ANÁLISE CRÍTICA DO FILME: "AOS TREZE"

Diante do filme assistido e discutido em sala, na disciplina de Psicologia do desenvolvimento: Adolescência, pode-se fazer algumas considerações relevantes diante dos conteúdos abordados referentes à adolescência. O filme demonstrava situações ao extremo vividas por uma adolescente, que ao adentrar na adolescência começou demonstrar mudanças rápidas, tais como modificações físicas e no comportamento de forma ampla.
Referente ao filme, foi possível perceber que a mãe da adolescente em questão esteve presente, entretanto, por não impor limites nos comportamentos da filha, algumas coisas passaram por despercebidas pela figura de autoridade. Muitas vezes a palavra limite pode parecer algo negativo como a repressão, proibição, interdição, etc. Porém, limite é algo que tem um significado que vai além disso, significa a criação de um espaço e um tempo protegido, dentro do qual o adolescente poderá expor sua espontaneidade e criatividade sem receios e riscos, tanto para si quanto para os outros (OUTEIRAL, 2003).
Relacionado ao contexto da adolescente no filme, notou-se que quando esta demonstrou interesse em se inserir em um grupo, à mãe contribui comprando as roupas que adolescente julgava necessárias, para uma possível aproximação das pessoas de um determinado grupo. Desta forma, como explica o autor já mencionado anteriormente:

[...] as roupas como ?parte? do corpo do adolescente e como elas se integram ao esquema corporal e à identidade, expressando impulsos, fantasias e conflitos. [...] A uniformidade, por sua vez, poderá se construir numa busca de integração dentro de determinada identidade grupal [...] (2003, p. 9).

O processo da adolescência não depende de forma isolada ao próprio adolescente, ou seja, a constelação familiar é a primeira expressão da sociedade que influiu e determina parte da conduta dos adolescentes (ABERASTURY e KNOBEL, 1970). Foi possível observar, que a casa em que a adolescente e a família moravam, era um ambiente totalmente desorganizado, no sentido que, o trabalho da mãe era em casa, várias pessoas entravam e saiam, faltando à privacidade necessária à família. Pessoas conhecidas que não tinha onde ficar se hospedavam ali, e ainda fazia falta neste contexto à figura paterna.
Na perspectiva de Lacerda e Lacerda (1998, p. 36):

Os adolescentes precisam sentir firmeza da parte dos adultos, como se estes fossem os corrimões onde se vão segurando enquanto crescem. Sentir que os adultos estão seguros a seu lado é muito importante para sua segurança [...] Quando, porém, faltam parâmetros pode ocorrer o surgimento de uma identidade ?negativa?, onde os adolescentes se conformam com a falta de sentido e procuram os modelos desviantes dos delinqüentes.

Observou-se claramente a influencia que o grupo propiciou para as atitudes da adolescente. Ainda como justifica Lacerda e Lacerda, "O grupo exerce pressão muito forte, porque o adolescente se identifica com ele e com a maioria dos seus membros" (1998, p. 49). Ou seja, como pressupõem Aberastury e Knobel:

Nesta busca de identidade, o adolescente recorre às situações que se apresentam como mais favoráveis no momento. Uma delas é a da uniformidade, que proporciona segurança e estima pessoal. Ocorre aqui o processo de dupla identificação em massa, onde todas se identificam com cada um, e que explica, pelo menos em parte, o processo grupal do qual participa o adolescente [...] (1970, p.32).

Diante disso pode-se afirmar que o grupo é uma parcela muito importante na vida dos adolescentes, pois proporciona a segurança que eles necessitam nesta fase. Este processo no qual se estabelece novos vínculos com a sociedade e também com a família, não mais em termos infantis e sim próximos de um modelo mais adulto, é uma das tarefas básicas da adolescência (OUTEIRAL, 2003).
O meio pelo qual a adolescente usufruiu para ser aceita no grupo não foi muito favorável, pois para que pudesse ser inserida, teve que roubar, mudar seu estilo (vestimenta), usar drogas, entre outros comportamentos. Seguindo com essa ideia, Aberastury e Knobel (1970) pressupõem que a personalidade do adolescente no grupo "costuma ficar fora de todo o processo que está acontecendo, especialmente nas esferas do pensamento, [...] e o indivíduo sente-se totalmente irresponsável pelo que acontece ao seu redor" (p. 37).
A adolescente foi especialmente influenciada por uma nova "amiga", esta que permanecia mais na casa da adolescente em questão, do que em sua própria casa. Várias das condutas da adolescente foram influenciadas e reforçadas por esta amiga. Em certos momentos foi possível evidenciar a conduta próxima à psicopatia nesta adolescente que se dizia "amiga", tais comportamentos como desafeto, crueldade com o objeto, indiferença, falta de responsabilidade, sendo isso típico da psicopatia, mas que pode ser encontrada na adolescência normal (ABERASTURY e KNOBEL, 1970).
Inserida em um grupo, a adolescente tinha que se auto-afirmar, ou seja, começou a usar drogas, roupas diferentes (rasgadas), colocou pirsing e também começou a se relacionar com um rapaz. Como justifica Outeral (2003, p. 19), "A escolha de um parceiro [...] é uma das principais ?tarefas? da adolescência. Inicialmente as escolhas são caracterizadas por paixões intensas e arrebatadoras". Ressaltando que esses vínculos parecem ter um aspecto intenso, porém são frágeis. Esse fenômeno tem por denominação amor apaixonado, de modo que o primeiro episódio de amor ocorre na adolescência precoce, que costuma ser de grande intensidade (ABERASTURY e KNOBEL, 1970).
Como sugerem Lacerda e Lacerda, o que "o adolescente experimenta é, de certo modo, doentio, pois idealiza a garota (ou vice-versa, ela quanto a ele) como a pessoa perfeita de seus sonhos" (1998, p.103). Deve-se lembrar que o relacionamento dos adolescentes foi algo que envolveu diretamente sexualidade, ou seja, praticaram o ato sexual completo. E como explica Aberastury e Knobel (1970):

