A transição da 4ª para a 5ª série, ou do quinto para o sexto ano, ocorre de uma forma que o aluno seja intercalado em um “novo mundo” sem as devidas precauções. Pois o sistema educacional, através da lei de diretrizes e bases, lei 9.394/96, designa ao estado o ensino fundamental II e ao município a primeira fase, o antigo primário, este fator é um dos muitos que dificultam a transição dos alunos para um sistema totalmente diferente e que não dialogam entre si.

Dentre várias questões que envolvem a mudança de um sistema para outro, aqui destacaremos o ensino de história neste contexto, onde o aluno tem que enfrentar todas as mudanças cognitivas e ainda as mudanças sociais e escolares, o que não é fácil, para um ser que ainda se encontra em desenvolvimento do raciocínio lógico.

Diante de conceitos e contextos da educação fundamental, principalmente da transição do primeiro para o segundo período, é de suma importância salientar que:

Neste período da passagem da 4ª para 5ª série, é muito visível uma dualidade: os alunos não estão preparados para essas mudanças, e os professores e as escolas também não estão prontos para receber esses alunos. Na 5ª série surgem novas exigências para os alunos, em um momento bastante conflituoso, e que é visto sem o devido cuidado pedagógico dos professores e da instituição escolar.

A falta de laço afetivo entre professor-aluno é outra questão visível no cotidiano escolar na 5ª série, onde a criança se depara com um novo espaço e precisa se adaptar. (ANDRADE, 2011, p. 33).

A falta de continuidade que ocorre no fim do ensino fundamental I, explana a desconexão entre este e o segundo ciclo do ensino fundamental, sendo que, os alunos sairão de um local onde são os mais velhos e dando início a um novo ciclo onde eles serão os mais novos do colégio.

[...] sendo agora os mais velhos da escola e tendo que ser exemplos para os mais jovens, principalmente na hora do recreio, contradição interessante que se espelha ao chegarem à quinta série no novo colégio, onde passam a ser os mais jovens, iniciando novamente o caminho em busca da maturidade. (CAINELLI, 2011, p. 130).

Com tantas mudanças ocorrendo em consonância, os fatores que mais pesam são: a troca de metodologias e de um professor por vários. Em uma pesquisa realizada na 4ª e 5ª série, em duas escolas, Marisa Andrade diz que: “[...] na 4ª e 5ª série destacou muitas questões presentes neste período de transição dentre estes a falta de afetividade entre professor-aluno, condição fundamental para o aprendizado”. (ANDRADE, 2011, p. 34). São diversos os fatores, como indica as várias pesquisas, que contribuem com a resolução do problema em questão, mas como já emitimos, vamos aqui nos submeter, ao processo da aprendizagem de História no período transitório do fundamental I para o ensino fundamental II.

Faz-se necessário esclarecer que, o principal fator que dificulta o ensino de História, neste período turbulento, não está na transição em si só, mas, com predomínio, na forma como o conteúdo se apresenta ao aluno. O educando se depara, numa situação, onde antes ele tinha o professor utilizando-se de ferramentas mais simples, para fazer com que o discente compreenda o processo histórico, já agora, no fundamental II, não basta construir mentalmente a História, é preciso construir o pensamento crítico, através da história crítica, ou seja, o professor precisa mostrar que eles estão inseridos no processo histórico, o que é muito complicado, já que, além deles possuírem o pensamento lógico imaturo, eles também estão desmotivados, diante dum novo momento que estão vivendo, motivação esta, que é fundamental no processo de aprendizagem: “Pois, todo aluno motivado em aprender alguma coisa, poderá chegar a resultados surpreendentes, mais do que se poderia prever com base em outras características pessoais”. (BZUNECK apud MELIN, 2013, p. 18).

