Carta a um amigo.

 

Uma tristeza invadiu minh’alma. Veio de supetão, às pressas, derrubando todas as estruturas. Convenço-me de que o mundo do outro é dele somente, e eu devo, de uma vez por todas, respeitar isso, sob pena de não sobrar mais pureza para encarar a vida. Eu não faço parte do mundo dele – é uma constatação. Um amigo seria mais cauteloso com a utilização das armas ou mesmo com a preparação da pancada diante do inimigo. Penso no que a vida ainda tem guardado de surpresa para mim. Devo confessar que a carga é pesada e, muitas vezes, minhas pernas já não reagem ao comando da idade passada.

Minhas preces, embora fervorosas, me preparam para algo que eu ainda não sei.

Corro atrás da felicidade, mas ela é estranha, escorregadia, e não quer me fazer companhia, apesar de saber que a luz em mim irradia e é imensa como estrutura de vida. O que virá, então, de novidade neste mundo? Preciso de ajuda, de colo, de harmonia pro meu coração. Às vezes, o peito dói, palpita e atravessa os corredores da vida à espreita de alguma resposta que não me encontra.

Basta dizer que você não é verdadeiro, não é meu amigo. E sofro só de imaginar que durante quinze anos nunca o foi.

Os encontros, mesmo que fortuitos, com outros modelos de vida, não me causariam tanto estrago se, ao menos, deles eu pudesse participar. Mas não! A descoberta de todos eles é traiçoeira, espanta-me e me desarticula. A dor, é bom que fique claro, é maior porque constato que a sua vida particular bem como os seus encontros não são compartilhados com o amigo, que aqui sempre o aguardou.

 

                                                                       Brasília, 21 de dezembro de 2009.

                                                                                  José Adilson