Discentes : Deise Vasconcelos

Milena Tarcila

Renata Itaparica 

Análise do Filme Melhor é impossível

 Melvin Udall (Jack Nicholson) é um escritor que adora fazer comentários ácidos e maldosos para ofender as pessoas. Ele toma café todo dia na mesma lanchonete, onde Carol Connelly (Helen Hunt) é a única garçonete que o suporta. Melvin apresenta um quadro de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), não toma os remédios receitados pelo psiquiatra, e não comparece em uma sessão há dois anos, desde o seu diagnóstico. Seu vizinho é o renomado artista plástico Simon Nye (Greg Kinnear), alvo constante de seus ataques verbais. Quando Simon é levado para o hospital após um violento assalto, Melvin tem que cuidar do cachorro de estimação do vizinho. A nova situação amolece o coração do escritor, fazendo nascer entre os três - Melvin, Carol e Simon - uma amizade capaz de finalmente fazê-los felizes, ao se apaixonar por Carol , Melvin se vê aos poucos livre de sua doença, deixando alguns rituais de lado e sendo uma pessoa melhor , para que Carol se apaixone por ele também. Para Melvin , sua loucura é o centro da sua doença, ele não reconhece que não tem controle sobre os seus atos, em quanto anda pela rua, pede as pessoas que não o toquem , os sintomas ritualísticos de Melvin são:

  • Trancar e destrancar a porta várias vezes, contando todas.
  • Ligar e desligar as luzes , na mesma contagem das trancas da porta (4 vezes)
  • Sempre estar calçado
  • Come sempre com talheres de plástico quando sai de casa , os leva consigo.
  • Sempre usa luvas
  • Lava as mãos com água quente, trocando várias vezes o sabonete, como se fosse descartável.
  • Medo constante de ser contaminado, pelas pessoas na rua ou por qualquer outra coisa.na
  • Não pisa em listras, anda na calçada, olhando atentamente para o chão.
  • Excesso de simetria e exatidão.

Melvin reconhece que suas obsessões são excessivas, inapropriadas e irracionais quando Carol o pergunta se ele sabe o quanto é inconveniente. Após se apaixonar por Carol, os sintomas de Melvin diminuem significativamente, ele diz que voltou a tomar os remédios e tenta ser uma pessoa melhor para estar com ela, Melvin passa a ser gentil, ainda com os comentários sarcásticos. A partir daí ele se esquece de trancar a porta, tira as luvas, pisa na listras da calçada, por perceber que os seus comportamentos estavam interferindo em sua vida.

Sobre o Transtorno Obsessivo Compulsivo

O TOC, se caracteriza por uma sintomatologia bastante evidente e clara, é um quadro em psicopatologia identificável na clinica pela importância de suas manifestações. Geralmente é o próprio paciente que perceberá os sintomas pela angustia quando a inadequação que suscitam. O Transtorno Obsessivo Compulsivo possui três apresentações da doença as quais são muito freqüentes:

  • A primeira é quando predominam os pensamentos obsessivos.  Estes pensamentos são intrusivos e invasivos, interrompendo as atividades a que a pessoa está se dedicando, ou interrompendo seu descanso. Não são poucas as vezes em que a pessoa sente um desejo incontrolável de pensar a mesma coisa dezenas, ou até centenas de vezes, até que os pensamentos obsessivos acalmem.
  • A segunda situação diz respeito aos rituais de verificação, como lavar as mãos diversas vezes, limpar determinada parte do corpo muitas vezes, retornar dezenas de vezes para se certificar de que fechou a porta, ou desligou o gás, ou fechou as janelas, enfim, são rituais de verificação repetitivos e terrivelmente atormentadores. São também freqüentes as arrumações sem fim. Arruma-se o armário diversas vezes, limpa-se a casa muitas vezes, recomeça-se a limpeza se "não ficou bom", reinicia-se tudo de novo, e assim lá se vai a qualidade de vida do paciente.
  • A terceira forma de apresentação freqüente deste transtorno é a forma mista, onde além dos pensamentos obsessivos e repetitivos também estão presentes os rituais de verificação. As causas do TOC podem ser várias, todavia temos verificado existirem dois fatores que estão quase sempre presentes nesses casos: Um componente hereditário (familiar) e conflitos internos. E sobre esses conflitos internos, não são poucas as vezes em que esses conflitos tiveram início na infância.

