CRISTIANO NOGUEIRA
GRADUANDO DO CURSO DE HISTÓRIA DA
FIP (Faculdades Integradas de Patos)

No seu livro "A civilização do açúcar", Vera Lúcia Ferlini aborda em cinco grandes momentos como se desenvolveu essa sociedade e como veio forma traços permanentes na mesma.
No primeiro capítulo "Açúcar e civilização" a autora mostra questões importantes que levaram a Europa a procura novas rotas de comércio e formas de se obter lucros dessas novas descobertas.
Na "dinâmica dos descobrimentos" Vera Lúcia aborda as principais causas que levaram a Europa a busca nova rotas de comércio, causas essas que se começam pela não continuação do "revivescimento" do comércio na Baixa Idade Média, pelo dissolvimento da economia do feudalismo ante o mercantilismo, além do "agravamento das condições servis, êxodo rural, o alagarmento de mercados de mercados, o fortalecimento da burguesia, o crescimento das cidades", (p.11), esses problemas provocaram crises sociais, que geraram desorganização da produção, fomes, guerras, pestes durante o século XIV. No século seguinte (XV) surgiram mais problemas como escassez de moedas e monopolização dos produtos orientais (especiarias), pelos centros italianos de Gênova e Veneza. Todas essas causas fizeram o mercado europeu procura novas rotas de comércio para produtos, maior fluxo monetário e mercados consumidores, isso facilitado pela centralização do poder (as Monarquias Nacionais) do final da Idade Média, constituindo o mercantilismo, que teria como realização o estabelecimento de colônias das quais deveria se obter grandes lucros através do esquema "exclusivo colonial", Esse processo de expansão teve Portugal como pioneiro.
Depois das grandes descobertas a preocupação de Portugal era a de como ocupar o Brasil, que nos primeiros 30 anos deste da chegada de Cabral sempre foi segundo plano para a coroa portuguesa, ao contrário de outras nações que se interessavam muito pelo território brasileiro, como os franceses, esses últimos travaram logo amizade com os índios, com os quais praticavam o escambo do pau-brasil por objetos (espelhos, colares, etc.), mas após a descoberta da Espanha de metais preciosos em seu território, a ocupação da América tomou outros rumos e para Portugal "manter o domínio sobre o Brasil tornou-se, então, preocupação política" (p.14) e assim, "era preciso explorar novas fontes de riquezas" (p.15).
A partir desse momento Portugal começou a procura uma fórmula de ocupação que ao mesmo tempo fosse rentável a seus cofres, então entra em cena "O açúcar como solução". Comércio esse que dispunha de mercado e altos preços, pois, "A escolha do açúcar era (...) justificável no momento em que se buscava a solução para a efetiva ocupação do Brasil." (p.17), além de estimulo a ocupação do território por pequenos produtores, que foi formulada no Regimento do Tomé de Souza em 1548, concedendo terra, desde que cultivasse por três anos para pode obter plena apropriação.
Com o produto escolhido (o açúcar) e a forma de ocupação do território, só faltava uma coisa a mão-de-obra preparada para tal serviço, já que a exploração do índio foi logo abandonada, e nesse momento que entram os "Escravos para o açúcar", que foi escolhido não só pelo trabalho, mas pelo próprio tráfico negreiro que "era fonte de vultosos lucros para Portugal", (p.20).
Já se havia tentado a produção do açúcar na América (pelos espanhóis) que não terão continuidade, mas Portugal pelo contrário deixou a responsabilidade do empreendimento a particulares, que ficou com o planejamento de enquadrá-lo nos interesses mercantilistas, ou seja, Portugal não arcaria com recursos nenhum para o comércio e produção do açúcar.
A partir de então "O açúcar domina a colônia", e torna o nordeste principal centro já que propiciava fatores importantes como, o solo (massapé) ótimo para a lavoura, rede hidrográfica vasta, um clima quente e úmido, além de comunicação facilitada com a Metrópole em relação à distância.
"Em torno do açúcar", se desenvolveram outras atividades como o tabaco que era essencial ao tráfico negreiro, pois, "era baseada no trabalho escravo" (p.25), e a pecuária, que organizou-se em "uma forma diferente de povoamento e de sociedade, sem escravos, de costumes rudes e simples."(p.25-26).
No segundo capítulo intitulado de "A agroindústria do açúcar", Vera Lúcia discutir as relações sócio-econômico e o centro produtivo (o engenho).
