Luiz Fernando Veríssimo, renomado escritor e cronista, é um grande conhecedor das normas gramaticais da língua portuguesa. Ele reconhece a necessidade e a importância da gramática normativa, da norma culta, mas entende que, esta, não pode ser a determinante para representar a "língua", na sua totalidade.

No fragmento de texto, "Escrever bem é escrever claro, mas não necessariamente certo. Por exemplo, dizer "escrever claro", não é certo, mas é claro, certo?" (em "O Gigolô das Palavras"), Veríssimo, com seu estilo irônico, utilizou-se do adjetivo "claro", modificando o verbo, em vez de utilizar o advérbio "claramente", para demonstrar que, a comunicação foi estabelecida, mesmo estando em desacordo com as normas gramaticais.

Estabelecendo um parâmetro entre a idéia de Veríssimo, e a idéia de Bechara, "transformar um aluno, em poliglota em sua própria língua", podemos assim dizer que, é tão somente possibilitar as pessoas, a compreensão das variações existentes na língua, saber identificá-las e fazer bom uso delas. Não se atendo apenas a gramática.A língua é viva, e evolui de acordo com os grupos sociais em que a sociedade é dividida. Ela não deve se prender a normas, pois não existe um modo certo ou errado de falar, o que existe são variações lingüísticas que devem ser consideradas

Um bom exemplo, é a famosa fala "estar ao telefone" e "estar no telefone", ou "vou ao banheiro " e " vou no banheiro".Do ponto de vista da gramática normativa, estar ao telefone é considerado o correto. E do ponto de vista da língua? Quantas pessoas falam "estou ao telefone", quando estão falando ao celular, na mesa de um barzinho? ou no corre-corre do dia a dia? A grande maioria, fala"estou no telefone".

A importância de ser poliglota em sua própria língua é poder lidar com as variedades lingüísticas. Reconhecer a pluralidade da nossa língua, aprender a "norma culta" e também a "não culta", já que empregamos diferentes formas de comunicação para cada situação. Sejam elas formais ou informais.