No discurso do livro em análise, o narrador é também o personagem, e propositalmente deixa vir à tona suas emoções e aparenta certos desequilíbrios psíquicos, uma vez que todo o discurso sobre a honestidade de Capitu, é baseado em situações que não deixam claros os fatos que ocorreram.O aparente desequilíbrio psíquico da personagem Bentinho, é desencadeado pelo ciúme excessivo de sua esposa Capitu, por ser uma mulher linda, atraente e possuir habilidades em dissimulações.

O fator decisivo neste manifesto neurótico de Bentinho é o fato de ambos conhecerem-se desde a infância, o que o possibilita de certa forma a julgar o comportamento de Capitu. A partir de suas próprias conclusões, pois de fato não consegue sanar a dúvida levantada sobre Capitu, toma a atitude de "separação" fundamentado em suposições com base em algumas atitudes de sua esposa conhecidas enquanto ambos viviam a fase juvenil.

Já a partir do nome que o narrador personagem adota para a história, percebe-se a obstinação presente em sua vida, pois o mesmo escolhe o nome "Casmurro" que segundo o dicionário significa: implicante, teimoso, cabeçudo. Com base no próprio nome, pode-se notar que há por trás de uma possível verdade concernente ao "adultério" de Capitu, um capricho a ser preservado, pois ele se considera merecedor do apelido dado por um colega e o escolhe afirmando não haver "melhor título para a narração".

A história começa a ser narrada com o autor personagem relatando sobre como vivia na atual circunstancia da composição da obra e o porquê da decisão de escrevê-la.

Bentinho diz morar em uma casa que fora construída idêntica a que se criou, e acrescenta que o a intenção era "atar as duas pontas da vida e restaurar a velhice e a adolescência". A partir desta afirmação, nota-se um homem que não conseguiu desvencilhar-se da proteção familiar, representada pela modelagem da casa, porém sua ligação era mais estreita com sua mãe, pois seu pai falecera quando ainda era menino e isso é demonstrado quando diz: "Tenho ali na parede o retrato dela (sua mãe), ao lado do marido...". Ele não diz "ao lado do meu pai" e sim "do marido". Porém, em seguida menciona o nome completo de seu pai, a idade que possuía quando faleceu e não deixa de mencionar o amor de sua mãe por ele ao dizer que poderiam ter voltado para Itaguaí, de onde eram e onde nasceu, mas sua mãe não quis e "preferiu ficar perto de onde meu pai foi sepultado".

Além do amor de sua mãe por seu pai, é possível notar que Bento sempre foi preso às origens, pois demonstra certo desejo de ter voltado ao lugar onde nasceu, porém sua mãe não quis voltar.

Bentinho sentia todo o amor que sua mãe possuía por ele, pois percebeu que chorava quando foi lembrada da promessa que havia feito de enviá-lo ao seminário a fim de ser padre, e isso a aterrorizava. Segundo o autor, este choro dava-se pelo motivo de ter enviuvado e o que lhe restava era o próprio Bentinho. Isso de certa maneira, o fazia sentir-se importante demais e acreditar que era a base emocional de sua mãe, pois utiliza a palavra terror para expressar o sentimento que ela sentia ao pensar em separar-se dele.

Quando Bentinho vai ao encontro de Capitu para contar-lhe que iria para o seminário, joga com ela ao reparar-lhe se entristeceria ao tomar ciência da notícia ou se não se importaria com a nova. Porém, descobre haver um sentimento da parte dela que correspondia ao sentimento que José Dias havia percebido existir em ambos, através do que vira escrito no muro e nos olhos de Capitu.

Neste momento em que ambos estão se entreolhando revelando a tristeza pelo olhar, com as mãos entrelaçadas umas às outras, Capitu é chamada pelos pais e então aparece sua primeira dissimulação, quando o pai pergunta se estão jogando siso[1]. Ela muito ligeira e sem nenhum temor responde que sim, só que Bentinho ria logo e não agüentava.

Quando Capitu explode sua ira através das palavras adjetivas: Beata! Carola! Papa-missas! Refere-se à mãe de Bento, este por sua vez tenta defender a mãe, mas é impedido por Capitu que está irada e demonstra seu domínio na situação, não permitindo o pronunciamento de Bentinho.

Nos pensamentos de Bento quando assunta sobre a idéia de Capitu ao usar José Dias a convencer sua mãe a deixá-lo estudar em São Paulo a fim de livrar-se do convento, percebe-se um jovenzinho capaz de utilizar-se de expedientes a seu favor. Pois quando lembra que é o único herdeiro da casa e que José Dias um simples agregado e que será futuramente o seu agregado, mostra certo egoísmo e domínio. Porém, vale lembrar que diante de Capitu, essa segurança esvai-se e que a idéia de falar com José Dias, vem dela.

Ao falar com José Dias, Bento apresenta nesta conversa, um homem que possuía grande paixão pelas leis, ou seja, queria cursar Direito e gostaria que fosse na Europa. Assim sendo, percebe-se então, que a família de Bento possuía recursos até mesmo para manter um agregado, considerado certo luxo e que também poderia custear estudos na Europa.

Bento ao encontrar-se com Capitu após a conversa com José Dias, esta quis saber de tudo, como ele falara a José Dias, o que este respondera, como respondera, como falaria à sua mãe e quando. Nestas indagações que o autor atribui a Capitu, é notório que esta queria perceber nos detalhes o sucesso ou não da idéia. Era como se quisesse analisar cada palavra dita no diálogo e avaliar se sairia bem como planejado.

Outro fato importante que Bentinho percebe em Capitu é a segurança que ela demonstrava ter no sentimento dele por ela, pois quando diz que ela não se importou com a viagem à Europa, essa confiança é revelada. Mostra que o único medo que Capitu tinha era o seminário, pois esse poderia disputar Bentinho com ela, pois seria seguido pelos votos de castidade, mas nem a Europa poderia dissolver o amor de ambos.

