CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO

CAMPUS ENGENHEIRO COELHO

GESTÃO FINANCEIRA

ANÁLISE DA INSATISFAÇÃO MÉDICA PELA FALTA DOS

REAJUSTES DOS PLANOS DE SAÚDE

Autor(a): MARLI APARECIDA BRITO DEL ALAMO

ENGENHEIRO COELHO-SP

2012

MARLI APARECIDA BRITO DEL ALAMO

ANÁLISE DA INSATISFAÇÃO MÉDICA PELA FALTA DOS

REAJUSTES DOS PLANOS DE SAÚDE

                                                                    

Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo do curso de Gestão Financeira

ENGENHEIRO COELHO-SP

2012

Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo do curso de Gestão Financeira apresentado e aprovado em 15 de Dezembro de 2012.

                      

              _________________________________________________

                                       Nome e assinatura do orientador

Dedico este trabalho a Deus que me iluminou todos esses anos, me deu força e fé para continuar minha jornada. Ao meu marido e filhos, que sempre me apoiaram e acreditaram nos meus sonhos; e as pessoas que contribuíram com a minha formação.

AGRADECIMENTOS

  • Agradeço a Deus primeiramente por ter me dado uma família maravilhosa. Por conceder força, inspiração e sempre presente em minha vida e na vida da minha família.
  • Aos meus familiares, que sempre estiveram comigo nas alegrias e tristezas.
  • A Universidade Adventista de São Paulo (Campus Engenheiro Coelho).
  • A todos os professores pela dedicação e compreensão.

ANÁLISE DA INSATISFAÇÃO MÉDICA PELA FALTA DOS REAJUSTES DOS PLANOS DE SAÚDE

                                                                                    Marli Aparecida Brito Del Alamo

Resumo: O artigo trata da falta de reajuste dos planos de saúde em relação à classe médica e como tem repercutido os protestos nas ruas e desligamentos das operadoras. Discute a relação entre os médicos e as operadoras de saúde como um fator que influencia a saúde no país. Aborda ainda como estes profissionais tem encarado esta crise, seu desapontamento com a realidade financeira e como fica a relação entre médicos e pacientes. Para reclamar seus direitos, médicos tem ido às ruas em passeata para protestar e chamar a atenção para sua jornada de trabalho e o valor pago por ela.

Palavras-chave: Médicos; Planos de saúde; Reajustes; Protestos; Pacientes;

Abstract:  The article deals with the lack of adjustment of health plans in relation to the medical profession has passed and as street protests and shutdowns operators. Discusses the relationship between doctors and health insurance companies as a factor that influences health in the country. Also discusses how these professionals have faced this crisis, disappointment with the financial reality and how is the relationship between doctors and patients. To claim their rights, doctors have gone to the streets to march in protest and draw attention to their work day and the amount paid for it.

Keywords: Doctors, health plans; Adjustments; Protests; Patients;

           Embora a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) “Orgão que fiscaliza as Operadoras de Saúde” determine o percentual para reajustes dos contratos dos beneficiários de planos de saúde, algumas operadoras ignoram as regras e aplicam reajustes abusivos sobre os contratos. Além disso, não fazem o repasse devido aos médicos que prestam serviços a esses beneficiários.

            Neste contesto, surgem algumas perguntas: Como os médicos conseguirão pagar as despesas com o consultório? Os médicos depois de estudar por longo período e com um alto valor vão aceitar receber tão pouco? Os atendimentos á população não serão afetados nesse processo? Estamos prestes a passar por uma crise na saúde do nosso país?

 Para responder estas questões é necessário que se faça uma análise do valor que está sendo pago aos profissionais médicos e dos reajustes que vem sendo aplicados por parte das operadoras de saúde.

O presente artigo pretende mostrar o quanto a classe médica tem sido prejudicada com os baixos valores pagos pelos planos de saúde nos últimos anos. Apresentará também as recentes manifestações da classe a fim de mostrar a indignação e protesto.

Este trabalho propõe apresentar o quanto as operadoras de saúde ganham e o quanto pagam aos profissionais que são de extrema importância para a saúde. E também mostrar à população, que além de pagar as contas, são eles os maiores prejudicados.

