Ainda ontem, éramos amantes, amigos, confidentes e agora, num estalar de dedos, nos tornamos estranhos um ao outro. A experiência me diz que não importa que assim o seja, pois eu aprendi que em nossa trajetória buracos negros iríamos ter que enfrentar. Somente não sabia que este seria o maior buraco negro que me caberia, de todos eles. Mesmo assim creio que não devamos procurar nos esconder ou nos calar, como se isso desse razão para nos envergonhar do que fomos e representamos um dia, um para o outro.

Na verdade, somos duas espaçonaves, vagando pelo espaço estelar, cada um dos quais com os seus objetivos e sua rota particular. Quem sabe, neste Universo ainda não desvendado pela maioria dos mortais, ainda possamos nos cruzar, aqui ou acolá, e, talvez, celebrarmos juntos outra festa, como muitas que já celebramos, quando corajosos e tranqüilos éramos e debaixo do mesmo sol unificamos nossas rotas, enquanto acreditávamos que seguíamos o mesmo caminho, buscávamos os mesmos objetivos, traçávamos o mesmo destino.

Porém, como nem tudo que reluz é ouro, a onipotência de outras galáxias e o brilho ofuscado de outras estrelas nos separou e nós, sem as forças necessárias para lutar contra forças contrárias, nos deixamos empurrar para mundos diferentes, banhados por outros sóis e, talvez, nunca mais voltemos a nos ver. Céus diferentes, estrelas diferentes, sóis diversos, horizontes intransponíveis nos mudaram a rota, nos separaram.

Talvez até fosse preciso que nos tornássemos estranhos um ao outro. Foram outras forças que pesaram entre nós e, sendo assim, creio que é por isso que nos devemos mais respeito. Isso se faz necessário para que a idéia de que existiu amizade e a idéia de que existiu um amor puro, pelo menos por mim, sejam sempre lembradas como momentos sagrados.

Talvez, ainda tenhamos uma maravilhosa trajetória juntos, numa órbita estelar mais bem-aventurada, sobre a qual os nossos caminhos e os nossos objetivos, mesmo que diferentes, poderão estar escritos e nisso elevo meu pensamento ao Criador.

Talvez, esteja eu divagando, delirando, por que, inexoravelmente, a vida já me está demasiada curta e, pela distância que você empreendeu, nossas vistas são demasiado fracas para enxergarmos a possibilidade de nos reencontrarmos. Ainda assim, não a descarto, pois isso se tornou uma sublime possibilidade para mim.

Talvez, por acreditar que isto ainda possa acontecer, fica-me a certeza de que a nossa ligação sempre existiu e existirá pela eternidade, mesmo que tenhamos que navegar separados pela Terra.

É certo que a possibilidade de tal destino me assusta e, às vezes, penso que, se tivermos que navegar solitários pela Terra, acontecer, a vida seguirá somente por seguir, pois já vislumbro a possibilidade de que nada mais faça ou fará sentindo, pois ser um amante infinito e sozinho não é a solução. Será apenas mais um problema infinito, insolúvel em nossos corações, situação que nos colocará em rota de colisão com o Planeta da Dúvida, da dúvida do que poderia ter sido e não foi. Jamais saberemos!

NEQETAM
Luiz Antonio Schimanski
03/10/2008