 

( Neurose Obsessiva Compulsiva – Uma Visão Psicanalítica )

Em Psicanálise, o TOC (Neurose Obsessiva Compulsiva) descrita por Freud desde o inicio de seu estudo contribui enormemente para a construção da teoria psicanalítica. Estudando o funcionamento dos sintomas obsessivos, ele concluiu sobre os aspectos fundamentais do funcionamento do aparelho psíquico. Na introdução do “Homem dos Ratos”, Freud (1909) diz que a neurose obsessivo-compulsiva não é algo em si fácil de entender – é muito menos fácil do que um caso de histeria. “A linguagem de uma neurose obsessiva, ou seja, os meios pelos quais ela expressa seus pensamentos secretos, presume-se ser apenas um dialeto da linguagem da histeria" (Freud, 1909, pág. 143).

Na neurose obsessiva é encontrada pela primeira vez nos sintomas bifásicos, nos quais uma ação é cancelada por uma segunda, do modo que é como se nenhuma ação tivesse ocorrido, ao passo que na realidade, ambas ocorreram. (Freud, 1925, pág. 120)

 o sintoma dessa neurose  é ao mesmo tempo aquilo que oculta e que revela o insuportável para o ego consciente, sendo aquele que no curso da análise revelará o caminho da fixação pela linha regressiva do tempo que se pode promover pela livre associação e pela neurose de transferência. Os atos compulsivos mais comuns podem ser reduzidos a cinco categorias primárias: rituais envolvendo a verificação; rituais envolvendo a limpeza; pensamentos obsessivos sem compulsões; lentidão obsessiva e rituais mistos. Em O Homem dos Ratos, Freud (1909) pela primeira vez reconhece o conflito entre amor e ódio como uma possível base para a neurose. Charchamorich e Fetter (2005) apontam este estabelecimento do conceito de ambivalência psíquica por Freud como um grande passo no sentido de reconhecer o conflito interno, em sua origem e não apenas em seu desenvolvimento. Zimermam (1999) aponta como principais fatores etiológicos a existência de:

  • Pais obsessivos que impuseram um superego por demais rígido e punitivo;
  • Uma exagerada carga de agressão que o ego não conseguia processar, e, igualmente, uma falha da capacidade do ego na função de síntese e discriminação das permanentes contradições que atormentam o obsessivo;
  • Do ponto de vista estrutural, há um constante conflito inter-sistêmico (o ego está submetido ao superego cruel e pressionado pelas demandas do id); e há ainda um conflito intra-sistêmico (dentro do próprio id, as pulsões de vida e de morte podem estar em um forte conflito; ou nas representações do ego, o gênero masculino e o feminino não se entendem entre si).
  • O entendimento da importância da defecação para a criança, com as respectivas fixações anais que se organizam em torno das fantasias que cercam o ato de defecar.

Freud (1909) diz que as idéias obsessivas têm à aparência de não possuírem nem motivo nem significação. O primeiro problema é saber como lhe dá um sentido e um status na vida mental do paciente, de modo a torná-las compreensíveis, e mesmo, óbvias. A solução se dá ao se levar as idéias obsessivas a uma relação temporal com as experiências do paciente, quer dizer, ao se indagar quando foi que uma idéia obsessiva particular fez sua primeira aparição e em que circunstancias externas ela está apta para voltar a ocorrer; uma vez descobertas as interconexões entre uma idéia obsessiva  e as experiências do paciente não haverá de se ter acesso a “algo mais” na estrutura patológica – “seu significado, o mecanismo de sua origem e sua derivação das forças motivadoras preponderantes da mente do paciente.” (Freud, 1909, pág. 168) O neurótico normalmente tem consciência dos seus atos e pensamentos,  por isso uma dolorosa dissociação se estabelece no ego, e a pessoa afetada fica atormentada pelas repetições ideativas, podemos definir as obsessões ideativas, como intensificações de pensamento ego-distônicos, recursivos e intrusivos, que leva o paciente a ser pensado pelos seus muitos pensamentos, gerando uma ansiedade atormentadora, numa tentativa de aliviar a ansiedade causada por essas obsessões, o neurótico recorre a ações ritualizadas, que são as chamadas compulsões.

