Ana Alves Ferreira

Resumo:
O presente artigo teve como objetivo a discussão da alfabetização precoce na Educação Infantil, com ênfase na cobrança social de resultados educativos. Optou-se pela consulta a realidade de uma escola na periferia da cidade de Uberlândia, onde foram pesquisadas as percepções de sete professores desta unidade sobre a temática, englobando as: Teorias Psicogenéticas de Piaget, Sociointeracionista de Vygotsky e Construtivimo de Emília Ferreiro. Observou-se ao final da pesquisa de campo que neste espaço educativo existe um cuidado especial na união teoria e prática, para a construção de uma práxis pedagógica humanista, centrada nas necessidades das crianças ali atendidas, compreendendo ao final do trabalho que, a partir desta pequena amostragem de dados há na sociedade contemporânea, um encadeamento evolutivo para uma educação infantil segura e feliz.


Palavras-chave: educação infantil, alfabetização precoce, criança, sociedade



Introdução

O presente artigo teve como principal ponto de discussão a alfabetização precoce em escolas de Educação Infantil, a partir da cobrança social de resultados educativos na realidade de Uberlândia.
O cenário educativo encontra-se permeado de instituições voltadas para a educação, desde as mantidas pelos órgãos públicos federais, estaduais e municipais, até as escolas particulares, ongs e sindicatos.
Em todos estes ambientes há uma preocupação constante em oferecer e preparar o indivíduo para a vida em sociedade. Em razão desta realidade, verifica-se que a idade em que a criança vem sendo inserida no ambiente escolar é cada vez menor.
No Brasil os espaços destinados ao atendimento às crianças de 0 a 6 anos surgiram a partir das mudanças sociais e econômicas causadas pela revolução industrial no mundo todo. Esta, desestruturou o sistema feudal vigente, e estabeleceu um novo paradigma ? o capitalismo - em função da necessidade de produção em escala industrial.
Porém, o contingente de mão-de-obra masculina tornou-se insuficiente perante as novas exigências do mercado, levando as mulheres ? que até então eram responsáveis pelo cuidado com os filhos e dos afazeres do lar - a entrarem no mercado de trabalho.
Em conseqüência dos longos períodos de ausência da mulher, surgiu a necessidade de um local apropriado para a permanência de seus filhos. Isto motivou os (as) trabalhadores (as) urbanos a pressionar pela obtenção do direito a creche, pois viam nelas a possibilidade de melhores condições de vida para seus filhos. A partir dessas reivindicações deu-se início ao atendimento das crianças em instituições denominadas jardim de infância. ou creche.
No início do século XX, e aproximadamente até a década de 1920 as instituições brasileiras atendiam em caráter assistencialista.
No período de 1930 até 1970 os órgãos públicos estaduais e municipais responsáveis pelas instituições voltadas para o atendimento infantil, priorizaram como objetivos principais, além da proteção e higiene, os cuidados médicos e preventivos para combater a mortalidade infantil. Entretanto os jardins de infância, creches e pré-escolas foram criados em caráter emergencial e de maneira desordenada.
Então, a reforma educacional brasileira promulgada no ano de 1971 através da Lei nº. 5.692, "faz referência à educação infantil, caracterizando o seu exercício conveniente à escolas maternais, jardins de infância e instituições equivalentes".
A partir desta lei algumas mudanças começam a ser introduzidas no atendimento pela Educação Infantil, conforme ressalta SABBAG:

Houve um aumento das creches mantidas pelo poder público e creches domiciliares mantidas com apoio governamental. Tal aumento foi o resultado de um processo reivindicatório a favor da creche enquanto direito do trabalhador. Apenas nos últimos anos, a creche tem sido redefinida como um espaço educativo que contemple o desenvolvimento da criança nos aspectos cognitivo, emocional, afetivo, social e físico. A constituição de 1988 a reconhece como instituição educativa.


