UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ

CENTRO DE LETRAS, FILOSOFIA E EDUCAÇÃO – CENFLE

LETRAS - HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

 

ANÁLISE DO GÊNERO CONTO

 

 

SILVA, Paulo Ricardo Xavier;

FERNANDES, Francisca Andrea Aragão;

ALVES, Maria Vanábia;

 VASCONCELOS, Rejania Berlandia;

[1]SILVA, Ellen Janine;

 

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo realizar uma análise tipológica a respeito do gênero conto. Tal análise consiste em identificar relações entre o gênero em estudo com as características de cada tipologia aqui apresentada,  embora o conto seja tratado como um gênero que apresenta uma tipologia narrativa dominante. Dentre outros aspectos, o artigo também aborda a visão dos PCN’s sobre o ensino de língua a partir dos contos.

 

PALAVRAS – CHAVE: Conto. Tipologias Textuais. Análise. PCN’s.

 

1.INTRODUÇÃO:

 

             A analisar o gênero conto dar-se-á em uma perspectiva investigativa das tipologias: narrativa, argumentativa, expositiva, descritiva e injuntiva. Para tal análise foi utilizada como base teórica os autores  KOCH (2007) e MARCUSCHI (2008). O gênero escolhido é de infinita riqueza e como os gêneros estão em continua mudança, deve se ter cuidado de não confundir o conto com outros gêneros.

            A origem do conto está na transmissão oral dos fatos, no ato de contar histórias, que antecede a escrita e nos remete a tempos remotos.  O conto é uma obra de ficção que cria um universo de seres e acontecimentos, de fantasia ou imaginação. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo. Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um clímax.

           As modalidades do conto são humorísticos, fantásticos, de mistério e terror, contos realistas, psicológicos, religiosos e minimalistas. Os elementos da narrativa

são personagens, tempo, espaço, ação e narrador. E os momentos são complicação (introdução do conflito, elemento que desencadeia os fatos da narrativa); clímax. (ápice do conflito, momento em que o leitor não sabe o rumo que a narrativa seguirá) e desfecho (resolução do conflito, feliz ou trágico).

 

 

2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E AS TIPOLOGIAS TEXTUAIS

 

A Linguística Textual revelou estudos relacionados ao texto. De fato, a  gramática do texto, a priori, apresentava alguns problemas dentre os quais podemos citar quanto formulação do conceito de texto, em que o mesmo era visto como  uma unidade formal, dotada de uma estrutura interna e gerada a partir de um sistema finito de regras, internalizado por todos os usuários da língua, dentre outros problemas. Percebe-se que não há apenas um conceito de texto, dessa forma pode-se dizer que um texto é entendido como uma :

 

[...] unidade linguística comunicativa fundamental, produto de uma atividade verbal humana, que possui sempre caráter social, está caracterizado por seu campo semântico e comunicativo, assim por sua coerência profunda e superficial, devida à intenção (comunicativa) do falante criar um texto íntegro, e à sua estruturação mediante os conjuntos de regras: as próprias de nível textual e as do sistema da língua. (BERNADEZ, 1982, p. 85).

 

 

            Entende-se que os textos estão materializados em esferas do cotidiano, em suas mais variadas forma de comunicação, ou seja em gêneros textuais, porém os gêneros apresentam em sua estrutura os tipos textuais que são:

 

 

Uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição –aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas - ; abrangendo cerca de  meia- dúzia de categorias conhecidas como: narração, descrição, argumentação, exposição e injunção. (MARCUSCHI, 2008, p. 74) .

 

 

 

            A tipologia textual na visão de Travaglia é considerada como aquilo que pode instaurar um modo de interação, ou seja,  uma maneira de interlocução, segundo perspectivas que podem variar. Essas perspectivas podem, segundo o autor, estar ligadas ao produtor do texto em relação ao objeto do dizer quanto ao fazer/acontecer, ou conhecer/saber, e quanto à inserção destes no tempo e/ou no espaço. As tipologias textuais diferenciam-se por apresentarem características particulares em sua estrutura, dessa forma tais estruturas formais são marcadas no discurso e na interação.

