Neste pequeno resumo do capítulo 7 do Quadro Comum Europeu de Referência trata-se das tarefas dentro do ensino duma língua da sua descrição, dos seus objectivos, o grau da sua dificuldade, as competências que o aprendente desenvolve, ou é suposto desenvolver mediante o seu uso e os factores que influenciam a execução duma tarefa (a motivação intrínseca e extrínseca do aprendente, os factores afectivos etc.) e finalmente, é observado o lugar e o papel das tarefas na sala de aula. 

            Também, para as finalidades deste trabalho foram utilizados dois manuais de duas línguas diferentes destinados ao uso dos alunos estrangeiros do nível de iniciação: Português sem fronteiras 1 (1997) e Reč po reč [1] (2007) livro de texto da língua sérvia para estrangeiros. (nível elementar) Um dos critérios segundo o qual foram escolhidos estes dois livros é a diferença de dez anos entre a publicação do primeiro e do segundo manual, o que nos servirá para tentarmos comprovar se a data de publicação significa necessariamente a actualização das tarefas ao nível metodológico. O levantamento de dados destes dois manuais ajudar-nos-á a verificarmos em que medida as tarefas utilizadas correspondem ou não às exigências e expectativas expostas no Quadro Europeu Comum de Referência que tipo de competências se estimulam e desenvolvem e qual é o papel das tarefas no ensino e na aprendizagem das duas línguas-alvo a portuguesa e a sérvia.

Como se menciona no Quadro Comum as tarefas pedagógicas são bastante afastadas da vida real, e por isso é ilusório esperar muita naturalidade na preparação e execução das tarefas. Como consequência disso o manual português abunda de exercícios de transformações de frases segundo um determinado modelo, de preencher os espaços em branco com a palavra que falta, de escolher uma resposta correcta entre várias propostas etc. Além do livro na sala de aula recomenda-se o uso de cassetes, mas esses materiais não ajudam muito, dado que as actividades são bastante repetitivas. Embora esse tipo de exercícios possa parecer monótono e previsível, a vantagem dos ”exercícios estruturais” (Almeida Filho, Lombello, 1989) consiste em “ aumentar a vontade de praticar e repetir” e “ajudar na procura de padrões e regularidades” (pág.44) No entanto o livro sérvio oferece actividades um pouco mais diversificadas e mais dinâmicas: escrita de pequenos ensaios sobre um determinado assunto, completar as frases de forma a criar um diálogo que possa parecer natural, reorganização da ordem das frases no texto, transcrição dum texto em letras românicas ao alfabeto cirílico. Os cds que acompanham o manual além da pronúncia oferecem perguntas, que podem servir como ponto de partida para as pequenas discussões de acordo com o grau de conhecimento dos temas tratados no livro. O manual sérvio tem muitas fotografias a cores, que poderiam ser úteis no momento em que seja preciso fazer descrições seja oralmente, seja por escrito. Assim, as autoras do manual destinado aos alunos estrangeiros que querem aprender a língua sérvia têm a intenção de fomentar o desenvolvimento tanto das competências receptivas (compreensão e expressão escrita e compreensão e expressão oral).

Ambos os livros de texto são concebidos tendo em conta algumas competências comunicativas necessárias para os alunos do nível de iniciação l de tal forma que, usando os livros e os exercícios existentes neles os alunos aprenderão a pedir informação exprimir acordo, falar ao telefone etc. Os temas tratados também são semelhantes: apresentações, comidas, férias, desporto etc. só que dado que o livro para o ensino de sérvio é mais moderno parece que é mais próximo das tendências actuais na didáctica de línguas estrangeiras, que se baseiam na centragem na comunicação e no aprendente. José Carlos de Almeida Filho e Leonor C. Lombello (1989) consideram que “a primeira tarefa no ensino de línguas é adequar a metodologia do curso aos objectivos dos alunos.” Para eles é importante “para quem ensinar, o que ensinar como e por que ensinar”. Escrever e falar sobre os cursos centrados no aprendente é de facto muito mais fácil do que realizá-lo por médio das tarefas apropriadas à situação e às competências requeridas do aluno. Por isso, Dick Alwright  e Kathleen M. Baily  na obra Focus on the Language Classroom propõem algumas  estratégias e tarefas que o professor pode utilizar na sala de aula: por exemplo, para estimular os alunos mais introvertidos a participarem pode organizar uma espécie de jogo dramático onde cada aluno desempenhará um determinado papel. Também pode permitir aos alunos que corrijam uns aos outros estimulando desta forma a interacção na aula.