Porém, após a revolução industrial e tecnológica, o Capitalismo influencia a adoção de novos comportamentos nas esferas sociais. Destaca-se nesse contexto uma nova expectativa dos pais em relação às escolas de educação infantil. Estas passam a ser cobradas além do desenvolvimento lúdico-social das crianças, a preparação e contato com a leitura e a escrita, levando-os para o ensino fundamental alfabetizados.
Começa a surgir uma discrepância entre a metodologia pedagógica trabalhada nas instituições públicas, com as praticadas nas instituições privadas. Enquanto a primeira direciona o espaço educativo para o desenvolvimento afetivo, social e sensório-motor a segunda complementa o atendimento com atividades pedagógicas de alfabetização.
Esta nova postura encontra apoio no desejo dos pais em acelerar a educação dos filhos, respaldados na falta de conhecimento destes quanto à idade desejável para iniciar a alfabetização. Segundo Tempel:

Para a criança estar pronta para a alfabetização (e não pré), ela precisa de muitos requisitos como: concentração, saber ouvir, querer aprender a ler e a escrever, conhecer e comandar o seu próprio corpo ( direita, esquerda, maior, menor, em cima, em baixo, etc.), estar socializada, saber dividir, trabalhar em grupo, ter a coordenação motora fina e grossa pronta.


Estas habilidades são construídas no período compreendido de zero a cinco anos, e só após a criança estará com maturidade para ser alfabetizada. Contudo permeia no ambiente educativo divergência de opiniões quanto a esta faixa etária, como refere Lia Abbud "segundo os especialistas, existe uma hora certa para a criança desenvolver cada habilidade. Esses períodos foram batizados de "janelas de oportunidade."
Os menos radicais não vêem grandes problemas no processo de alfabetização precoce, desde que seja guiado pelo bom senso, mas não são avaliadas e observadas as conseqüências para o aluno. Lia Abbud argumenta que, "Se os benefícios da leitura precoce são duvidosos, os problemas provocados por uma iniciação mal conduzida já começam a aparecer nos consultórios pediátricos. Nesses locais, são cada vez mais comuns os casos de crianças que se queixam de dores de cabeça ou tem dificuldades de se expressar". Além desses problemas, muitas vezes é demonstrado desinteresse, falta de vontade de ir à escola e índices de reprovações nas séries iniciais do ensino fundamental.

Objetivos

Identificar e discutir as percepções de profissionais da Educação Infantil sobre a cobrança social de resultados educativos em relação à alfabetização precoce no desenvolvimento escolar das crianças, constituiu-se como objetivo geral desta pesquisa, e especificamente: discorrer sobre o conceito de alfabetização, verificar em que nível - de acordo com a experiência da comunidade pesquisada- a pré-alfabetização é útil na vida de uma criança, verificar a existência de uma idade ideal para alfabetizar, relacionar as habilidades que a criança deve construir para possibilitar o processo de alfabetização e destacar a ocorrência de problemas cognitivos e ou psicológicos oriundos dessa prática.

Fundamentação teórica

O referencial teórico desta pesquisa reportou-se a análise do desenvolvimento humano e da natureza da aprendizagem, pois segundo Zuin:
A escola será então um tempo e um espaço físico simbólico, de construção do desenvolvimento humano, de construção de liberdade e autonomia, um espaço e um tempo de dignidade, de solidariedade, de respeito por si próprio, pelos outros, pela aprendizagem e pelo envolvimento.
Para isso foram discutidos alguns pressupostos teóricos que norteiam o processo de interação?experimentação e construção dos esquemas lógicos das formas de agir, pensar e sistematizar experiências, sendo estas necessárias às crianças para efetivar a alfabetização.
O conceito de desenvolvimento humano é amplo e pressupõe que as pessoas sejam protagonistas enquanto sujeito e objeto do seu desenvolvimento. Este se dá à medida que ocorrem mudanças sucessivas e qualitativas, com a aquisição e aperfeiçoamento de capacidades e funções, que permitem realizar coisas novas, progressivamente mais complexas, com uma habilidade cada vez maior.
As teorias utilizadas tratam a questão do desenvolvimento sob diversos olhares, mas manteve-se o foco no desenvolvimento biopsicossocial, por este considerar as influências biológicas, psicológicas e sociais necessárias à construção da habilidade investigada.
De acordo com Içami Tiba (apud Bragante, Bragante e Pawel):