Motivado pelos aumentos abusivos dos planos de saúde o artigo mostra a realidade dos profissionais da classe médica que atendem os planos de saúde.

A classe médica demonstra grande interesse em colaborar, uma vez que a classe vem se sentindo sem apoio, pois não há leis que estipulem um mínimo aos seus honorários e nem que obriguem os repasses dos reajustes.

            A presente pesquisa foi realizada no Hospital Bom Samaritano na cidade de Artur Nogueira – SP.

Participaram da pesquisa 15 médicos de diversas especialidades incluindo plantonistas, escolhidas aleatoriamente. A pesquisa contou com participantes de ambos os gêneros.

            Foram utilizados na pesquisa, em um primeiro momento, um questionário contendo dez perguntas objetivas.

            Em um segundo momento, foi coletado depoimentos dos médicos sobre a visão deles em relação ao reajuste dos planos de saúde e suas implicações.

              Inicialmente foi obtido o consentimento da coleta de dados por meio de uma carta de consentimento livre e esclarecido entregue ao Diretor Administrativo do Hospital Bom Samaritano. A pesquisa foi divida em duas etapas: na primeira observamos as respostas dos médicos no questionário e comparamos suas respostas.

               Na segunda etapa, analisamos os relatos e desabafos dos médicos em relação a postura que está sendo tomada pelos planos de saúde. 

 

                A análise estatística foi realizada quantitativamente de forma descritiva, comparando o resultado encontrado na pesquisa aos publicados e descritos na literatura.

Essa pesquisa terá relevância na vida profissional da autora, uma vez que administra uma instituição de saúde que depende da classe médica e que acompanha de perto os abusos por parte das operadoras de planos de saúde.

                                     

O médico e seu conceito de trabalho

Conforme Gregório (2009), a formação de um médico é longa e incrivelmente complexa, exige conhecimento técnico de alto nível, anos e anos de dedicação, de estudos e aperfeiçoamento constante. Os médicos precisam cativar seus pacientes e criar um vinculo muito forte com eles, independentemente das questões financeiras.

Mas há de se convir que a questão financeira é muito importante para esta classe de trabalhadores. Mesmo que isso demande muito tempo em um consultório ou realizando muitos plantões. Por causa desta concepção, hoje muitos médicos estão enfrentando um grande problema que poderíamos chamar de “problema da saúde pública”.

Para Berry e Seltman (2010), os profissionais de saúde sentem-se recompensados por poder dar o melhor de si àqueles aos quais servem. Cada dia seus valores renascem.

“O médico tem de cativar e criar uma forte relação com os pacientes, para que estes vejam a qualidade do atendimento, mesmo nos casos em que a questão financeira prevalece, pois muitos pacientes vão a determinado consultório por ser o primeiro da lista do convênio. O paciente não espera ser atendido pelo melhor médico do mundo, mas sim conforto e segurança para o tratamento”. (Gregorio 2009)

A atitude dos prestadores de serviços é um fator muito importante, pois deve estar ajustado ao longo de todo o processo, visando à satisfação dos pacientes. A equipe tem de estar motivada e compromissada com os serviços, para que não haja falhas. (Spiller, Senna, Santos, Vilar, 2009)

            Os autores citados complementam que o sucesso de qualquer organização está relacionado a capacidade do prestador de serviço em atender as expectativas dos pacientes com a qualidade que eles requerem. Nos serviços de saúde esse desafio se intensifica com os problemas relacionados aos custos crescentes em confronto com a escassez dos recursos financeiros.

“Jamais escutei os médicos da Clinica Mayo discutirem sobre dinheiro em suas antessalas”. (Berry e Seltman 2010)

Vários profissionais médicos estão deixando de atender nos consultórios devido à má remuneração dos honorários e o alto custo. Também existem médicos que estão deixando de realizar cirurgias, pois o valor recebido é incompatível a responsabilidade.

