Introdução:

 

 

 

             Este trabalho tem como objetivo ler, interpretar e analisar o conto Os Músculos de Ignácio de Loyola Brandão, publicado em 1976.

             No primeiro capitulo foi feita uma análise do conto que é uma narrativa rápida que firma um pacto com o leitor. Temos diversos contistas em diversas épocas no Brasil. Podemos citar: Machado de Assis, Guimarães Rosa, Luiz Ruffato, João Antonio, Rubem Fonseca, Marcelino Freire.

No segundo capítulo falaremos do autor em questão, Ignácio de Loyola Brandão, é paulista de Araraquara, jornalista, atualmente com 72 anos. Autor com muitas obras publicadas e traduzidas para diversos idiomas dentre os quais: húngaro, coreano, alemão e espanhol. 

            No terceiro capítulo analisamos o conto Os Músculos, que narra a sufocante condição do homem confinado nos conjuntos habitacionais urbanos, que proliferaram no Brasil nos anos de 70, incentivados pelo ufanista “Milagre Brasileiro”. O personagem Danilo tenta resgatar sua dignidade, mas, como tantos outros, se acomoda com sua situação de ser apenas mais um a engrossar as estatísticas de desenvolvimento urbano.

            No quarto e último capítulo faremos uma síntese de tudo o que foi analisado nos capítulos anteriores, deixando nossas opiniões e dúvidas acerca do assunto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                     CAPÍTULO 1:

Uma narrativa rápida que surpreende o leitor:

 

            O conto é uma forma de narrativa literária que chama o leitor a interpretar os silêncios, as entrelinhas do texto. Tal narrativa se dá de forma rápida e com um ritmo intenso, para ser lido sem interrupções, de uma vez só.

            No conto o autor não se apega a detalhes dos personagens, desenvolvendo seu texto de forma concisa e direta produzindo uma só impressão no seu receptor. Não há uma fórmula estanque para se escrever um conto, cada autor tem seu modo peculiar de chegar ao seu objetivo, que é prender o expectador e surpreendê-lo ao final da narrativa.

            Uma das particularidades do conto e apresentar sempre duas narrativas: uma explícita e outra implícita que cabe ao leitor percebe-la e interpreta-la.

            O Conto Os Músculos, mostra o estilo de seu escritor Ignácio de Loyola Brandão, que usa a narrativa fantástica, que tem seu paralelo na dramaturgia de Dias Gomes com seu “Realismo Fantástico”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                   CAPÍTULO 2:

 

                          Ignácio de Loyola Brandão:

 

 

Ignácio de Loyola Brandão é paulista de Araraquara, jornalista, atualmente com 72 anos. Autor muito censurado pela ditadura militar nos anos 70, teve seu romance Zero publicado na Itália, para dois anos mais tarde poder publicá-lo no Brasil, romance este que tem traduções diversas incluindo para os idiomas húngaro, coreano, alemão e espanhol.

Além da literatura e do jornalismo, Ignácio também tem uma paixão especial pelo cinema, chegando a atuar como figurante no filme O Pagador de Promessas, vencedor da palma de ouro em Cannes no ano de 1962.

Morou na França e na Itália, escreveu para teatro, além de romances, onde se destaca Zero, e diversos livros de contos além de escrever para jornais até os dias atuais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                   CAPÍTULO 3:

 

 

 

 

                            Análise do Conto Os Músculos:

 

È um conto surpreendente que narra de forma rápida e irônica a situação vivida por muitos brasileiro no período mais duro da ditadura militar (1964 – 1985), que foram os anos 70. Danilo era morador de um conjunto habitacional – uma COHAB - como se dizia na época, e tentava em seu limitado espaço ter um pouco de sua vida interiorana que havia deixado para trás. Em seu reduzido quintal procurava cultivar hortaliças, mas nasceu arame no lugar das verduras. Tentou Danilo livrar-se dos “arames”- arames que são ligados aa. idéia de urbanização da população, que por que se tente fugir o homem acaba sempre engolido pela “urbe” - mas acabou entendendo o que queriam dele e de outros anônimos como ele. Acomodou-se em sua nova vida engrossando as estatísticas de um tão vangloriado crescimento urbano.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

      

 

 

 3.1: Estudo da Narrativa:

 

 

            O conto Os Músculos usa a narrativa fantástica , estilo muito usado nos anos 70, como metáfora para criticar o Governo Militar (1964 – 1985). Tal narrativa é muito comum em textos de Murilo Rubião e outros autores da época.

            É um texto narrado em terceira pessoa, por um narrador observador que descreve o dia a dia e as angústias do personagem principal Danilo, que curiosamente só tem seu nome revelado no final do conto. Tal narrador observador já se faz presente desde o início: “Todos os domingos, pela manhã, enquanto os outros se reuniam no bar da esquina, ou iam para a várzea, ele ficava no quintal remexendo a terra (...)” (p. 22)

            A narrativa se desenvolve em um tempo longo, pois ocorrem várias safras de arame, conforme os trechos: “E o Governo Federal consumiu a safra de meses.(...)” (p. 24); “(...) na casa de sementes ele pediu um técnico. Demorou meses (...)” (p. 23)

            Danilo – personagem principal do conto ,e , que curiosamente tem seu nome revelado só no final, cultiva hortaliças em seu reduzido quintal. Percebeu um dia que crescia arame e não hortaliças tentava de todas as formas descobrir a causa e eliminar a “plantação de arames”, mas não conseguia, procurou ajuda em uma casa de rações, onde apareceu brevemente outro personagem - o técnico, que disse duas frases e não é mais citado no texto-, também foi em vão, o arame não parava de crescer. Entra no texto então outra personagem – a mulher de Danilo, que não tem seu nome revelado – e só reclama de tão inusitada situação.