            Os mesmos autores mencionam as tarefas trabalhadas em grupos onde o professor dá uma parte da informação a cada um dos alunos e eles devem trocar as informações para chegarem à conclusão correcta. Para facilitar a realização das tarefas feitas individualmente, em pares ou em grupos, o professor deve dar as instruções claras, simples explícitas, como também deve ter em conta o tempo necessário para a sua preparação e execução.

            Até agora neste trabalho foram tratadas as tarefas relacionadas com a expressão ou recepção escrita ou oral mas a professora Ruth Huber no artigo “O papel da música no ensino de línguas” propõe a introdução da música e das tarefas ligadas a essa área na sala de aula, porque mediante a audição de música se sensibiliza o ouvido, cria-se um ambiente relaxado que facilita a comunicação e interacção entre o professor e os alunos.

             Para além de desenvolverem os conhecimentos e competências nos aprendentes, as tarefas servem para criarem o sentimento de dever e de responsabilidade, estimulam o desejo e vontade de aprender e estudar continuamente e ajudam o professor ver quais são as dificuldades do aluno em que domínios mostra mais progresso etc., e por esta razão devem ser dadas com regularidade. Este é um dos motivos porque ambos os manuais destinados ao ensino de língua estrangeira previamente mencionados (Português sem fronteiras 1 e Reč  po reč)  têm unidades de revisão depois de cada seis unidades temáticas abordadas. Os trabalhos de casa dos alunos têm de ser corrigidos e avaliados continuamente, para o aprendente saber quais são as áreas que deveria praticar mais quais conhecimentos tem de aperfeiçoar etc.

            As correcções das tarefas que o professor faz devem ser entendida pelos alunos como intervenções com tal de melhorar a aprendizagem e não como críticas e formas de inibir o aprendente.

            Quando se pensa na importância da existência e realização das tarefas na sala de aula, não se tem a ideia de que elas são destinadas exclusivamente aos alunos, mas também aos professores e por isso, muitos livros contemporâneos que se usam no ensino de línguas estrangeiras contêm também o manual do professor, que propõe muitas estratégias, actividades e tácticas que podem ser úteis nas aulas, que podem ajudar a gestão do tempo, diversificar os conteúdos etc. Realizando-as o professor é capaz de observar o seu próprio desenvolvimento tanto ao nível pessoal como ao nível profissional.

            Existem certas polémicas sobre como corrigir as tarefas, e inclusive se elas devem ser corrigidas ou não na sala de aula. Na minha opinião a correcção é necessária porque sem corrigir os erros, o aluno nunca vai aprender alguns assuntos importantes na linguagem (a ortografia, a acentuação, a pontuação etc.) ou até corre o risco de fixar a forma incorrecta. Alguns professores afirmam que as correcções não podem ser feitas usando a caneta vermelha, para não ofender a sensibilidade dos alunos, mas esta hipótese carece de argumentos fortes e considero que se corrigirmos a vermelho, não o fazemos com a intenção de humilhar ninguém, nem de o obrigar a fazer uma tarefa, mas sim para o aluno se aperceber de que a correcção das formas escritas ou orais é importante sobretudo nos testes e provas que vão ser avaliados.

Referências bibliográficas:

ALMEIDA FILHO José Carlos , LOMBELLO Leonor C, (1989) Ensino de Português para estrangeiros , Pontes Editora, São Paulo,

ALWRIGHT Dick, BAILEY Kathleen M. (2000) Focus on the Language Classroom Cambridge University Press,

COIMBRA, Isabel COIMBRA MATA Olga, Português sem Fronteiras 1, Lidel

Lisboa-Coimbra-Porto,1997

CONSELHO Da EUROPA (2001) Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas. Aprendizagem, Ensino, Avaliação (sigla: QECR) Edições ASA, Porto, páginas 217-230

HUBER, Ruth . O papel da música no ensino de línguas, in: www.fl.ul.pt/unil/pol6/pol6-txt8.PDF

SELIMOVIĆ- MOMČILOVIĆ, Maša, ŽIVANIĆ Ljjubica (2007), Reč po reč, Institut za strane jezike, Beograd. 



[1]  A tradução do título do livro é Palavra por palavra (nota da autora.)