Quando ocorre o primeiro beijo entre ambos, no momento em que Bentinho está penteando os cabelos de Capitu, esta dissimuladamente disfarça quando sua mãe entra em casa, porém Bento se posiciona como alguém aflito e assustado, dando a ênfase de que Capitu mais uma vez domina a situação sem nenhuma dificuldade. A cena termina com Capitu criando uma idéia para que Bento saísse daquele lugar que o denunciava, dizendo que sua mãe o chamava para as lições de latim.

Antes que acontecesse o beijo, Bento pára para olhar nos olhos de Capitu, pois José Dias havia dito que seus olhos eram oblíquos e dissimulados. A partir de então, Bento que não havia por si só percebido, ou pelo menos não cita essa característica nela, passa agora a notar e descrever cenas em que a mesma o olha desta forma como seus olhos foram adjetivados pelo agregado. Ao retornar das lições de latim, Bento procura Capitu, e esta não o "olhou nos rosto, mas a furto[2] e a medo, obliqua e dissimulada".

Nesta situação, Bento diz ter sentido desejo de beijá-la, mas, não o fez porque esta recusava, porém repentemente, esta o beijou com toda a vontade e quando seu pai entrou em casa, ela já estava em pé de costas para Bento, tranquilamente perguntando-lhe o que era protonotário apostólico. Neste episódio, Bentinho mais uma vez, faz-se de "inocente" e pinta Capitu como uma menina-moça ousada e dissimulada, sabendo sair-se de situações constrangedoras sem nenhuma "cerimônia". Ele vai além com seu "ar de inocente" dizendo sentir "inveja da facilidade com que ela se recompunha e se dominava em qualquer situação".

Em meio à conversa que estavam tendo quanto o tempo que faltava para que fosse ao seminário, Capitu é descrita em silêncio e em modo de reflexão, que é rompido ao perguntar aBentinho:

_ Você tem medo?

_ Medo de quê?

_ medo de apanhar, de ser preso, de brigar, de andar, de trabalhar...

Em seguida ele diz não entender tantas perguntas sem cabimento, e ela com olhos de ressaca ainda maiores e impacientes, segundo a descrição dada pelo próprio Bentinho, diz estar apenas brincando; e sorrindo o chama de medroso após dar um leve tapa em seu rosto.

Nesta cena, observa-se que Capitu, segundo a descrição da cena, espera que Bentinho demonstre coragem em tomar uma atitude caso seja forçado a ir para o seminário e ordenar-se padre, pois Capitu sendo de temperamento e personalidade marcantes, esperava apoio nas palavras de Bento, que de certa forma a decepciona, pois ela o chama de medroso e vai embora alegando estar com dor de cabeça e que era apenas brincadeira. No entanto fica óbvio o grau de seriedade presente nesta "brincadeira" de Capitu.

Antes de sair de cena, Capitu mais uma vez, o coloca em uma situação delicada quando o pergunta a quem escolheria entre ela e a mãe de Bentinho. Obviamente, Bentinho não respondeu de imediato e ela o pressionando mais e querendo a todo o custo ouvir uma resposta, exemplifica no seguinte exemplo: Se ela estivesse à beira da morte, ou estivesse para se matar de saudades (neste momento declara indiretamente seu sentimento por Bentinho) e a mãe dele não quisesse que viesse vê-la, viria contrariando-a ou não? Bentinho responde que viria, mesmo contra a vontade da mãe, ela não se dá por satisfeita e pergunta mais enfática: Você deixa seminário, deixa sua me, deixa tudo, para me vê morrer?" Bentinho sem resposta evade-se da pergunta dizendo: "Não me fale em morrer, Capitu!" Com esta resposta, Capitu percebe o que o leitor pode perceber em Bentinho, a dependência dele em relação aos laços maternos, o que para ela - dona de uma independência psíquica e emocional, o que de certa forma a caracteriza um tanto fria e calculista – deixa claro que ele mentiu quando inicialmente dissera que viria vê-la a todo o custo. Então ela ri e o chama de mentiroso, como se quisesse dizer que ele era um fraco e ridículo; Bentinho por sua vez, diz não encontrar resposta e que não entendeu o que dizia Capitu, mais uma vez fazendo-se de alheio à expectativa que ela esperava encontrar nele.

Em seguida, Capitu que até então não havia ido embora, já que estava com dor de cabeça, continua a falar com Bentinho sobre o seminário e cogitam sobre a hipótese deste fato consumar-se e ele tornar-se padre. Então ela diz que iria assistir sua primeira missa com um vestido muito bonito para que todos pudessem notá-la e comentar sobre sua vaidade e beleza, demonstrando seu desejo de ser vista e reconhecida pela sociedade. Ele então a faz prometer que só iria casar com ele. O autor personagem revela nesta cena o amor ou o desejo que Capitu tinha por se casar com ele, pois diz que "Capitu não hesitou em jurar, e até lhe viu as faces vermelhas de prazer." Ela vai além nesta revelação agora de sentimentos: "Ainda que você case com outra, cumprirei meu juramento, não casando."

Capitu nesta ocasião revela-se uma menina-moça muita vívida e joga com Bentinho quando este repete o que dissera, porém em forma de pergunta: "Que eu case com outra?" Ela então diz que ele poderia apaixonar-se por outra moça que também o queira e quem era ela para que ele a lembrasse. Com isso, ela está querendo provar a segurança dos sentimentos que Bentinho dizia sentir por ela através da resposta que viria e que tão ansiosa esperava para ouvir, até que então ele responde: "Mas eu também juro que só casarei com você!" Ela então aproveita o ensejo e faz outra proposta: "...juremos que havemos de casar um com o outro, haja o que houver."