A Teoria do desenvolvimento biopsicossocial mostra que nós não somos somente uma capacitação profissional, mas pessoas que têm capacidade, nada supera o ser humano. Uma das características fundamentais no ser humano é a sua capacidade relacional e o viver em sociedade. Assim, ele construiu uma civilização. A convivência é interação. É das trocas relacionais que o ser humano se nutre. "

Entre as teorias do desenvolvimento, optou-se pelos estudos realizados por Jean Piaget (Estágios Cognitivos), Lev S. Vigotskii, entre outros, com o objetivo de compreender os mecanismos que sustentam a efetivação cada vez maior exercida pela família, sociedade e comunidade escolar na alfabetização precoce na educação infantil.

Piaget (apud TERRA, 2008, sp) postula que:
O homem é possuidor de uma estrutura biológica que o possibilita desenvolver o mental, no entanto, esse fato per se não assegura o desencadeamento de fatores que propiciarão o seu desenvolvimento, haja vista que este só acontecerá a partir da interação do sujeito com o objeto a conhecer. Por sua vez, a relação com o objeto, embora essencial, da mesma forma também não é uma condição suficiente ao desenvolvimento cognitivo humano, uma vez que para tanto é preciso, ainda, o exercício do raciocínio.

Sabendo que, apenas a maturação biológica e o crescimento dos órgãos não asseguram o desenvolvimento, Piaget esclarece também sobre a necessidade da interação com o objeto, pois "envolvem mecanismos bastante complexos e intrincados que englobam o entrelaçamento de fatores que são complementares, tais como: o processo de maturação do organismo, a experiência com objetos, a vivência social e, sobretudo, a equilibração do organismo ao meio".
Este conceito torna-se especialmente marcante na teoria de Piaget, pois representa o fundamento teórico que busca explicar o processo do desenvolvimento humano.
A necessidade de interagir com o objeto para possibilitar o desenvolvimento biopsicossocial das crianças é valorizada e defendida por BRANCO (2008), na estruturação do projeto È hora de Brincar, pois:

A brincadeira é um recurso que facilita explorar o espaço e conseqüentemente a maturação da criança, pois através do brincar a criança se modifica, permitindo, assim, uma interação ao se engajar na brincadeira social simbólica. Desta forma, o brincar como facilitador de estímulos beneficia no desempenho ocupacional e funcional das crianças gerando possibilidades de interação com o meio de forma segura e construtiva. No ato da brincadeira vários aspectos vão ser estimulados, desenvolvidos e trabalhados com o objetivo de oferecer estímulos relacionados com o aspecto psicomotor, socialização e o desenvolvimento interativo. É necessário, portanto, que cada criança possa receber em cada etapa de seu desenvolvimento uma estimulação adequada para evoluir de maneira significativa.


O desenvolvimento biopsicossocial na Teoria Histórico-Cultural de Vygotsky, dá a devida importância a influência dos costumes socialmente construídos, da presença de mediadores, onde o homem transforma o meio, para então desenvolver-se.
A aprendizagem é definida por Vygotsky como um conjunto de processos psicológicos (cognitivos, emocionais, motivacionais, comportamentais) que permitem a aquisição de (ou aprendam) algo novo. Diz respeito à construção e mudanças psicológicas relativamente estáveis e duradouras, nos domínios mais diversificados. A aprendizagem inclui vários elementos que a caracterizam como o processo e o resultado.
É sempre uma alteração comportamental relativa a um estado anterior, em que o indivíduo adquire uma conduta que não possuía, ou altera uma já existente.