 

2.1 Da Tipologia Narrativa

 

A tipologia narrativa caracteriza-se por estabelecer ações em determinadas situações evidenciadas no discurso. Compreende-se que os gêneros apresentam manifestações relacionadas à heterogeneidade tipológica que para MARCUSCHI (2008) é entendida com uma relação entre os tipos textuais e os gêneros, havendo a ocorrência de dois ou mais tipos em um gênero. Portanto, o conto apresenta não tão somente aspectos relacionado a narratividade, mas também estrutura-se entre as demais tipologias.

            O texto narrativo está ligado ao fato de contar um caso, narrar um(s) fato (s), sem dar importando quando a questões de realidade ou ficção, servem para simular, representar, figurar o mundo e as ações do homem. São características de textos narrativos os verbos estarem no pretérito perfeito ou imperfeito, a pessoa, a qual normalmente se apresenta em primeira, podendo vir também em terceira.  Outra marca peculiar da narração é o fato do autor muitas vezes utilizar os diálogos. Podemos encontrar tais características no conto de Clarice Lispector “ O jantar”.

 

O garçom dispunha os pratos sobre a toalha. Mas o velho mantinha os olhos fechados. A um gesto mais vivo do criado ele os abriu com tal brusquidão que este mesmo movimento se comunicou às grandes mãos e um garfo caiu. O garçom sussurrou palavras amáveis abaixando-se para apanhá-lo; ele não respondia. Porque agora desperto, virava subitamente a carne de um lado e de outro, examinava-a com veemência, a ponta da língua aparecendo — apalpava o bife com as costas do garfo, quase o cheirava, mexendo a boca de antemão. (LISPECTOR, 1998, p. 76)

 

 

 A priori, percebe-se que o fragmento do conto “o jantar” de Clarice Lispector apresenta elementos linguísticos que favorecem o reconhecimento de uma narratividade, tais elementos condizem à pessoa (terceira) e ao verbo (pretérito). Nesse sentido entende-se que os verbos em suas estruturas formais são: dispunha, mantinha, abriu, comunicou, caiu, sussurrou, virava que co-relacionam com a narração em a terceira pessoa do singular. Assim temos: o garçom (ele) dispunha, o velho (ele) mantinha, o garçom (ele) sussurrou. A análise do fragmento remete às afirmações de verbos que indicam ação em suas formas de pretérito, caracterizando a tipologia narrativa devido ao conjunto de elementos específicos e organizados.

A tipologia narrativa estabelece mecanismos que interagem na estrutura do texto tais como: (a) início com uma abertura convencional (introdução da cena: informações sobre o tempo e lugar; personagens: suas características, motivações e metas a alcançar); (b) meio (evento, trama, situação-problema); e (c) final (resolução da situação-problema) com um fechamento convencional.

As formas discursivas características da tipologia narrativa correspondem ao discurso direto e indireto. Assim, o discurso direto refere-se  ao registro integral da fala da personagem, do modo como ele a diz. Isso equivale a afirmar que a personagem fala diretamente, sem a interferência do narrador, que se limita a introduzi-la. Ainda sob o exemplo do conto “Jantar” percebe-se essa questão.

 

 

Daqui a um segundo, porém, está refeito e duro, apanha uma garfada de salada com o corpo todo e come inclinado, o queixo ativo, o azeite umedecendo os lábios. Interrompe-se um instante, enxuga de novo os olhos, balança brevemente a cabeça — e nova garfada de alface com carne é apanhada no ar. Diz ao garçom que passa:
— Não é este o vinho que mandei trazer. ( LISPECTOR, 1998, p. 77)

 

 

               

                O fragmento com a passagem “– Não é este o vinho que mandei trazer” retrata o discurso direto enquadrando-se na questão de haver dois pontos após travessão. Por meio do discurso direto, reproduzem-se literalmente as palavras da personagem.

