UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ - UVA

CENTRO DE FILOSOFIA, LETRAS E EDUCAÇÃO - CENFLE

CURSO DE LETRAS

ACADÊMICA: CARLA JANAINA FERREIRA DE SOUSA

ANÁLISE DO CONTO "A MENOS MULHER DO MUNDO"

NÍVEL DE FICÇÃO

1. HISTÓRIA

1.1 AÇÕES

No conto “A menos mulher do mundo", as ações são em número reduzido. As ações são externas. O caráter das ações são identificáveis e assinaláveis (explícitas). As funções das ações são cardeais para o desenrolar do conto e o devir dos personagens ( para o desenrolar das ações que envolvem dois personagens marcantes do conto: Pequena Flor e Marcel Pretre). Essas ações se efetuam (desenrolam e acabam com um desfecho). A relação lógica das ações no conto acontece da seguinte forma: uma ação acaba desencadeando outras ações no decorrer do conto. Sua relação cronológica é bem clara.

1.2 SEQÜÊNCIA

O conto analisado apresenta uma seqüência mais rígida, sua unidade textual manifesta um esquema quinário como: estado inicial, complicação, dinâmica, resolução e estado final. Essas etapas desse tipo de esquema acabam tornando inútil qualquer divisão complementar em seqüência.

1.3 INTRIGA

O conto "A menos mulher do mundo" parte do estado inicial: narrativa se inicia nas profundezas da África Equatorial, onde o explorador francês encontra uma tribo de pigmeus de uma pequenez surpreendente, ou seja, o primeiro contato do explorador com seres tão pequenos. A complicação se inicia na ação em que o explorador defronta mais adiante com uma mulher de quarenta e cinco centímetros que pertence a outra tribo de tamanho menos ainda. A dinâmica parte da ação em que o relato do explorador sobre a pequena mulher e a foto da mesma é publicado no jornal, tal publicação (foto) causa diversas reações nos leitores (outros personagens), que nunca viram ser tão pequeno e de traços físicos tão estranhos. A resolução parte do momento em que o narrador retorna a narração na África, no momento que o explorador consegue uma aproximação mais concreta com ser tão de tamanha estranheza "a menos mulher do mundo", e consegue se comunicar de forma direta com a Pequena Flor utilizando a linguagem verbal, já que antes a pequena só sabia se comunicar através de gestos e sons de animais. O estado final apresenta uma ação não-acabada, já que o narrador encerra o conto com uma ação que deixa o leitor confusão em relação o desfecho: "- Pois olhe - declarou de repente uma velha fechando o jornal com decisão - pois olhe, eu só lhe digo uma coisa: Deus sabe o que faz". (LISPECTOR, 1998, p.75).

2. PERSONAGENS

Os personagens nesse conto analisado são em numero reduzido (Pequena flor, Marcel Pretre e os outros personagens que não são identificados pelos nomes). A qualificação é existente na personagem da Pequena Flor (nome, tamanho quarenta e cinco centímetros, madura,, negra, nariz chato, os olhos fundos, os pés espalmados, seu estado físico "está grávida" e seus hábitos) e no personagem Marcel Pretre (nome, amarelo, explorador francês e seu estado civil casado), enquanto os demais personagens não existe nenhuma qualificação atribuída às eles. A funcionalidade é atribuída a Pequena Flor, sua aparição no decorrer do conto é freqüente (distribuição), que frui do mais importante fazer e da mais importante autonomia. A personagem Pequena Flor suporta assim uma pré-designação convencional própria do conto e dos leitores, ela aparece como algo que causa estranheza (seus traços físicos provocam diversas reações nos outros personagens) nos demais personagens, O personagem Marcel Prete quase não é atribuído funcionalidade, sua aparição é pouca no decorrer do conto, não tem autonomia. Em todos os pontos de vista, a Pequena Flor é claramente distinta e hierarquizada como a personagem principal, e Marcel Pretre como um personagem secundário. Comentário explícito é inexistente nesse conto.

2.1 AÇÕES DOS PERSONAGENS

Para analisar as ações dos personagens no conto "A menor mulher do mundo", partirmos do modelo de análise dos papéis dos personagens: agente, paciente e influenciador. A personagem Pequena Flor apesar de ser a personagem principal, ela assume o papel de paciente, pois ela é afetada pela ação do agente (Marcel Pretre), ou melhor, a partir da ação em que o explorador Marcel Pretre encontra a pequena mulher numa Floresta localizada na África Equatorial, e o mesmo relata o acontecido ao um jornal, esse relato e a foto da pequena são publicados nesse jornal, em razão disso, ela acaba sendo afetada de uma forma abstrata, já que a sua imagem causa diversas reações nos leitores como: nojo, piedade e entre outros sentimentos. A presença do papel do influenciador é inexistente nesse conto.

3. ESPAÇO

Esse conto se desenrola numa floresta, esse lugar apresenta características que fazem referências ao um lugar não real. No decorrer do conto, algumas ações vão se passar longe da floresta, o narrador não deixa explícito esse lugar, mas apresenta detalhes nessas ações que levam o leitor facilmente identificar esse lugar como sendo a sede urbana (cidade).