 

As Operadoras de saúde e os reajustes da classe médica

Conforme a ANS, os planos de saúde constituem um papel muito importante no atendimento ao cidadão. Atualmente estima-se que a quarta parte da população tem algum tipo de plano. O número de beneficiários cresceu muito ao longo dos anos (Leal e Matos 2003)

O aumento na procura aos planos de saúde fez aparecer muitas operadoras concorrendo entre si para ganhar a clientela.

Jacques (2006) afirma que a concorrência entre algumas operadoras de saúde é pelo paciente saudável, enquanto para os prestadores de serviços é pelo paciente doente. Uma das estratégias de ambas as partes é poder satisfazê-las. São a racionalização do consumo de modo a oferecer apenas o suficiente que o paciente necessita.

Mas nem sempre o suficiente que é oferecido satisfaz o paciente ou cobre as necessidades mais profundas. As operadoras tem que se desdobrar para não permitir que caia a qualidade dos serviços prestados.

Foi o que Farias e Melamed (2003) apontaram. Afirmam que no início da década de 80, o sistema de assistência a saúde dos setores públicos e privado, mostrava sinais de esgotamento. Os serviços prestados à população denunciava a inoperância e fracasso, pois havia escassez dos recursos estáveis no quadro de recessão econômica. Houve uma queda significativa da qualidade na prestação de serviço público de saúde.

Em relação a qualidade houve uma queda, mas nos valores cobrados isso não. A cada dia se observa os valores altos cobrados pelos planos de saúde. Infelizmente esse valor não é repassado para os médicos que são ligados aos planos de saúde.

“Segundo o diretor de Defesa Profissional da APM, Tomás P. Smith-Howard, “Os honorários representam a menor parte dos custos das operadoras”, enquanto os lucros são bilionários”. (Rodrigues 2011)

              Com o aumento na procura por planos de saúde, as operadoras estão muito felizes com tanto lucro.  E é justamente por isso que a injustiça predomina quando se percebe o quanto se é reajustado ou não é reajustado com os médicos que estão ligados as essas operadoras.

 “Os médicos têm tanto interesse quanto aos administradores em garantir que a instituição prospere financeiramente, por sua vez, os administradores têm tanto interesse quanto os médicos em garantir que os pacientes sejam bem atendidos”. Aparentemente o raciocínio tão obvio e simples deveria funcionar para toda a assistência à saúde”. (Berry e Seltman 2010)

Cansados de tantas promessas, os médicos estão se desligando dos planos de saúde e investindo em seus consultórios.

“A atitude dos prestadores de serviços é um fator muito importante, pois deve estar ajustado ao longo de todo o processo, visando à satisfação dos pacientes. A equipe tem de estar motivada e compromissada com os serviços, para que não haja falhas”. (Spiller, Senna, Santos, Vilar, 2009)

Segundo o site www.fsindical.com.br a Associação Paulista de Medicina (APM) e o Conselho Regional de Medicina (Cremesp) a defasagem é que os médicos não recebem reajustes há cerca de dez anos.

A exploração do trabalho médico pelas operadoras de saúde vem fazendo história, uma vez que a luta da classe médica por melhores honorários vem se arrastando há anos.

“Os médicos hoje são remunerados de acordo com a Tabela de Honorários Médicos da Associação Médica Brasileira (AMB), versão 1990 ou 1992, e que hoje, em termos oficiais, em desuso”. (Loverdos 1999)

Em nota a revista da APM o Deputado Dimas Ramalho, da comissão de Defesa ao Consumidor, lamenta o reajuste médio dos honorários médicos de 44%, nos últimos anos, contra 120% de aumento das mensalidades dos planos de saúde. (Rodrigues 2011)

Isso está se transformando em uma falácia para a população. Onde vamos parar com esses valores arbitrários? As operadoras fazem esses reajustem sem pensar na fatia prejudicada.

Segundo o site www.ans.gov.br da ANS algumas operadoras de saúde vêm aplicando reajustes abusivos nos contratos dos beneficiários que chegam a 80%, sendo que o valor médio determinado para o ano de 2012 foi de 7,93%.

