José Martiniano de Alencar - José de Alencar -, nasceu na cidade de Macejana-Ceará, no ano de 1829. Foi escritor, se dedicou ao teatro, à advocacia e à política, além de ser considerado o fundador do romance nacional como em suas obras: Iracema, O Guarani, Senhora, Lucíola, O Tronco do Ipê, entre outras importantes composições literárias.

Era amigo pessoal de Machado de Assis, que estava despontando como sucessor de José de Alencar nas letras brasileiras.

José de Alencar morreu aos 48 anos em 1877 vítima de tuberculose, no entanto, este deixou uma vasta produção literária e obras primas da literatura nacional brasileira.

O romance Senhora retrata um tema urbano, que denuncia o matrimônio por questões de interesse econômico e uma sociedade de aparências e contradições entre o que se fazia na vida em sociedade e o que se verdadeiramente gostaria de fazer, caso não houvessem tantas convenções sociais impedindo os indivíduos de serem soberanos em suas escolhas pessoais.

Esse romance descreve de maneira precisa os costumes morais, sociais e políticos da cidade do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX.

Analisando o romance Senhora, temos uma situação nele descrita um tanto diversa, diferente, ou seja, há uma situação inversa onde um homem vende-se a uma mulher com todas as formalidades de uma compra e venda.

De maneira literal, há uma verdadeira venda um homem se vende a uma mulher por dinheiro.

Assim sendo, há toda a formalidade legal, comercial, que convém ao ato, e assim como num protocolo, o romance Senhora se divide em partes que comporão a compra e venda mencionada acima.

Esse ato comercial é muito importante para que se compreenda bem o romance, visto que muitos acontecimentos ao longo deste se devem por essa transação comercial e sobretudo pelo dinheiro.

Importante ressaltar que no romance em tela é clara a intenção crítica da obra ao revelar o casamento por conveniência social.

Essa prática, devemos informar, era muito comum em nossa sociedade patriarcal (forma de organização familiar centrada na autoridade absoluta do pai/patriarca da família).

Na época em que ocorre o romance, essa sociedade não permitia aos jovens a escolha de seus futuros maridos ou esposas. Por isso, a decisão do casamento era do pai, que como já dissemos, era o chefe da família.

Dessa forma, na segunda metade do século XIX, o casamento arranjado era visto e reconhecido pela sociedade como algo muito natural e comum.

Transformações culturais começam a ter novos contornos e a mudar gradativamente na época do Segundo Reinado, (reinado de Dom Pedro II) com o surgimento da classe burguesa que passa a habitar os grandes centros urbanos e a deixar as pequenas cidades. A burguesia começa a defender uma maior preservação do indivíduo como ser que pode fazer suas próprias escolhas tanto em suas relações sociais como íntimas e matrimoniais.

O romance se divide em quatro partes: O Preço; Quitação; Posse e Resgate. Por isso, vejamos de maneira um pouco mais aprofundada, os principais acontecimentos constantes nas quatro partes do romance:

1)           O PREÇO: Nesta primeira parte, conhecemos Aurélia Camargo, uma jovem rica, que frequenta as melhores festas da alta sociedade carioca. Ao se questionar sobre seu futuro, juntamente com seu tutor o Sr. Lemos, Aurélia lhe pede que faça uma proposta de casamento a um rapaz chamado Fernando Seixas.

 Lemos faz a proposta de casamento a Fernando Seixas, que, mesmo sem conhecer a noiva, recebe o valor de 100 contos (valor do dote) aceitando, portanto, o compromisso de casamento. Quando é apresentado à Aurélia, Seixas sente uma profunda humilhação, pois em tempos passados havia rompido seu noivado com Aurélia para ficar noivo de outra moça, por esta ser mais rica.

2)           QUITAÇÃO: Com relação à segunda parte, a história da personagem principal, Aurélia Camargo é contada com detalhes. Desde a infância pobre da família de Aurélia, passando pela morte de sua mãe que a deixa órfã e desamparada.

Algum tempo depois, Aurélia, conhece Fernando Seixas e, eles se apaixonam. Entretanto, ao perceber que Aurélia era muito pobre e que não teriam um futuro próspero juntos, este se arrepende e arranja uma outra noiva com mais posses. Assim sendo, esta segunda parte termina quando Aurélia recebe uma herança inesperada de um avô paterno que ela não conhecia. Em razão do conhecimento da existência de uma neta muito pobre, o avô de Aurélia deixa toda a sua herança abastada para ela.

Após a decepção amorosa de Aurélia, esta jamais se esqueceria da traição de Fernando, e, é por isso que Aurélia decide, por intermédio de seu tutor o Sr. Lemos, fazer a proposta de casamento a Fernando sem que este soubesse quem era a noiva. Fernando aceita a proposta de casamento, sem imaginar que a noiva era Aurélia Camargo, como já mencionamos acima.

3)           POSSE: Na terceira parte do romance, podemos verificar toda a rotina da vida de casados de Aurélia Camargo e Fernando Seixas, que vivem de aparências, já que para toda a sociedade carioca, eles parecem ser um casal feliz, contudo, quando estão a sós, Aurélia faz questão de humilhar Fernando financeiramente ou seja, sempre deixando claro que Fernando se “vendeu” por dinheiro ao aceitar a proposta de casamento. Apesar de serem apaixonados, vivem como “cão e gato”, pois o orgulho, vaidade, vingança e o despeito, não deixam que eles se entendam e se perdoem para serem verdadeiramente felizes.

4)           RESGATE: Os principais acontecimentos finais do romance ocorrem nesta quarta parte, nas últimas folhas do romance. Bem como o relacionamento complicado entre os dois personagens apenas fica esclarecido ao (a) leitor(a) na última parte do romance.

Fernando, com o dinheiro de seu trabalho, arrecada o valor de 100 contos (valor do dote pago) e assim, reembolsa Aurélia todo o dinheiro da compra e venda do casamento arranjado. Após esse episódio, Fernando pede o divórcio a Aurélia.

Nesse momento, Aurélia fica desesperada com a possibilidade da ruptura matrimonial, e impede que ele vá embora, confessando e manifestando seu amor por   Fernando. Os personagens principais do romance finalmente se perdoam e se aceitam como marido e mulher.

Por fim, entendemos que a real motivação de Aurélia ao se casar com Fernando nunca foi a vingança. O casal apenas conquista a felicidade 11 meses após o casamento, já que fica esclarecido para ambos que o verdadeiro motivo da união não foi o dinheiro, tampouco a revanche, e sim o amor que, por mero orgulho, não ousavam revelar um ao outro.

Referência:

Senhora, de José de Alencar (Coleção LER É APRENDER, do Jornal O Estado de S. Paulo,1997)