ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE AFETIVIDADE E IMPLICAÇÕES PARA O TRABALHO PEDAGÓGICO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Thalita Cristina Pimentel Cavalcante[1]

RESUMO: A presente pesquisa tem por finalidade analisar a contribuição da Educação Infantil para o desenvolvimento afetivo das crianças. Neste sentido, indago: como a instituição de Educação Infantil pode cooperar para o desenvolvimento afetivo das crianças? Estudar este tema é importante para a formação docente porque a afetividade é um fator fundamental na constituição do sujeito, pois está vinculada às sensibilidades internas e, ainda, são orientadas para o mundo social. A partir, dessa perspectiva de Wallon (1981), reflito sobre a importância do afeto na Educação Infantil e, principalmente na formação do individuo completo. No decorrer do trabalho são apresentados elementos e pressupostos teóricos que constatam a importância de considerar e compreender a afetividade como um elemento fundamental no desenvolvimento integral das crianças.

                                                        

A afetividade é um fator essencial na formação do sujeito como um membro de uma sociedade e possibilita conhecer a si mesmo. A afetividade vem de dentro para fora e mostra a capacidade de superar dificuldades e de lidar com as frustrações que aparecem na vida e, que muitas vezes, fazem crescer e amadurecer como seres humanos nos ensinando a conhecermos as nossas emoções e sentimentos para convivermos em harmonia conosco e com as pessoas que nos cercam.

Para Dantas (1992),

A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano foi, logo que saiu que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida racional. Portanto, no inicio da vida, afetividade e inteligência, estão sincreticamente misturadas com a predominância da primeira. (p.90).

Para Wallon (1941),

As emoções consistem essencialmente em sistemas de atitudes que correspondem, cada uma, a uma determinada espécie de situação.

Vemos que falar da importância de se olhar para as emoções como algo que lhe ajudara, em todos os aspectos, a se desenvolver como pessoa e a se conhecer para que possa tomar decisões certas. Ainda cometa sobre as influencias do ambiente para que esses indivíduos possam desenvolver e adquirir um conhecimento contemplando todos os aspectos. 

A creche é um ambiente, fora do seio familiar, que deverá propiciar as crianças um ambiente acolhedor, rico em experiências e vivências que tornam melhores como pessoas e como sujeitos ativos em uma sociedade.

Para Wallon (1941),

De etapa em etapa, a psicogênese da criança mostra, através da complexidade dos factores e das funções, através da diversidade e da oposição das crises que a assinalam, uma espécie de unidade solidária, tanto em cada uma como entre todas elas. É contra a natureza tratar a criança fragmentariamente. Em cada idade, ela constitui um conjunto indissociável e original. (p.233).

As instituições de Educação Infantil têm como um de seus objetivos  desenvolver habilidades e competências que não temos acesso em um ambiente familiar, até por ser, em nossa casa, um local com um numero menor de pessoas e com conhecimentos não sistematizados, sem objetivos claros e planejados para o desenvolvimento da criança e sem a presença de um professor e de outras crianças.

Para (MACHADO citado por COSTA ,2011),

..que a instituição de Educação Infantil desempenha um papel importante na formação da personalidade da criança a partir do momento que lhe possibilita uma vivencia social diferente daquela experenciada no ambiente familiar. Ao interagir com os outros adultos e crianças, obtém uma noção mais objetiva de si própria, o que contribui para a diferenciação do eu-outro e para o enriquecimento de sua personalidade.

Para WALLON citado por GALVÃO (1995), o ser humano é inicialmente afetivo, pois há um vínculo muito forte entre mãe e filho ao nascer e é através das expressões das emoções que há uma comunicação e, ainda, suprimento de uma necessidade orgânica, fisiológica.

Para WALLON citato por COSTA (2011), a emoção é um tipo particular de manifestação afetiva, que assume papel crucial no desenvolvimento da criança e constitui o primeiro recurso de que o ser humano dispõe para comunicar-se e interagir com o outro. Segundo o autor,

(...)dos três aos seis anos o apego às pessoas é inextimável necessidade da pessoal da criança. Se for privada disso, será vítima quer de atrofias psíquicas, de que o gosto de viver e a sua vontade guardarão a tara, quer de angústias, que encaminharão para paixões tristes e perversas. (1981,  p.221).  

Ainda segundo (IDEM), os conflitos são propulsores do desenvolvimento e nos possibilita crescer e amadurecer, pois desenvolvemos características que nos enriquecem como pessoas, o relacionamento interpessoal, a motivação, a força de superar desafios e a partir deles retirar lições para o seu crescimento.

Para Wallon (1981), o crescimento é portanto assinalado por conflitos, como se fosse preciso escolher entre um antigo e um novo tipo de atividade. 

 Vale ressaltar que (WALLON citado por GALVÃO, 1995), entende o desenvolvimento da pessoa em estágios, que ele denomina de: impulsivo-emocional, sensório-motor, projetivo, personalismo e categorial.  

   O impulsivo-emocional (0-1ano) é marcado pela predominância da afetividade, pois orienta às primeiras relações do bebê com outras pessoas e com o mundo físico.

    O sensório-motor e projetivo (1- 3 anos) é caracterizado pela exploração do sensório-motor, do mundo físico, propiciando uma maior autonomia na manipulação dos objetos, na exploração dos espaços e no desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. Nesse estágio há uma predominância do aspecto cognitivo.