Algumas operadoras continuam irredutíveis em questão aos reajustes. O valor pago aos médicos é muito baixo enquanto a cobrança dos beneficiários é muito alta. Mas graças as reivindicações esta realidade esta começando da mudar.

Conforme relato da revista APM foram procuradas ao todo 15 operados de saúde para dar esclarecimentos. Destas 15 somente 5 se manifestaram. (Kaseker 2011)

Segundo o site www.portal.cfm.or.br no estado de São Paulo o balanço das negociações foi atualizado durante reunião com as lideranças do Conselho Regional de Medicina (Cremesp), da APM, do Sindicato dos Médicos do Estado (Simesp), Regionais e Sociedades de Especialidade, ocorrida em 02 de julho. Após 30 reuniões com 17 operadoras de saúdeem São Paulo, apenas três operadoras se dispuseram a reajustar os procedimentos médicos para este ano.

Diferentemente do que diz o diretor adjunto de Defesa Profissional da APM, Marun David Cury, que coordena as negociações. Ele informou que todas as operadoras estão sendo comunicadas e que têm até o dia 09 de agosto de 2012 para enviarem suas propostas. Conforme informa o site www.portal.cfm.org.br.

 Em relato à revista da APM, Kaseker 2012, lembra da Normativa nº 49 da ANS, que até o mês de novembro todos os contratos entre médicos e operadoras devem conter cláusulas claras sobre critério e periodicidade de reajuste dos honorários médicos.

A mesma continua a dizer que a maioria das operadoras de saúde fez propostas positivas, com reajuste médio acima de 40% nas consultas. Em alguns casos, a atualização passou de 100%. As operadoras que acataram a Comissão Estadual de Mobilização Médica para Saúde Suplementar estão aceitando a revisão anual dos contratos e proprõe reajustes dos valores dos procedimentos médicos.

No site www2.camara.leg.br, Eduardo Marcelo  informou que não existe previsão expressa na lei que permita à ANS controlar os preços pagos aos prestadores de serviços.

“Não podemos arbitrar valores de honorários médicos, estipular periodicidade de reajuste, metodologia ou formas de remuneração do profissional”. ( Westphalem 2012)

Como o órgão que é responsável não pode coibir ou exigir aos planos de saúde que mude de estratégias, continuaremos nadando, nadando e morrendo na praia.

O paciente como cliente

Nesta briga sem fim, o maior prejudicado é o paciente. Afinal, “Eles pagam caro aos planos de saúde e precisam receber assistência de qualidade.

Para Kaseker2012 agrande maioria dos beneficiários encontra-se insatisfeitos com os planos de saúde, conforme pesquisa do serviço SOS Pacientes Planos de Saúde APM-Pro Teste divulgado na revista da APM. Seja pelo valor da mensalidade, demora no atendimento, falta de leitos de internação, negativa de cobertura ou demora nas autorizações levando os mesmos a ficar pulando de galho em galho em relação a planos de saúde.

O beneficiário insatisfeito tende a migrar para outro plano de saúde na esperança de conseguir atendimento adequado as suas necessidades.

Hoje as pessoas buscam melhor atendimento fora da saúde publica e se deparam com as mesmas dificuldades nos planos de saúde”, afirma Florisval Meinão, presidente da APM. Conforme revista da APM ( Kaseker 2012)

Greschman (2003) também reforça esta idéia ao afirmar que devido a dificuldade de acesso ao atendimento de saúde, uma grande parcela dos cidadãos procuraram os planos de saúde, mesmo aqueles sem recursos financeiros, pois temem ficar sujeitos a  saúde pública. Assim recebem a certeza de serem atendidos quando necessitarem.

Esta certeza vem se esvaindo ao perceberem que os médicos não estão tão solícitos como antes, por não receber um salário compatível com seu trabalho. Os pacientes acabam enfrentando demora na marcação de consultas e dificuldades para encontrar um especialista que atenda pelo plano de saúde.