Primeiramente o engenho como "O coração da produção colonial", que no começo se designava de engenho, o local onde se "dava a manipulação da cana", mas depois "estendeu-se a (...) toda propriedade açucareira" (p.30), assim o engenho era formado pela casa-grande, morada do senhor, senzala onde se abrigava os escravos e a capela onde se rezavam as missas dos domingos e dias santos.
Nos canaviais ("Setor produtivo") as lavouras eram do próprio engenho e de terceiros, estes últimos arrendavam terra, pela qual era paga o ?terço? ou ?quarto?, além de pagarem da parte que lhe cabiam uma porcentagem pela moagem, estes eram os "Lavradores da cana". "As moendas" variavam por ter existido no Brasil colônia diferentes tipos de engenhos que no início de suas introduções aqui eram mais próximos dos rios, chamados de "engenhos d?água", além desse existiram outros "movidos a bois, bestas ou cavalos e (...) tração humana." (p.35), e os ?engenhos reais?, que eram os maiores em produção, todos sempre passaram por mudanças, estas pensando maior produção e menor mão-de-obra.
Depois da moagem vinha "O fabrico do açúcar", que assim como a moagem se trabalhava dias e noite entre duas turmas, esse setor (fabrico) era formado pela casa de purga onde se esperava "drenagem natural da aguardente" (p.40-41), depois vinha a secagem que era feita ao sol e que após esse processo se obtinha vários tipos de açúcar ("fino, branco redondo, branco baixo e mascavado") (p.41), que variava d preços e por último o encaixotamento, feito depois de pesa e dividir (entre senhor, lavrador e dizímo) em caixa de madeira marcadas por tinta e ferro.
No terceiro capítulo "Trabalhadores do açúcar" pode-se perceber onde trabalhavam e quem eram esses.
A produção do açúcar era a atividade mais complexo e mecanizado conhecida até o século XVIII, que contava com trabalhadores e ferramentas especializadas, que se articulavam em um "mecanismo único", organizadas em equipes no período de safra onde "operava vinte horas seguidas" (p.46), processo esse voltado para "evitar perdas e assegurar a produção" (p.47), ou seja, era "Uma verdadeira fábrica", que para se manter funcionando nos normais era necessário "A organização do engenho", essa formada pelos setores de administração (senhor), manutenção(carapina, carpinteiro, pedreiro e calafates), transporte (carros de boi e barcas), e o processamento (feitor-pequeno, levadeiro, mestre do açúcar, banqueiro e caldeireiros), além de muitos escravos que estavam presentes nos dois últimos setores.
Nesse cenário teve a predominância de "Trabalhadores livres" que não eram os europeus (artesãos, jornaleiros e proletariado) e sim pessoas habilitadas que cuidavam da manutenção ou conhecedoras de processamentos do açúcar, "desconhecidas pelos negros" (p.51), esses trabalhadores eram, feitor-mor, caixeiro ad cidade, cobrador de rendas, escrivão, cirurgião, mestre do açúcar, caldeireiro, carapina, banqueiro, feitor-pequeno, purgador e barqueiro. Se destacava também neste cenário o "Trabalho do índio" que foram utilizados em tarefas simples como "limpeza anual da levada, cuidar do sangradouro, cortar lenha", (p.57), além de capitão-do-mato, caçando escravos fugitivos, estes (os escravos), foram a base de todo o trabalho e sociedade, pois, sem eles nada funcionava por serem fundamentais a todo processo, além de que a prática (escravidão) a qual pertenciam estava ligada a violência, desde de sua captura, jornada para o Brasil e atividade produtiva no engenho.
O penúltimo capítulo "Os negócios do açúcar" mostra as relações entre dois mundos diferentes, mas ao mesmo tempo dependentes entre eles esses mundos era colônia-metrópole.
Nessa relação o primeiro aspecto era "O comércio triangular", que no século XVI formava o triângulo, América-Europa-África, ou seja, era o leva e trás de mercadorias, feitas por navios que vinham ao Brasil de acordo com o interesse, mas essa situação foi interrompida pelas lutas pela hegemonia européia, entrando em ação "O regime de frotas" que só permitia que os navios zarpassem do Reino entre 1º de agosto e 31º de março, criando em 1649 a Companhia de Comércio do Brasil, da qual participavam só cidadãos portugueses, todos os navios seriam comboiados quando viessem ou voltassem do Brasil, mas a companhia não teve bons resultados e foi alvo de criticas sendo suspensa em 1657, deixando a navegação livre novamente, isso proporcionou um "Paraíso dos comerciantes", já que o comércio colonial era muito lucrativo, tinha mercador que chegava a lucra 85% por um ano, mesmo com toda a rigidez do monopólio português, entravam muitos produtos ingleses contrabandeados, muitas vezes trazidos pelos próprios tripulantes portugueses.
