Alimentação Ambientavelmente Sustentável : o problema da comunicação

Keyla Preuss1

 

Ainda resta espaço para o meio ambiente nas questões da alimentação?

Este documento aborda de uma forma simples a dificuldade de explicitar a relação do meio ambiente com a alimentação para o público em geral e traz uma sugestão para isto.

 

Este é um termo que vem ganhando sua amplitude na mídia e na forma de projetos no Brasil.

Em outros países como a Suécia, Bélgica e Alemanha, a alimentação sustentável já faz parte do cotidiano da população, assim como outras ações de consumo ditas conscientes. Ora, se 20 a 30% dos impactos ambientais destes países são provinientes da alimentação, nada mais óbvio do que classificá-la como prioritária!

A grande dificuldade, em termos de comunicação,  de aplicar a desinência de sustentabilidade à alimentação é devido principalmente a 2 aspectos:

-  ao evocarmos a palavra alimentação, não pode-se obstrair todas suas etapas, ou seja, deve-se considerar todas as fases do ciclo do produto, da enxada ao garfo! Logo, apesar do importante papel do consumidor na tomada de decisões, os atores envolvidos na produção e nas políticas de alimentação também desempenham uma função incontestável.

- não comemos nutrientes, mas sim sabores e lembranças. Os alimentos além de nutrirem envolvem a dimensão cultural, financeira e de convivência. Será que os homens estão prontos, ou ainda sobra lugar para acrescentar mais uma, esta do respeito ao meio ambiente?

           

            Primeiramente, é preciso um esclarecimento simples da relação entre alimentação e meio ambiente. Ora, em todas etapa do ciclo produtivo dos alimentos até o consumo, os atores envolvidos neste sistema, usam recursos naturais e produzem resíduos. Logo, o meio ambiente está inevitavelmente presente na alimentação. Mas quais são as questões (problemas) ambientais implicados nesta cadeia alimentar? E quais são os indicadores para “medir” estes impactos?

- Uso dos recursos naturais em todas fases do processo produtivo: consumo de petróleo, carvão, gás natural e d’água;

- Poluição do ar: emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa (agricultura, transporte..)

- Poluição da água: descargas de nitrogênio e fósforo, e outras substâncias oxidáveis ( uso de pesticidas na agricultura intensiva por exemplo);

- Poluição do solo: relação da quantidade total de matéria orgânica para o solo;

- Resíduos : produção total de resíduos (lixo) gerados.

Enquanto que alguns destes danos são facilmente perceptíveis ao consumidores, como a poluição do ar da água e do total de lixo, outros como o esgotamento dos recursos naturais e impactos na biodiversidade não.

Outra questão ainda mais complicada é como avaliar estes impactos? Para isto existem métodos, como Análise do Ciclo de Vida e Balanço de Carbono e indicadores como a Pegada Ecológica. Estes meios foram criados por cientistas com intuito de auxiliarem as indústrias de alimentos a produzirem de uma forma mais respeitosa ao meio ambiente ou ainda um instrumento pedagógico aos consumidores em geral, como é o caso da Pegada Ecológica.

Muitos estudos, principalmente originários dos países europeus citados anteriormente, utilizaram estes métodos para “qualificar” produtos através da análise do modo de produção (convencional, agroecológica, em estufa), tipo de produto (vegetal ou animal), origem geográfica (da cidade, região, país, continente), conservação (congelado, refrigerado....),  meios de transporte (avião, carro, caminhão, trem, barco), embalagem (material e quantidade total) , transformação (in natura, cozido, frito..) e o destino final dos resíduos sólidos (reaproveitamento das sobras limpas como cascas e sobras das refeições).  A partir destas análises, pode-se fazer seguintes recomendações em termos de alimentação ambientavelmente sustentável:

- Dar preferência a alimentos produzidos localmente;

- Dar prefrência a circuitos curtos, ou seja, evitar intermediários, do produtor ao consumidor;

- Comer alimentos da época para a região em questão;

- Diminuir o consumo de proteína animal, principalmente de carne bovina;

- Dar preferência a alimentos frescos, sem necessidade de conservação.

- Fazer a coleta seletiva e reaproveitar as sobras limpas, como folhas e cascas.

- Evitar alimentos produzidos em estufas.

Ao ler estas sugestões, logo pensamos nas recomendações de uma alimentação equilibrada, saudável. No entanto, estas recomendações citadas acima também objetivam à soberania alimentar , promovem a cultura e o desenvolvimento local e estimulam sobretudo o contato dos consumidores com a fonte real dos alimentos, a terra.

Mas a pergunta que ainda nos resta é : como comunicar o público sem sufocá-los de informações e responsabilidades frente a este “novo” âmbito da alimentação?

No que tange a comunicação, acredito que em um primeiro momento estes aspectos ambientais podem e devem serem incluídos nas ações de educação alimentar e nutricional, as quais já estão bem difusas nos meios de comunicação e no meio escolar.

1 Nutricionista e pós graduanda em Gestão Ambiental na Agroindústria