Já o vice-presidente da Republica, Michael Temer, pensa ao contrário. Ele diz que a questão é um risco a saúde publica, pois os pacientes insatisfeitos com os planos de saúde migram para o SUS (Sistema Único de Saúde), já saturado. ( Kaseker 2011)    

Médicos desabafam

Vejamos alguns relatos dos médicos em entrevista a revista da APM (Associação Paulista de Medicina) e os médicos do Hospital Bom Samaritano.

 “O médico acaba trabalhando pelo ideal da profissão e isso é muito oneroso. Os honorários são insuficientes para uma medicina digna, completa Maria Rita Mesquita”. ( Kaseker 2010)

Ao ser procurado para dar sua opinião sobre a situação dos médicos hoje, o médico Dr. Zildomar Deucher, cardiologista e Diretor geral do Hospital Bom Samaritano nos disse que o trabalho do médico é de suma importância e de tremenda responsabilidade. Muitos médicos assoberbados com o horário e múltiplos locais de trabalho tendem a falhar no atendimento com prejuízo a saúde e vida do paciente.

 Salienta ainda que o médico deveria concentrar seu trabalho em um ou dois lugares para desenvolver suas qualidades, claro que conforme sua especialidade.

             O Dr. Zildomar ainda acrescenta que o problema da saúde pública e privada é muito sério. O médico deveria ter uma remuneração digna para poder dedicar-se mais ao paciente. Afirma que a medicina é maravilhosa, mas teme que estejam matando a saúde pela desvalorização do profissional.

Na opinião da Dra. Liliana D. Dutra do Hospital Bom Samaritano, os planos de saúde não podem equiparar-se aos valores repassados aos médicos, pois existem grandes seguradoras de planos de saúde regionais e locais. Existe também uma diferença entre especialidades, ex: O cirurgião e o anestesista.  Relata que o cirurgião fica com mais trabalho por ter de captar o paciente desde a consulta, o preparo e os arranjos para a cirurgia e dar continuidade ao tratamento. Enquanto que o anestesista só realiza o procedimento no paciente.

Dra. Liliana lembra também que a cirurgia é remunerada, mas as visitas médicas após o procedimento não. Alguns pacientes ficam dias internados pelo pós cirúrgico fazendo com que os médicos trabalhem muito, mas sem remuneração.

Os protestos da classe médica e suas implicações

 

          É lamentável a situação que o médicos são obrigados a trabalhar e ainda assim se dedicar com tanto amor para conseguir um lenitivo aos pacientes. Não puderam ficar de braços cruzados por muito tempo e foram em busca de seus direitos. Precisam se sentir úteis mas também valorizados.

“O homem para estar bem consigo deve ter um salário compatível com a sua realidade e deve ser reconhecido como trabalhador. Isto leva o homem a descobrir qual é o seu valor monetário dentro da sociedade que vive”. (Marques 2010)

Para os médicos esta realidade é bem distante do que gostariam. Não tem salários estabelecidos e os planos de saúde não realizam reajustes. Ao contrario que vem acontecendo na clínica Mayo, Uma das mais admiradas organizações de serviços do mundo. Lá os salários dos profissionais são estabelecidos após proceder-se a levantamentos de salários comercialmente viáveis. Baseiam-se igualmente nos dados obtidos de outros centros médicos acadêmicos e do mercado geral. Concorrem com aqueles oferecidos no mercado. (Berry e Seltman 2010)

Como no Brasil, trabalhar desta maneira seria um sonho bem distante, os médicos com a remuneração defasada e com honorários prejudicados se juntaram para irem atrás de seus direitos. Foram realizadas Assembléias, passeatas e muito protesto nas ruas de muitas capitais.

O que fizeram também foi se concentrarem em frente o Ministério da Saúde em Brasília e seguiram em passeata até o Congresso Nacional, onde foram recebidos pelo ministro José Gomes Temporão, que assumiu o compromisso de discutir a regulação dos planos de saúde com a ANS. ( Kaseker 2010)

Conforme o site www.portal.cfm.org.br em 7 de abril de 2012 fizeram a primeira paralisação contra as operadoras de saúde. Reivindicam um valor justo pelos honorários. A classe reivindica o mínimo de R$ 80,00 por consulta e procedimentos médicos remunerados conforme a CBHPM (Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos).

