A PERSPECTIVA HISTÓRICA DA AMAZÔNIA




RESUMO
Este artigo discorre sobre a história da Região Amazônica. Aborda os ciclos econômicos que aconteceram nessa região, desde as drogas do sertão até o ciclo do ouro, com ênfase na Região Oeste do Pará.



A PERSPECTIVA HISTÓRICA DA AMAZÔNIA
Jarsen Luis Castro Guimarães
O início da exploração econômica da Amazônia coincide com a chegada dos jesuítas que fundaram a missão dos Tupaiu, de Nossa Senhora da Conceição, em 1661. A população nativa, muito embora numerosa, espalhava-se ao longo do rio Amazonas, dificultando o trabalho proposto pelos missionários jesuítas. O uso de um idioma e dois dialetos era outro fato agravante no desenvolvimento do projeto jesuíta. Com o propósito de reuni-los num só local, foi erguida uma fortaleza, local que hoje abriga a Escola de 1º Grau Frei Ambrósio, em Santarém-Pa. Assim, a aldeia ficou altamente povoada criando a necessidade de uma atividade econômica local. A produção passou a ser organizada de forma racional na qual parte da população ficaria ocupada na colheita de especiarias, chamadas de drogas do sertão, destacando-se: salsaparrilha, puxuri, baunilha, cravo, cacau, canela brasileira e pimenta. A coleta era armazenada e posteriormente comercializada para dar sustentação à manutenção da evangelização. Essas atividades tiveram a duração de mais de dois séculos, porém com a grande aceitação do chocolate na Europa, no final do século XVIII, foram substituídas pela cultura do cacau.
O segundo ciclo econômico da região e o de maior duração na Amazônia foi da produção de cacau. Começou como coleta de droga e passou a ser cultivada. Maior importância teria se não tivesse sofrido a pecha de produto afrodisíaco, fato que levou a proibição de seu uso nos mosteiros e a não indicação pelos padres aos jovens e pessoas de idade sexualmente ativa.
Em 1867 um fato importante ocorreu na Amazônia. Um grupo de americanos, remanescentes da guerra dos confederados, chega a Santarém, trazendo consigo uma série de experiências e inovações para a região. Na região sul de Santarém foram instaladas fazendas agrícolas, onde grandes moinhos eram movimentados por máquinas a vapor ou por força hídrica resultante da canalização dos igarapés. Em 1870 o confederado Richard Henington montou um "carroção" motorizado com máquina a vapor, fato registrado como o primeiro engenho de carro motorizado no país. Assim, a presença dos confederados constitui um ponto importante na história de Santarém, não só pelos fatos econômicos, como a criação da agroindústria que foi absorvida pelos coronéis da época, mas também pela abertura das primeiras rodovias que permitiram a ocupação das áreas mais férteis, localizadas ao sul da cidade, chegando a atingir a região do planalto onde ao solo fértil se junta o clima ameno com seus 120 metros acima do nível do mar.
O terceiro ciclo econômico do município foi o da borracha. A goma elástica que já era usada pelos nativos desde antes da chegada dos europeus, teve seu uso difundido nas duas últimas décadas do século XIX, pela revolução industrial que trouxe consigo o uso da energia elétrica na mecanização. A borracha constituiu-se na mais importante matéria prima de época e esta só existia na região amazônica, mais especificamente nos afluentes da margem direita do rio Amazonas. Porém, a insalubridade, a distância, a falta de capital e o sistema de comércio usual primitivo dificultaram o esperado aumento da produção.
Com o passar dos anos, apenas as duas capitais amazônicas receberam alguns benefícios de infra estrutura, onde algumas obras arquitetônicas de relevo ficaram como referência da época áurea da borracha. Após o colapso da borracha em 1912, ficaram substancialmente em Belém o Cais do porto, Teatro da Paz, Amazon RIVER , Pará Eletric e o Telegrafo por cabo. Em Manaus destacam-se o teatro Amazonas, Rodway (Cais de embarque), Hipódromo, A Companhia de Eletricidade e o Telégrafo.
A queda da produção da borracha se deveu à produção asiática, que de Santarém levou suas mudas iniciais.