Através deste juramento, Capitu inculcava na mente de Bento a responsabilidade de cumprir um juramento que ele fizera e automaticamente descumprir o juramento de sua mãe, quanto ao seminário, uma vez que não foi ele quem jurou. Percebe-se o efeito quando Bentinho diz que se teimassem muito, iria, mas não se ordenaria padre, afirmando com isso que já não era mais tão perigoso o perigo que os rondava, o seminário.

Chegou o tempo de ir para o seminário e então nesta cena, o personagem Bento, revela algo que não diz diretamente, mas deixa implícito o seu real pensamento. No momento em que o pai de Capitu, o senhor Pádua vem despedir-se dele e para isso foi até ao quarto bem cedo do dia e disse a Bento que o estimavam muito e ele bem como sua família sentiria muitas saudades. Pediu ainda que não os esquecessem e após dar mais alguns abraços em Bento, saiu com os olhos úmidos, "como quem empregou num só bilhete todas as economias e o vê sair em branco." Neste discurso que o autor personagem faz sobre o senhor Pádua, pai de Capitu, fica claro que Bentinho após anos passados, o julga como um homem que todo o tempo, articulava procurando unir Capitu com ele devido às condições financeiras de sua família serem superiores a sua própria situação. E complementa dizendo que Pádua por não saber dos planos entre Bento, Capitu e José Dias, implicitamente, sentia baldados seus esforços em uni-los, pois Bento estava indo para o seminário e sua aposta esvaia-se pelo ralo.

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Bento chega ao seminário e encontra alguns amigos, entre estes, Escobar. Bento o descreve como "um rapaz esbelto, de olhos claros, um pouco fugitivos, como as mãos, os pés, a fala, como tudo." Chamava-se Ezequiel de Souza Escobar; diz ainda que era três anos mais velho, filho de um advogado de Curitiba, aparentando com um comerciante do Rio de Janeiro. Neste discurso, Bento deixa transparecer o que ele achava do aspecto físico e do que percebia nos olhos de Escobar, que como Bento, era filho de boa família. Bento diz que Escobar era parecido com um comerciante do Rio de Janeiro, o qual correspondia-se com seu pai.

Ao final de cinco semanas, Bento diz que já estava acostumado à vida do seminário, e que todos gostavam dele, mas Escobar gostava mais. Devido a esse afeto que tinham um pelo outro, Bento quis contar-lhe sobre Capitu, mas não o fez, pois ela não concordou que dissesse um segredo que envolvia a ambos, a uma pessoa que era amiga somente dele. Com isso, mais uma vez, o autor demonstra o domínio que Capitu mantinha sobre ele, que mesmo distante dela e vendo-se somente aos fins de semana, era fiel às suas ordens.

Em seguida o autor diz que a obedeceu em outro pedido, quando ela lhe disse que ficasse mais tempo com sua mãe e a chama de amiga quando diz que havia nela muita lucidez. Percebe-se que em todo o tempo, o personagem Bento, define-se com alguém subserviente ao capricho e ordens de Capitu, traçando a imagem de uma mulher segura, determinada, dominadora e articuladora.Porém além dessas características, é atribuída a ela também, a dissimulação, pois quando perguntada pela mãe de Bento se ela achava que ele tinha vocação para o seminário, Capitu responde avidamente que sim, demonstrando frieza com os sentimentos alheios e com os seus próprios. Ela conseguira causar interrogação até mesmo à prima Justina e ao tio Cosme, que há tempos desconfiavam dos sentimentos entre ambos, quando disse-lhes que o padre que iria celebrar seu casamento, seria Bentinho, deixando a todos confusos e ganhando terreno na confiança de D. Glória, mãe de Bento. O fato é que José Dias, Tio Cosme e a prima Justina, haviam percebido as intenções de Capitu há muito tempo. Na verdade, não só a de Capitu, mas segundo o que o próprio Bento afirma que José Dias disse a respeito de não deixá-lo andar com a gente do Pádua, referindo-se as intenções de toda a família no negócio bem sucedido que poderia ser o casamento de ambos. Por isso, Capitu não era de todo bem-vinda àquela casa, porém como sempre, ela conseguia convencer, tornou-se companheira de Dona Glória e até mesmo sua enfermeira quando esta veio a adoecer. Tamanha eram as habilidades de Capitu, que incomodavam aos que percebiam suas reais intenções e venenosamente prima Justina diz-lhe: "não precisa correr tanto; o que tiver de ser seu às mãos lhe virá." Dizendo com isso que se Bentinho tivesse de ser seu, não precisava fingir tanto, que ele lhe viria sem tantos esforços.

Ao persistir a febre de Dona Gloria, esta exige que chamem Bentinho no seminário; ele por sua vez, confessa que chegou a pensar que a morte de sua mãe, seria uma solução para seu problema, pois poderia casar-se com Capitu sem empecilhos, pois o seminário seria abandonado. Porém o remorso foi tanto após o tal pensamento que chorou e José Dias o consolou, pensando ser por causa da enfermidade que acometera sua mãe. Isso demonstra também, a inconstância do emocional de Bentinho, pois não sabia resolver seus conflitos psíquicos sozinho, diferentemente de Capitu, que em nenhum momento mostrou-se arrependida de algo.

Esta saída repentina do seminário, fez com que Escobar fosse visitá-lo e caiu nas graças de tio Cosme e prima Justina, por ser um rapaz muito educado. Bentinho percebia os movimentos de Escobar e também o afeto repentino que ganhara de seus familiares.