Mais de mil médicos fizeram passeata na Avenida Paulista em 25 de abril onde contou com a participação da mídia. E este protesto continuou em 30 de junho com 500 médicos. Neste ato foi realizada uma grande assembléia na capital Paulista  em protesto a postura das operadoras de saúde. Levaram cartões vermelhos para protestar contra os abusos e injustiças. A decisão da Assembléia foi de paralisar os atendimentos das operadoras que não se manifestaram. ( Kaseker 2012)

 A escritora ainda relata que neste período a Associação Paulista de Medicina propôs reajuste anualmente com base no IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado), INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) e IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Sabemos que este tipo de protesto não é o que todos aprovam. Mas na tentativa de reaver seus benefícios e garantir um atendimento de qualidade, sacrifícios são feitos.

 O próprio presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, (CREMESP), Renato Azevedo Junior, declara a revista da APM que os profissionais médicos não gostam de paralisar os atendimentos aos pacientes, mas todas as alternativas já foram esgotadas, já chegaram há ficar dez anos sem reajuste e está na hora de orientar os médicos a se livrarem das operadoras de saúde que desrespeitam o trabalho médico. (Santos 2012)

 

Resultado da pesquisa

Em relação ao questionário respondido pelos médicos, temos os seguintes resultados:

Apenas 7% dos médicos relataram que trabalham de 40 à 60 horas por semana, 53% trabalham de60 a80 horas e 40% afirmam trabalhar acima de 80 horas semanais. Esses dados vêm só confirmando o que a pesquisa já relatava.

O anestesiologista Oscar Cesar Pires em entrevista a revista APM foi incisivo em dizer que “hoje em dia pouquíssimos médicos fazem menos de 80 ou 90 horas semanais”.  Para ele a remuneração insuficiente leva o médico a trabalhar cada vez mais para manter sua renda e um patamar digno, com múltiplos empregos e jornada excessiva. O profissional também acaba aumentando o volume de atendimentos o que deteriora a qualidade da atenção aos pacientes. (Ventura, 2010)

Sabemos que em busca de um melhor salário os médicos trabalham em vários lugares para garantir uma renda maior. Percebemos esta verdade nesta pesquisa ao depararmos com 87% dos médicos que trabalham em mais de um lugar, contra 13% que disseram trabalhar apenas em um consultório.

O Geriatra paulistano Ventura declarou:

“se dependesse do consultório para sobreviver, precisaria atender feito boiada”. (Kaseker 2010)

Embora trabalhe em vários lugares e sem o reconhecimento devido dos planos de saúde, 54% dos médicos consultados relataram que recebem um salário compatível contra 46% que disseram não receber esse merecido salário. Mesmo assim, não consideram justo o valor pago pelos planos de saúde. Desses médicos apenas 7% declarou que considera justo o repasse que recebe pelos planos.

Conforme o site www.ultimosegundo.ig.com.br apesar de o reajuste ser anualmente e com um lucro muito alto as operadoras de saúde do estado de São Paulo pagam pelos honorários dos médicos um valor muito baixo. Em média o valor pago por uma consulta é de R$ 40,00, sendo que algumas operadoras chegam a pagar R$ 15,00, quando o valor justo seria de R$60,00.

Com ”todo” este valor que se recebe, fica muito difícil conciliar as despesas até mesmo do consultório médico. Imagina ainda com as despesas gerais para garantir uma vida de alto padrão como os médicos requerem. Na pesquisa 40% dos médicos confirmaram que seu salário não consegue arcar com todas as despesas contra 60% que disseram conseguir sim pagar todas as despesas com seu salário.

“Quando revejo as contas que pagava no início da carreira, constato que hoje não teria a menor condição de arcar com todas elas, embora trabalhe muito mais do que naquela época”.  (Ventura 2010)

Da mesma forma o Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, (CREMESP), Renato Azevedo Junior, declarou no site www.portal.rac.com.br que o valor atualmente pago pelas operadoras mal consegue cobrir as despesas do consultório.