            O discurso indireto na tipologia narrativa é o registro indireto da fala da personagem através do narrador, isto é, o narrador é o intermediário entre o instante da fala da personagem e o leitor,de modo que a linguagem do discurso indireto é a do narrador.  Para explanação transcreve-se o mesmo enunciado do conto, em uma perspectiva de realizar comparações a respeito do discurso , assim, ao modificar a forma do discurso direto, para o indireto, o enunciado passaria a estruturar-se da seguinte maneira “ O velho diz ao garçom que não era aquele vinho que havia mandado trazer”. Nota-se a interferência do narrador na enunciação.

 

 

2.2 Da Tipologia Argumentativa

 

            As ideias de Marcuschi, com relação aos tipos textuais atentam como dito anteriormente, para a heterogeneidade. Com isso, os contos apresentam mais de um traço tipológico instaurado na composição estrutural do gênero. A análise da tipologia argumentativa estabelece as relações existentes entre enunciados e os processos linguísticos que são característicos da mesma.

            A tipologia argumentativa relaciona-se com questões de persuasão, ou seja, têm como objetivo convencer o interlocutor de algo através de mecanismos linguísticos. Os textos argumentativos são produzidos com intenção, explícita ou implícita agindo sob o comportamento do destinatário, alterando-o ou reforçando-o. Também estabelece processos os quais fazem parte da estrutura do texto de argumentação, sendo portando: os operadores argumentativos, reforço das afirmações pela sugestão, poder evocativo. Percebe-se a presença de determinadas marcas gramaticais, como: a) do verbo ser, b) de verbos que põem em relação a causa e o efeito (causar, originar, ocasionar, motivar) e verbos( afirmar, declarar, considerar, implicar, alegar, assegurar), c) de tempo presente como o tempo de valor universal, d) marcadores específicos de coesão e coerência na estrutura do texto, como finalmente, a seguir, assim, já que, posto que dentre outros.

            A análise da tipologia argumentativa dar-se-á através do conto de Clarice Lispector “ A menor mulher do mundo”. Compreende-se que os enunciados retirados do conto, estabelecem a presença dos operadores argumentativos, que são características da tipologia em questão.

 

Nas profundezas da África Equatorial o explorador francês Marcel Petre, caçador e homem do mundo, topou com uma tribo de pigmeus de uma pequenez surpreendente. Mais surpreso, pois, ficou ao ser informado de que menor povo ainda existia além de florestas e distâncias. [...] Nos tépidos humores silvestres, que arredondam cedo as frutas e lhes dão uma quase intolerável doçura ao paladar, ela estava grávida. Ali em pé estava, portanto, a menor mulher do mundo. Por um instante, no zumbido do calor, foi como se o francês tivesse inesperadamente chegado à conclusão última. [...] E, para conseguir classificá-la entre as realidades reconhecíveis, logo passou a colher dados a seu respeito. Sua raça de gente está aos poucos sendo exterminada. [...] É verdade que muitas vezes a criança não usufruirá por muito tempo dessa liberdade entre feras. Mas é verdade que, pelo menos, não se lamentará que, para tão curta vida, longo tenha sido o trabalho. [...].Enquanto dançam ao som do tambor, um machado pequeno fica de guarda contra os Bantos, que virão não se sabe de onde. Foi, pois, assim que o explorador descobriu, toda em pé e a seus pés, a coisa humana menor que existe. [...] Quem sabe a que escuridão de amor pode chegar o carinho. A senhora passou um dia perturbada, dir-se-ia tomada pela saudade. Aliás, era primavera, uma bondade perigosa estava no ar. (LISPECTOR, 1998, p. 68 - 70).

               

 

Os operadores argumentativos presentes em algumas passagens do conto referem-se ao: pois, portanto, logo, mas, aliás, e, pelo menos.

