Análise de Idílio e A um Poeta de Antero de Quental
Publicado em 13 de junho de 2013 por Orlando Rocha Machado
Interpretação dos poemas realistas, Idílio e A Um Poeta, de Antero de Quental
Orlando Rocha Machado (UFC)
No poema, abaixo, percebe-se a influência dos resquícios do romantismo na poesia adolescente de Antero de Quental, podemos observar, que, mesmo sendo uma poesia realista romântica mas já com um tom de uma poesia metafísica e existencial, timidamente, onde o eu lírico faz uma autocrítica ao fazer poético, como se percebe nos dois últimos versos: / E a poesia das coisas se insinua/, / Lenta e amorosa em nossos corações/. Formalmente, temos o soneto; versos decassílabos ; rimas em ABBA, nos quartetos, CDC no primeiro terceto e EDE no último.
IDÍLIO
Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;
Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:
Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces
O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.
No poema, abaixo, verifica-se formalmente a estética realista na forma de soneto, com versos decassílabos e esquemas de rimas em ABBA, nos quartetos; CCD, EED, nos tercetos subsequentes. Em relação à temática, o eu lírico anuncia uma nova estética literária, o Realismo, como vemos nos versos do segundo terceto / Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno /, / Afugentou as larvas tumulares... / Para surgir do seio desses mares /, / Um mundo novo espera só um aceno /. Como também, nos tercetos temos uma manifestação do eu lírico que confunde-se com o sentimento real do poeta Antero de Quental, ou seja, um ardente desejo próprio dos revolucionários, um desejo de combate, de uma mudança imediata, caracterizando o imediatismo e a contemporaneidade, baseado nas ideias iluministas que influenciaram estes novos escritores portugueses do século XVIIII, o século das luzes, da ciência e da razão (Racionalismo), principalmente, em Portugal, através das influências da revolução intelectual (Científica, Filosófica e Política ), especialmente, desenvolvida na França.
A UM POETA
(surge et ambula)
Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.
Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares…
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno…
Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções…
Mas de guerra… e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!