Análise do poema I WANDERED LONELY AS A CLOUD de William Wordsworth.
Tatiana Souza Cajado
William Wordsworth é considerado um dos maiores poetas românticos da Inglaterra. Em parceria com Coleridge, publicou Lyrical Ballads (1798), um dos marcos iniciais do romantismo inglês, pois fundamentalmente esses poemas vão dizer o que é a poesia romântica. O Romantismo é o oposto do racionalismo e ao rigor do neoclassicismo. Caracteriza-se por defender a liberdade de criação e privilegiar a emoção, os sentimentos. As obras valorizam o individualismo, o sofrimento amoroso, a religiosidade cristã, a natureza. A tendência é influenciada pela tese do filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) de que o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe.
Neste texto iremos analisar o poema I WANDERED LONELY AS A CLOUD de William Wordsworth. O poema inicia-se com o eu- lírico se comparando a uma nuvem e esta comparação que ele faz provavelmente quer dizer que ele está em relação com a natureza, uma vez que nuvem se liga a isso, porém ao se comparar a uma nuvem dá a impressão de que ele tem uma visão distante do mundo. No primeiro momento é como se o eu ? lírico visse somente as colinas e os vales. Repentinamente ele passa a ver uma multidão de narcisos dourados, como se estes o aproximasse ainda mais da natureza, e talvez do mundo e os narcisos dançam. Ao dizer uma multidão de narcisos e que eles dançam, os narcisos passam a assumir características humanas, se tornam sujeitos, é como se estas flores tivessem vontade e tudo isso nos remete a idéia de que se eles fazem parte da natureza então à natureza é viva.
1 I wandered lonely as a cloud
2 That floats on high o'er vales and hills,
3 When all at once I saw a crowd,
4 A host, of golden daffodils;
5 Beside the lake, beneath the trees,
6 Fluttering and dancing in the breeze.
Na segunda estrofe o eu- lírico compara os narcisos com as estrela, que também são brilhantes, representam luz, dançam e se encontram no céu, sendo que novamente ele recorre às alturas, nos dando a idéia de distanciamento do mundo, assim como havia feito na primeira estrofe, e as estrelas são infinitas, incontáveis, porém no relance ele contou dez mil, mas sabe-se que isso é impossível dentro da racionalidade, todavia o sentido da racionalidade neste poema não é importante.
7 Continuous as the stars that shine
8 And twinkle on the milky way,
9 They stretched in never-ending line
10 Along the margin of a bay:
11 Ten thousand saw I at a glance,
12 Tossing their heads in sprightly dance.
Temos então na terceira estrofe outra comparação, mas de superioridade por parte dos narcisos em relação às ondas, uma vez que as ondas dançam e brilham também, mas os narcisos o fazem com mais alegria.
Sendo assim as três primeiras estrofes criam uma unidade só, pois as três imagens se ligam uma à outra (os narcisos, as estrelas e as ondas) que brilham, se movimentam (dançam) e são alegres.
Encontramos também na terceira estrofe a caracterização do eu ? lírico como sendo um poeta, pois só um poeta é capaz de perceber os narcisos assim, e no momento em que ele os percebe, o "pensamento" não era importante e sim o "sentir", uma vez que ele estava feliz, os narcisos estavam felizes e as estrelas e as ondas também, sendo a felicidade geral, e estando ele em companhia dos narcisos, ele não pensa, ele sente, pois o poeta só pode ficar feliz numa companhia dessas, já que a natureza em geral é o que representa o espetáculo.
13 The waves beside them danced; but they
14 Out-did the sparkling waves in glee:
15 A poet could not but be gay,
16 In such a jocund company:
17 I gazed--and gazed--but little thought
18 What wealth the show to me had brought:

Já na quarta estrofe a unidade é quebrada, a experiência vivida passa para a memória, ele está relembrando o acontecimento, o lugar muda de natureza para casa, e se constrói um momento de solidão, porém uma solidão que traz fidelidade, afinal é nesta que se constitui o ato poético. E ele tira esses momentos poéticos da natureza e dele mesmo, não sendo necessárias regras para se fazer tal coisa.
19 For oft, when on my couch I lie
20 In vacant or in pensive mood,
21 They flash upon that inward eye
22 Which is the bliss of solitude;
23 And then my heart with pleasure fills,
24 And dances with the daffodils.
Quando o poeta reflete, então ele relembra "aquele momento", que viveu, ou seja, já observou, já passou pela experiência e depois tem a capacidade de tornar essa experiência em poesia, através de um momento poético que é relembrado e revivido, e tudo isso acontece de uma forma simples, deitado no sofá e em solidão, sendo que o olhar para dentro é o relembrar o ?acontecimento" e quando isso ocorre ele volta a fazer parte de toda a natureza, ele se enche de alegria e dança novamente com os narciso. No prefácio de Lyrical Ballads encontramos um trecho que nos fala sobre isso:
"... Poesia é o transbordar espontâneo de sentimentos poderosos; tem a sua origem a partir da emoção recordada em tranqüilidade: emoção é considerada até, por uma espécie de reação. Desaparece gradualmente a tranqüilidade, e uma emoção semelhante àquela que estava ante o sujeito de contemplação, é gradualmente produzida e existe de fato ela mesma na mente. Neste estado de espírito começa geralmente uma composição auspiciosa, e num estado de espírito semelhante a este é prosseguida; mas a emoção. Quaisquer que sejam a sua espécie e o seu grau, devido a causas várias, são mitigada por prazeres vários, de tal modo que a mente, ao descrever quaisquer paixões voluntariamente descritas, sejam elas quais forem, se encontrará, em geral, num estado de gozo." (Wordsworth, William . Poesias Românticas na literatura inglesa, p.28 e 29).
No fim do poema temos uma união entre o poeta e a natureza, uma união mística, ou seja, a tentativa poética de se encontrar com a natureza, e possivelmente se encontrando com a natureza ele se encontra com Deus.
È importante ressaltar que a experiência poética não é a poesia, mas ela gera poesia, por isso é necessário que o poeta observe e então depois a crie, sendo que qualquer acontecimento pode se tornar poesia desde que se tenha uma visão poética, pois a poesia está no olho do poeta, e isso necessariamente exclui um não poeta, pois somente o poeta é capaz de ver coisas das quais não se vê.