 Pode-se classificar esses elementos linguísticos em: a) Operadores que somam argumentos a favor de uma mesma conclusão, no trecho tem-se o “e” em que soma o enunciado “homem do mundo” ao “ caçador” em que o operador argumentativo funciona como parte significativa de uma mesma classe argumentativa, b) Operadores que introduzem uma conclusão que é relativa a argumentos de enunciado apresentados anteriormente, é o caso do “pois”, “logo”, “portanto”, c) Operadores que contrapõem argumentos orientados para conclusões contrárias, como o “mas”, assim no trecho do conto, tem-se duas passagens que estão relacionadas através de um operador em contraposição, pode-se perceber através de uma ideia apresentada no enunciado e que perde sua completude universal de sentido em outro enunciado, através do “mas” assim ocorre em : “É verdade que muitas vezes a criança não usufruirá por muito tempo dessa liberdade entre feras”. “Mas é verdade que, pelo menos, não se lamentará que, para tão curta vida, longo tenha sido o trabalho”.  Na relação entre os enunciados percebe-se também a presença de um operador que: d) introduz dado argumento deixando subtendida a existência de uma escala mais forte, é o caso do “pelo menos”, e) Operador “que introduz um argumento adicional a um conjunto de argumentos já enunciados, mas faz de maneira “sub-reptícia” (KOCH, 2007, p. 34). O operador  que se manifesta de maneira “sub-reptícia” é no caso o “aliás” o qual tem função de introduzir um argumento decisivo.

Através da análise percebe-se a constatação de elementos ligados à tipologia argumentativa no gênero conto, embora a tipologia narrativa se apresente como dominante.

 

2.3 Da Tipologia Expositiva

 

É o uso da linguagem com o intuito de explanar, fazer conhecer determinado assunto com a pretensão de ser imparcial para que o leitor possa informar-se sobre o assunto exposto. Tem como função principal informar.

O expositor utiliza linguagem clara e objetiva para que o leitor possa entender. Os recursos mais utilizados na tipologia expositiva são: definição e contextualização do tema, enumeração, comparações e analogias, causa e efeito, contrastes e distinções.

 Há presença intensa de orações coordenadas explicativas e subordinadas adjetivas explicativas, com o predomínio da ordem direta na construção das orações. Geralmente a exposição das ideias respeita uma temporalidade lógica. Faz-se uso de comparações e analogias para facilitar a compreensão dos fatos expostos no texto.  É um texto formulado com preocupações informativas. São exemplos desta tipologia textual a notícia, dissertações, verbetes de enciclopédia, palestras, seminários, monografias, o livro didático e alguns documentos científicos. A estrutura do texto expositivo é: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Entende-se que no gênero conto existem as tipologias textuais se realizam embora em menor grau, assim a tipologia expositiva é evidenciada no conto de Clarice Lispector “A menor mulher do mundo”.

 

 

Sua raça de gente está aos poucos sendo exterminada. Poucos exemplares humanos restam dessa espécie que não fosse o sonso perigo da África, seria povo alastrado. Fora doença, infectado hálito de águas, comida deficiente e feras rondantes, o grande risco para os escassos likoualas está nos selvagens bantos, ameaça que os rodeia em ar silencioso como em madrugada de batalha.( LISPECTOR,  1998, p. 69)

 

 

 

            O fragmento do conto de Clarice é intencionado como uma espécie de fonte de informações a respeito da raça dos “linkoualas”, dessa forma o discurso é voltado para uma perspectiva de direcionar o leitor para uma contextualização da temática. Percebe-se que a autora oferece informações do tipo “ sua raça de gente está aos poucos sendo exterminada” e “ pouco exemplares humanos restam dessa espécie”, nota-se que o objeto está sendo construído através de informações precisas que giram em torno da  população dos linkoualas. Nota-se também a presença de elementos linguísticos que são característicos da tipologia expositiva quando no trecho são encontrados enunciados como “Poucos exemplares humanos restam dessa espécie que não fosse o sonso perigo da África, seria povo alastrado” e “o grande risco para os escassos likoualas está nos selvagens bantos, ameaça que os rodeia em ar silencioso como em madrugada de batalha”. Nesse sentido, encontram-se orações subordinadas explicativas, pois se tem a presença do pronome relativo “que”.

 

2.4  Da Tipologia Descritiva

 

A tipologia descritiva diz respeito a exposição das propriedades, características e qualidades de objetos, ambientes, ações ou estados.