            As safras de arame vão se sucedendo e Danilo começa a distribuí-las, primeiro na vizinhança, depois na cidade, até que todo o país foi servido pelos arames do quintal de Danilo. Começaram então, problemas maiores ainda, acusações de produto eleva, processos e outra coisas que foram acuando Danilo e ele, resignado compreendeu o queriam seus algozes e simplesmente foi morar no meio de seus arames e entre eles viver o resto de sua existência.

Várias vozes estão presentes no texto. Danilo – voz ativa; o técnico da casa de ração – coadjuvante; a mulher de Danilo, os vizinhos e o Governo Federal, todos em posições antagônicas à de Danilo.

            Loyola Brandão prende a atenção do leitor para um desfecho inesperado e surpreendente, pois quando se esperava a vitória do personagem principal ele simplesmente segue o velho dito popular; “Se não pode vencê-los, junte-se a eles.”

           

Subliminarmente, o autor faz uma crítica cifrada, ácida e metaforizada a uma das “vedetes” do “milagre econômico” implantado na década de 70 pelo governo militar brasileiro – Emílio Garrastazu Médici (1969 – 1974) e Ernesto Geisel (1974 – 1979) . Fixava-se o homem nos grandes centros urbanos, em conjuntos habitacionais – as COHAB _ financiados pelo BNH (Banco Nacional de Habitação) – para exibir uma falsa imagem de progresso, com o aumento da população em áreas urbanas, visto que as “metrópoles” eram símbolo de progresso e prosperidade. Em momento algum se levava em conta o lado humano e a individualidades destes novos “cidadãos urbanizados”, que serviam só para alavancar o crescimento das estatísticas.

             O conto Os Músculos, dialoga com alguns outros textos literário e com a música popular, como a do grupo paulista Premeditando o Breque São Paulo, São Paulo, no trecho da letra que diz; “Na grande cidade me realizar. Morando num BNH. Na periferia a fábrica escurece o dia.”

            Fazemos também um paralelo do personagem Danilo com o personagem da música Construção de Chico Buarque de Holanda : “(...) seus olhos embotados de cimento e lágrima.(...)”

            Ignácio de Loyola Brandão, foi um dos autores mais censurados e perseguidos pelo regime militar, costuma-se dizer que sua obra é muito datada e que se concentra no período que compreende o fim dos anos de 1960 até o início dos anos de 1980.Com sua já falada narrativa fantástica Ignácio vai destilando e inoculando sua ácidas críticas e metáforas, conscientizando e divertindo seu leitor com tão magnífica obra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                       CAPÍTULO 4

 

                                 Considerações Finais:

 

            O tema ao qual se refere o conto Os Músculos de Ignácio de Loyola Brandão, está vinculado a um momento do país que vais de 1964 até 1985, período duro, arbitrário e autoritário da nossa recente história.

Ao longo do conto, o protagonista Danilo, que como dissemos só tem seu nome revelado na última linha do texto, trava uma árdua luta contra os “arames” que crescem inexplicavelmente em seu quintal.Acaba dando-se por vencido.

            O protagonista, na verdade representa as luta de muitos que acabaram aceitando forçosamente, a vida nos grandes centros urbanos. Diante desse fato tão comum nas últimas décadas, nos vem irrepreensivelmente à mente algumas indagações: Até que ponto a cidade oferece liberdade e prosperidade de fato? Será que nela somos tolhidos da opção de escolha do nosso destino? Oferece tantas coisas que, forçosamente, o homem tem que optar. Afinal será uma opção ou uma imposição?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

           

CAMARA, Hélder. Um olhar sobre a cidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.

DORADIOTTO, Wandi. São Paulo, São Paulo. São Paulo, 1986.

GOTLIB, Nádia Batella. Teoria do Conto. 11. ed. São Paulo: Ática, 2006.

HOLANDA, Chico Buarque de. Construção. In:______ Construção. Rio de Janeiro: Philips, 1971.

http://www.germinaliteratura.com.br/erot_mar06_ilb.htm. acessado em 20/09/2008

http://www.pvsinos.com.br/jornal/edicao99_1/ed99_1_contos_br_contemporaneos.htm acessado em 07/09/2008.

http://www.releituras.com/ilbrandao_bio.asp. acessado em 13/09/2008

MORETTI, R. S. Normas Urbanísticas para Habitação de Interesse Social. FINEP-IPT: S.P, 160p,

PINA, S.A MG As áreas habitacionais populares nas cidades médias paulistas: o caso de Limeira. Diss.(Mestrado). Escola Politécnica, USP, São Paulo,1991.

SAMPAIO, M.R. e LEMOS, C.A.C. Habitação Popular Paulistana Auto-Construída. FAUUSP, SP, 2a.ed.,1984.

www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=literatura/docs/oconto.acessado em 06/09/2008