Enquanto a Epistemologia Genética de Piaget estrutura a aprendizagem como:


Um processo de dupla face, por ele denominado de adaptação, o qual é subdividido em dois momentos: a assimilação e a acomodação. Por assimilação entende-se as ações que o indivíduo irá tomar para poder internalizar o objeto, interpretando-o de forma a poder encaixá-lo nas suas estruturas cognitivas. A acomodação é o momento em que o sujeito altera suas estruturas cognitivas para melhor compreender o objeto que o perturba. Destas sucessivas e permanentes relações entre assimilação e acomodação ( não necessariamente nesta ordem) o indivíduo vai "adaptando-se" ao meio externo através de um interminável processo de desenvolvimento cognitivo. Por ser um processo permanente, e estar sempre em desenvolvimento, esta teoria foi denominada de "Construtivismo", dando-se a idéia de que novos níveis de conhecimento estão sendo indefinidamente construídos através das interações entre o sujeito e o meio.

Diante do(s) conceito(s) de aprendizagem, buscou-se embasamento teórico que justifique o trabalho e atividades lúdico-pedagógicas com crianças de faixa etária de três a cinco anos, de forma que estas, alcancem o maior índice de aproveitamento cognitivo para a pré alfabetização. Uma vez que na concepção de Leontiev:

A infância pré-escolar é o período da vida em que o mundo da realidade humana que cerca a criança abre-se cada vez mais para ela. Em toda sua atividade e, sobretudo, em seus jogos, que ultrapassaram agora os estreitos limites da manipulação dos objetos que a cercam, a criança penetra um mundo mais amplo, assimilando-o de forma eficaz.



Então a criança assimila o mundo objetivo reproduzindo as ações humanas, e necessita de etapas sucessivas de ação e experimentação para que ocorra a aprendizagem.
Além dos teóricos elencados foi explorada durante a pesquisa a teoria Construtivista de Emília Ferreiro, pois este não se configura como um método, e sim um pensamento ou caminho de como fazer, como oportunizar a aprendizagem.

Resgatando a compreensão do sujeito cognitivo de Piaget, os estudos de Emília Ferreiro, colocam a criança como ser capaz, mesmo muito pequena, de criar hipóteses, de testá-las e de criar sistemas interpretativos na busca de compreender o universo que a cerca. A questão crucial da alfabetização não era de natureza perceptual, mas conceitual. Ou seja, por trás da mão que segura o lápis e escreve e de um olho que lê, está um sujeito que pensa sobre a escrita. E que essa existe em seu meio social, não apenas entre as quatro paredes da sala de aula e com a qual ele toma contato por atos que envolvem sua participação em práticas sociais de leitura e escrita.

No Construtivismo a criança se move, argumenta, modela e produz o conhecimento. Portanto há que considerar que a Educação Infantil deve ser um espaço para a criança construir habilidades essenciais de controle do próprio corpo, para convivência com o outro, e só então a criança estará apta a ter contato e assimilar conteúdos mais elaborados.

Metodologia

Optou-se pelo método dialético para subsidiar as pesquisas em torno do objeto, cuja especificidade foi a Alfabetização precoce na Educação Infantil, com ênfase na cobrança social de resultados educativos.
Esta pesquisa foi um estudo de caso, com o intuito de aproximar-se das vivencias das educadoras e professoras que atuam na educação infantil, em relação á cobrança da aceleração do processo de alfabetização de uma Escola Municipal de educação Infantil de um bairro da periferia de Uberlândia.
Para consulta da realidade teórico/prática que permeia o contexto da instituição educativa, foi elaborado um roteiro de pesquisa para abarcar as várias formações do corpo docente da escola, uma vez que dentre elas coexistem: pedagogas, psicólogas, geógrafa, médica veterinária e profissionais que concluíram o nível médio, tendo em vista que, esta última se enquadra como um dos requesitos de formação exigida em concurso público deste município para atuar na educação básica do ensino fundamental.
Perante a importância deste viés metodológico foi discutido com os(as) coordenadores(as) pedagógicos, as condutas e os diferentes critérios adotados para a seleção da faixa etária para alfabetização nesta instituição.
Este recurso buscou entender os motivos que subsidiam a antecipação do processo educativo praticada nas escolas e os anseios dos familiares em buscar uma alfabetização cada vez mais precoce para seus filhos.
Foi analisado casos de crianças pré-alfabetizadas precocemente que apresentaram problemas de imaturidade para compreensão de novos conteúdos nas séries posteriores.
Diante do exposto pode-se notar o quão rica são as experiências vivenciadas pelas crianças desta unidade educativa, e o potencial da devolutiva das entrevistadas nas questões/respostas formuladas.
Resultados obtidos