Ela possibilita ao leitor a visualização do objeto apresentado, que passa a ser recebido por meio de um processo linear de observação. É construída de forma concreta e estética, sem progressão temporal.

Os textos descritivos são constituídos de adjetivos e advérbios. Predominam os verbos de estado, no presente ou no pretérito imperfeito do indicativo. As palavras passam a ter uma grande força descritiva, fazendo, portanto, o uso do léxico com cautela. No conto, “O Alienista” observa-se traços descritivos em que o autor Machado de Assis constrói imagens físicas e psicológicas dos personagens, dando-nos com maior precisão características idealizadora dos personagens.

 

 

Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas, - únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte. (Trecho de “O Alienista” de Machado de Assis).

 

 

            O autor descreve minuciosamente os traços da personagem D. Evarista, ao dizer que ela era mal composta de feições, os pensamentos do personagem Simão Bacamarte a respeito da personagem D. Evarista se envolve em um estilo descritivo, dando-nos informações a qual construiremos uma imagem da mesma. Encontram-se no fragmento os advérbios: facilidade, regularmente, e adjetivos como: robustos, sãos e inteligentes em uma perspectiva de possível característica dos filhos.

 

2.5 Da Tipologia Injuntiva

 

Esta buscar instruir o leitor sobre uma determinada situação. As formas verbais mais utilizadas na injunção são a 3ª pessoa do modo imperativo. Tem como finalidade instruir o interlocutor para praticar uma determinada ação requerida, desejada pelo mesmo. O texto faz uso de uma linguagem de objetiva e clara para orientar e indicar procedimentos capazes de cumprir determinadas ações.

Há o uso frequênte de advérbios de modo e de negação, os gêneros textuais em que essa tipologia é predominante, são: os manuais de instrução, as receitas culinárias, as constituições, os regimes, normalmente são também injuntivos os textos de orientação, como recomendações de trânsito e direção, de plantio, receitas médicas, bulas de remédio, horóscopo, boletins meteorológicos, etc.

A injunção geralmente nos contos de fadas reflete temores, desejos, raiva, ordem e vontade da criança do pai ou da mãe. A intensidade das injunções varia na proporção das consequências da desobediência.

No texto de Clarice Lispector contido no livro Correio Feminino, há exemplo de injunção:

 

A economia é outro problema que a mulher tem de resolver com sabedoria: nem gastar de mais, nem de menos. Sacrifique um bibelô, não troque já as cortinas da sala, mas não deixe faltar bons e fartos cardápios na sua mesa. Não sirva uísques às visitas, mas dê bastantes frutas a seus filhos, frutas boas, escolhidas, não as já meio passadas e às vezes passadas demais, que diversas donas de casa costumam comprar por alguns tostões a menos.

Não entregue a direção das compras e das despesas inteiramente às empregadas, pois essa não é a função delas e quem tem de zelar pelo dinheiro de seu marido é você. A boa dona de casa é a que sabe dar ordens e acompanha de perto a sua execução. É a que mantém a limpeza, a ordem, o capricho em sua casa, sem fazer desta um eterno local de cerimônias, de deveres, onde tudo é proibido. É a que faz de sua casa o lugar descanso da felicidade do marido e dos filhos, onde eles se sentem realmente bem, à vontade, e são bem tratados. O melhor lugar do mundo.

 

 

Os verbos no imperativo (sacrifique, sirva) e os advérbios de negação (não), parecem nos mostrar uma receita, um manual a ser seguido pelas leitoras principalmente àquelas, que são dona de casa. Este texto é voltado exclusivamente para as mulheres, dando instruções de como a mulher deve comportar-se diante de suas obrigações, como mãe, esposa, dona de casa.

