A Peça foi a última de Shakespeare e foi publicada em 1611. Tem um caráter metafórico forte a respeito dos mecanismos de poder e das relações políticas.
A Tempestade é uma metáfora para uma força capaz de operar grandes transformações.
Chaia, em seu texto "A ilha do poder", faz diversas relações entre o enredo da peça de Shakespeare e a obra de Maquiavel.
Outro texto que nos ajuda a compreender a obra é "A varinha de Próspero", de Jan Kott.
Para Kott, a história parece um círculo que se fecha, começa num ponto e termina nele. Apenas Fernando e Miranda estão isentos disto.

Reencontramos nesta peça o mundo do tempo de Shakespeare: grandes viagens, continentes há pouco descobertos, ilhas misteriosas, sonhos de voar, de máquinas, etc. Um mundo maravilhoso, cruel e dramático.
Kott também relaciona a obra a Maquiavel, mais especificamente no prólogo de Próspero, onde trata do bom e mau senhor, tema comum em Shakespeare.

-ALONSO, rei de Nápoles.
A ilha do poder
Nobre e sonhador.
-SEBASTIÃO, irmão do rei de Nápoles.
Parece meio ingênuo, se deixa levar por Antônio muito facilmente.
-FERNANDO, filho do rei de Nápoles.
É um jovem inocente, está desesperado pelo sentimento de perda de seu pai, pureza dos sentimentos e por isso se apaixona a primeira vista por Miranda.

-PRÓSPERO, o legítimo duque de Milão

A ilha do poder
Próspero era duque de Milão e perdeu seu título em função de um golpe de seu irmão. Tornou-se, então, "governador" da ilha que foi morar com sua filha. A ilha era habitada espíritos e por Caliban. Usa sua magia e sabedoria para submeter os demais personagens. O temor de seus súditos legitimam seu poder. É senhor, mas também busca sua liberdade: "Libertai-me pois da ilha", diz ele.
Instaura a sua moral e impõe a sua vontade, exigindo obediência e manipulando fatos e vidas. Tornando-se maior ainda pela arte e pela magia do antigo Duque de Milão. Tendo poder (que, neste caso, supõe conhecimento), ele sabe muito a respeito de seus súditos, conhece os segredos da natureza e situa-se inteligentemente neste conjunto que é a ilha. Assiste a tudo sob uma ótica privilegiada, o que facilita a sua ação.
No Ducado de Milão, conforme interpretação tomada de Maquiavel, pode-se dizer que, embora amado pelo povo, era um mal governante, pois era incapaz de governar. Passava muito tempo em sua biblioteca. Já na ilha o encontramos como um bom governante, porque obedecido, temido e odiado pelos súditos.Na ilha, Próspero pretende endireitar o novo mundo. Calculadamente e usando de sua arte, ele ocupa a ilha de Sycorax, escraviza o filho herdeiro, controla os espíritos da ilha, ordena tempestade, manipula as vidas do irmão Antônio, do rei de Nápoles e de quantos os acompanham, interfere no amor de Miranda e Fernando, julga e perdoa.



A varinha de Próspero
Por ser a última peça de Shakespeare, muitos comentaram que ele teria se representando sob os traços de Próspero.
Próspero se desfaz de sua varinha no final, porque ela é impotente para mudar a história do mundo. Para o autor, A tempestade é uma tragédia da história do Renascimento sobre as ilusões perdidas.
-ANTÔNIO, irmão de Próspero, duque usurpador de Milão.
É traiçoeiro, egoísta. Além de usurpar o lugar de seu irmão, incentiva o irmão do rei a fazer o mesmo, sempre pensando em seu benefício próprio.
-MIRANDA, filha de Próspero.
Foi para a ilha pequena, não conhecia figura humana além de seu pai e Caliban até o acontecimento da tempestade. Era submissa a seu pai. Parece ser bonita, pois Fernando se surpreende ao olhar para ela e logo se apaixona.
Miranda ensinou Caliban a falar (o que mostra sua humanidade).

-GONÇALO, um velho e honesto conselheiro.
A ilha do poder
Ingênuo, devaneia muito, sonha com uma sociedade ideal.