  O personalismo (0-5 anos), estágio em foco nesse trabalho, é marcado pela formação da personalidade onde as crianças constroem a consciência de si através de relações sociais. Nesse estágio há a predominância das relações afetivas.

Segundo Dantas (1990), trata-se, para Wallon este estágio, de um período caracterizado não pela atividade cognitiva, mas de novo pelo drama das relações interpessoais através dos quais se constrói o Eu.

No personalismo há uma superação do sincretismo pessoal, necessidade de manifestação expressiva (espaço e permissão para a ação) para que a criança possa se afirmar através da negação do outro.

Para que a criança se desenvolva, ela sente uma necessidade de negação para se afirmar como pessoa, oposição ao adulto. Tentativa de agradar o adulto, sedução. Imitação. Ressaltando que o contexto no qual elas vivem é fundamental no  desenvolvimento das crianças.

Na oposição, a criança busca construir sua identidade através da construção da sua autonomia e desenvolvem condutas sociais importantes para a convivência, como cooperação.

Para Wallon (1981),

Na época em que se pretende manifestar como distinta das outras pessoas, a criança mostra-se gradualmente mais capaz de distinguir os objetos e de seleccionar  segundo a cor, forma, dimensões, qualidades tácteis e cheiro. (p. 229)

Na imitação vemos que as crianças imitam as pessoas que são exemplos. Nessa fase são incorporados algumas atitudes, e, por consequência, a um processo de reaproximação do outro. Vemos que o fato já citado é necessário para que a criança construa sua personalidade.

Na sedução, também chamada de “idade da graça”, a característica principal é a maneira que a criança age para obter a admiração do outro e conseguir admirar-se. Esse processo de tornar movimentos harmoniosos é necessário para a pessoa            individualizar-se.         

Esse estágio foi o foco desse trabalho pelo fato das crianças da turma observada está na faixa etária de quatro anos de idade. Nesse período há uma predominância dos aspectos afetivos no desenvolvimento das crianças ressaltando que há uma reformulação das habilidades dos estágios anteriores.                        

O estágio de categorial (6 -11 anos) é caracterizado pelo interesse da criança para o conhecimento e à conquista do mundo exterior, predominância do aspecto cognitivo.

Diante de tudo isso cabe ao professor conhecer e reconhecer que a afetividade é uma parte integrante do ser humano e que deve ser levada em consideração para o desenvolvimento das crianças.

Segundo Costa (2011),

A prática pedagógica precisa ser pautada nas necessidades das crianças como um todo e promover o seu desenvolvimento em todos os aspectos: afetivo, social, cognitivo e psicomotor. Dessa forma, não deve haver uma ênfase exacerbada apenas no âmbito cognitivo, como é o caso de algumas propostas intelectuais de ensino.

Com uma prática que reconheça o papel da emoção no desenvolvimento infantil, na constituição do sujeito pode verificar-se a grande importância da relação entre os professores e as crianças no contexto da Educação Infantil.

Segundo Felipe (2001),

A perspectiva teórica do sociointeracionismo destaca o papel do adulto frente ao desenvolvimento infantil, cabendo-lhe proporcionar experiências diversificadas e enriquecedoras, a fim de que as crianças possam fortalecer sua autoestima e desenvolver suas capacidades.  (p.31)

A Educação Infantil auxilia no desenvolvimento do processo da autoestima da criança, pois é um processo longo e inacabado mas podemos, na infância possibilitar, como educadores, que as crianças construam uma boa imagem de si e que possa, nas dificuldades, amadurecer e superá-las, serem resilientes.

Segundo Felipe (2001), a autoestima refere-se à capacidade que o individuo tem de gostar de si mesmo, condição básica para se sentir confiante, amado, respeitado.

A partir dessa perspectiva reflito sobre a importância das interações para o desenvolvimento infantil propondo um questionamento: Como essas relações estão sendo trabalhadas nas creches?

Para Cruz (2000),

É na interação com outras crianças que ela terá de confrontar seus conhecimentos, suas opiniões, aprender a trocar ideias, negociar e chegar a acordos. Tudo isso exige um grande esforço obrigando-a a organizar suas ideias e lidar com suas emoções. Assim, leva-a a desenvolver, além do aspecto psicomotor (geralmente mais visível), também o aspecto intelectual e o afetivo. (p.16)

 Assim, observa-se que as interações, no contexto da Educação Infantil, são fundamentais para que os docentes possam contribuir positivamente para o desenvolvimento infantil como atitudes que possibilitem que as crianças se expressem, sem esquecer que é necessário o estabelecimento de regras para uma boa convivência ou de maneira negativa através da repressão excessiva.

Ao conhecer e compreender a indissociabilidade entre afetividade e inteligência pesquisado com mais profundidade por Henri Wallon, os professores podem mediar o desenvolvimento infantil, pois compreenderá o processo de formação da personalidade.

Será que não temos que repensar a formação dos professores? Favorecia se pensarmos em uma formação que contemplasse e considerasse também os aspectos humanos e os valores éticos que nos constitui como sujeitos.

Esses valores tal como cooperação, solidariedade, amizade, amor, dedicação, comprometimento são essenciais para a vida em sociedade e nos permitem construirmos nossa personalidade, o nosso eu.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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CEARÁ, Secretária de Educação Básica. Desenvolvimento e aprendizagem da

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