Ao despedir-se percebe que Capitu os olhava da janela e a responde quando pergunta quem era o tal amigo. Ao passar um belo rapaz montado a cavalo, este olha para Capitu e ela para ele, neste momento é descrita a primeira cena de ciúme dele ela, pois se enraivece e vai para casa. Capitu vai até casa de Bentinho com o álibi de estar com Dona Glória, porém o personagem Bento descreve o tamanho de sua ira, dizendo que por mais que ela tentasse chamar sua atenção com palavras pronunciadas em tons elevados, risos altos ele não atentava para seus sinais, e termina dizendo que "a vontade que dava era de cravar-lhe as unhas no pescoço e enterrá-las bem, a te ver sair o sangue..." Essas palavras, explicitam a incapacidade que Bentinho possuía de lidar com seus sentimentos, e que por motivos banais, sua ira tomou proporções exageradas, que por falta de oportunidades não se consumira sobre Capitu. Os exageros de seu ciúme, é comprovado por ele mesmo no outro dia, quando percebe que havia "ido além do que convinha, deixando de examinar o negócio." Então foi falar com Capitu, com medo de que ela pudesse preferir ao cavaleiro a ele, agora demonstrando insegurança. Ele aproveita a situação e diz que sentiu-se injuriada quanto à desconfiança sem fundamento de Bentinho e que não conhecia o rapaz a cavalo; caso houvesse mais um insulto dessa natureza, tudo estaria dissolvido entre os dois, pois não podia duvidar dela depois do juramento que fizeram.

Aos poucos Capitu tornou-se necessária à Dona Glória, e esta já não via a possibilidade de casar Bentinho com ela como algo impossível, pois se ele deixasse o seminário por amor à Capitu, a quebra da promessa não seria sua culpa dela e sim do amor que ambos sentiam.

Bentinho não suportava a idéia de Capitu abandoná-lo e quando sua prima Justina sugeriu que ela pudesse estar namorando na casa de Sancha, amiga de Capitu e que estava havia ido vê-la, Bentinho diz que não a matou porque não tinha uma arma à mão. Sua mãe sugeriu que fosse até à casa de Sancha para encontrá-la, e ele foi ao dia seguinte, domingo. Quando o pai de Sancha retirou-se para ir vê-la, pois estava no quarto com febre, Capitu e Bentinho se abraçam e falam sobre si e que Dona Glória o havia mandado procurá-la. Capitu deixa seus olhos brilharem de alegria e expressa sua emoção na seguinte frase: "Seremos felizes!" Neste momento, o pai de Sancha entra na sala e Capitu normalmente despede-se de Bento e volta ao quarto de Sancha, que não queria outra pessoa para cuidá-la, Bentinho sente-se mal e denuncia-se por seu comportamento.

Neste momento, o pai de Sancha, o senhor Gurgel, aponta para o retrato de sua esposa e pergunta a Bentinho se ele a acha parecida com Capitu e que muitas pessoas que a conheceram achavam a mesma coisa. O senhor Gurgel termina dizendo que até a amizade das duas parecia com a que tinha mãe e filha... dá uma pausa e diz: "Na vida há dessas semelhanças assim esquisitas."

Até aqui, o autor personagem, apresenta duas semelhanças sem ligações familiares, como no caso de Escobar com o correspondente de seu pai e agora com a falecida mãe de Sancha com a própria Capitu.

Voltando a Escobar, este era aparentemente "perfeito" pois a família de Bento o tratava com muito apreço, somente uma opinião negativa foi dada a seu respeito por prima Justina, que o achou um pouco intrometido e com olhos observadores de quem não escapa nada. Bentinho o descreve como um excelente amigo e aluno. Fala também sobre sua habilidade com os cálculos, e em certa ocasião ao mostrar tudo o que sua mãe herdara de seu pai, entre escravos e casas de aluguel, este pede para que traga o número exato das casas e faz o cálculo rapidamente do que Dona Glória lucrava. Para que Escobar mostrasse suas habilidades com os números não era necessário calcular os lucros das casas de Dona Glória, a impressão que tem-se é que ele estava interessado em uma amizade que pudesse lhe render algo, uma vez que ele afirmou ter aptidão para o comércio. Bentinho no entanto, ou era muito ingênuo ou mostra-se através do discurso elaborado por ele, uma pessoa sem más intenções.

Bentinho sai do seminário com a idéia de dar outra pessoa para cumprimento da promessa de sua mãe, um qualquer abandonado, então estaria cumprida a promessa.

Bento então, sente-se assediado pelas moças da cidade, porem vai estudar em São Paulo e ao fim de cinco anos, já contanto vinte e dois anos de idade, volta a Matacavalos, bacharel em Direito. Escobar casado com Sancha e dono de um negócio com café, trata a Capitu como "sua cunhadinha". Em seguida à formatura, Bento casa-se com Capitu, sob a benção da mãe.

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Depois de casados, a observação feita por Bentinho em relação ao comportamento de Capitu, agora uma senhora, foi de que ela estava ansiosa para mostrar-se às pessoas que agora era um mulher casada, e bem casada, ao menos no aspecto financeiro e origem familiar. Porém, Bento diz que Capitu não admitiu que sua ânsia para descer fosse mesmo o fato de mostrar-se e sim por preocupação com os familiares de ambos. Porém neste episódio, o narrador-personagem conhece os reais pensamentos de Capitu, e desacorda com ela ao afirmar amorosamente "que a causa da impaciência de Capitu eram os sinais exteriores do novo estado", ou seja, o de uma mulher casada.

Nesta cena, Capitu é representada como uma mulher típica de sua época mais especialmente, que sonhava em casar-se e ser reconhecida como tal e principalmente com um chamado "bom partido". Vai além em relação à onisciência de seus sentimentos quando diz que para ela "não bastava ser casada entre quatro paredes e algumas árvores; precisava do resto do mundo também saber". Até então é um sentimento considerado comum.

