Análise da metodologia aplicada em creches, e no ensino básico:

Contribuições das teorias Psicogenéticas

 

Alpiste, M. C.¹ ; Balanin, S.¹; Merighi, L. M.¹; Moraes, J.S.A.¹; Oliveira, A. S.¹; Rodrigues, D. J.¹; Salvucci, M.²; Santos, R. H.¹; Tomaseto, A. A.¹

¹ Graduandos da Faculdade de Ciências Biológicas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas ; ² Professora titular da Pontifícia Universidade Católica de Campinas

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Resumo

 

Com o interesse de descrever as características das teorias psicogenéticas em crianças em desenvolvimento, foi realizado este estudo com alunos da rede pública de educação básica. Foi utilizado o método de observação para registrar fatos e acontecimentos que ajudaram a entender os métodos utilizados no aprendizado. Questionamentos feitos aos educadores mostram um desempenho favorável da educação infantil. Através de análise teórica, foram utilizadas diretrizes orientadoras para as ações que o educador deve ter em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento infantil, estabelecendo o processo de aprendizagem que impulsiona o desenvolvimento das formas de conduta em crianças de até três anos. O estudo mostra a rotina, dificuldades e anseios da instituição de ensino infantil no Brasil.

Palavras-chave: teorias psicogenéticas; educação infantil; creche.

 

Abstract

With the interest of describing the characteristics of theories psychogenetic developing children, the study was conducted with students from public education. We used the method of observation to record facts and events that helped to understand the methods used in learning. Claims made to educators show a favorable performance is with constructivist methods or not. Through theoretical analysis, we used directives for action that the teacher should have in relation to learning and child development, setting the learning process that drives the development of forms of behavior in children up to three years. The study shows the routine, difficulties and anxieties of early childhood education institution in Brazil.

Keywords: psychogenetic theories, early childhood education, kindergarten.

 

Introdução

 

Apesar da educação básica hoje ser um importante aliado no desenvolvimento humano pouco se tem investido nesta área principalmente em creches. Hoje a educação infantil no Brasil atinge 60% das crianças e o ensino fundamental alcança 98%, as creches só estão disponíveis para 17%. “Além disso, é nesse nível de escolaridade que a desigualdade social fica mais clara já que os mais pobres não têm como pagar pela creche e a oferta pública é muito baixa” – afirma Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Contudo, é nesta fase em que o desenvolvimento do aprendizado é crucial para a formação do indivíduo adulto.

As crianças vivem um período de externalizaçao do pensamento (Wigotsky, 1977), esse período se inicia no período, segundo Piaget chamado sensório-motor de 0 a 2 anos de idade neste período ir a creche é fundamental para seu desenvolvimento a criança necessita além de adquirir percepção de formas e movimento, exteriorizar suas descobertas, e a creche faz esta ponte entre as crianças.

A tarefa da escola contemporânea consiste em ensinar os alunos a orientarem-se independentemente na informação científica e em qualquer outra, ensiná-los a pensar, mediante um ensino que impulsione o desenvolvimento mental. (DAVÍDOV, 1988, p.3) ensinar os estudantes as habilidades e competências para aprender por si mesmos.

Apesar da ampliação quantitativa das creches e pré-escolas, a atuação do Estado prima pelo caráter assistencial, em detrimento do caráter educativo que essas instituições deveriam assumir (Barreto, 1995; Merisse, 1997). Considerando o momento de mudanças na creche, impulsionado pelas novas concepções expressas na lei e as discussões apresentadas pelas propostas pedagógicas mencionadas, senti necessidade de sistematizar uma contribuição à discussão sobre o papel do educador na educação das crianças pequenas, uma vez que, do ponto de vista do senso comum, o adulto que atua na creche deve se limitar a deixar a criança quieta para que se desenvolva, desde que esteja limpa e alimentada.
           No âmbito da educação brasileira e de países tais como Itália, França e Japão (Kishimoto, 1995, 1997; Edward, 1999) existem algumas experiências educativas para a infância orientadas para possibilitar à criança situações de aprendizagem, espaço para conquistar e aprender as riquezas intelectuais e materiais do meio circundante, oportunidades de relações com outras crianças e com pessoas mais experientes (crianças mais velhas, adultos), buscando garantir, com as ações infantis e oportunidades de conhecimento, a formação intelectual, emotiva, moral e estética da criança de zero a três anos, considerando suas necessidades e interesses peculiares. (Liamina et al., 1981; Venguer, 1986). Como metodologia para o estudo realizado, foi abordada observações críticas sobre o espaço físico, aspectos comportamentais de crianças e educadores e aplicados questionários para melhor compreender a rotina das instituições.

 

·       Observações e questionamentos

A creche, uma instituição básica de ensino, proporciona uma visão geral das teorias de Wallon, Piaget e Vygotsky. Porém as teorias muitas vezes não são aplicadas em sua totalidade, o que é observado é a aplicação de fragmentos dos autores citados.

As atividades observadas em 2 (duas) instituições de ensino infantil visitadas, da região metropolitana de Campinas, onde, pelo período integral as crianças começam a receber seus primeiros ensinamentos, remetem a estudos complexos sobre o desenvolvimento infantil. Os métodos para estimular o desenvolvimento são variados, não seguindo somente uma teoria; o que funciona para a educação de uma criança pode ser bem diferente para outra. As crianças são , muitas vezes, orientadas em certas atividades, porém não são obrigadas a praticarem as mesmas, de acordo com os educadores, isso as estimula a utilizarem sua própria força de vontade e iniciativa.