A varinha de Próspero
Gonçalo é pregador da moral e do drama. É fiel e honesto e ao mesmo tempo ingênuo e ridículo.

-CALIBAN, escravo selvagem e disforme.

A ilha do poder
Representa a escravidão. Estabelece uma relação apaixonada e cruel com o príncipe. Quer recuperar a liberdade através de maldições e conspirações. Deixa aflorar a irracionalidade.

A varinha de Próspero
Caliban é filho de Sicorax, antiga rainha da ilha. Ele é fruto dos amores de sua mãe e do diabo. Após a morte de sua mãe, perde seu reinado assim como Próspero perde seu ducado e é dominado por Próspero.

Shakespeare?s Caliban- A cultural history
O modelo para fazer Caliban provém de várias fontes. Uma das mais fortes é considerada pelos autores como o homem selvagem inglês.
Houve comentadores que disseram que o protótipo único seria o índio americano, mas isso é pouco provável, porque existiam muitos relatos que descrevem índios nem um pouco parecidos com Caliban: era feio, deformado e monstruoso, o que nunca foi usado para caracterizar índios americanos.
Uma característica comum sobre a interpretação de Caliban é que ele era essencialmente humano, mas com aparência grotesca.
As tentativas de associá-lo a monstros são frustradas porque sua descrição mostra que ele tinha forma e faculdades humanas.
Shakespeare não quis representar nenhum grupo ou pessoa em especial, mas um desregramento genérico na sociedade e na natureza.
A origem do nome é um mistério.
A descrição de Caliban diz que ele é escravo selvagem deformado. Mais recentemente, a característica que tem sido enfatizada é a respeito de sua escravidão. Ele seria uma vítima do colonialismo, inclusive se tornando uma figura empática por sua posição inferior.
Poderia simbolizar, para alguns, o Terceiro Mundo explorado.
-ARIEL, espírito do ar.

A ilha do poder
Ariel é servo de Próspero, que o libertou da escravidão de Sicorax. Ele representa , segundo o texto a Ilha do Poder, a liberdade. É prudente, controla suas paixões. Quer alcançar a liberdade agradando e obedecendo a seu senhor. É racional.

A varinha de Próspero
Ariel é anjo de Próspero, carrasco e executor de suas ordens. Foi considerado pelos comentadores como símbolo da alma, do pensamento, da inteligência, da poesia, do ar, da eletricidade, etc. Quando quer se tornar visivel, toma forma ora de ninfa, ora de harpia. A ilha de Próspero é uma prisão. Ariel vigia tudo. Ele é provocador e inspetor de um espetáculo do qual Próspero é o diretor.


-ESTÉFANO, despenseiro bêbado.
Caliban o vê como um deus que lhe pode dar "licor celestial" e por isso lhe jura fidelidade. Caliban lhe mostra e conta tudo sobre a ilha. Os dois juntamente com Trínculo planejam golpear Próspero e Estéfano se tornaria o rei da ilha.
-TRÍNCULO, palhaço ou bobo da corte.
-NOBRES
Acompanham a corte.

-IRIS, CERES, JUNO, ninfas, deusas e espíritos.
Aparecem em alguns momentos, sendo o mais marcante deles o noivado de Fernando e Miranda, criando um espetáculo mágico.

-A ILHA
A ilha do poder
Tem um aspecto tropical
A varinha de Próspero
Alguns dizem que é no Mediterrâneo, outros nas Bermudas. Shakespeare tem um gosto pelo fantástico. Por isso, é inútil buscar latitude e longitude na ilha de Próspero. A ilha está fora do tempo. Verão e inverno reinam simultaneamente. A ilha de prospero nada tem em comum com as ilhas afortunadas do Renascimento. Não adianta tentar encontrá-la no mapa.
A ilha é um local onde a história do mundo se desenrola e repete. A história da humanidade é loucura e por isso a representa numa ilha deserta.
É a representação do mundo verdadeira, não uma utopia.

Bibliografia:
Chaia, Miguel. A ilha do poder. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141995000100011
Kott, Jan. A varinha de Próspero. Shakespeare, nosso contemporâneo.
Vaughan, Virginia e Alden. Shakespeare?s Caliban - A cultural history. Conclusion.
Shakespeare, A tempestade.