 

3. PCN'S E O TRABALHADO COM CONTOS EM SALA DE AULA

 

De acordo com Marcuschi, o ensino da língua deve dar-se através de textos, sabidamente, essa é, também, uma orientação central dos PCNs. Pautados no interesse de destacar e apresentar o texto não apenas como um mero instrumento normativo, evidenciado principalmente dentro do âmbito escolar, postulado em uma concepção tradicional referendado como decodificador de símbolos linguísticos ou elemento de extração de informações. O gênero conto se destaca nessa perspectiva pelo auto índice de aceitação dos educandos, por ser um gênero considerado por eles fácil de produzir e de compreender, sejam eles contos de fada, de terror ou quaisquer outros. É importante observar com cuidado como esses contos estão sendo trabalhados na escola. Partindo dessa visão, ressaltamos a relevância da escolha do tema em proposta, como contribuição para professores, acadêmicos e estudantes em geral, ao levantar-se a discussão e a possibilidade de entender os gêneros como materialização dos textos.

O gênero conto pode ser um excelente instrumento para ajudar o educando a superar um dos principais problemas encontrados nas redações escolares: o aluno não sabe para quem deve se dirigir. Os textos escolares revelam a ignorância e o descompasso em relação à complexidade da produção oral. Portanto, cabe à escola, ensinar a esses alunos a produzir os textos e interpretá-los.
Vale destacar que quando os gêneros são ensinados como instrumento para a compreensão da língua, não importa quantos ou quais vocês trabalha, desde que o seu objetivo seja formar alunos que aprendam a ler e escrever. Ressaltando que o conhecimento deve ser elaborado a partir de trocas de experiências, fazendo com que haja a interação social. Neste sentido os Parâmetros Curriculares tem sido de grande relevância para auxiliar o professor na execução de seu trabalho. Fazendo com que os mesmos possam formar cidadãos conscientes em relação ao papel que devem desenvolver na sociedade.

 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

              Diante desse estudo apresentado nesse artigo podemos perceber que os gêneros textuais, segundo Marcuschi, autor tomado como foco principal da nossa pesquisa, são compreendidos como práticas sócio-históricas e discursivas, apresentando um poder preditivo e interpretativo das ações humanas. Os gêneros textuais são usados para textos materializados, concretos característicos do nosso dia-a-dia, apresentando elementos sócio-comunicativos definidos pelos conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição. São exemplos: telefonema, sermão, cartas, romance, novelas, conto dentre outros.

              Para Marcuschi  é essencial a necessidade de se compreender os gêneros textuais como algo dinâmico, fluido e principalmente incapaz de ser compreendido e assimilado apenas de maneira classificatória e tampouco de descrições linguísticas, tendo em vista que esta seria uma visão reducionista e formalista dos gêneros. O autor concebe gênero como uma atividade social, isto é, eles se proliferam para dar conta da variedade de atividades que estão presentes no cotidiano dos indivíduos.

              Enquanto as tipologias textuais estão ligadas às características formais de um texto, desde seus aspectos lexicais até seus tempos verbais utilizados. Precisa estar claro também, que um gênero textual pode conter mais de uma tipologia, podendo é claro ocorrer uma predominância maior de um ou outro, como por exemplo, o conto, “o jantar”, de Clarice Lispector apresentado nesse trabalho nas páginas anteriores,  como também outros exemplos citados no decorrer do trabalho. Tais conhecimentos devem ser de domínio do professor, assim, sua prática e seu planejamento se tornarão mais proveitosos, com aulas diversificadas.

              Os PCN's não são um amontoado de regras a serem seguidas como julgam muitos, mas sim um material de apoio que norteia o professor na sua prática de ensino. Partindo desse pressuposto buscamos por pesquisar nesses parâmetros quais orientações eles nos dá para o trabalho com gêneros discursivos, especificamente com o gênero textual conto.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BERNADEZ, Enrique. Introdución a la linguística del texto. Madri: Espasa – Calpe. 1982.

 

KOCH, Ingedore. A inter – ação pela linguagem. 10ª.ed. São Paulo: Contexto 2007.

 

LISPECTOR, Clarice.; NUNES, A. M. (Org.). Correio Feminino. Rio de Janeiro: Rocco.  2006.

 

__________ . Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco. 1998.

 

MARCUSCHI. Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Editora Parábola. 2008.



[1] Acadêmicos do 4º período do curso de Letras da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.