A divisão das crianças é organizada por faixa etária, em salas, cada classe recebe um nível de educação de acordo com a fase da criança. As classes são divididas entre: Berçário I, II, III, Maternal I,II e III e Pré Escola. Observa-se nesta divisão, a classificação de períodos de desenvolvimento prevista por Piaget:  Sensório Motor (Berçário I , II e III) ,  e Pré Operatório (Maternal I, II e III) e Pós Operatório (Pré Escola, idade de 4 a 6) . Porém há um período de intervalo entre as aulas, durante o dia , no qual as crianças do Maternal I, II e III e Pré Escola exercem atividades livres no espaço externo da creche. Nesse período as crianças interagem livremente , sem divisão de faixa etária ou classes, e adquirem liberdade para realizar  a socialização.  Segundo "Piaget", cada vez que ensinamos prematuramente a uma criança algo que ela poderia ter descoberto por si mesma, esta criança foi impedida de inventar, e conseqüentemente de entender  completamente. Nessa atividade há interferência mínima de professores e monitores,  os quais se portavam como observadores e mediadores (seguindo métodos de Wallon, onde não há intervenção na atividade da criança seja na alimentação ou em atividades extras).

A alimentação segue parâmetros nutricionais, e possui horários, para o café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar. As crianças são organizadas em mesas retangulares,  e foi observada uma intensa socialização entre elas. O  nível de interferência dos monitores é bastante pequeno, as crianças são estimuladas a se alimentarem sozinhas. Para que  não dependam dos monitores e não criem uma dependência ao precisarem de ajuda posteriormente, seja dos pais ou de terceiros.As merendeiras servem as crianças de acordo com suas necessidades  prescritas.

As atividades das crianças no inicio são brincadeiras com ênfase em didática, coordenação e em grupo, onde aprendem a dividir e respeitar outras crianças (atividades recreativas, de modo geral, como músicas, brincadeiras de roda, etc.), muitas delas desenvolvem o relacionamento interpessoal , o raciocínio e também a coordenação motora. As educadoras ajudam as crianças a desenvolverem atividades básicas como higiene (escovar dentes, tomar banho) e organização (guardar seus pertences, etc.). . Nos intervalos das atividades as crianças descansam aproximadamente cinquenta minutos e logo voltam às suas tarefas. Discussões e brigas podem ser comuns, às vezes por alguma incompatibilidade entre eles ou outros motivos. Estes problemas são resolvidos , quase sempre, com a mediação, conversa entre os educadores e crianças. Nessa faixa etária é incomum a solicitação da presença dos responsáveis, para que a questão seja resolvida.Esse fator difere esta fase escolar do ensino médio, onde os problemas se tornam mais complexos e normalmente requisitam a presença dos responsáveis para sua resolução.

A partir de questionamentos relato dos educadores levaram a conclusões de que as crianças “mudavam da água para o vinho” quando viam os pais.  Esta característica foi observada, de que ao final do dia, quando os pais chegam à  instituição, algumas crianças mudam seu  comportamento percebe-se um sentimento de dever não cumprido por parte dos educadores- com os pais. Em casa os pais não seguem o mesmo padrão da rotina que a criança é acostumada a fazer na creche e isso pode acabar resultando em estresse, depressão, dentre outras causas, ou também não fazer diferença. Este ultimo relato foi de entrevistas com os pais.

Em momento algum, houve problemas de racismo, as crianças são instruídas na instituição desde pequenas a aceitar a igualdade entre  todos. Todavia , fora da creche depende dos pais seguirem a rotina dos educadores - que não é seguida, pois cada família educa seu filho a sua maneira sócio-cultural - para dar uma educação de desenvolvimental (Davidov, 1988) aos seus filhos, continuando o que lhes é passado na creche, onde passam a maior parte do tempo.

 

Considerações Finais

 

Com base nas informações obtidas, é possível sugerir que as variadas teorias aplicadas nas instituições de ensino básico têm como método fundamental o desenvolvimento infantil, visando o bem estar social e cultural da criança no ambiente escolar. Por outro lado as observações mostram que o desenvolvimento dentro do ambiente escolar não é suficiente para  o aprendizado, já que, todas estas teorias devem ser levadas também para seu ambiente familiar.

O déficit de vagas em creches da rede pública faz com que crianças não passem pela educação infantil e cheguem ao ensino básico sem um desenvolvimento de aprendizado completo, podendo causar problemas de atenção, assimilação e até comportamental.

O estudo promove uma abertura para novas pesquisas neste tema, aprofundando mais em seu conteúdo, visto que é de grande importância o entendimento para uma posterior melhoria no ensino infantil.

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências Bibliográficas

 

BARRETO, A . M. R. F. Educação Infantil no Brasil: desafios colocados. Grandes políticas para os pequenos. Cadernos CEDES, n.37, p. 7-17, 1995.

BASSO, Itacy Salgado. Significado e sentido do trabalho docente. Cad. CEDES [online]. 1998, vol.19, n.44, pp. 19-32. ISSN 0101-3262.  doi: 10.1590/S0101-32621998000100003.
DAVÍDOV, Vasili. La enseñanza escolar y el desarrollo psíquico. Prefácio. Moscu: Editorial Progreso, 1988.

DUARTE, N. Educação Escolar, Teoria do Cotidiano e a Escola de Vigotski. Campinas, SP: Autores Associados, 1996.

DUBET, F.; DURU-BELLAT, M. L’Hypocrisie scolaire. Paris: Seuil, 2000.

TAILLE, Y; OLIVEIRA, M. K.; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky e Wallon - teorias psicogenéticas em discussão. Summus Editorial. São Paulo, 1992

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Papirus, 1984

                                , LURIA, A. R., LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo, Ícone: Edusp, 1988.
                                , Problemas del desarollo de la psique. Obras Escogidas, Vol. III. Madrid: Visor, 1995.