Com o desastre causado pela crise da borracha na Amazônia, o Governo da República também ficou indiferente aos problemas amazônicos e a região voltou a viver do extrativismo e da cultura do cacau , que desprezara para se dedicar a coleta do látex. É o quarto ciclo econômico e o segundo do cacau.
O único produto que tinha regularidade de produção era o cacau, sobrevivendo nas restingas de várzea, sem receber os tratos culturais devidos, mas ainda apresentava produtividade compensadora, muito embora o recôncavo baiano já usasse métodos culturais mais eficientes e por isso obtivesse maior rentabilidade e crescimento significativo no mercado, sendo estas as principais causas do curto ciclo do cacau nesse período.
Em 1927 chegou à região amazônica a companhia Ford Industrial do Brasil, que instalou no vale do rio Tapajós a sede de seu empreendimento, denominada Fordlândia, cujo objetivo era o de plantar um seringal para reverter as pressões que o magnata Ford estava sofrendo do cartel de produtores de borracha asiática. Assim, máquinas modernas chegaram e iniciou-se um trabalho de desmatamento da região, onde 1.000.000 de ha seriam transformados em simétrica e homogênea plantação , com 4.500.000 pés de seringueira, empregando mais de 3.000 homens. Com o aparecimento do fungo Dotidela Ulei , os técnicos, preocupados com o sucesso do projeto, resolveram criar outro núcleo de produção e escolheram o planalto de Belterra, próximo de Santarém, onde uma nova infra estrutura foi criada e um novo seringal foi plantado. O projeto não alcançou o êxito esperado que junto com os acontecimentos da segunda guerra mundial desarticularam a empresa Ford sediada em Fordlândia, que foi negociada com o Governo Federal a preço simbólico, 10% do seu valor real. Esta negociação aconteceu no ano de 1945.
Retrocedendo um pouco na história, em 1933 chegou à Amazônia a migração japonesa que, num convênio com o Governo Brasileiro, pretendia instalar um projeto agro-industrial, para o qual foram cedidos aproximadamente 10.000.000 ha de solo. Trouxeram duas espécies florestais indianas de grande procura no mercado internacional. A primeira era a pimenta do reino e a segunda a juta. A produção de pimenta do reino ficou sediada na região de Tomé Açu, enquanto que a de juta foi desenvolvida por grupos da Vila Amazônia, antiga vila de Parintins. É o quinto ciclo econômico, o ciclo da juta.
Com a chegada da segunda guerra mundial, o projeto passou a ser prejudicado, pois o Japão, o financiador do projeto, pertencia ao bloco de países contrário ao do Brasil, e por isso foi proibido de desenvolver qualquer atividade econômica no Brasil, sendo o projeto paralisado.
Os caboclos da região amazônica foram paulatinamente absorvendo a cultura da juta e observando as vantagens que o novo produto trazia. Assim, a produção da juta chegou a ocupar a maior importância da economia amazônica, por três décadas, 1940 a 1960, chegando a produzir mais de 91 mil toneladas por ano.
Em 1968 a produção de juta na Amazônia começou a declinar. O surgimento da fibra sintética, o preço irrisório da fibra indiana, o emprego de mão de obra desqualificada e não mecanizada na produção de juta na Amazônia foram as principais causas do declínio dessa produção. É nesse período que surge a exploração de ouro no vale do rio Tapajós. É o sexto ciclo econômico da região.
Na década de oitenta o excesso de dinheiro em circulação inflacionou o custo de vida em toda a região Amazônica. "A moeda quase perdeu a importância", pois as negociações tinham como referencial o ouro. As produções rurais foram prejudicadas com a evasão da força de trabalho para as frentes de garimpo. Os produtos alimentícios passaram a ser importados, pois não havia mão de obra no campo que se ocupasse de agricultura. A população desviou suas atenções para o enriquecimento rápido, desprezando a dedicação ao aperfeiçoamento da qualidade profissional. No início da década de noventa as áreas de garimpo foram fechadas por ordem do Governo federal, devido ao uso excessivo de poluentes que causaram danos irrecuperáveis à população e ao meio ambiente.
Assim, a Amazônia mais uma vez estagnou, repetindo a história e continuando a desafiar quem se atreve desenvolvê-la.