ALTERNATIVAS PARA A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA DO ALUNO-TRABALHADOR VERSUS PROCESSO DE EXCLUSÃO

Escola pública - Reprovação e Evasão escolar - autonomia

(*)Autora:- Rozelia Scheifler Rasia
*Artigo apresentado no VII Seminário Interinstitucional na Universidade de Cruz Alta

O presente artigo apresenta a síntese de um estudo que se divide em pesquisas bibliográficas e de campo. A motivação inicial para esse trabalho nasceu da indignação causada pelo crescente índice de alunos reprovados ou evadidos da escola pública. O objetivo principal desse artigo é provocar uma discussão sobre as causas da exclusão do aluno-trabalhador do processo de qualificação pessoal e profissional, para que possamos, coletivamente, buscar possibilidades para minimizar o empobrecimento e as disparidades causadas pelo restrito mercado de trabalho elitista e globalizado que torna meninos e meninas apenas dados estatísticos.

Esse estudo segue procedimentos metodológicos inerentes à pesquisa bibliográfica baseada em referenciais teóricos de diversos autores, que abordam a temática em questão,  alternativas de promoção do aluno das classes populares e, também, em trabalho de campo que segue os preceitos da pesquisa etnográfica qualitativa enunciada por Minayo (Org. 1994) e Lüdke & André (1986), que permite maior interação ente o pesquisador e a realidade investigada. O aluno vem à escola em busca de algo que está fora das palavras impressas nos livros, eles querem instrumentos para a construção de seus próprios caminhos.

Demo (1995) lembra que "o aluno não comparece apenas para aprender (memorizar, copiar, fazer provas e colar), mas sobretudo e essencialmente para aprender a aprender. Deve poder conseguir a atitude de pesquisa e a capacidade de elaboração própria". Para o mesmo, autor, "aprender a aprender não indica um estoque acumulado de conhecimentos, mas uma estratégia de manejar e produzir conhecimentos em constante renovação". Cabe ao professor a convicção sobre seu papel como incentivador de novos saberes que tenham aplicabilidade na vida diária e na projeção do futuro. Para o (re)pensar da sua ação educativa e avaliativa, Fullan & Hargreaves (2000) enfatizam que "(...) os professores constituem o elemento fundamental nas escolas. Individualmente e como parte do grupo, eles precisam, por conseguinte, assumir a responsabilidade pela melhoria de toda a escola, ou ela não se qualificará".

A instituição escolar como microcosmo social reproduz os conceitos e os mecanismos adotados pela ideologia dominante e, assim, pode torna-se um espaço de promoção para uns e apenas de estagnação para outros. Consoante o exposto, destaca-se a fala de Colombier (1989) "poderíamos desejar que a escola não reproduzisse as mesmas situações de exclusão e que ela não aumentasse o sofrimento de cada um. Gerações de alunos passam fechados em seu silêncio, muito bem comportados, sem desejo, sem palavra. Eles sofrem é de um sufocamento progressivo, asfixia, morte lenta". A vivência da cidadania do aluno ultrapassa os muros da escola, porém, ela se consolida em seus bancos, através do despertar da consciência crítica, do desvelar das disparidades sociais, da ampliação do conhecimento sobre a potencialidade e as diferenças individuais, sobre a vigilância das prerrogativas do cidadão e da formação ética, moral e profissional do alunado.

Na pesquisa de campo, os principais motivos para o insucesso escolar, segundo os alunos entrevistados devem-se a: _ Impossibilidade de conciliar os horários de trabalho com a escola, (a maioria perde o 1º período diariamente); _ Falta de tempo para realizar estudos e pesquisas; _ Estafa provocada pelas longas jornadas de trabalho; _ Currículo e formas de avaliação que desconsideram a realidade em que os alunos estão inseridos.

Devido ao crescente desemprego entre os pais, os alunos informaram que estão assumindo, ou dividindo com eles a responsabilidade pelo sustento de suas famílias, e por esse motivo, salientam que preferem perder o ano letivo a perder o emprego.

A partir dos dados colhidos citam-se as principais conclusões desses estudo:
O modelo sócio-ecômico excludente não possibilita alternativas de ascensão pessoal e profissional ao aluno-trabalhador, pois não o prepara para a universidade ou para bons empregos; as dificuldades desses jovens são acentuadas pelos projetos políticos pedagógicos das Escolas Públicas de Educação Básica que ignoram a realidades desses alunos, aos quais é imposta uma rotina incompatível com 'qualidade de vida' que todos almejamos. Não é por falta de inteligência ou vontade de aprender, mas por desesperança que o aluno deixa a escola, ao constatar que lá não encontrará respaldo para a concretização de seus planos.

O mercado de trabalho está cada vez mais exigente, isto é, oferece vagas para jovens que possuem conhecimentos como língua estrangeira e informática, os quais não são oferecidos na escola pública. È indispensável um questionamento: _As oportunidades de trabalho estão reservadas ao despreparado aluno que provém das classes populares, ou ao aluno bem informado e bem instrumentalizado das classes dominantes? Infelizmente, a resposta indica que o atual modelo educacional está servindo como trampolim para uns e como escorregador para outros

Cada cidadão precisa assumir sua responsabilidade na promoção de mudanças de paradigmas sociais e educacionais. Alunos e professores devem protestar contra a sistemática de redução dos percentuais de reprovação adotados pelas escolas públicas estaduais, que não prevêem a promoção do aluno como sujeito da busca de novos conhecimentos e de sua aplicabilidade na vida cotidiana, mas apenas a aprovação como forma de amenizar os baixos índices de conclusão dos cursos de Ensino Médio. A manipulação dos dados sobre a escolaridade, na escola pública, de modo inverídico, desenha um perfil positivo do modelo educacional brasileiro. Isso ocorre, para agradar aos interesses do FMI (Fundo Mundial de Desenvolvimento) que está financiando megaprojetos de crescimento econômico, que só atendem aos interesses da minoria da população, isto é o empresariado e os grupos financeiros.

Constata-se que, enquanto o aluno-trabalhador desperdiça suas oportunidades de um futuro melhor, o empresariado cresce com a força de trabalho desses jovens. Para se afastar o risco da mutilação intelectual que ameaça a atual geração, precisa-se vincular o currículo escolar à realidade do aluno e se executarem medidas e instrumentos urgentes de esclarecimento e de incentivo à qualidade de vida e de ensino público; como por exemplo, projetos sociais e de qualificação profissional geridos pelas esferas de governo municipal, estadual e federal, aliados a um trabalho conjunto entre as empresas, as escolas e as universidades públicas para promover a qualificação pessoal e profissional, prestar serviços sociais, pedagógicos e de saúde voltados, principalmente, aos alunos oriundos da classe trabalhadora.

Não é utópico acreditar que, a melhoria da qualidade do ensino para o aluno-trabalhador, pode ser um ponto de partida para que a realidade seja um espaço de realização do sonho de uma sociedade digna e feliz.