Amar é fazer.

Amar, verdadeiramente, não é apenas saber, é fazer. Pois se alguém que diz amar, apenas pensa, racionaliza, sabe, mas não faz, não ama.

Amor é a ação passiva daquele que é capaz de ouvir, ou a atitude ativa e consoladora daquele que estende a mão, sem se preocupar sobre quem a  utilizará para se levantar.

Muitos amantes da vida passaram por aqui fazendo, mais que pensando. São grandes por isso, deixaram seus nomes gravados na história, como Mahatma Ghandi e Madre Tereza de Calcutá, entre tantos, por exemplo.

Amar não é apenas entender do que o outro precisa, mas dar-lhe aquilo que o fará erguer-se de sua solidão, ou de sua tragédia.

Muito se tem falado e pensado sobre o amor, mas poucos o conheceram na sua total intensidade e foram exatamente estes poucos que mudaram o mundo.

Sentir, antes de pensar, é um dos passos primordiais para se entender e viver o amor. Porque amar não requer explicações, apenas acontece, de uma forma maravilhosamente espontânea. E é quando tentamos raciocinar sobre o acontecimento,  o momento em que perdemos a capacidade de amar.

A vida sempre nos traz o amor, das mais variadas formas. Se o exercitaremos, ou não, será uma escolha nossa. E quase sempre escolhemos errado. Não que exista certo e errado, mas porque tentamos entender, o que é preciso apenas sentir.

As convenções sociais humanas conseguiram um feito inédito: tornarem-se maior que o amor, a ponto de o colocar num segundo plano, sempre. Daí nossa falência inquestionável, que se revela nas mais variadas formas de ilusão e destruição.

Ausência de amor pela natureza e suas dádivas. Precariedade absoluta no trato de uns para com os outros, sem uma sincera preocupação pelo bem estar do outro, independentemente de quem quer que seja ele.

Em vez do desprendimento, prendemo-nos na teia da insensibilidade causada por análises inúteis, quando o momento pede apenas um gesto, um fazer.

Amar é um instante quando dois olhares se cruzam. É estar lá e sentir. Viver o momento quando espíritos se comunicam sem precisar de palavras.

Um dos maiores obstáculos para o amor é o egoísmo. Depois, seguem de perto a inveja o ciúme e outros sentimentos pequenos que são, infelizmente, cultuados e mantidos, exatamente por força de nossas “convenções”.

O egoísmo nos impõe o ter a qualquer preço, o amor nos solicita o ser com total gratuidade.

Assim, como um pêndulo, passamos de um para outro e, sem piedade, o tempo nos leva a vida que nos foi dada viver, sem que a tenhamos conhecido de fato.

Não sabemos sentir o viver, preferimos pensar o viver. E só pensando, jamais fazemos, jamais exercitamos a vida na sua plenitude.

Tornamo-nos peritos em sentir saudade de momentos em que poderíamos ter feito algo por amor, mas permanecemos inertes pensando: o que é isto?

Por isso amar é fazer. Os sentimentos possuem razões que estão acima de nossa precária razão mundana. A vida vem de outra esfera e é dada a cada um, para que seja instrumento do fazer, antes que do meramente pensar.

Com raras e nobres exceções, grandes intelectuais estão mais distantes do amor, quanto mais se intelectualizam. A medida exagerada do saber, em detrimento do fazer, nos legou o caos em que nos mergulhamos hoje. A própria violência é fruto do pensar egoisticamente, em lugar de fazer aquilo que o sentir pede. Um tecnicismo excerbado permeia as relações, tornando-as algo mecânico, sem sentimento.

Talvez a harmonia natural entre os animais, esteja no fato de que eles não pensam. Apenas são e fazem. Precisamos notar que foi o homem o autor do desequilíbrio que nos prepara um destino nada agradável pela frente, a médio e longo prazos.

As lições naturais nos cercam o tempo todo. Mas estamos cegos para elas, pois preferimos pensar em como conseguir alguma coisa, ter alguma coisa, em vez de desejar ser alguma coisa. E assim passamos pela vida sendo e fazendo nada que realmente valha a pena. Construímos fortunas e saímos vazios. Vazios da real compreensão que nos vem do sentir e fazer. Apenas pensamos e nada fazemos.

Aquele olhar que significa “estou aqui e me preocupo com você”, carrega um sentimento que seu destinatário saberá incorporar e, com certeza, essa ajuda será maior que qualquer valor material.

Precisamos entender que tudo que existe basta para todos, desde que deixemos, ao menos parte de nosso egoísmo de lado. Que não esqueçamos que numa eventual falência geral, sucumbiremos junto.

Impossível que seja de outra forma. Por isso precisamos amar com o fazer e não apenas tentar amar com o pensar.  Precisamos aprender a ser como um barco levado pela brisa, no oceano da vida. Sentir e entregar a direção para o coração. Esse é o fazer no amor. Seguir o impulso e realizar o ser.

O fazer do amor, exige total comprometimento com o bem estar do outro, qualquer que seja esse outro. Nada exige, nada pede, nada cobra, é apenas doação. Doar tempo, atenção, gentileza e, em alguns casos urgentes dar o peixe, mas não sem ensinar a pescar.

A medida exata do que se precisa para fazer o amor atuar, está exatamente dentro da gente:  “como eu gostaria que me tratassem?”. A resposta a uma pergunta assim, é o que necessitamos em um momento de dúvida, para saber o que fazer. Seguir um impulso.

Mesmo assim, com ou sem dúvida, basta ouvir e seguir o coração. Raramente ele erra.