AMERICANIZAÇÃO DO RECIFE : A MODERNIDADE NO RECIFE ENTRE OS ANOS DE 1937 A 1945

RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar o processo de americanização da cidade do Recife. O conceito de "Americanização" utilizado nesse trabalho toma por base as formulações construídas pelo Historiador Antônio Pedro Tota. O recorte temporal da narrativa aqui em tela é de 1937 a 1945, período que corresponde ao governo do interventor Agamenon Magalhães, Nesses anos, a Política da Boa Vizinhança norte americana ganhava espaço em diversos meios culturais do país. Em especial na cidade Recife, que passava por um processo de modernização. Diante disso, por meio deste trabalho foi possível analisar como esta política de aproximação Norte-americana influenciou o plano de modernização implantado na capital pernambucana pelo grupo político que estava no poder.
Para tanto, produzimos um profícuo diálogo com a historiografia sobre o tema em questão, bem como utilizamos matérias de jornais produzidas naqueles anos.


1. A CHEGADA DE VARGAS AO PODER

Com um projeto político e baseando-se em ideais nacionalistas que surgiam no mundo do pós - Primeira Guerra, que sofreram influência de regimes1 de governos totalitários da Europa, cujo poder se baseava na força das armas e na propaganda política, Getúlio Vargas2 chega ao poder em 1930 através de um Movimento Armado que iria mudar os rumos políticos do país. Assim, Vargas começa a fazer sua política.