Por isso é necessário saber dos médicos se para eles os planos de saúde deveriam equiparar os valores dos repasses para os médicos. Em resposta (a maioria) 73% dos médicos afirmaram que seria uma ótima solução, contra 27% que não concordaram com a idéia.

Maria Inês Dolci declarou a revista da APM que há anos a PROTESTE acompanha de perto e apóia a questão dos planos e sugere que as entidades estabeleçam um piso para consultas e procedimentos, que deve ser obedecido pelas operadoras e pelos médicos. ( Cenço 2011)

Enquanto não se estabelece esse piso ou reajuste, os médicos vão adequando os atendimentosem consultório. Foiperguntado quanto tempo se gasta para atender um paciente. 27% dos médicos responderam que gastam de5 a15 minutos, 67% atendem de15 a25 minutos e apenas 6% utiliza de25 a40 minutos. Sendo assim não foi expressiva a quantidade de médicos que atendem um maior número de pacientes para garantir um salário melhor. Desses participantes, apenas 7% declararam que leva em consideração diminuir o tempo de atendimento para aumentar o ganho.

Esta questão é muito pessoal e que também revela caráter e ética. Mas por falar em ética, é um ponto que as operados de saúde não vem demonstrando.  Por isto muitos médicos são a favor das paralisações e passeatas que estão sendo realizadas em todo país.  Somente 7% dos médicos consultados na pesquisa foram contra estas manifestações e 93% aguardam que esse barulho nas ruas dê resultado positivo.

Conforme o site www.portal.rac.com.br, Moacyr Perche, presidente do Sindimed (Sindicado dos Médicos de Campinas e Região), a paralisação nacional é uma forma de conscientizar a sociedade para a relação entre médicos e operadoras de saúde.

Esta relação já se encontra doente há anos. Muitos médicos são insatisfeitos por não serem reconhecidos como alguém fundamental à saúde do cidadão. Alguns até consideram que outros profissionais da saúde são mais remunerados que eles. Constatamos que 67% dos médicos concordam, contra 33% que não apóiam esta declaração e não acham isso relevante.

O cirurgião torácico Altair da Silva Costa Junior indica outros profissionais que não são da área de saúde e ganham muito mais pelos seus serviços prestados. São eles: cabeleireiros, eletricistas e encanadores. (Kaseker 2010)

 Considerações finais

       Verificando o resultado obtido na pesquisa, constatamos que há muito trabalho a ser realizado por nossos médicos, mas não há um reconhecimento no que diz respeito à remuneração.

        Os relatos dos médicos nos apóiam em dizer que os médicos no Brasil mostram-se extremamente insatisfeitos diante da falta de consideração com a classe profissional. Uma vez que as operadoras de saúde aplicam reajustes abusivos, contrariando as regras impostas pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), e não repassam os aumentos aos honorários dos médicos. Desta vez os médicos não recebem o que merecem e não desempenham seu trabalho da forma que deveriam.

A luta pelos reajustes de honorários médicos já se arrasta desde 2010 e até o momento nada ficou decidido. Apesar de algumas operadoras de saúde concordar com o reajuste, algumas ainda continua irredutível.

Percebemos que os médicos trabalham com tabelas de honorários defasadas. Alguns chegam a ganhar menos que alguns profissionais que não possuem curso superior. Enquanto isso tem sua carga horária extrapolada para chegar à remuneração almejada e com isso poder suprir suas necessidades.

Os pacientes também sofrem com a questão, pois tem o tempo reduzido na consulta e como se não bastasse na maioria das vezes pagam um valor muito alto pelo plano de saúde.

As entidades competentes deveriam criar uma tabela única, onde os valores seriam iguais para todas as operadoras.

Os reajustes dos honorários médicos deveriam ser em conjunto com os reajustes dos contratos das operadoras de saúde.

Por fim concluímos que tanto a saúde publica quanto a privada tem que ser vista com mais atenção pelos nossos governantes. A população e os médicos precisam continuar lutando e lembrando á todos que:

 “A saúde é direito de todos e dever do Estado” (Constituição Federal/88 – art 196).

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