O filme “A classe operária vai ao paraíso” é um clássico do cinema italiano dos anos 60 e 70, com viés político. Retrata o processo de conscientização política de um operário que pauta o fio condutor do filme, que de forma dialética, consegue mostrar as contradições da vida do trabalhador que enquanto se politiza recebe as influências do capitalismo pelo modo “necessário” de ser consumista.

Lulu é um operário modelo que causa ira dos companheiros de trabalho por conta do seu comportamento extremista de submissão enquanto produz, o que o apresenta pela cúpula da empresa como paradigma digno de elogios para a direção da referida empresa fabril. Depois de sofrer um acidente de trabalho, revolta-se contra a fábrica em que trabalha e passa a receber formação política com base em três exemplos: discurso dos estudantes extremistas, o pragmatismo dos sindicalistas e, decisivamente à loucura de um companheiro de trabalho que vai para o manicômio, fruto do trabalho desenvolvido na fábrica que ambos trabalhavam. Lulu se engaja politicamente apesar dos conflitos familiares.

O filme é também um documentário de um momento marcante da luta de classe italiana na década de 1970. Momento que apoderou-se um forte fervor militante das lutas sociais no país. 

O filme no entanto tomar partido pelos operários na luta de classe, pontua as limitações e contradições que são vividas no movimento, o que não diminui à importância naquele período, das greves e mobilizações que potencializaram a melhora do nível de vida dos trabalhadores italianos em comparação à países assemelhados na época.

Considerando que o filme é um documento referencial para às lutas da classe operária e também da esquerda, pode-se destacar a alienação  do trabalho no capitalismo, sendo exposta claramente no diálogo entre Lulu e seu companheiro Militina, no momento que este, variando em sua “loucura”, reflete sobre à utilidade das peças que produziam. Daí referencia-se a utopia: o muro que precisa ser derrubado, possibilitando o acesso ao paraíso para todos os operários.

Destaca-se ainda a conversa de Lulu com o líder estudantil sobre sua dificuldade de aproximação do discurso com à esquerda e o cotidiano da classe operária, enfatizando que o coletivo se sobrepõe ao individual considerando que o individualismo está internalizado.

Assim é possível concluir que esse trabalhador proletário sofre as influências do seu mundo e das contradições em viver do seu trabalho e para o trabalho, sendo transformado pelas relações da sociedade e consumido pelas “amarras” de produção como mero produto mercadológico. Outrossim, sempre explorado, o trabalhador que vive na parte de baixo da piramide social, fica desvinculado do produto que produz, porquanto na verdade produz para uma parte elitizada.

O processo de conscientização da existência da luta de classe é lento, não existe mágica na luta pela emancipação de uma sociedade, como no filme, aprendemos e construímos no processo da práxis em movimento.