“ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS”: UM ESTUDO ALÉM DAS MARAVILHAS

Rafael  Menezes da Silva

            Alice no País das Maravilhas, escrito por Lewis Carroll – pseudônimo de Charles Lutwidge Dogdson – é um livro que nos mostra a fantasia, a ficção, tudo que a personagem principal – Alice – vive depois de ir atrás de um coelho atrasado para uma reunião, é algo que, jamais aconteceria com qualquer um.           O enredo perpassa todo por um ambiente que não pode ser imaginado facilmente, mostrando assim, que, a literatura é e sempre será verossimilhante e imaginativa.

            Os fatos repentinos, característica forte em todo o texto, mostram, além da comicidade, a “loucura” e a fantasia em que Alice – e evidentemente o leitor – estão, ao ler o livro.

“Enquanto dizia essas palavras, seu pé escorregou, e no momento seguinte, tchumbum! Estava com água salgada até o queixo. A sua primeira ideia foi que tinha de algum modo caído no mar...” (CARROLL, p. 29, 2007)

            As referências sobre a palavra “comer”, sinal de que as crianças gostam de ler sobre o assunto, ou têm obsessão por comida?

“... Sem dúvida, é o que geralmente acontece quando se come um bolo, mas Alice já estava tão acostumada a esperar apenas coisas extraordinárias que lhe parecia bastante monótono e estúpido que a vida continuasse no ritmo normal./Por isso pôs-se a comer e logo, logo acabou o bolo.” (CARROLL, p. 22, 2007)

            O simbolismo é presente em toda a obra, esta é a principal característica do texto de Carroll. Não conseguimos afirmar alguma situação, ou como venha a ser cada personagem, apenas imaginamos, pois o que mais se utiliza no texto é a imaginação.

“Carroll era um contador de estórias habilidoso, e assim sendo, lhe devemos o crédito de haver descoberto algo similar. O ponto aqui não é que Carroll fosse neurótico (sabemos que era), mas que livros de fantasia e absurdo para crianças não são fontes positivas de imagens psicoanalíticas, como possam pensar alguns. São, sim, ricas demais em simbolismo. Os simbolismos têm múltiplas interpretações.” (CAMARÃO, p. 80, 1990)

            O chapeleiro era uma figura, na época em que o texto foi escrito – 1865 – que, na crença popular enlouqueciam por causa do mercúrio utilizado no tratamento do feltro era causa comum de envenenamento, e em estágios maiores chegavam a dar alucinações e surtos psicóticos.

“‘Seu cabelo precisa de um corte’, disse o Chapeleiro. Ele estivera olhando para Alice por algum tempo com grande curiosidade, e essa foi a sua primeira fala./‘Você devia aprender a não fazer comentários pessoais’, disse Alice, um pouco severa. ‘é muito rude.’/O Chapeleiro arregalou os olhos ao ouvir isso, mas tudo o que disse foi: ‘Por que um corvo é parecido com uma escrivaninha?’” (CARROLL, ps. 90-91, 2007)

“‘E desde então’, continuou o Chapeleiro num tom triste, ‘ele não faz mais nada do que peço! Agora são sempre seis horas.’ /Uma ideia brilhante entrou na cabeça de Alice. ‘É por isso que há tanta louça e torradas para o chá sobre a mesa?’, perguntou. (CARROLL, p. 97, 2007)

            Isto foi escrito antes que o chá das cinco se tornasse um costume na Inglaterra. Pretendia, sim, se referir ao fato de que os Liddells serviam tea (chá) às seis horas, o horário de jantar das crianças (convém lembrar aqui que um jantar leve - o Supper - na Inglaterra é também chamado de tea).

            A imaginação necessita tomar conta do leitor quando o texto vai chegando ao fim, e Alice passa pela rainha, que era em formato de carta de baralho, e seu exército também. A criança, ao ler o livro em questão entra no mundo das maravilhas, e consegue – inocentemente – entender o que o romance quer passar, mas apenas com uma interpretação objetiva, de imagem – texto, texto – imagem.

            O desenho, criado pelos estúdios Walt Disney, em 1951 e dirigido por Hamilton Luske, é a cópia fiel do livro, quase todos os mínimos detalhes são expressos cinematograficamente, a criança passa a entender mais quando assiste ao desenho, pois a imagem é muito mais fácil de fixar o conteúdo.

            Apesar de escrito para crianças, “Alice no País das Maravilhas” não é um livro qualquer, ele é estranho e ao mesmo tempo fascinante para todas as idades.

“‘Acorde, Alice querida!’, disse a irmã. ‘Ora, mas como você dormiu!’/‘Oh, eu tive um sonho muito curioso!’, disse Alice. E ela contou à irmã, detalhando ao máximo tudo o que conseguia lembrar, essas estranhas Aventuras que vocês acabaram de ler. E quando terminou, a irmã a beijou e disse: ‘Foi certamente um sonho curioso, minha querida, mas agora entre correndo para tomar o seu chá. Está ficando tarde.’” (CARROLL, p. 169, 2007)              

            Depois que lemos quase todo o romance, chegamos ao final, e o autor nos conta que, tudo o que vimos foi um sonho, este conversa com os leitores “afirmando” que, realmente, o que Alice viveu, foi tudo um sonho (será?).

“Continuou sentada, de olhos fechados, e meio que acreditou estar no País das Maravilhas, embora soubesse que bastava abrir os olhos para que tudo se transformasse na realidade monótona... a grama estaria apenas roçagando ao vento, e o lago encrespando-se com o balanço dos juncos... as xícaras de chá chocalhantes se transformariam nos sinos tilintantes das ovelhas, e os gritos agudos da Rainha na voz do menino pastor... e os espirros do bebê, o grito do Grifo e todos os outros barulhos esquisitos se tornariam (ela bem sabia) o clamor confuso do campo em atividade... enquanto o mugido do gado à distância tomaria o lugar dos fortes soluços da Tartaruga Falsa.” (CARROLL, ps. 170-171, 2007)

            Estórias infantis têm extraordinária influência em pessoas de todas as idades, fascinando e envolvendo os jovens e idosos, independente de raça, clãs se, religião ou nacionalidade. A simplicidade de sua linguagem, a elementar idade dos problemas que tratam (origem, amor, ciúme, morte) as tornam acessíveis a todos.

            Em “Alice no País das Maravilhas” temos uma estória cheia de simbolismo que, quando trazidos à luz e analisados,revelam a personalidade psicopática do autor. Seu questionável comportamento sexual com garotinhas que na época foi negligenciado seria encarado hoje como abuso sexual.

            Na sociedade de hoje, o aumento no número de casos de agressão a crianças é alarmante, mas certamente não é um problema do século vinte.