Ao fim de dois anos, Bentinho diz que perdera seu sogro, seu tio estava bastante enfermo, mas a saúde de sua mãe estava bem. Quando ele diz "mas" deixa vir à tona certo sentimento egoísta, pois transparece que não importava quem já houvesse morrido ou estivesse à beira da morte, o importante era que sua mãe estava bem. Isso revela o amor que ele tinha por sua mãe, porém, um tanto dependente. "O único desgosto era não termos filhos" diz Bentinho em um discurso direto.

A vida financeira do casal ia bem, pois exercia sua profissão realizando trabalhos para famílias ricas, porém, ele cita a importância de Escobar em seu sucesso, pois afirma que este contribuíra muito para isso. Apresenta vidas felizes, ele com Capitu e Escobar com Sancha, além da amizade de longa data que permanecia entre os dois casais.

Capitu, segundo Bentinho, era uma mulher econômica, quando pensou em fazer uma economia, foi surpreendido com a que Capitu já havia feito com a ajuda de Escobar. Então diz na presença de Sancha a frase que deixa dúvidas quanto ao pensamento de Sancha em relação à Capitu, quando esta sem entusiasmo confirma o que Bentinho disse, que "Capitu é um anjo", pois Sancha confirma com ar de quem não queria dar tal confirmação, deixando a seguinte pergunta: Por que Sancha haveria de não concordar com afirmação de Bentinho, se Capitu era sua amiga de infância e se gostavam muito?

Havia uma amizade muito forte entre os casais, tanto que o nome Capitu, foi dado à filha de Escobar com Sancha, e Bentinho afirma ter muitos desejos de ter um filho, um que fosse "um filho próprio" da sua pessoa. Até que enfim, nasce o tão esperado filho, que lhe causam muitas alegrias. Bento afirma que Capitu era cheia de ternura por ele e pelo filho, demonstrando nesta afirmação que Capitu era uma esposa e mãe carinhosa.

Durante os primeiros dias do nascimento do bebê, foi Sancha e D. Glória que vieram ajudar a Capitu, desaparecendo o problema que poderia ter havido, embora não esclarecido, quando Sancha por algum motivo não concorda plenamente com o adjetivo que Bento dá à Capitu, chamando-a de anjo.

A amizade de Bento e Escobar ia muito além de uma simples amizade, ambos queriam entrelaçá-la mais e mais planejando o casamento do filho com Capituzinha. E ainda, era desejo de Bentinho que Escobar fosse o padrinho de seu filho, juntamente com sua mãe D. Glória, porém tio Cosme interferiu nesta decisão se auto intitulado padrinho do pequeno Ezequiel, o primeiro nome de Escobar, que Dom Casmurro optou por dá-lo ao menino, como reparo por não poder ter-lhe dado como afilhado.

Quando o menino já contava cinco anos de idade, Capitu e Bentinho estavam a conversar sobre as características do filho e nesta conversa sai a primeira fala de desconfiança de Bentinho, ao dizer que o menino tinha os pés parecido com os de Escobar. Porém ele disse que era devido ao "defeito" que o menino possuía, o de imitar os outros. Na verdade, quando Dom Casmurro diz que era devido ao defeito de imitar, ele já estava querendo dizer algo sobre sua desconfiança, mas apenas estava jogando com Capitu, para ver se ela dizia algo que pudesse ratificar o que pensava. Porém, Capitu dá-se por surpreendida e Bento diz que "agora reparava realmente no vezo[3] do filho,...". Ao dizer "do filho" dá a impressão de que ele se isenta da paternidade e então aparece o pensamento que já vinha mantendo sobre Ezequiel.

Dom Casmurro, assume que apesar do filho, mantinha ciúmes de Capitu tal como antes, a ponto de qualquer gesto, palavra, insistência ou indiferença da parte dela causar-lhe angústia e desconfiança. Nesta confissão, Dom Casmurro, deixa vir à tona um ciúme descontrolado, capaz de causar-lhe dor e sofrimento, passível de criar possíveis situações que somente em sua imaginação poderiam ser verdades.

Ele diz ainda, que chegou a ter ciúmes de tudo e de todos, como "um vizinho, um par de valsa, qualquer homem moço ou maduro" enchia-lhe de terror. Em seguida à desconfiança aterrorizadora de sua alma, ele a torna descabida, pois diz que "Capitu gostava de ser vista, e o meio mais próprio para tal fim é ver também, e não há ver sem mostrar que se vê". Essa expressão diz que Capitu era uma mulher que sentia a necessidade de ser notada, e para isso, precisava mostrar-se, sendo que ela mesma se notava, se percebia; possuía alto estima, dona de uma super-valorização. Sentimentos que Bentinho não possuía de si mesmo, pois não se auto-descreve, dando a impressão de que não achava ter qualidades físicas para isso.

Bentinho quando diz que "Naquele tempo, por mais mulheres bonitas que achasse, nenhuma receberia a mínima parte do amor que tinha Capitu. A minha própria mãe não queria mais que metade." Nesta situação, Dom Casmurro, declara seu intenso amor por Capitu e completa essa afirmação ao dizer: "Capitu era tudo e mais que tudo; eu não vivia nem trabalhava, que não fosse pensando nela." Porém termina dizendo: "Eu era um poço de dúvidas." O que realmente levava Capitu com tanta intensidade aos pensamentos de Dom Casmurro, seria o profundo amor que afirma ter por ela, ou apenas as dúvidas que invadiam sua mente e não conseguia afastá-las durante todo o tempo? Ele diz que muitas vezes perdia o sono devido às dúvidas dentro de si, porém não deixa claro se estas são direcionadas à paternidade do filho, ou somente quanto ao caráter de Capitu.

Capitu ao Dom Casmurro dizer que acha sua mãe um tanto fria em relação ao neto, faz-se de desentendida ou simplesmente inocentemente diz que deve ser porque está doente.