Foi ampla a possibilidade de contextualizar a pesquisa, uma vez que a relação sujeito e objeto na dialética veio cumprir-se pela ação do pensar. As sínteses foram constituídas numa relação de tensão, porque a realidade contém contradições.
Observou-se no decorrer do trabalho de pesquisa, que no mercado educacional é facilmente encontrado escolas, hotéis infantis e berçários destinados ao atendimento de crianças, com horários flexíveis, de acordo com a necessidade dos pais ou responsáveis.
Para o atendimento em longos períodos são criadas propostas de atividades recreativas (por meio de jogos, leituras, trabalhos manuais e tecnológicos) e pedagógicas ( identificação e leitura de rótulos, embalagens, vogais, exercícios de coordenação motora, textos coletivos, entre outros).
Os trabalhados realizadas com os pequenos os colocam em contato com o mundo letrado, e no ambiente educativo é promovido o envolvimento e interesse das crianças nas tarefas propostas pelas educadoras e em conseqüência destas dinâmicas elas são conduzidas a uma pré-alfabetização.

Análise dos dados envolvidos

Para dar cobro aos objetivos previamente definidos, esta pesquisa de campo tomou como fio condutor a consulta da realidade. Foram distribuídos dezoito questionários, contendo cinco perguntas, nas quais procurou-se abarcar as teorias discutidas anteriormente e que se propõem a respaldar as ações, procedimentos e práticas, no âmbito da escola.
O perfil das respondentes encontra-se dentro do almejado pelo Referencial Curricular da Educação Infantil, embora seja enriquecido por pessoas formadas em outras áreas como a saúde e meio ambiente.
A localização periférica da escola não constitui um requesito de desvalorização da mesma pelos pais das crianças ali atendidas, em contrapartida, são assíduos participantes da vida escolar das crianças, cada qual contribui de acordo com sua disponibilidade e formação, fatos estes que a colocaram como referencia do município nessa fase da educação infantil, diante das outras unidades coordenadas pela Secretaria de Educação de Uberlândia.
Obteve-se sete devolutivas, perfazendo 38% do total, cujas questões e respostas transcrevemos abaixo:

1ª O que significa alfabetizar uma criança?
Mara : significa ajudá-la a entender a representação simbólica da fala e das ações, assim como também a compreensão interpretativa dos mesmos em cada contexto.
Paola: significa apresentar à uma criança um novo mundo, através de uma simbologia plena de significados.
Beatriz: significa conduzir a criança levando métodos que facilitam o desenvolvimento e compreensão.
Carla: alfabetizar é capacitar uma pessoa a ler e a produzir diferentes tipos de textos.
Bruna: significa colaborar no processo de aquisição , significação, compreensão, interpretação para a socialização dessa criança com o mundo letrado, através da comunidade pela leitura e escrita.
Silvia: é um processo baseado na percepção e memorização da leitura e da escrita e a construção de conhecimento conceitual sendo preciso compreender o que a escrita representa e de que forma ela representa graficamente a linguagem.
Cássia: significa levar a criança a conhecer o mundo em que vive, se relacionar e interagir com todos os meios de comunicação disponíveis em nossa sociedade.

2ª De que forma a pré alfabetização pode ser útil na vida de uma criança?

Mara: é na pré alfabetização que a criança irá receber os estímulos adequados que irão levá-la à formação do pensamento contextualizado, ajudando assim sua futura alfabetização.
Paola: Sendo uma precursora do processo de alfabetização de forma lúdica e interativa possibilitando uma experiência plena.
Beatriz: para desenvolver sua coordenação motora, espacial e para interagir melhor com o futuro mundo da escrita.
Carla: capacita o indivíduo a desenvolver, social, psicológica e motoramente de maneira mais tranqüila
Silvia: para melhor compreensão dos códigos escritos, visuais e orais, para interpretar os desenhos animados que assiste na TV, compreender as músicas que ouve, ampliar seu vocabulário oral, para compreender as regras dos jogos e brincadeiras e as regras sociais de convivência.
Cássia: no sentido de desenvolver pré requisitos básicos para a alfabetização, habilidades indispensáveis a este processo.

