A obra de T.C. Jupp, embora aparentemente de enredo singelo, traz uma reflexão em seu desfecho e uma pesada crítica social.

Adam é um velho morador de uma zona rural que, sem formação escolar, não sabe ler ou escrever. A região é muito pobre e basicamente seus moradores sobrevivem da agricultura de subsistência. A vila é pequena, de forma que todos se conhecem.

Quando Adam recebe uma carta de seu filho, que trabalha no exterior, todos se reúnem a fim de ouvir a leitura do professor da escola da vila. Juntamente com a carta é encaminhada uma ordem de pagamento no valor de cem libras. A quantia é considerável para a época, principalmente quando comparada com a miséria vivida no local.

Os moradores da chamada Vila de Minta ficam felizes por Adam, que no dia seguinte viaja por horas até a cidade mais próxima, Darpur, com a finalidade de trocar a ordem de pagamento.

A partir daí começa uma série de maus tratos para com Adam: É o último a ser atendido na agência dos correios, mesmo não sendo o último a chegar; ao precisar tirar uma identidade e, para tanto, fotos, é trapaceado por um fotógrafo; ao enfurecer-se e descontar sua raiva batendo neste, o policial o aborda e presta atenção somente no discurso do agredido, que é da cidade.

Ao ser liberado, Adam volta a Darpur e seus amigos ficam nervosos com a situação e sua esposa, triste.

Mais uma vez entra em contato com o professor da escola da vila, que por sua formação e discernimento parece ser uma espécie de Pára-Raios – recorrido pelos moradores ao estarem com alguma dificuldade do gênero.

Adam é então recomendado a procurar em Darpur o Mr. Sheth, um homem rico e importante dentro do contexto da cidade, levando para este uma carta escrita pelo professor cujos problemas são explicitados. Contudo, Mr. Sheth, ao analisar a ordem de pagamento declara sua invalidade porque foi preenchida erroneamente (pelo filho de Adam). Acrescenta que é um homem generoso e gosta de ajudar os outros e ao pegar a ordem de pagamento para si entrega uma carta com um valor em dinheiro dentro. Adam, ao sair, percebe que recebeu dez libras.

Logo, há uma dúvida implícita: O Mr. Sheth foi generoso com Adam ao dar-lhe 10 dólares pela ordem de pagamento - supostamente inválida - como caridade? Ou foi um verdadeiro calote?

Analisando o enredo, nenhuma das pessoas da cidade que Adam teve contato foi cordial e receptiva ao interagir com ele, embora em sua vila aparentemente possuísse amigos que se importavam com o agricultor.

Não é possível dizer que se trata de um Darwinismo social contemporâneo, uma vez que são pessoas da mesma sociedade. Todavia, através da aparente ingenuidade e primitividade de Adam, quem se julgou mais esperto e superior a ele, praticou fraude e o trapaceou.

Portanto, é perceptível que o impacto cultural gerado pelo homem do campo no ambiente urbano gerou um comportamento social depreciativo para com aquele. Como nos trouxe Durkheim, o fato social é coercitivo com quem não se ajusta a ele e essa é a verdadeira temática da obra.