Para a discussão acerca de metodologia faz-se necessário inicialmente conceituá-la. Ela estuda os métodos de descrição, classificação e exame a respeito de algo específico e determinado. O significado etimológico da palavra metodologia é caminho a ser seguido para alcançar algum fim. (Piletti, 1995). Ou seja, a metodologia é um roteiro geral para a atividade a ser executada, é ela quem dita e indica as grandes linhas de ação a serem utilizadas.
Assim, a Análise de discurso apesar de ser pautada e fundamenta através do entremeio e do viés de outras ciências sociais, possui um material metodológico específico, próprio e determinante, que visa quais diretrizes e linhas devem ser seguidas, a fim de justamente se fazer análise num dado discurso. "Aberta a possibilidades múltiplas, mas firmemente alicerçada numa teoria particular. É assim que vejo a construção metodológica em Análise do Discurso (AD)." (Mittmann).
Após interpretar, o analista vincula-se a um dispositivo que lhe permite ir além do efeito inicialmente exposto na análise superficial de interpretação do discurso. Consiste no efeito de transparência da linguagem, do literal, do sentido metafórico, no equivoco, na falha portanto, no trabalho com a ideologia.
Surge, nesse ínterim, uma proposta particular de construção de um método de análise.Tal dispositivo tem como principal função colocar o dito em contraposição ao não dito, procurando, dessa forma, estabelecer aquilo que o sujeito diz com aquilo que ele não diz, mas que igualmente consiste em si um processo de produção de sentidos.
Com base na metodologia utilizada pelo analista em AD Orlandi (2007) diz:
" ...Ele pode então contemplar (teorizar) e expor (descrever) os efeitos de interpretação. Por isso é que dizemos que o analista de discurso, à diferença do hermeneuta, não interpreta, ele trabalha n (os) limites da interpretação. Ele não se coloca em uma posição deslocada que lhe permite contemplar o processo de produção dos sentidos em suas condições."

Então, observa-se que o analista de discurso "encara" o texto, e consequentemente, os limites de sua interpretação como um material teórico permanente em todos os passos de sua análise, assim estabelecendo a distinção entre descrição, compreensão e análise de discurso, presente em seu objeto teórico.
É dessa forma, que o especialista em análise constrói seu dispositivo analítico, que é posto frente aos materiais em exame, constitui um corpus único, visando compreender o seu trabalho analítico-expositivo, praticando finalmente, sua análise a partir do material interpretativo que seu discurso empreende e lhe é permitido.
Ao passo que o analista, deve sempre ter em mente que o discurso é apenas uma construção ideológica da realidade, sendo necessário atentar-se às seguintes questões: 1) Quais são as condições de produção do discurso analisado? 2) Quem produziu o discurso? Nesse caso, deve-se reparar cuidadosamente a inserção social e política do sujeito que está elaborando o discurso, como também para as intenções e os resultados visados por este. Levando-se em consideração o contexto social em que atua o sujeito do discurso em questão.
Num outro momento, é preciso apreender os diversos níveis do discurso, sendo este procedimento extremamente importante para se evitar que o analista caia nas armadilhas do discurso que está analisando. O que significa não acreditar piamente na mensagem explícita da fala do locutor, ao invés de tentar perceber o que está por trás desse discurso.
Apreendendo a linguagem conotativa, o analista consegue chegar a mensagem implícita, que também pode ser denominada de sub-texto, ou seja, uma mensagem oculta que só transparece ao considerarmos as omissões contidas no discurso, diferentemente do sentido denotativo que consiste na análise superficial e intrínseca de um dado discurso, portanto sua primeira interpretação. Por linguagem denotativa Faraco e Moura (1996) dizem que consiste em utilizar o signo em seu sentido próprio e único, não permitindo outras interpretações. Já sobre a linguagem conotativa os autores falam que esta consiste em dar novos significados daqueles já exposto ao valor denotativo do signo, ou seja, permite uma segunda interpretação do que esta a perante a análise.
De acordo com o trabalho do analista em AD, Mittmann, enfatiza:
" Como pesquisadores, acionamos nossa habilidade de arqueólogos, buscando, resgatando, selecionando, isolando, relacionando, agrupando e organizando recortes de textos. Para a seleção costumamos optar por um campo discursivo e/ou um tema, a partir de uma questão que busca respostas. E diante das direções que se expõem a nossa frente, nosso olhar vai definindo um caminho."