Outro comércio importante na colônia era de negro muito explorado pelo comércio triangular, já que Portugal não queria compra os produtos brasileiros com moedas, pois, teria prejuízos, então usa-se "O negro como moeda", para troca por produtos da colônia que sairiam por baixos preços, mas por outro lado quem tivesse moedas correntes poderia lucra muito no Brasil foi o que descobriram "Os cristãos-novos no mundo do açúcar", perseguidos pela inquisição na metrópole começaram desenvolve o comércio na colônia, mais depois se tornaram financiadores de safras e compra de escravos, além do mais se tornaram muito necessários aos cristãos-velhos (donos de engenho).
A produção do açúcar brasileiro era hegemonia devido à importante participação dos holandeses nesse comércio, só que quando Felipe II da Espanha apossa-se do trono português em 1580 interrompe o comércio com os holandeses em contrapartida depois da criação da Companhia das Índias Ocidentais estes últimos atacam a colônia em 1624 sem bons resultados e só em 1630 tomam Pernambuco, dominando por 24 anos a metade da produção do açúcar, mas ao saírem em 1654 levaram consigo as técnicas adquiridas no Brasil para implantar nas Antilhas, esse fator junto com os vinte e quatro anos de lutas fez o açúcar brasileiro chega "A perda da hegemonia", mas mesmo assim deu muitos lucros a Portugal mais do que a mineração.
O último capítulo, "Cotidiano do açúcar", expõe as relações que foram e se criaram entre escravo-senhor na sociedade brasileira, formando a pirâmide social do açúcar em que "O poderoso senhor de engenho" esta sobre "a imensa massa de escravos" (p.69), possui escravos não só pelo trabalho, mas pelo luxo, relação essa cheia de tensões e conflitos que eram cobertos pelo ambiente familiar, já que tudo girava entorno do engenho que era representado pelo senhor ou "Fidalgos do açúcar" que tentavam mostrar através das roupas, cavalos, móveis, louças, "essa riqueza, porém, não era real" (p.81), já que obtinha poucos lucros com o comércio do açúcar e antes de vender já estava devia todo o ganho, recorrendo muitas vezes a autoridades portuguesas para não perder tudo, além de ter no dia-a-dia uma vida miserável, mas que não mostrava aos estrangeiros, além de uma imagem família de acordo com os padrões, como um "clã (...) a família era a escola onde se aprendia a subordinação, a passividade, a obediência," (p.83), era "A família patriarcal", formada pelo senhor, esposa branca dona de casa e geradora de filhos, estes, o mais velho ia substitui o pai e os outros destinavam ao estudo e sacerdócio, além dos escravos para os serviços domésticos, todas essas constituições aconteciam na "Casa-grande e senzala" a primeira morada do senhor, ampla, de dois pavimentos, sombra e temperatura agradável, contradizendo com a segunda lotada de escravos, "construída a moda de cárcere, retangular, térrea", (p.85), já a religião tinha grande força nesse universo de unir o mundo do açúcar, com suas missas dominicais e no inicio da moenda, batizados e casamentos, assim como feitas após as colheitas, o mesmo não foi pro negro que teve seu universo religioso dilacerado, impedido de expressar qualquer coisa que lembrasse a África, mas mesmo assim praticavam seus cultos em locais escondidos.
O comercio do açúcar também foi responsável por cria "As cidades do açúcar" voltadas para administração, magistrados, governadores, comerciantes, "com uma construção peculiar", (p.90), mesmo com suas casas na cidade os senhores estavam ausentes delas a maior parte do ano, nestas cidades também se observava as marcas da escravidão, como nos portos que tinham mercados de escravos e nas construções, principalmente os sobrados, em que os "rés do chão serviam de abrigo aos escravos" (p.91), as principais representações das cidades eram, administração, porto e comércio.
O açúcar também foi responsável por gera uma sociedade contrária ao das riquezas mostradas pelos senhores de engenho, eram "Os pobres do açúcar" que eram excluídos como "prostitutas, ladrões, mendigos, feiticeiros, biscateiros", (p.94), tinham também os mulatos, além dos excluídos da cidade como barbeiros, ferreiros, mas o pior não era a pobreza, mas sim serem confundidos com escravos.
"Do mundo do açúcar nascia o Brasil, marcado (...) pela colonização, pelo estigma do trabalho escravo, pela tirania do mercado externo." (p.95).