Nesta transição, que ocorre de forma instantânea, onde o aluno se depara com o novo, o que causa estranhamento, não sendo feita com vista no desenvolvimento pedagógico e psicológico, se levando em consideração apenas o ato político, o ensino de Historia, passa por uma mudança radical, onde o professor deixa de ser aquele “contador de história”, o que torna a aula mais atraente, e passa ser aquele que direciona a História para o lado científico da disciplina, o que torna a aula menos atraente. O tempo da aula também auxilia nos problemas que tanto se fazem presentes no ensino de História, neste processo de mudança do “velho para o novo”. Mesmo com todos estes problemas, é fundamental, que o professor adquira novas metodologias, que possam tornar suas aulas mais dinâmicas e mais atraentes, sendo que não se pode, omitir-se ou fazer papel de que está dando tudo certo. O professor precisa compreender que, a educação é um direito dos alunos, e o estudo de História, que é garantido por lei, é a principal disciplina, que possibilita o pensamento crítico, que só é possível, a partir do conhecimento da sua própria história.

Aprender história significa contar a história, isto é, significa narrar o passado a partir da vida no presente. O principal objetivo é elaborar uma orientação relacionada com a construção da identidade de cada um e, também, organizar a própria atuação nas lutas e ações do presente, individual e coletivamente. (SCHMIDT, apud CAINELLI 2011, p. 131).

Sendo assim, possibilitar debates, a fim de garantir uma ligação entre o 5° e o 6° ano, com certeza facilitará o processo, pois mesmo em meio a tantas dificuldades, devemos formar cidadãos críticos capazes de compreender a realidade social. Com relação às metodologias existentes, tanto nas séries iniciais quanto nas séries finais, dever-se-ia ocorrer em contraposição ao que ocorre no ambiente escolar, considerando a idade dos alunos e a distância temporal das temáticas, é preciso dar mais foco aos alunos e sua realidade vivida do que ao livro didático como possuidor do saber imutável. Devemos trabalhar a partir dos conhecimentos prévios, em ambos os segmentos, pois é a partir da maturidade que o aluno começa a compreender a temporalidade, esta que é fundamental para se compreender a História como ciência, pois como diz o grande medievalista Marc Bloch, a História é a ciência do homem no tempo, após acrescenta-se o conceito de espaço. Sendo assim, a História é a ciência que estuda o homem e suas ações no tempo e num determinado espaço. Dentro da realidade aqui trabalhada, podemos exemplificar as dificuldades para o ensino da História, na fase de transição do ensino fundamental, pois apenas o conceito, “O que é história?”, levaria os alunos a outros caminhos, pois ao trabalhar este conceito, geralmente não a muita compreensão, já que é preciso criar no aluno uma idéia de temporalidade e de espaço, fato este que não é simples para crianças que ainda estão entrando na puberdade e enfrentando uma série de transformações físicas, psicológicas, sociais e pedagógicas.

A solução para este problema, com certeza está na escola e nos docentes, que deveriam dinamizar as aulas, que para o aluno se tornaram chatas e mais curtas em comparação as que tinham antes, esta sendo direcionadas as séries finais do ensino fundamental. Outra proposta seria iniciar os estudos científicos ainda na primeira fase do ensino fundamental I, porém de uma forma superficial, para não dificultar a compreensão do tema em que se estiver trabalhando.

ANDRADE, Mariza. Investigação sobre a transição dos alunos do ensino fundamental I para o ensino fundamental II. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2011.

CAINELLI, Marlene Rosa. Entre continuidades e rupturas: uma investigação sobre o ensino e aprendizagem da História na transição do quinto para o sexto ano do Ensino Fundamental. Curitiba: Editora UFPR, Educar em Revista, n. 42, p. 127-139, 2011.

CASTRO, Henrique. Superando o modelo naturalizado de transição do 5 para o 6 ano do ensino fundamental: Contribuições da Psicologia Histórico-cultural. s/c, s/e: s/a. Acesso as 08:00h em 24/10/ 2014, disponível: http://www.academia.edu/3630677/Superando_o_modelo_naturalizado_de_transi%C3%A7%C3%A3o_do_5_para_o_6_ano_do_ensino_fundamental_Contribui%C3%A7%C3%B5es_da_Psicologia_Hist%C3%B3rico-cultural

FREIER, Karla; FOLETTO, Marinês Penso, et all. Processo de articulação do 5° para o 6° ano. Santa Helena: Escola Municipal Anita Garibaldi – educação infantil e ensino fundamental; Escola Estadual do Campo José Biesdorf – ensino fundamental, 2012.

MELIN, Lucimara. A transição para o ensino fundamental II: motivação para a matemática em relação com o contexto social percebido. Londrina: universidade estadual de londrina, 2013.