O governo3 de Vargas iniciava uma politica com medidas necessárias à industrialização, lançaria as bases para a burocratização nacional. Apoiado pelo Movimento Tenentista4 , pela ascendente burguesia industrial e parte das classes populares. Segundo a historiadora Ângela de Castro Gomes, o Brasil5 viveu nesse período, um leque de projetos inovadores que abrangeu o campo politico e intelectual.
O governo6 de Vargas desfrutava de uma base de apoio solida, porém não obteve êxito em neutralizar completamente a oposição. Nesse momento, o estado de São Paulo, que era considerado a "locomotiva da nação", por se tratar do estado mais rico do país, que exigia do governo central a convocação de eleições para formar uma assembleia constituinte, que iria reformular a constituição do País. "A partir de novembro de 1935, o Congresso passou a aprovar uma série de medidas
1 Regimes de governos totalitários são um sistema de governo em que todos os poderes ficam concentrados nas mãos dos governantes. Desta forma, no regime totalitário não há espaço para a prática da democracia.
2 Nos anos 30, passou a atuar como único chefe da nação e, em nome de um projeto que julgava ser o melhor para o país, fechou o congresso, reprimiu as liberdades públicas, isolou os descontentes, perseguiu inimigo, cooptou possíveis opositores, impôs-se como chefe de Estado. D'ARAÚJO, Maria Celina: A era Vargas. São Paulo: Moderna, 1997.
3 ROSSI, Vanberto José: As duas faces do primeiro Governo Vargas. Disponível em:
http://www.memoriaoperaria.org.br/revistaeletronica/as-duas-faces-do-governo.pdf acessado em 04 de abril de 2016.
4 O tenentismo foi um movimento social de caráter político-militar que ocorreu no Brasil nas décadas de 1920 e 1930, Contou, principalmente, com a participação de jovens tenentes do exército.
Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/48764/referenciasbibliograficas-tiradas-na-internet-como-colocar-no-trabalho>.
Acesso em: colocar data de acesso.
5 GOMES, Ângela de Castro: Sinais Sociais O Estado Novo e o debate sobre o populismo no Brasil, Rio de Janeiro, v.9 n. 25 p.1-136, maio-ago. 2014.
6 AMORIM, Geovane Aparecido de: O governo Vargas, uma breve contextualização. Disponível em:<
http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/o_governo_vargas_uma_breve_contextualizacao.p df>. Acesso em: 28 de abril de 2016.
3 que cerceavam seu próprio poder, enquanto o executivo ganhava poderes de repressão praticamente ilimitados."7 Em 19378 , Vargas, alegando uma ameaça comunista, decreta o fechamento do congresso nacional. Getúlio comparece a uma estação de rádio e anuncia que o país ganhara uma nova constituição, que o congresso estava sendo fechado e que a partir desse momento ele se transformava em chefe absoluto da nação. Assim, o Brasil entra no período chamado estado novo.
1.1 Mudanças de rural para urbano Com a chegada de Vargas ao poder, em 1930, o projeto nacionalista ganha novas proporções:
"Com o governo Vargas, em 1930, surgiu um novo referencial orientador das políticas governamentais: esse referencial unia os ideais nacionalistas, cada vez mais disseminados entre a elite brasileira9
." Era preciso eliminar resquícios da República Velha10 que impediam o crescimento da Nação.
Segundo GENTILINI11 , ao longo da história, a palavra "moderna" foi utilizada para distinguir o "antigo", para romper com um passado que não se encaixava mais com o momento contemporâneo, como acreditavam as pessoas. Essa oposição esteve muito presente na sociedade brasileira nos séculos XIX e XX, quando, no mundo, ocorreram intensas mudanças políticas, sociais e econômicas, de forma que as inovações técnicas de uma sociedade, urbano-industrial mudaram o ritmo da sociedade e a mentalidade das pessoas, e as relações capitalistas de produção.
7 PANDOLFI, Dulce Chaves: Os anos de 1930: as incertezas do regime. In: ANPUH - XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA - João Pessoa, 2003. Disponível em:
http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S22.182.pdf. Acessado em 04 de abril de 2016.
8
D'ARAÚJO, Maria Celina: A era Vargas., São Paulo: Moderna, 1997 9 9 PANDOLFI, Dulce Chaves: Repensando o estado novo. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1999.p.115 10 República Velha foi o período da história do Brasil que se estendeu da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, até a Revolução de 1930. Para a Historiadora Ângela de Castro Gomes, O termo República Velha é uma construção histórica e ideológica do governo de Getúlio Vargas. A verdadeira intenção era associar o novo governo ao discurso de um Estado Novo e negar os governos anteriores, associando ao atraso ao velho. GOMES, Ângelo de Castro. A nova "Velha" República: um pouco de história e historiografia. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/tem/v13n26/a01v1326.pdf. Acessado em 05 de maio de 2016.
11 GENTINILI, João Augusto. Modernização do estado e Racionalização administrativa do sistema estadual de ensino em Minas Gerais (19871989). 1993. Dissertação (Mestrado em Educação).
Faculdade de Educação. Universidade Estadual de Campinas 4 A Era Vargas foi, a partir dessa ótica, um grande divisor de águas na História do Brasil. Até então, nenhum governo havia tentado colocar o país de fato no contexto Mundial de industrialização nem lançado bases para criar um mercado consumidor interno. Porém, o ideal varguista de modernização12 inevitavelmente se chocou com a ideologia tradicional das oligarquias, as quais quiseram assegurar seus privilégios.
O primeiro13 governo Vargas foi marcado por uma serie de reformas, mas foi no plano institucional que essa face reformadora revelou-se de forma mais clara, atingindo não só a estrutura do Estado, mas também suas relações com a sociedade. Construiu-se, de fato, um novo modelo político-institucional que permitiu aumentar o poder interventor do Estado e expandir a capacidade de incorporação do sistema político, abrindo espaço para a representação dos interesses dos novos atores ligados à ordem industrial emergente e dissolvendo a rigidez da estrutura de poder preexistente. Essa, pela inclusão de novos segmentos de elites, torna-se menos monolítica e mais heterogênica internamente.
1.2 Estado Novo Com14 a implantação do Estado Novo, Vargas centralizou o poder em suas mãos. As liberdades civis foram restringidas, o Parlamento dissolvido, os Partidos políticos extintos. O comunismo transformou-se no inimigo público número um do regime, o estado perseguia os opositores com uma forte repressão policial. Mas, ao lado da violenta repressão, o regime adotou uma série de medidas que iriam provocar modificações substantivas no país. O Governo Vargas, e o Estado brasileiro passaram a exercer o papel intervencionista e promotor da modernização da estrutura produtiva do País.
12 Modernidade é o "sentimento e vontade de ruptura, de superação, de espírito crítico, de visão do inacabado, da dúvida", ao passo que modernização tem um "sentido puramente utilitário e instrumental". Para aprofundamento ver GENTINILI, João Augusto. Modernização do estado e Racionalização administrativa do sistema estadual de ensino em Minas Gerais (19871989). 1993.
Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação. Universidade Estadual de Campinas p.37 13 PANDOLFI, Dulce Chaves: Repensando o estado novo. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1999. p. 25.
14Idem 5 A historiadora Emanuelle Lins15 coloca como principais características do estado novo a repressão policial, supressão das liberdades civis, estado como mediador de interesses dos grupos no poder, nacionalismo, centralização do poder, aliança do estado com os militares, fomento a industrialização, urbanização, controle e uso da imprensa para doutrinação das massas16 modernização do país entre outros pontos.
Segundo o Historiador Gildete Damascena17 implantação do Estado Novo por Getúlio Vargas, é o que vai servir de base para o conceito de modernidade a ser implantado no Brasil e aceito pela sociedade brasileira durante muitos anos. Pois, o 18 regime implantado por Vargas tinha como meta transformar o Brasil em um país desenvolvido, para isso era preciso que ele fosse modernizado para equipara-lo as nações mais desenvolvidas da época.


2. CHEGADA DE AGAMENON E MODERNIZAÇÃO DO RECIFE

Segundo o historiador Paulo Raphael Pires Feldhues, Recife19 foi umas das cidades que mais passou por mudanças durante o Estado novo, e o responsável a frente dessas mudanças foi o interventor federal Agamenon Sergio de Godoi Magalhães que, em 1937, foi indicado por Getúlio Vargas para assumir a interventoria do estado de Pernambuco. O governo de Agamenon afastou as elites tradicionais do governo do estado e buscou a modernização da capital e de seus habitantes.
A historiadora Dulce Pandolfi diz20 que a interventoria de Pernambuco era considerada por Vargas como um modelo para o Estado Novo, sendo o próprio

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