Todas as vezes que Bentinho diz ter tocado em algum assunto que poderia sugerir desconfianças, Capitu tornava-se gentil, terna e delicada, como se quisesse evitar o prolongamento da conversa. Porém, essa atitude dela, fica em desacordo com as da infância, onde mostrava-se destemida e ousada em todas as situações, até mesmo quando Bentinho desconfiou do olhar que o cavaleiro emitiu ao passar sob sua janela, ela demonstrou indignação às suspeitas de Dom Casmurro.

Em uma visita à casa da mãe de Bentinho, José Dias brincando com o pequeno Ezequiel, chama-o de: Filho do homem, fazendo alusão ao livro bíblico de Ezequiel. Capitu, irritada logo lhe pergunta que filho do homem era esse a quem José Dias se referia. Ele então explicou-lhe que "são os modos de dizer da Bíblia". Imediatamente ela diz não gostar desses modos. O narrador-personagem cita esse episódio, como tantos outros insinuantes, com a intenção de fazer o leitor ser perguntar por que Capitu se irritou tanto com apenas uma brincadeira de José Dias? Ou ainda, poderá ficar a pergunta do leitor, se José Dias estaria mesmo brincando ou de fato sendo irônico?

Quando Escobar comenta sobre um projeto que envolveria os dois casais, Sancha se aproxima de Bentinho e lhe pergunta sobre o que falavam; Bentinho diz sobre o tal projeto e Sancha com olhos fixos em Bentinho diz que se tratava de uma viagem à Europa dali a dois anos. Os olhares de Sancha e Bentinho se cruzam e ambos se entreolham até que percebem a situação em que se encontram e o problema que poderiam causar. Bentinho diz ainda, que ao despedir-se de Sancha, novamente os olhares se cruzam e durante um aperto de mão mais demorado do que do costume, sente percorrer em seu corpo uma sensação diferente do normal. Vai para casa e no caminho, sente a culpa do pecado, porém não consegue esquecer as mãos de Sancha nem seus olhares.

Ao chegar em casa, Bentinho tranca-se no gabinete e ao olhar para o retrato de Escobar, sente o arrependimento e rejeita a figura da mulher do amigo. Nesta situação, Bentinho mostra-se leal à esposa e ao amigo, porém no momento em que se sente atraído por Sancha, por um único momento que seja, trai a própria consciência. No entanto, ao amanhecer, o fantasma da traição representado pela figura de Sancha, sai de sua mente e tudo volta ao normal, com Bentinho dizendo ter se livrado de suas alucinações quanto à Sancha. Ao mesmo tempo em que diz ter vivido certa alucinação com relação à Sancha, Bentinho demonstra equilíbrio ao dizer que foi estudar uns autos, ou seja, processos, uma vez que era advogado.

Seu estudo foi interrompido com o chamado de um escravo da casa de Sancha, gritando por socorro dizendo que o sinhô Escobar se afogara. Imediatamente Dom Casmurro corre ao Flamengo, bairro onde morava o casal.

Escobar de fato havia morrido e Bentinho cuidou do velório, preparou umas palavras homenageando seu amigo, mas antes de lê-las, com insegurança, mostra o escrito ao seu amigo José Dias, que o aprova dizendo ser digno do morto e de Bentinho, ou seja, representava muito bem a amizade de ambos.

No momento da despedida do defunto, Sancha derrama sua dor e todos se consternam com ela, porém para Bentinho, apenas Capitu está firme, parecendo "vencer-se a si mesma". É nesta cena que para Bentinho, Capitu deixa vir à tona seus sentimentos por Escobar, quando olha para o defunto e derrama silenciosas lágrimas. Neste momento, Bentinho entende que seus sentimentos demonstrado através dessas lágrimas, vão além dos sentimentos de uma amiga, e afirma que o defunto a retinha ali, como retinha os olhos da esposa Sancha.

Dom Casmurro ao ver as lágrimas de Capitu, cessa as dele e apenas observa e analisa com suas próprias interpretações as de Capitu, julgando cada vez mais certo de si, que era lágrimas carregadas de sentimentos.

A partir deste momento, Bentinho sente desejo de jogar o caixão no chão em pela rua, porém contém-se e não o faz. No cemitério, diz que maquinalmente lê o discurso preparado para Escobar, demonstrando sua ira contra um suposto sentimento que poderia haver entre ele, Escobar e Capitu.

Ainda no cemitério, Bentinho não consegue distinguir se é ou não um jornalista, o que lhe pede para publicar as lindas palavras escritas a Escobar, mas Bentinho as rasga e diz que somente a sua "grande turvação", ou seja, perturbação, para recusar tamanha gentileza. Ele mesmo admite estar além do seu estado emocional considerado normal, pois tudo o que se percebe até agora, é que tudo que envolvesse Capitu, era para Bentinho algo perturbador.

Na volta do cemitério, Bentinho não vai para casa, e sai pelas ruas com a imagem do velório em sua mente, fazendo comparações entre os olhos de Sancha e os de Capitu. Chega a afirmar que diante do sofrimento de Sancha que presenciou, só poderia ter sido ilusão de sua parte, os olhares de Sancha na noite anterior. Diz também de um possível desvario seus pensamentos em relação à Capitu, pois pensa consigo mesmo o seguinte pensamento: "Talvez o mesmo se desse em relação a Capitu, talvez a minha antiga paixão que me ofuscava ainda e me fazia desvaira como sempre. Nessas palavras, percebe-se os conflitos existentes em sua mente, utiliza as palavras talvez, ilusão edesvario; enfim, não tem certeza de nada, mas ainda assim, fica muito tempo na rua sem saber exatamente porque demorar-se, se seria para afligir Capitu com sua demora ou simplesmente para pensar sobre suas dúvidas. Bentinho, não demonstra nessas falas, nenhum equilíbrio psico-emocional, simplesmente não consegue pensar que Capitu fez-se de forte para amparar a amiga que sofria com a morte do esposo, e que ao saber que seria de fato a última vez que veria seu "amigo" Escobar, sente muita tristeza e sem querer que Sancha perceba sua fraqueza, enxuga suas lágrimas depressa que haviam sido derramadas por Escobar.

