Este artigo foi construído a partir da análise do livro didático: Análise, Linguagem e Pensamento - a diversidade de textos numa proposta socioconstrutivista - de Maria Fernandes Cóoco e Marco Antonio Hailer, pela editora FTD, no ano de 2001. Em poder das informações contidas no conteúdo deste livro de 7ª série, utilizado neste ano de 2009 na Escola Estadual de 1º Grau Bento Gonçalves, iniciou-se um exame substancial do material, verificando se realmente seus princípios estão de acordo com as normas do Guia PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) séries finais do ensino Fundamental.

A partir das observações realizadas, constatou-se que a proposta apresenta uma abordagem congruente a realidade da grande parte dos alunos que frequentam as escolas públicas brasileiras e, deste modo, bastante rico, uma vez que possui uma grande variedade de textos que abrangem a realidade cultural destes alunos, apresentando uma linguagem bastante reflexiva, que respeita a diversidade escolar e procura trabalhar a Língua Portuguesa de uma forma natural, fundamentando seu estudo em textos que cumprem as exigências curriculares de 7ª série, conforme as normas dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais).

Tendo por constituintes a análise deste livro ante os critérios classificatórios do MEC (Ministério da Educação e Cultura), observou-se que a linguagem oral que circula em todos os meios está presente no material do volume, contemplando as expectativas de variação linguística e estética que se encontram no processo classificatório do Programa Nacional do Livro Didático. A exploração textual, a produção e a gramática textual empreende favoravelmente os recursos linguísticos-textuais estando de acordo com as exigências classificatórias do Programa.

O livro apresenta em seu conteúdo textos variados, que contemplam o processo de apropriação da linguagem escrita e da linguagem oral do aluno. Dentro destes conteúdos é possível encontrar textos literários, charges, histórias em quadrinhos, tiras jornalísticas e poemas, sempre observando a temática de cada capítulo e a exploração interpretativa e gramatical contextualizada dos textos contidos no livro. A importância da valorização de gêneros textuais engrandece o aprendizado e proporciona o conhecimento da variedade de vocabulário por parte dos alunos e desfaz a impressão pré-concebida de que uma aula de língua deve ser centralizada apenas na gramática pura que, deste modo, restringe o conteúdo das aulas apenas a exercícios gramaticais descontextualizados e automáticos.

O ensino tradicional nunca levou em conta a infinita variedade dos gêneros textuais existentes na vida social, limitando-se a abordar somente os gêneros escritos literários de maior prestígio (...) e desprezando quase completamente o estudo dos gêneros textuais característicos das práticas orais. (BAGNO, 2002 p.55)


Os critérios classificatórios do PNLD ressaltam a importância do uso da linguagem oral e interação em sala de aula como mecanismos de ensino-aprendizagem, pois esta atitude explora as diferenças e semelhanças que se estabelecem entre as diversas formas da linguagem oral e da escrita, além das propriedades discursivas e textuais. Não se pode negar que ao fugir um pouco do aspecto apenas gramatical, usualmente encontrado em diversos materiais didáticos, uma importância maior às práticas orais faz toda a diferença dentro do ambiente escolar e essa é a proposta do livro analisado: a formação de indivíduos reflexivos e críticos a partir dos materiais que lhes são ofertados.

Segundo Ilari, "O ensino da língua nas escolas fundamentais e médias parece ter, tradicionalmente, dois objetivos igualmente irracionais: formar professores de português ou então formar grandes escritores e poetas" (1997, p.80)

A formação de um aluno leitor e interessado na língua materna, é decorrente da sua disposição e ao prazer que tem de aprender a compartilhar, fato este que por si só, leva a crer que saber dosar o ensino gramatical, contextualizando o estudo numa situação além da frase é muito importante para que este aprendizado ocorra. Por isso, nos aspectos da produção, as propostas que se apresentam no material analisado, vão de encontro ao que se espera de um bom livro didático de língua portuguesa, pois de uma forma prazerosa convida o aluno a partilhar suas experiências leitoras com o grupo, além de fazê-lo refletir e direcionar estas informações para o seu contexto social, além de aprender gramática pelos elementos presentes dentro do texto.

O conjunto de textos que um livro didático apresenta é um instrumento privilegiado ? às vezes único ? de acesso do aluno ao mundo da escrita. Portanto, é imprescindível que a coletânea, respeitando o nível de ensino a que se destina, ofereça ao aprendiz uma amostra de qualidade e o mais possível representativa dos textos em circulação social. (PNLD, 2008, p.14)


A aproximação à contextualização do aluno neste livro, possibilita um trabalho produtivo e ao mesmo tempo, faz com que outras reflexões sejam buscadas dentro da totalidade escolar. A informação é essencial para que o aluno se sinta a vontade de compartilhar suas vivências e a partir daí, cumpra seu papel dentro da sociedade para a qual está sendo preparado.

Segundo o guia do PNLD, "O tratamento didático dado a um conteúdo curricular é vivencial quando investe na idéia de que o aluno o aprende vivenciando situações escolares em que esse conteúdo está diretamente envolvido" (PNLD, 2008, p.) e essa afirmação sugere que um livro que concentre dentro dele alternativas de aproximar aluno da aquisição oral e escrita, possa fazer parte de um quadro bastante promissor ao seu desenvolvimento e melhorar a qualidade do conteúdo ofertado pelo professor dentro de sala de aula e suas relações com a linguagem oral e escrita.

Assim, as práticas de uso da linguagem, isto é, as atividades de leitura e compreensão de textos, de produção escrita e de produção e compreensão oral, em situações contextualizadas de uso, devem ser prioritárias nas propostas dos livros didáticos, pois a construção correspondente de conhecimentos linguísticos e a descrição gramatical, devem se exercer sobre os textos e discursos, na medida em que se façam necessárias e significativas para as construções e reconstruções dos sentidos dos textos.

Portanto, o trabalho aqui realizado demonstra que como acadêmica do curso de Letras, é necessário saber escolher a ferramenta de trabalho que se quer ter dentro de sala de aula, assim como, possibilitar ao aluno as competências exigidas ao final de cada série cursada, para que ele possa entender o que lê, ao mesmo tempo em que se torna um sujeito reflexivo e atento as coisas que o rodeiam. O livro didático para o professor pode ser gramaticalmente bastante completo, mas somente isso, não basta para qualificar o seu aluno as habilidades que deve adquirir. Além deste fato, o livro didático é apenas mais uma ferramenta que o professor tem para tentar direcionar o ensino para uma heterogeneidade com o quadro atual das escolas públicas brasileiras. Um bom livro possibilita ao professor um trabalho mais abrangente com a sua realidade, enquanto um livro convencional, em certas realidades, pode tornar o ensino da língua portuguesa, algo maçante e sem significação ao aluno.





Referências

? BAGNO, Marcos. Língua Materna: letramento, variação e ensino ? São Paulo: Parábola Editorial, 2002.
? CÓOCO, Maria Fernandes; HAILER, Marco Antonio ? ALP,7: análise, linguagem e pensamento: a diversidade de textos numa proposta socioconstrutivista ? são Paulo: FTD, 2001.
? Guia de livros didáticos PNLD 2008 : Língua Portuguesa / Ministério da Educação. ? Brasília : MEC, 2007.
? ILARI, Rodolfo. A Lingüística e o ensino da língua portuguesa ? 4ª ed. ? São Paulo. Martini Fonte, 1997.
? RAUBER, Jaime José; SOARES, Márcio. Apresentação de trabalhos científicos: normas e orientações práticas, 3. ed.- Passo Fundo:UPF, 2003.