipo de acidente, a conseqüência direta é a de se ter vazamento e ou derramamento do produto químico transportado.
Sendo assim, as áreas lindeiras das rodovias, que são suas áreas de influencia, são diretamente afetadas, podendo atingir o solo e cursos d?água, que porventura estiverem às margens das rodovias e também a populações que se concentrarem nas proximidades. Devido às rodovias terem o seu traçado acompanhando o mesmo trajeto de cursos d?agua, que muitas vezes abastecem vários municípios e são utilizados, também, para irrigação de áreas agricultáveis.
















6.5. Análise Geral das ocorrências por município nos anos de 2006 a 2009.
Identifica-se que a distribuição dos acidentes envolvendo o transporte rodoviário de produtos químicos perigosos ocorridos entre os anos de 2006 a 2009, concentram-se nas regiões central, sul/sudeste e triângulo Mineiro.
É importante ressaltar que o Estado de Minas Gerais é o segundo mais populoso do país e o que possui um maior número de municípios, com um total de oitocentos e cinqüenta e três. O que representa um pouco mais de cinqüenta e um por cento (51,2%) dos municípios existentes na região sudeste e um pouco mais de quinze por cento (15,5%) dos municípios existentes e que também possui a maior malha viária do Brasil (IBGE 2009).
As ocorrências concentram-se nas três principais rodovias federais que cortam o estado de Minas Gerais, sendo elas BR-381, BR- 262 e BR-040.
Percebe-se que as regiões citadas acima, concentram um maior desenvolvimento econômico, maiores adensamento e estão diretamente ligadas aos estados de maior desenvolvimento econômico.
O estado de Minas Gerais está localizado em uma posição geográfica estratégica, pois as principais rodovias que atendem ao desenvolvimento dos estados do Centro Oeste, Norte e Nordeste do país cruzam o estado. Concentrando assim, a maior malha rodoviária do país, o que também contribui para o acréscimo do fluxo de veículos e conseqüentemente o aumento do número de acidentes no estado
Nota-se que os acidentes envolvendo o transporte de produtos químicos perigosos ocorridos entre os anos de 2006 a 2009, mantiveram na média de uma ocorrência para cada município identificado no mapa em anexo.
A região em que foi registrado um maior número de ocorrências de acidentes foi a metropolitana de Belo Horizonte, com um número de cinco acidentes registrados no período 2006 a 2009. Seguidas pelas regiões sul/sudeste, Triângulo Mineiro e Norte com um número de três a dois acidentes registrados durante o mesmo período.
Observa-se, também que a maioria dos produtos envolvidos corresponde a algum tipo de combustível, óleo diesel e derivados.


7. RESULTADO

Em posse dos mapas gerados e do estudo teórico realizado sobre a análise espacial dos acidentes rodoviários envolvendo o transporte de produtos químicos perigosos no estado de Minas Gerais, foi possível estabelecer algumas considerações a respeito do tema.
A maioria dos acidentes ocorreu nas faixas de influência das rodovias federais, BR 262, 381 e 040. Os municípios de referência das ocorrências estão concentrados na região central, sul e sudeste do estado de Minas Gerais, que fazem fronteira com os estados de maior pólo industrial do país, Rio de Janeiro e São Paulo.
Detectamos que no ano de 2006, 2007 e 2008, o número de acidentes se manteve em uma mesma média (treze acidentes/ano), assim como a distribuição dos municípios de ocorrência se mantiveram concentradas basicamente nas mesmas regiões (Centro Sul e Sudeste de Minas Gerais).
É de relevância o fato de que no ano de 2009 houve um aumento considerável no número de ocorrências de acidentes, passando da média de treze anuais para quarenta e três.
Outra característica é de que a maioria dos acidentes ocorreram por tombamento dos veículos, fato que caracteriza derramamento do produto transportado, potencial causador de algum tipo de dano ambiental ou sócio econômico.
Observando este quadro, percebemos que algumas medidas devem ser tomadas, tanto por parte dos órgãos competentes, responsáveis, tanto pela fiscalização, como por medidas preventivas e também por parte de empresas transportadoras. Medidas estas no sentido de reduzir estas ocorrências, através de uma gestão e de uma logística bem planejada.
Cabe ressaltar que vivemos um momento de grande preocupação no que diz respeito ao equilíbrio de meio ambiente. Nesse sentido, presente trabalho pode contribuir com informações relevantes que podem levar a um melhor planejamento de rotas, por parte de empresas transportadoras, sabendo-se das áreas onde os acidentes ocorrem com maior freqüência, evitando-se, desta forma, danos que venhas a atingir os meios físicos, bióticos e sócios econômico.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os acidentes envolvendo o transporte de produtos químicos perigosos são potenciais causadores de impactos e danos ambientais, fazendo-se fundamental o desenvolvimento de ações conjuntas entre o estado e as empresas responsáveis por realizar este transporte, em gerar planos e estratégias plausíveis na redução destas ocorrências, conhecendo e identificando as áreas de ocorrência de acidentes e de como ocorreram e os tipos de produtos envolvidos.


9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABIQUIM, Manual para atendimento de emergências com produtos perigosos, 4ª edição, São Paulo, 2002.

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