1. INTRODUÇÃO 

Este trabalho possui como finalidade conceituar e descrever à luz de teorias psicanalíticas a personalidade e os comportamentos de León Doré, personagem fictícia do filme C’est pas moi, je le jure! (Não sou eu, eu juro!). Assim estabelecendo os determinantes de sua conduta instigante na infância e suas relações com uma tendência à esquizofrenia, abordada aqui como uma dissolução do Eu, como proposto por Lacan.

Unir conceitos sobre a formação da personalidade, comportamentos agressivos, problemática familiar, psicoses e impulsos infantis ao suicídio é um desafio, mesmo para diferentes pensadores de diferentes linhas teóricas. Nesse trabalho, usamos diversos autores que buscam investigar como a personalidade infantil que foge ao “esperado na normalidade” vem sendo compreendida a partir da perspectiva psicanalítica, visto que esta pode ser manifestada em diferentes fases do desenvolvimento da criança e de várias maneiras.

O interesse por estudar esse tema surgiu diretamente da primeira assistência do filme em questão. Algumas inquietações sobre o jeito de ser do protagonista instigaram a curiosidade de saber como e por que algumas crianças são capazes de atitudes tão inesperadas frente à sua própria existência.

Além de a personalidade infantil poder ser construída socialmente, sustenta-se aqui que ela pode sofrer sérias implicações psicopatológicas desencadeadas de forma crônica por diferentes motivos, como os vistos nas aulas de Psicologia, Educação e Temas Contemporâneos.

Segundo Winnicott (1999), a personalidade, presente na natureza humana, ganhou maior importância na teoria psicanalítica, mediante os apontamentos de Melanie Klein, na década seguinte à Primeira Guerra Mundial, em um texto intitulado A posição depressiva no desenvolvimento emocional, em que se ampliou o trabalho já desenvolvido por Freud.

Klein (1975), ao também dissertar sobre a personalidade, mas dessa vez vinculada à agressividade, refere que à medida que o bebê se desenvolve, ele consegue organizar suas emoções e percepções, separando os objetos bons dos maus, por meio dos processos de divisão, projeção e introjeção, em que ele se sente confrontado comum “objeto ideal” que ele ama, tenta adquirir e preservar, buscando identificar-se com ele e, com um “objeto mau”, o qual ele percebe como uma ameaça a si, bem como em relação ao objeto ideal, em que ele passa a projetar seus impulsos agressivos.

Essa dissertação também procura ressaltar a importância do complexo de Édipo no diagnóstico e na direção do tratamento psicanalítico, segundo a obra de Freud e Lacan, em que o complexo de Édipo pode ser designado como o conjunto das relações que a criança estabelece com as figuras parentais e que constitui uma rede, em grande parte inconsciente, de representações e afetos.

Para cumprir com objetivos aqui propostos, será evidenciada a pesquisa bibliográfica, a qual dará suporte teórico por pensadores do desenvolvimento humano e suas questões no inconsciente, tais como Freud, Bleuler, Lacan e Piaget.