Assim, o trabalho do analista inicia-se a partir da configuração do corpus, delimitando-se, fazendo recortes, na medida em que vai incidindo o trabalho basilar de análise, retomando conceitos teóricos de AD, pois o analista deve proceder num trabalho incessante de ir ?e - vir constantemente entre noções teóricas, consulta ao corpus da pesquisa, para finalmente chegar até a análise discursiva. Todo exame analítico em AD realiza-se a partir do texto, pois este se refere à discursividade, funcionando como uma unidade que estabelece sentido e significação pela historicidade.
Para compreendermos como funciona a análise do discurso, devemos relacionar os inúmeros processos de significação que encontram-se presentes num determinado texto. Tais processos ocorrem devido a sua historicidade. Visando enfatizar como um texto funciona, como ele produz sentidos, mostrando como ele realiza a sua discursividade que lhe é competente. Conforme o que aludimos, empreende-se que o discurso é dispersão de textos e este por sua vez, é dispersão de sujeitos. Podemos, desse modo, entender que a AD não está interessada no texto como seu objeto final de explicitação, mas com uma unidade básica que lhe permite acesso ao discurso.
O trabalho do analista consiste na verdade, em percorrer o caminho através do qual o discurso se faz presente na estruturação do texto e dos sujeitos que permitem que estes sejam constituídos. Um texto é apenas uma peça da linguagem de um processo bem mais abrangente que é o discurso, e dessa forma deve ser entendido. " O que temos como produto da análise, é a compreensão dos processos de produção de sentidos e de constituição dos sujeitos em suas posições". (Orlandi 2007).
O analista, ao olhar os textos tem a sua frente uma necessidade de procurar, "vasculhar", em sua materialidade discursiva e ideológica, os indícios (vestígios, pistas, trajetórias) dos processos de sentido, presentes no texto. Assim, o especialista, parte desse caminho, para ao fim praticar a análise de discurso e não a linguística ou conteudista.
Com base no papel desempenhado pelo analista MIittmann destaca:
"... Não pode confirmar consensos de objetividade e estatísticas reafirmadoras dos dizeres legitimados. Ao contrário: precisa desvendar aquilo que é imposto como evidencia. Isso não quer dizer que busquemos um sentido verdadeiro oculto sob as palavras, como se a teoria fornecesse a chave. Não se trata disso, até porque não acreditamos que esse sentido exista. Trata-se, isso sim, de desvendar os processos discursivos que levam às imposições como evidencia, bem como o que esses mesmos processos deixam fora."

Nesse contexto, é iminente constatarmos e, finalmente, termos certeza que o trabalho realizado pela análise do discurso, diferencia-se do trabalho realizado pela Linguística, visto que em AD não trabalhamos com as marcas (formais), mas com as propriedades discursivas (materiais) que referem a língua a história para estabelecer sentido e significação, portanto um trabalho incessante de ir-e-vir. Interessa, então, ao analista o modo pelo qual o material discursivo é empregado e apreendido no e pelo discurso.
Sinteticamente, subentende-se que o que faz a diferença entre Análise do Discurso e a Linguística é a forma pela qual a noção de língua é trabalhada. Na primeira esta é sujeita a falhas, a equívocos, a esquecimentos, ao dito que se contrapõe ao não dito. E, também, da noção com a ideologia e o inconsciente como constitutivas tanto do sujeito, da história quanto da produção de sentidos e significação.

Bibliografia

FARACO, Carlos & MOURA, Francisco. Língua e Literatura. São Paulo: Ática, 1996.
FERREIRA, Maria Cristina Leandro. Glossário de termos do discurso. Porto Alegre: UFRGS, 2001.
MITTMANN, Solange. Discurso e texto: Na pista de uma metodologia de Análise. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
ORLANDI. Eni P. Análise de Discurso: Princípios e procedimentos. 7ª Edição, Campinas, SP: Pontes, 2007.
PILETTI, Claudinho. Didática geral. São Paulo: Ática, 1995.