Essas compulsões dizem a  respeito a uma peculiaridade de determinados sintomas obsessivos: trata-se de pensamentos ou atos que o sujeito realiza ainda que lhe pareçam um corpo estranho, pensamentos ou atos movidos por uma força irresistível contra a qual o sujeito gostaria de lutar. A compulsão, nesse caso, resulta de um conflito psíquico e de uma luta subjetiva entre duas injunções opostas, estando o sujeito impossibilitado de escolher qualquer uma delas. Encurralado nessa hesitação exasperante, a resposta do sujeito é o ato compulsivo — Freud o considera uma compensação da dúvida — que se produz como uma espécie de "vazamento": a imagem aqui seria a do suco de uma fruta que, de tão espremido, acabaria escoando pelos cortes feitos na casca (HANNS, 1996).

De acordo com Freud (1909) a real significação atos obsessivo-compulsivos reside no fato de serem representantes de um conflito entre dois impulsos opostos de força aproximadamente igual.  Especificando melhor os sintomas da Neurose Obsessiva , encontramos:

  • Essas pessoas são vítimas de suas compulsões;
  • Uma outra peculiaridade marcante é a busca pela perfeição, tanto intrapsiquicamente como extrapsiquicamente. Sua exigência maior é encontrar aquilo que é perfeito, mesmo que racionalmente admita que tal exigência é absurda e frustrante.
  • O desequilíbrio gera uma acentuada ambivalência relacional, são capazes de ruminar interminavelmente uma pequena atitude, desgastando e fadigando, qualquer pessoa de seu convívio;
  • Por causa do conflito interno, tudo que fazem requer  muito esforço, podem criar uma tempestade num copo d’água na realização de qualquer atividade corriqueira,por mais simples que esta nos pareça;
  • Os pensamentos intrusivos se avolumam de tal forma na mente neurotizada, que é muito comum ficarem presos por uma cadeia interminável de pensamentos, que por vezes paralisam totalmente ações práticas, fazendo com que a dúvida seja a regra geral do comportamento compulsivo obsessivo. São fracos em tomar decisões, não sabendo como agir frente a escolhas banais do cotidiano.

Para a Psicanálise, a neurose obsessiva compulsiva tem como origem um conflito psíquico infantil e uma fixação da libido no estágio anal de maturação, tal neurose manifesta-se através de ritos, podendo ser de tipo religioso, sintomas obsedantes e uma ruminação mental permanente, que dá origem a intermináveis dúvidas e escrúpulos que acabam por inibir o pensamento e a ação. Freud (1913) dizia que os pontos de fixação eram decisivos para a escolha da neurose e que obsessivo  regride ao nível anal-sádico da  libido, o que, diz ele anos depois, será ‘’decisivo a tudo que se segue’’ (Freud, 1926, p. 136).

Os sintomas e as características da neurose obsessiva foram todos basicamente observados e Melvin Udall (protagonista do filme: Melhor é Impossível), alguns relacionados a origem na infância, não são compatíveis com o filme, pelo filme não contar historias da vida do mesmo, mas seus sintomas e sinais, são descritos exatamente como na explicação psicanalítica.

REFERÊNCIAS

JOVIANE MOURA , Transtorno Obsessivo Compulsivo: Uma visão Psicanalítica, encontrado em : <http://www.psicologado.com/site/psicopatologia/transtornos/transtorno-obsessivo-compulsivo-visao-psicanalitica>

 

MARCOS OLIVEIRA, Neurose Obsessiva Compulsiva, encontrado em:  <http://www.webartigos.com/articles/197/1/Neurose-Obsessiva-Compulsiva/pagina1.html>

JÔ GONDAR, Sobre as Compulsões e o dispositivo Psicanalítico. Ágora (Rio J.) vol.4 no.2 Rio de Janeiro July/Dec. 2001.

 

EDUARD ADNET, Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC. encontrado em: <http://medico-psiquiatra.com/principal/transtorno-obsessivo-compulsivo-toc.htm>