ANÁLISE DO POEMA “EU” - LIVRO DE MÁGOAS - FLORBELA ESPANCA1

 

 

MARA ROGELMA SOARES TORRES FRAZÃO2

 

 

RESUMO: Florbela Espanca era uma grande sonetista. Na verdade, depois que passou a escrever sonetos não mudou de forma, achando nesta forma poética o melhor caminho para sua expressão ansiosa. E nessa incansável busca pela identificação presente nesta poetiza, este artigo pretende analisar o poema “Eu”, encontrado no Livro de Mágoas de Florbela Espanca, que no próprio nome, tanto do poema quanto do livro, já traz a própria carga de sua autobiografia.

 

PALAVRAS-CHAVE: Florbela Espanca. Identidade. Conflitos. Perdas. Análise.

 

SUMÁRIO: 1 Introdução; 2 Desenvolvimento; 3 Referências

 

1 - INTRODUÇÃO:

            Antes de iniciar a análise propriamente dita do poema escolhido, será explanado um perfil da escritora Florbela Espanca, com o intuito de melhor assimilar o forte paralelo que existe entre sua poesia e sua vida pessoal.

            É comum encontrarmos na poesia de Florbela temas de sofrimento, solidão, desencanto, embasados num forte desejo de alcançar a felicidade. Como já mencionado, linguagem de seus poemas está situada no seu pessoal, nas suas próprias frustrações e anseios; coberta por um certo erotismo; características essas que são encontradas no poema que será analisado ao longo deste artigo – o poema Eu, encontrado no Livro de Mágoas, transcrito a seguir:

“Eu sou a que no mundo anda perdida,

Eu sou a que na vida não tem norte,

Sou a irmã do Sonho, e desta sorte

Sou a crucificada ... a dolorida ...

 

Sombra de névoa ténue e esvaecida,

E que o destino amargo, triste e forte,

Impele brutalmente para a morte!

Alma de luto sempre incompreendida! ...

 

Sou aquela que passa e ninguém vê ...

Sou a que chamam triste sem o ser ...

Sou a que chora sem saber porquê ...

 

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,

Alguém que veio ao mundo pra me ver

E que nunca na vida me encontrou!”

 

            O Livro de Mágoas foi editado em junho de 1919 por Raul Proença, um crítico literário que reconheceu a grandiosidade de Florbela Espanca através de um caderno com onze poesias, enviado pela mesma. Após a correção e críticas dos seus poemas, Florbela voltou a mandar poemas para Raul, poemas estes que compuseram o Livro de Mágoas. Este livro é dedicado ao pai e ao irmão da poetisa, que haviam morrido, por essa razão recebeu este nome, pois trazia em seu conteúdo toda sua mágoa, dor e saudade. Embora não conhecida nesta época, a tiragem de duzentos exemplares deste livro esgotou rapidamente nas livrarias.

            Florbela Espanca apresenta na sua poesia características neo-românticas, com caráter sentimental, confessional, sempre marcado pela sua paixão e sua voz feminina, fato este que a tornou a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX, como definiu Rui Guedes “Florbela entra para o templo dos escritores clássicos através de um espaço literário independente, cujo emblema é a sua própria condição feminina”.

 

            2 - DESENVOLVIMENTO:

 

            No Livro de Mágoas, o soneto “Eu” é o terceiro, somando-se a mais trinta e um poemas. Conhecendo um pouco das particularidades da vida de Florbela Espanca, percebemos que este soneto é autobiográfico. Nele encontramos toda dor e a busca de compreensão que Florbela tanto sentia.

“Eu sou a que no mundo anda perdida,

Eu sou a que na vida não tem norte,

Sou a irmã do Sonho, e desta sorte

Sou a crucificada... a dolorida ...”

 

            No primeiro quarteto, percebemos uma mulher perdida, em busca de sua própria identidade, sem rumo na vida; e ao mesmo tempo aproximando-se do sonho e da sorte (o irreal), escrevendo o substantivo comum “sonho” com inicial maiúscula para dar uma maior ênfase, exaltar o simbolismo da palavra.

            Dois adjetivos a caracterizam: crucificada e dolorida, que remetem à sua incapacidade de fugir da realidade, da dor que a prende sempre às margens de si mesma, da amargura que levava sempre em seu interior.

“Sombra de névoa ténue e esvaecida,

E que o destino amargo, triste e forte,

Impele brutalmente para a morte!

Alma de luto sempre incompreendida! ...”

 

            No segundo quarteto utiliza muitas palavras que remetem à escuridão, à desilusão – sombra, névoa, luto... bem como muitas outras que sempre trazem à tona todo seu desespero, culpando o destino pela sua aproximação com a morte (telvez desejada).

 

“Sou aquela que passa e ninguém vê ...

Sou a que chamam triste sem o ser ...

Sou a que chora sem saber porquê ...

 

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,

Alguém que veio ao mundo pra me ver

E que nunca na vida me encontrou!”

 

            Nos dois tercetos a falta de atenção, a descriminação que sofria é a marca forte, por todos perceberem nela apenas a tristeza, o chorar que confessa não saber o porquê. Florbela sempre enfatiza em seus poemas que não sabe se autodefinir porque ainda não se encontrou.

            A vontade de encontrar o amor (encontrada tanto no último terceto quanto na vida pessoal/conjugal atribulada). Talvez seja este o melhor verso que fale de sua vida amorosa.

            O desejo de ser vista, amada, compreendida, por um “Alguém” que nunca encontrou, nunca cruzou, marcando uma vida cheia de desencontros e maldizências.

           

3 - REFERÊNCIAS:

ESPANCA Florbela, Livraria Martins Fontes Editora, 1996 - S.Paulo, Brasil.

 

Disponível em: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:WG1Gg-RhA7MJ:www.vidaslusofonas.pt/florbela_espanca.htm+an%C3%A1lise+do+poema+eu+-+florbela+espanca&cd=6&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&source=www.google.com.br.

Acessado em: 06/06/11