Calcula-se que 40% a 60% dos adolescentes realizam o ato sexual completo, das características genitais (55), que, considero, tem mais um caráter exploratório, de aprendizagem da genitalidade, do que um verdadeiro exercício genital adulto de tipo procriativo, com as responsabilidades e prazeres concomitantes (p.45).

Realmente, pode-se constatar que a adolescente não tinha noção da importância da sexualidade, sendo que para ela o ato teve apenas a função de exploração, ou seja, curiosidade em saber como era. Como explica Zagury, alguns adolescentes, por vezes pressionados pelos grupos, acabam por achar que precisam transar, por que entraram na puberdade (2003).
Outro aspecto apresentado no filme foi o uso e abuso das sustâncias químicas. Novamente a adolescente foi influenciada pelo grupo, porém dentro de casa já existia o problema por assim dizer. A mãe e o irmão fumavam, o namorado da mãe (o qual a adolescente não suportava) era viciado em drogas. Pode-se dizer que o ambiente no qual ela convivia era propício para que ela fizesse uso destas sustâncias.
O abuso de drogas é um problema que afeta muitos adolescentes. Sendo que esta proporciona a ilusão de um substitutivo do afeto familiar, também como um indicador da falta de orientação segura em casa, como autopromoção ou como passaporte de entrada para alguns grupos (LACERDA e LACERDA, 1998). Em outras palavras, como complementa Outeiral:

Vários são os fatores que poderão levar o adolescente a usar drogas: genericamente podemos considerar os aspectos (1) sociais, incluindo neste grupo a sociedade e a cultura, a família e o grupo de amigos e colegas e (2) individuais (aspectos inatos e adquiridos, particularmente as vivências infantis) (2003, p. 41).

Obviamente a falta de suporte proporcionada pela família e, a influencia do grupo é que auxiliaram a adolescente a usar drogas. Lembrando que o "adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de elação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia [...]" (ABERASTURY e KNOBEL, 1970, p.28). Eram evidentes nas atitudes da adolescente as oscilações de humor, pois tinha momentos de extrema alegria, porém em outros momentos, quando frustrada, parecia que o "mundo havia acabado".
A incapacidade que a adolescente demonstrava em lidar com as frustrações a levava a se auto-mutilar, ou seja, cortava-se com uma tesoura para que a dor se tornasse física, focando a sua atenção, então, para a dor provocada por ela.
As consequências trazidas pelos atos que a adolescente praticou foram várias. A mãe dela descobriu que ela roubava roupas e acessórios, dentre outras coisas. E como justifica Zagury (2003), "Quando um pai ou mãe descobre que seus filhos mentem, a primeira reação é de desapontamento, seguida, em geral, de uma sensação de fracasso" (p.38). Além disso, foi a sua "amiga" que contou as atitudes errôneas para a mãe dela, roubou o rapaz que ela se relacionava, e a excluiu do grupo.
Outra característica que deve ser apontada é o fato de que reprovou, ou seja, teve que repetir o ano letivo. Como explica autora já citada anteriormente, "É bastante comum ocorrer nesta fase uma diminuição do interesse pela escola. O jovem está descobrindo tantas outras coisas mais interessantes [...]" (Zagury, 2003, p.66). Porém, os prejuízos trazidos foram grandes. A mãe quando consegui entender o que estava acontecendo com a filha, a amparou incondicionalmente e, ofereceu o suporte do qual sempre precisou.
Diante da análise crítica do filme foi possível perceber os comportamentos típicos emitidos por muitos adolescentes (não generalizando, pois nem todos praticam essas condutas). Esta fase que envolve a busca pela identidade, ou seja, querer entender quem é, e também quais são suas capacidade e limitações dentro da sociedade. A busca de identificação em um grupo, no qual se faz se sentir aceito e seguro diante das mudanças que estão ocorrendo. Não desmerecendo as modificações biológicas que ocorrem neste período.
Para concluir, as palavras de Aberastury e Knobel se fazem necessárias, pois "A criança entra na adolescência com dificuldades, conflitos e incertezas que se magnificam neste momento vital, para sair em seguida à maturidade estabilizada com determinado caráter e personalidade adultos" (1970, p.30).






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABERASTURY e KNOBEL; Arminda e Maurício. Adolescência normal: um enfoque psicanalítico. Porto Alegre: Artmed, 1970.

LACERDA e LACERDA; Catarina Augusta de Oliveira Passin de e Milton Paulo de. Adolescência: problema, mito ou desafio?. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

OUTEIRAL, José. Adolescer: estudos revisados sobre adolescência. 2.ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2003.

ZAGURY, Tania. Encurtando a adolescência. 9.ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.