3 De acordo com seu percurso de formação profissional, há uma idade ideal para alfabetizar ?
Mara: em meu percurso já vi as criança praticamente alfabetizada aos 4, 5 anos, não acho ideal pois esta é a fase da ludicidade, da fantasia que deveria ser explorada e valorizada.
Paola: creio que uma criança estimulada saudavelmente pode ser alfabetizada em qualquer idade.
Beatriz: não, ela pode ser desenvolvida e estimulada na criança desde pequena, mas não pode forçá-la para que esta não queime etapas.
Carla: acredito que se deve alfabetizar uma criança a partir dos 5 anos. Antes disso, desenvolveríamos a coordenação motora, o desenvolvimento social e o gosto pela leitura e escrita, fatores fundamentais para a futura alfabetização.
Bruna: acredito que não há uma idade para alfabetizar uma criança, mas penso que os estímulos devem começar bem cedo como por exemplo, folhear revistas, jornais, ter contato com o mundo da leitura e escrita, respeitando a maturidade de cada um.
Silvia: a criança inicia sua alfabetização antes mesmo de seu ingresso na escola, pois desde pequenina ela começa a ler o mundo, através dos reconhecimento das pessoas com quem convivem e dos rótulos dos produtos que consomem. Nesta fase inicia-se a alfabetização.
Cássia: levando em conta que alfabetizar não é apenas decodificação de sinais não há uma idade ideal, desde pequena a criança já está em contato com símbolos, e deve ser estimulada, mas não forçada.


4 Quais as habilidades que a criança deve construir antes de iniciar o processo de alfabetização ?

Mara: noções de forma, espaço, uma coordenação motora fina bem trabalhada, a afetividade bem resolvida, etc.
Paola: desenvolvimento motriz e a habilidade de distinguir símbolos e atribuir significado simbólico pode auxiliar o processo de alfabetização.
Beatriz: ter conhecimento do mundo em que rodeia ela, ter noções do que o professor pretende fazer e ter segurança em fazer o que lhe é solicitado, assim ela terá uma compreensão melhor do que irá fazer.
Carla: seria interessante que a criança tivesse desenvolvido a coordenação motora, a interação social, o gosto pelos livros e pelas letras.
Bruna: é importante estar familiarizada com o mundo da leitura e da escrita, ou seja, aquela criança que inventa letras ao desenhar, combina sílabas, pega livros e tenta adivinhar o que está escrito etc.
Silvia: é necessário desenvolver o gosto pela leitura, a contação de histórias com a releitura e produções orais e através das ilustrações feitas pelas próprias crianças, instigar a criatividade das mesmas e propor uma interpretação oral dos textos e histórias; as brincadeiras de faz de conta.
Cássia: concentração, coordenação motora fina.


5 Em sua trajetória profissional, você já encontrou crianças (ou relatos) que apresentaram problemas cognitivos ou psicológicos causados pela pré alfabetização? Em quais aspectos?

Mara: sim, crianças que são forçadas a alfabetizar-se muito cedo criaram traumas da escola e passaram a ter uma recusa e um retrocesso na aprendizagem nos anos posteriores.
Paola: sim, na socialização com outros indivíduos, através de timidez excessiva e ou agressividade diante de fatos novos
Beatriz: sim, houve casos de crianças entrarem no atual segundo ano sem uma pré alfabetização, isto gerou transtornos pois a criança era apelidada pelos colegas como burra e preguiçosa.
Carla: sim, muitas crianças não tiveram a pré alfabetização, entrando na escola quando muitas crianças já sabiam as letras. A falta de estímulo da coordenação motora pode incapacitar a criança de desenvolver-se igualmente a outras, fator que poderia fazer-se sentir menos insegura.
Bruna: estou iniciando minha trajetória profissional esse ano com uma turma de berçário (1 e 2 anos). Portanto, ainda não presenciei tal situação.
Silvia; sim, tanto no aspecto cognitivo quanto psicológico.problemas causados por atuações repetitivas, estereotipadas, positivistas, meras reproduções de "técnicas" que são executadas sem reflexão. A falta de investigação centrada na criança, se esta "não está aprendendo" existe algo de " errado" com ela.
Cassa: já encontrei relatos com problemas cognitivos em algumas matérias em séries mais avançadas, causadas possivelmente por pré alfabetização