Passada esse terremoto da morte de Escobar, a vida do casal ia muito bem, a banca de advogados cada vez melhor, Capitu mais bela e Ezequiel crescendo. Começava o ano de 1872.

A partir de um comentário que Capitu faz do olhar de Ezequiel, Bentinho passa a perceber que "nem só os olhos, mas as restantes feições, a cara, o corpo, a pessoa inteira iam-se apurando com o tempo" ou seja, Bentinho agora passa a ver Ezequiel como o retrato de Escobar. O prazer pelo filho esvai-se com a desconfiança e agora Capitu é acusada intimamente por Bentinho, de haver traído-o com Escobar e que seu filho era filho de Escobar. Capitu age para impedir problemas e tenta minorar a gravidade, colocando o menino em um colégio interno, de onde só viesse aos fins de semana.

A idéia não acabou com o problema, apenas o atenuou, pois aos fins de semana quando vinha para casa, causava transtornos em Casmurro, porque este via cada vez mais nítida a imagem de Escobar revivendo e revigorando-se em Ezequiel. Bentinho declara a aversão que tinha ao garoto quando este o achava no escritório aos domingos e vinha para o beijar.

Diante desta situação, Bentinho tem uma idéia infame, dar fim a própria vida. Diz sentir-se feliz com a idéia de morte e vai até a casa de sua mãe para despedir-se da família. É impressionante o ponto que chegou a situação de Bentinho, de cogitar a sua morte por algo que não tem certeza se houve de fato ou não!!!

Na volta para casa, depois de haver jantado fora, foi ao teatro, onde depara-se com a peça de Otelo, admira-se da coincidência, ou seja, pensa ser a sua vida ali representada, uma vez que a peça teatral fala de uma "traição". Otelo sente-se enganado por Desdêmona ao deparar-se com uma cena – armada – que denunciava a traição de Desdêmona. Otelo enfurecido, a mata sufocada com um travesseiro, e ao ser representada a cena pelos atores do teatro, o público que assiste, aplaude a tão boa encenação. No entanto, para Bentinho, os aplausos são para a vingança que Otelo fez, matando a suposta traidora. Seu distúrbio psico-emocional é tamanho, que não consegue interpretar a razão dos aplausos e diz que se o público estava aplaudindo tanto a morte da traidora, mesmo esta sendo inocente, o que seria se fosse culpada de fato. Completa o pensamento dizendo: "tão culpada como Capitu".

Advogado, como parte fundamental de sua profissão, era a habilidade em interpretar fatos, leis, cenas, etc, porém, diante de seu desequilíbrio, sente apenas a certeza de que quem de deveria morrer era Capitu.

Chega em casa e prepara sua morte, porém não tem coragem imediatamente e então, pensa em esperar até que Capitu vá com o filho à missa. Porém, antes de sair, o menino o descobre no gabinete e corre para abraçá-lo; esse gesto deixa Bentinho irado e chega a tentar que Ezequiel, tomasse a xícara de café com veneno. Coloca-a na boca do menino, mas antes de entorná-la, sente algo que o impede e desesperadamente beija a cabeça do pequeno em meio à repetidas frases onde afirma não ser o pai dele, demonstrando certo remorso e desequilíbrio.

Capitu chega ao gabinete para pegar o menino para irem à igreja e vê os dois em meio a choro e palavras, então calá-se e aos olhos de Bento, esta apresenta-se lívida epergunta o que está acontecendo e o porquê dos choros. Disse que não ouvira as palavras dele direcionadas ao filho, mas Bentinho teme em repeti-las pensando na reconciliação.

Não tem coragem de contar seu desejo infame, e apenas conta as palavras que dissera ao filho, que não era seu pai.

Capitu indignou-se, porém Bentinho não cria em sua indignação. Ela então insistiu para que dissesse tudo o que tinha em mente, afirmando que nada poderia ser maior do que a calúnia levantada sobre ela em relação ao filho. Pediu a separação após ouvir as injúrias a seu respeito e ironicamente riu e falou: "Pois até os defuntos! Nem os mortos escapam aos seus ciúmes!" Em um discurso direto, continuou dizendo saber a razão da desconfiança, que seria a casualidade da semelhança entre Ezequiel e Escobar... "A vontade de Deus explicará tudo..."

No calor da discussão, Bentinho diz que esteve a pique de crer que era vítima de uma grande ilusão, mas a voz de Ezequiel, o trouxe à consciência da realidade. Sempre apresentando desequilíbrio e insensatez.

Neste momento, nem a morte mais era apreciada por Bentinho, na verdade o que ele queria era deixar Capitu com sentimento de culpa, porém como ela se defendera, de certa forma que fosse alcançar seu alvo, deixar a culpa nela.

Ao Capitu voltar da igreja, Casmurro apresenta um discurso advindo de Capitu em que ela colocá-se como culpada, pois diz:

_ Confiei a Deus todas as minhas amarguras,... Ouvi dentro de mim que nossa separação é indispensável, e estou às suas ordens.

Diante de tal discurso, não fica claro se Capitu se submete às decisões de Bentinho por sentir-se culpada ou por sentir-se imensamente injustiçada diante das acusações e não quer mais levar adiante um casamento que não há mais possibilidade de continuar a existir. Simplesmente abre mão de sua vida conjugal.