A floresta descreve a personagem Pequena Flor por metonímia. Ela vivia sem nenhum contato com outros seres humanos que não fosse os da sua tribo, em razão disso, ela só sabia se comunicar através de gestos e sons animais usados por sua tribo, após o contato com outro ser (Marcel Pretre) diferente de sua espécie em relação a cultural, apreendeu utilizar a linguagem verbal. Ela também apresenta hábitos de uma vida selvagem: a Pequena Flor vivia nos topos das árvores mais altas da Floresta como alguns animais selvagens vivem (macacos e outros animais).

4. TEMPO

Não existe uma marcação de tempo exata nesse conto. Somente traços que podemos considerar como categorias temporais convocadas (dias/momentos) em alguns trechos como: nesse domingo, nesse instante, entre outros.

NÍVEL DE NARRAÇÃO

1. MODO NARRATIVO

Nesse nível o conto "A menos mulher do mundo", apresenta o modo narrativo de contar, a presença do narrador é visível. Podemos perceber que essa narrativa é contada por único narrador. As ações (cenas) nesse conto são resumidas (sumários), podemos notar isso, nas cenas que apresentam as reações dos personagens diante da foto da Pequena Flor, o narrador conta a reação de cada um dos personagens em cenas resumidas como na seguinte cena: "Nesse domingo, num apartamento, uma mulher, ao olhar aberto o retrato de Pequena Flor, não quis olhar uma segunda vez "porque me dá aflição". (LISPECTOR, 1998, p.70)

2. AS VOZES NARRATIVAS

No decorrer desse conto, podemos observar que as falas dos personagens são mediadas pelo relato do narrador, assumindo assim, forma de falas narrativas ou de falas transpostas. O narrador inicia o conto com o discurso narrativo, como podemos notar, nos dois seguintes trechos: "Nas profundezas da África Equatorial o explorador francês Marcel Pretre, caçador e homem do mundo, topou com uma tribo de pigmeuns de uma pequenez surpreendente”. (LISPECTOR, 1998, p.68). "[...] Marcel Pretre defrontou-se com uma mulher de quarenta e cinco centímetros, madura, negra, calada".(LISPECTOR, 1998, p.68). Em outras cenas, o narrador utiliza o discurso indireto livre, como nesse trecho: "É que a própria coisa rara sentia o peito morno do que se pode chamar de amor. Ela amava aquele explorador amarelo. Se soubesse falar e dissesse que o amava, ele inflaria de vaidade [...]".(LISPECTOR, 1998, p.74). O narrador também utiliza nas cenas o discurso direto como no seguinte trecho: "Foi então que o explorador disse, [...]: - Você é Pequena Flor".(LISPECTOR, 1998, p.70).

3. A PERSPECTIVA NARRATIVA

Esse conto apresenta uma perspectiva passando pelo narrador (a visão atrás por passando pelo narrador), nesse tipo de perspectiva o narrador sabe mais dos que personagens, ele conhece tudo sobre o enredo e os próprios personagens como seus pensamentos, seus sentimentos, etc.

4. A INSTÂNCIA NARRATIVA

Através desse tipo perspectiva citada no item anterior, podemos dizer que a instância narrativa do conto analisado é um narrador heterodiegético e uma perspectiva passando pelo narrador. Em diversos trechos do conto, podemos observar o conhecimento que o narrador tem sobre tudo enredo e vidas dos personagens.

5. NÍVEL

A presença de narrativas encaixadas no conto "A menos mulher do mundo" é bem clara. No decorrer desse conto, os personagens imaginam outra cena ou lembram, partindo da cena na qual eles estão envolvidos, podemos perceber isso, no seguinte trecho do conto: "Foi em outra casa que um menino esperto teve uma ideia esperta: - Mamãe, e se botasse essa mulherzinha africana na cama de Paulinho enquanto ele está dormindo? Quando ele acordasse, que susto, hein! Que berro, vendo ela sentada na cama"! (LISPECTOR, 1998, p.71). Nesse trecho, o menino imagina outra cena. Em outro trecho, a mamãe desse menino lembra de outra cena:

A mãe dele estava nesse instante enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro, e lembrou-se do que uma cozinheira lhe contara do tempo de orfanato. Não tendo boneca com que brincar, e a maternidade já pulsando terrível no coração das órfãs, as meninas sabidas haviam escondido da freira a morte de uma das garotas. Guardaram o cadáver um armário até a freira sair, e brincaram com a menina morta, deram-lhe banhos e comidinha [...].(LISPECTOR, 1998, p.71)

6. O TEMPO DA NARRAÇÃO

O momento da narrativa apresentado nesse conto é a narração ulterior, em que o narrador conta o que se passou anteriormente, em um passado menos distante. A velocidade desse conto tem uma tendência à aceleração, já que as cenas são resumidas, e com isso, a duração do conto caba sendo resumido em algumas linhas também. A freqüência do conto é o modo iterativo, em que o narrador conta só uma vez o acontecido.

REFERÊNCIAS

LISPECTOR, Clarice. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

REUTER, Yves. A análise da narrativa. 3ªEd. Rio de Janeiro: Difel, 2011.