Responder a essas indagações por meio da percepção dos profissionais que atuam no segmento da educação, e em particular na Educação Infantil, efetivou-se como roteiro percorrido na construção do presente artigo.
Diante das devolutivas recebidas das educadoras e professoras da escola pesquisada percebeu-se que existe uma excelente fundamentação teórica subsidiando suas ações com as crianças, não faltando a nenhuma delas o balanceamento entre o ideal filosófico da instituição e os anseios de uma sociedade estruturada a partir das necessidades de crescimento global de cada ser.
Nesse sentido argumenta Assis (apud Pinheiro, 2008):

Educação Infantil não se restringe apenas para a preparação para o Ensino Fundamental, ela deve favorecer a construção do desenvolvimento moral, deve respeitar a curiosidade da criança, levando-a à refletir sobre as perguntas que faz. A Educação Infantil precisa visar o desenvolvimento da criança em todas as suas dimensões: física, socioeconômica, intelectual e afetiva; ela não pode estar comprometida através dos seus propósitos e objetivos, com a situação de sucesso ou insucesso escolar de seus alunos em outros níveis de seu processo se escolarização (grifo meu).

Estas necessidades são, na contemporaneidade, fomentadas com a utilização da mídia, que vem reforçar a educação como um aparelho ideológico de controle do estado burguês capitalista, todavia pode-se observar que esta situação está em transformação, uma vez que o pensar está vindo antes do fazer na educação infantil.
Haja vista que, na construção das respostas, os profissionais entendem a alfabetização como uma habilidade de interagir e atuar no meio social que a criança vive, considera o educador professor como mediador e facilitador desse processo, reafirmando a Teoria Sócio-Interacionista de Vygotsky.
Compreendem que a pré alfabetização pode facilitar a criança no desenvolvimento de habilidades motoras e sociais indispensáveis à futura alfabetização, com o cuidado primeiro de não antecipar, não forçar os pequenos e com isso não existe uma idade ideal para alfabetizar, desde que, muito cedo as crianças tem contato com o ambiente letrado, na escola e fora dela. Estando este posicionamento embasado no Construtivismo, cujo pilar navega em construir continuamente o ato de aprender através do contato, do fazer.
São conscientes acerca das habilidades biopsicossociais necessárias para alfabetizar como: maturação dos esquemas cognitivos, manejo do corpo, delimitação de espaços, execução de movimentos refinados, discernimento das regras sociais, afetividade bem alicerçada e conhecimento de mundo.
Possuem vivencias que comprovam a ocorrência de problemas cognitivos e psicológicos causados por procedimentos de alfabetização baseado nas técnicas tradicionais repetitivas, muitas vezes com queima de etapas e centrado na visão professor-aluno, quando na teoria humanista todo processo deve originar das necessidades do aluno para assim se desenvolver.
Assim, todos os trabalhos idealizados, planejados, orientados e executados pelo corpo docente desta unidade educativa encontram-se respaldado nas teorias estudadas, com especial atenção na práxis pedagógica, ou seja, unem teoria a prática.
Desta forma, esperamos que este estudo venha a colaborar para que profissionais de outras instituições, seja ela pública ou privada conheça a realidade vivenciada nesse espaço de educação, e a partir dela possam fazer contribuições, ajustes e melhoramentos na sua prática
Serão avanços para uma construção de uma educação totalmente centrada no desenvolvimento global do ser , originada na pessoa, construída com ela, atingindo a humanização do ser professor, ser educador, ser aluno, desestimulando a instalação em muitos meios educacionais do custo-benefício da aceleração precoce da habilidade de ler e escrever, eliminando gradualmente esse procedimento ainda freqüente em nossa sociedade.













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