Partem para a Suíça, a fim de haver uma separação longe dos comentários da sociedade sobre qual seria o motivo da separação.

Passado alguns meses, Capitu escreve a Bentinho pedindo que a fosse ver, porém segundo Casmurro, isso nunca ocorreu, pois ele chegou a ir até lá, mas nunca a procurou. Ao escrever para Bentinho, Capitu utiliza palavras submissas, sem ódio, de certa forma afetuosas e saudosas. O fato intrigante é onde estava o orgulho e altivez de Capitu ao apresentar-se submissa em suas cartas a um homem que supostamente a havia humilhado e duvidado de sua honestidade, ela que sempre se impôs diante de qualquer e todas as situações?

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Passado alguns anos, Bentinho recebe um cartão e pergunta ao criado se a pessoa estava no local. O criado responde que sim, e Bentinho apesar de saber que se tratava de Ezequiel seu filho, demora-se em ir recebê-lo. Então veste-se às pressas e vai recebê-lo, o que o faz com frieza. Apenas vê em Ezequiel o retrato de Escobar, com algumas diferenças na altura e corpo, mas o rosto, este era de Escobar. Ezequiel vestia luto, pois Capitu havia morrido. Bentinho também estava de Preto.

Bentinho apesar dos anos que já se haviam passado, tinha seu prazer em não ver mais o garoto que agora era um rapaz. Preferiu ouvi-lo que falar-lhe.

Foram almoçar e durante todo o tempo, era a presença de Escobar que estava ali à mesa, e Dom Casmurro, tem nesse momento a certeza de que o rapaz não era mesmo seu filho pois diz: "doeu-me que Ezequiel não fosse realmente meu filho, que me não completasse e continuasse."

Casmurro via Escobar até mesmo na afinidade que Ezequiel possuía com os números. Porém diz que se José Dias fosse vivo, veria no garoto o próprio Bentinho.

Casmurro evitou que a prima Justina visse o rapaz, pensando que ela estivesse a espera de achar-lhe algo parecido com o falecido. Ela morreu antes de vê-lo.

Por fim não havendo outra opção, os dois vêem-se obrigados a viverem juntos, o que para Ezequiel não era problema nenhum, já para Bentinho era uma tortura. Ao fim de seis meses, Ezequiel fala ao pai de uma viagem que pretendia fazer com dois colegas. Bentinho deu-lhe algum dinheiro e desejou por um momento que fosse acometido de lepra. Mas imediatamente arrependeu-se e quis apertar o rapaz contra si, mas não o fez. Porém, não de lepra mas de febre tifóide, Ezequiel morreu e foi enterrado nas imediações de Jerusalém.

Casmurro afirma agora sem nenhum temor, que pagaria o triplo das despesas com o enterro para não ver novamente o jovem rapaz!

Por causa da escrita que os amigos de Ezequiel puseram em seu túmulo, Bentinho foi procurar na Bíblia a passagem em que era citada, e a do túmulo dizia apenas: "Tu eras perfeito nos teus caminhos", mas Bentinho foi além e terminou a leitura que completava da seguinte forma: "Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia da tua criação", o que imediatamente veio à sua mente qual seria o dia que Ezequiel teria sido criado.

Apesar de tudo, Casmurro demonstra frieza ao dizer: "jantei bem e fui ao teatro". Ele afirma que não lhe faltou consolo nos braços de seus relacionamentos, mulheres com pouco envolvimento, mas sempre as teve e procurou viver à melhor maneira possível. Entre todas as mulheres, apenas uma tinha atenção mais especial, as outras iam a pé ou se chovesse, aí ele procurava um carro qualquer da praça para levá-las.

Elas não voltavam, mas sempre encontrava outras, porém assume que nenhuma delas preencheu a primeira de seu coração. Diz que talvez era porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada.

Dom Casmurro, termina sua história dizendo que sua amiga, Capitu, e seu melhor amigo, Escobar, extremosos e queridos, quis o destino que acabassem juntando-se e o enganando... A terra lhe seja leve!!!

Analisando

Toda a história é narrada pelo narrador-personagem, e além de tudo, é o personagem que sente-se traído por sua esposa e amigo. Diante dos fatos obscuros, não é possível retirar conclusões com propriedade sobre os fatos, uma vez que estes apresentam provas e contraprovas e por justamente ter-se apenas uma visão, a do homem que supostamente fora traído.

Através da análise feita, é possível perceber certos distúrbios psico-emocionais no personagem Bentinho, que puderam ser causados pela traição ou simplesmente pelas suposições dela geradas por extremo ciúme e insegurança que Bentinho apresenta ter.

Ele mostra-se observador das pessoas, e através dos olhos, concluía seus pensamentos a respeito delas. Mostrava-se inseguro, porém tinha uma ótima vida profissional, profissão esta que exigia segurança e auto-controle, pois era advogado.

Quando sua mãe morreu, mandou colocar em sua lápide a inscrição: "uma santa" demonstrando exaltação e apego a ela; porém com Capitu, foi totalmente o inverso.

A impressão que se tem do personagem Bentinho, é que Capitu representava tudo o que ele queria ser e não era. Ela era altiva, forte, dona de si, controladora, entre outras. Ele sempre apegado à mãe, filho único e vivendo sempre às suas barras.

Termina sua vida sozinho, vivendo em uma casa construída aos moldes da que fora criado e o retrato de seus pais na parede, para de certa maneira reviver a todo o tempo a sua fase de infante.



[1] Siso - jogo onde dois indivíduos devem permanecer olhando fixamente um para o outro com feições serias, aquele que rir primeiro perde.

[2] A furto - com dissimulação; ocultamente, disfarçadamente.

[3] Vezo – costume vicioso; hábito censurável; qualquer costume ou hábito.