Análise do Discurso: Reflexões introdutórias

 

Ludmila Pereira de ALMEIDA

 

 

   FERNANDES, Claudemar Alves. Análise do Discurso: Reflexões introdutórias. Editora Claraluz, 2007.128p.

 

 

   Publicado em 2007, a obra Análise do Discurso: Reflexões introdutórias, procura nos esclarecer o que e como é constituído o discurso, como é visto o sujeito e suas várias vozes. O autor teve o objetivo de expor, de maneira didática, as bases conceituais da Análise do Discurso (AD). O livro nasceu da experiência do autor no ensino de graduação e pós-graduação e da constatação de que é necessário aproximar os leitores das problemáticas desse campo de estudos. Fernandes é doutor em linguística pela Universidade de São Paulo-USP, e é coordenador do Grupo de Pesquisas em Análise do Discurso-GPAD/UFU, foi da falta de um material que desse acesso e facilitasse os alunos a compreenderem a AD, que esse livro foi escrito, para fornecer uma base e o direcionamento dos estudos para este assunto. Com isso, nos é indicado ao longo do texto pistas para um estudo mais aprofundado e também indicações de leitura que foram as bases desse livro. Fernandes já publicou vários outros livros dentre eles: Percurso da Análise do Discurso no Brasil; Teorias Linguísticas; Sujeito, Identidade e Memoria, O Coronel e o Lobisomem-uma abordagem sócio interacional; e Análise do Discurso: unidade e dispersão.

 

   O autor foca diversas questões sobre o assunto, mas primeiro ele começa respondendo à questão: o que se entende por discurso? O que as ideologias interferem nesta questão? E qual o sentido transmitido para cada sujeito? O sujeito aqui não é visto como um sujeito autônomo e autodeterminado, mas sim um sujeito heterogêneo, formado por varias vozes, esse é o sujeito discursivo. E esse sujeito possui uma formação discursiva, pois o seu enunciado, para ter sentido, depende da época em que é transmitido o discurso. Com isso, a AD é constituída por diferentes campos disciplinares, mas os que a geram prioritariamente são o materialismo histórico, que questiona o aparecimento de um enunciado e não o de outro; a linguística, que visa a linguagem para o exterior; e a teoria do discurso, que refere-se a como os sentidos do enunciado mudam com as transformações históricas. O autor também faz um breve percurso histórico e teórico sobre as três épocas da AD, e mostra como é visto o sujeito e o discurso em cada momento. Assim, o autor nos apresenta as palavras ocupação e invasão, e diz que o seu emprego revela a oposição dos sujeitos que a pronunciam. Os Sem-Terra usam a palavra ocupação, pois possuem uma natureza ideológica e política que o fazem lutar para conseguir um local em que possam viver e se sustentarem pela terra. Já os que são contra os Sem-Terra, usam a palavra invasão, pois os veem como criminosos invadindo a terra de outros. Assim, vemos que o sentido da palavra depende do contexto, da posição do sujeito, de sua inscrição ideológica e o histórico-social de onde se enuncia.

 

   A AD tem como objeto o próprio discurso, e para nos referirmos a ele temos que considerar elementos que tem existência no social, as ideologias, e a historia. O sujeito discursivo é polifônico, pois em sua voz possui várias outras vozes de discursos diferentes, ele também é heterogêneo e mostra isso implicitamente ou explicitamente nas diferentes vozes que constituem o sujeito. O discurso, ao ser enunciado, produz sentido e, por isso, deve ser observada a formação discursiva e ideológica, para que esse enunciado seja compreendido pelo interlocutor. Mesmo assim, os sujeitos possuem ideologias diferentes e são influenciados pelo entrelaçamento de diferentes discursos, oriundos de diferentes momentos históricos e de diferentes lugares sociais, e com isso um determinado discurso pode gerar diferentes sentidos em diferentes sujeitos. Dessa forma nossos enunciados “... são preenchidos com palavras de outros, variáveis graus de alteridade e variáveis graus do que é de nos próprios, variáveis graus de consciência e de afastamento. Essas palavras de outros carregam com elas suas próprias expressões, seu próprio tom avaliativo, o qual nós assimilamos, retrabalhamos e reacentuamos” (Bakhtin, 1986, p. 89).

 

   Quando estudamos a AD temos que ver a língua de outra maneira, pois aqui ela não é vista como um sistema estruturado, mas é vista “... como acontecimento, como condição de possibilidade do discurso, onde os processos semânticos são determinados social e historicamente” (CARBONI, 2008, p.78), e isso por causa da polifonia que nos constitui como sujeitos. Além disso, somos formados pelos discursos do outro, mesmo não percebendo isso, as nossas ideologias nos influenciam o tempo todo em nossas decisões e falas. O discurso está presente em nossa vida constantemente, porém o discurso muda com os fenômenos históricos. Esse livro consegue fornecer noções básicas a um estudante iniciante nos estudos da AD, pois ao longo do capítulo o autor relaciona um elemento com outro e ao final o conceitua, esclarecendo o assunto mostrado. A AD é um assunto complexo, e aqui é abordada de maneira simples e com exemplos. E ao longo do texto o autor usa como exemplo as palavras, já citadas anteriormente, invasão e ocupação, e discute os elementos do discurso em torno delas, e a cada capítulo essas palavras vão sendo incrementadas para ter significado. No livro de Helena Brandão, Introdução a Analise do Discurso, ela aprofunda mais na AD, destrinchando cada tópico abordado no livro de Fernandes e para conceituar um tema ela procura em diferentes autores, diferentes definições. Também, fala dos principais percursores da AD e quais suas contribuições para o mesmo, e ao final do livro possui um glossário que ajuda o leitor a entender o que foi lido. Esse livro é um pouco mais abrangente do que as Reflexões Introdutórias da Análise do Discurso, pois este é mais superficial de linguagem fácil, o que ajuda o leitor que não sabe nada sobre o assunto a entender os principais tópicos, para prosseguir seu estudo.

 

   A leitura desse livro é indicada primeiramente, depois os outros, como o da Helena Brandão. A AD é um campo interessante, pois se trata de um espaço teórico transdisciplinar que oferece reflexão sobre a produção e a circulação dos sentidos sociais, além disso, é considerada uma disciplina inacabada, problematizante e em constante construção. Podemos ver um exemplo de aplicação da AD no texto Leilão, proposto no capítulo “Um exercício de Análise do Discurso”, na qual o exemplo mostra claramente como o histórico, a posição social e as vozes do grupo que ele estava representando influenciaram no seu discurso e interdiscurso. Este livro e um convite ao leitor, para adentrar nas principais questões da AD. Por isso, é uma leitura fundamental para todos aqueles que se interessam em conhecer esse campo tão rico em possibilidades de pesquisa.