ALUNOS COM DESLEXIA: QUAL O PAPEL DOS PROFESSORES E DA ESCOLA EM RELAÇÃO AO ENSINO APRENDIZAGEM

Maria Natália Gomes dos Santo

Resumo

Introdução

Como muitas questões em nossa sociedade não correspondem na prática como deveria, a educação de crianças com distúrbios de aprendizagem por sua vez, também não satisfaz da mesma forma com o que é fixado na legislação, ou seja, de acordo com alguns levantamentos, o processo de ensino e aprendizagem de crianças portadoras desses distúrbios, não é feito como manda a constituição. O que é visto na prática é bem diferente de como teria quer ser de fato. E o encargo dessa divergência, cai em cima de quem tem a responsabilidade de ensinar, no caso, o professor. Diante disso, o número de alunos que tem dificuldade na aprendizagem é grande, e muitos deles têm seu rendimento comprometido, uma vez que, fatores como a desmotivação e a baixa alta estima limita os alunos a querer aprender.

Esse estudo dá ênfase a questão do ensino e aprendizagem dos alunos com dificuldades na leitura, escrita e, destacando sobretudo a dislexia. É colocado em pauta a pratica da educação desses alunos no ambiente escolar, levando em consideração os desafios da pratica docente.

Como procedimento metodológico foi feita pesquisa de caráter qualitativo e descritivo onde foram entrevistados 6 professores da rede pública do ensino fundamental e médio, onde foi coletado dados significativos sobre a educação dos alunos portadores de distúrbios de aprendizagem.

Como fundamentos para essa pesquisa foram usados como referencial teórico, dentre outros: Collares; Moyses (1992); Ellis (1985); Fuchs; Fuchs (2001); Miles (1983); Shallice; Warrihgton (1977).

Ao iniciar a pesquisa foi abordado algumas questões teóricas sobre os distúrbios de aprendizagem, destacando, sobretudo, a dislexia e, a partir daí, questionamos aos professores se eles tinham conhecimento sobre o que é o problema e, se os mesmos saberiam diferenciar distúrbios de aprendizagem de dificuldade de aprendizagem. Em seguida foi questionado aos entrevistados se eles conheciam a existência do problema dentro de suas salas de aula. Perguntamos também, se conheciam as causas desses distúrbios e mais adiante, qual o papel deles e da escola quando se depara com alunos com essas condições.

Para finalizar, apresentamos as considerações finais cujo objetivo é enfatizar o processo do ensino e aprendizagem dos alunos com distúrbios de aprendizagem e principalmente com dislexia nos ambientes escolares.

Distúrbio e aprendizagem: definição e diagnóstico

A expressão distúrbios de aprendizagem foi criada pelo professor Sam Kirk juntamente com outras pessoas durante uma reunião de pais, professores e profissionais em Chicago, nos Estados Unidos por volta da década de 1960, precisamente em 1963, a qual depois se tornou a Learning Disabilities Association of América. Contudo, a literatura nos mostra que as investigações sobre os distúrbios de aprendizagem deram-se início em 1919 a partir de um trabalho desenvolvido pelo neurologista e psiquiatra alemão Kurt Goldstein. O mesmo começou um estudo com jovens que além de lesão cerebral, também apresentavam frequentes distrações, pouca capacidade concentração nas ideias centrais e confusão, além de hiperatividade. Também oferecia dificuldades de ler e escrever. 

            Anos depois o trabalho de Goldstein foi ampliado por Alfred Strauss e Heinz Werner, onde os mesmos estudaram os casos de alunos diagnosticados com lesão cerebral. Esses pesquisadores descobriram muita semelhança com as primeiras pesquisas feitas por Goldstein, entretanto os indivíduos pesquisados anteriormente não tinham mais habilidades de ler, escrever e falar adequadamente. Enquanto o grupo de Werner e Strauss nunca desenvolveu nenhuma dessas habilidades. Sendo assim, os estudos sobre distúrbios de aprendizagem se originou das pesquisas desses pioneiros.

            Já o Department of Education pela IDEA define os distúrbios de aprendizagem o como um problema em um ou mais processos psicológicos básicos que envolve no entendimento ou no uso da linguagem, falada ou escrita, que pode traduzir-se em inabilidade para ouvir, pensar, falar, ler escrever, formar palavras ou fazer cálculos matemáticos, incluindo algumas condições perceptivas, como lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia e afasia do desenvolvimento. (U.S. Department of Education, 1999).

            A partir da descrição acerca da questão em destaque, podemos acrescentar algumas informações importantes sobre o uso da expressão distúrbios de aprendizagem. Para isso faremos o uso do que nos dizem Collares; Moysés (1992, p.32):

                               [...] Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com outras condições desfavoráveis (por exemplo, alteração sensorial, retardo mental, distúrbio social ou emocional), ou influências ambientais (por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é resultado direto dessas condições ou influencias.

            Na linguagem do dicionário, constata-se como distúrbio: uma perturbação orgânica ou social, dificuldade: caráter de difícil, aquilo que o é, obstáculo, óbice, situação crítica, e, aprender: tomar conhecimento de tomar de algo, retê-lo na memória graças a estudo, observação, experiência, etc.

             Nas décadas de 1920 e 1930, foram desenvolvidas teorias e técnicas para corrigir a leitura para crianças com dificuldades grave de leitura, onde foi denominada como dislexia cujo diagnostico, dizia ser causada por lesão cerebral. E nos anos seguintes diversas pesquisas sobre técnicas de ensino e maneiras para identificar os alunos com distúrbios de aprendizagem foram realizadas. Ao pesquisar sobre a dislexia, vai se concluir que a mesma não é considerada uma doença, mas sim um transtorno de aprendizagem relacionado a linguagem.

            Alguns especialistas costumam dividi-la em dois tipos: A primeira é a dislexia adquirida, onde o indivíduo não tem problema nenhum em ler e escrever, contudo, por ocasião de algum acidente ou derrame cerebral, perde essa capacidade. A dislexia adquirida foi estudada no final do século XIX por neurologistas como Carl Wernicke, no entanto, a maior parte dessas pesquisas foram realizadas na década de 1970. Esses estudos agrupam a identificação da letra, o reconhecimento visual das palavras e a compreensão semântica e apreciação fonológica das formas sonoras das palavras.

            Conforme Shallice, Warrington (1980) introduziram uma distinção útil entre as dislexias adquiridas periféricas e centrais. As dislexias periféricas são transtornos nos quais o sistema de analise visual está danificado, resultando em uma faixa de condição nas quais a percepção de letras nas palavras está prejudicada. As dislexias centrais são um grupamento de transtornos nos quais os processos, além do sistema de análise visual, estão danificados, resultando em dificuldades que afetam a compreensão e/ ou comunicação de palavras escritas. Uma pessoa com este problema tenta ler passagens de texto, e com frequência não tenta ler as primeiras palavras de cada linha. E, ao ver as palavras simples, comete erros que por sua vez, afeta a primeira ou as duas primeiras letras.

            É atribuído a dislexia como um transtorno de atenção, entretanto, também pode ser chamada de “dislexia da atenção”. Shallice, Warrihgton (1977) descreve dois pacientes com dislexia adquirida que eram razoavelmente bons na leitura de palavras apresentadas isoladamente e que podiam dar o nome de letras isoladas com perfeição quase absoluta. Os problemas desses pacientes surgiam quando encontravam várias letras em uma cadeia ou diversas palavras na página.

            Um indivíduo com dislexia central pode ler palavras irregulares corretamente em voz alta, implicando a preservação da leitura de palavras inteiras via léxicos. Entretanto, para compreender as palavras escritas o sujeito deve ter dificuldade.

            Outro tipo de dislexia é a denominada dislexia de desenvolvimento, onde a pessoa portadora desse distúrbio já nasce com essa condição e está no código genético da família, mas não necessariamente é hereditária.  De acordo com o especialista Elizeu Coutinho de Macedo, psicólogo e professor do Mackenzie: “Não é necessariamente hereditário porque o pai pode não ter o problema de leitura e escrita, já o filho pode sim ter dificuldades nessas habilidades, ou vice e versa, no caso, os pais podem ter mais não necessariamente o filho. ”

            Uma linha de evidencias surgiu de estudos sobre a herança de problemas de leitura. Volgler, DeFries, Decker (1985) descobriram que filhos de pais com problemas de leitura estavam significativamente mais propensos a ter eles próprios problemas de leitura do que os filhos de pais sem problemas de leitura. É possível, naturalmente, que os problemas de leitura ocorram dentro das famílias por razões sociais ou ambientais.

              Para entendermos melhor, uma outra opinião nos é dada a respeito do assunto. O especialista José Salomão Schwartzmam, neuropediatra e professor do Mackenzie, faz uma comparação e diz que a dislexia de desenvolvimento na questão hereditária, é semelhante a problemas cardíacos. Em suas palavras ele nos diz: “É como um infarto mais ou menos; o pai não transmite o infarto para o filho, mas transmite condições que transmite o infarto.”

              Então diante disso, podemos dizer que a dislexia é um problema genético que afeta as crianças e que, seus pais podem ou não ter indiretamente haver com o distúrbio. Esse problema atinge as habilidades de escrita, de leitura e de matemática e que, originou um problema escolar grave e notório nos últimos anos. De modo que o rendimento das crianças com esse problema tem sido insatisfatório.

             As pesquisas apontam que as crianças que tem dislexia são diferentes umas das outras, como esclarece Ellis (1985, p.108):

Muitos psicólogos que trabalharam com crianças disléxicas chegaram à conclusão de que os disléxicos não são todos iguais, mas diferem uns dos outros de modos que precisam ser descritos e explicados. Uma variedade de abordagens tem sido adotada, parar decidir-se como melhor capturar essas diferenças individuais entre os disléxicos. Em termos amplos, as abordagens às diferenças individuais podem ser colocadas em um de dois campos.

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