ALFABETIZAÇÃO: O LETRAMENTO DE PEQUENOS CONTADORES DE HISTORIAS

 

 

 

 

                                                   CRUZ BANDEIRA, Geralda  Rodrigues da

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Este trabalho teve como objetivos, oportunizar o processo de letramento por meio de manuseio e audição da leitura de livros infantis. Viabilizando situações de comunicação oral, levando as crianças a interagir e expressar seus desejos, necessidades e sentimentos por meio da linguagem oral. Despertar o interesse das crianças pela leitura através do contato com os livros, CDs e DVDs, criando assim um ambiente propício ao processo de letramento. O resgate da parceria com a família foi de fundamental importância para que as crianças despertassem para a importância da leitura  e adquirissem este hábito. A pesquisa e seleção foram feitas através das obras da biblioteca do Centro Municipal de Educação Infantil “Caminho do Saber”. Com esse acervo em mãos, foram elaboradas as maletas com diversos motivos infantis em E.V. A,  transformando-a agora em uma “Maleta de Contos” para cada aluno, uma maleta única e pessoal.  A partir desse momento apresentou se a proposta para as educadoras Soelir Souza Cabral e Hemeleine Castanheira Constantino, no próximo momento as mesmas levaram o projeto para salas de aula e  repassaram aos educandos do Pré I e II.  Todos os dias as crianças seriam sorteadas com uma obra e a levariam para casa, para que alguém da família fizesse a leitura.  Com essas leituras evidenciaram que a criança manteve um contato com outras realidades, culturas, experiências e visões de mundo, além de fazer parte do imaginário infantil. Quase naturalmente, a prática de ouvir histórias desperta habilidade importante para o desenvolvimento das crianças. Ela remete à contemplação e reflexão, e isso é imprescindível num mundo acelerado como o que vivemos, as historias ajudaram a compreender os conflitos internos pelos quais estavam passando e foram, além de tudo, a porta de entrada para o mundo das letras e dos livros.

Palavras-chave: Leitura, letramento, histórias.

INTRODUÇÃO

 

 

Este relato apresenta a experiência bem sucedida desenvolvida no Centro Municipal de Educação Infantil “Caminho do Saber” relacionado ao projeto “Contadores de Historias” do Pré I e II, com as professoras Izair e Evânia, e orientadas pela coordenadora Geralda Rodrigues da Cruz Bandeira da Educação Infantil Municipal. Em média, cerca de 50 educandos do Centro Municipal de Educação Infantil “Caminho do Saber” da rede pública de ensino de Santa Rita do Araguaia - GO, de faixas etárias homogêneas e condições sócio-econômicas bem diferenciadas, participaram dos encontros, que se realizaram no primeiro semestre letivo de 2012.

Com o objetivo de oportunizar o trabalho educativo com a diversidade cultural, de se contar e dramatizar histórias para o desenvolvimento psicológico, sócio-comunicativo e afetivo das crianças, atividades de leitura de cunho multiplicativo foram trabalhadas, visando estreitar a relação de afeto e comunicação entre professores, família e alunos por meio de atividades lúdicas e prazerosas. Com esse novo modo de abordar atos de leitura em sala de aula, tenta-se despertar nos alunos o gosto pela leitura.

Tanto nos encontros com os alunos, como nas aplicações das sugestões, os resultados foram bem sucedidos e isso desencadeou a produção deste texto que, além desta introdução, possui três partes: (1) suporte teórico utilizado; (2) descrição das propostas de atividades realizadas com os educandos; (3) resultados obtidos, além de algumas considerações finais.

 

 

  1. 1.      JUSTIFICATIVA

 

O tema leitura traz arraigado em si motivos pelos quais poucos gostam de ler. Existem sujeitos que lêem com regularidade, outros o fazem apenas para sobreviver e outros ainda saem da escola até sem saber ler. Os baixos rendimentos em leitura explicitados pelos exames nacionais nos alertam para isso. Os motivos deste problema são atribuídos a fatores que vão do sócio-econômico ao educacional. De fato, esses dois fatores se inter-relacionam, mas a escola, que tem um papel fundamental e privilegiado na formação de leitores, carrega a parcela maior desse bloco de motivos.

Observamos que ler não é somente decodificar signos lingüísticos. É um processo no qual o leitor efetua um trabalho ativo de construção de significado do texto, abrangendo uma série de estratégias inconscientes, como: antecipação, inferência, conhecimento de mundo e confirmação/refutação de hipóteses.

Parece-nos, que as atividades de leitura proporcionadas pela escola não avançam para além da decodificação. Para Villardi:

[...] Se o aluno passa a associar o texto a algo que vem depois, se para ele o livro é apenas um elemento que detona outro trabalho, e este, sim, é o importante, então todo o processo de valorização do livro e da leitura se perde, impedindo que a criança compreenda que o prazer pode e deve estar no simples ato de ler, descobrindo uma variedade de sentidos no que se leu

( 1999, p. 11).

       Evidenciamos a utilização de histórias infantis, com seus traços fantásticos e imaginativos, em atividades de “contação” ou dramatização de histórias, pode ser uma forma de abordar a leitura em sala de aula das séries iniciais e, assim, conquistar leitores, revertendo essa situação.

       Para Bruno Bettelheim:

[...] quando os contos de fadas estão sendo lidos para crianças em salas de aula ou em bibliotecas durante a hora da história,  as crianças parecem fascinadas. Mas com freqüência elas não recebem nenhuma oportunidade de meditar sobre os contos ou reagir de outra forma; ou eles são amontoados imediatamente com outra atividade, ou outra história de um tipo diferente lhes é contada, o que dilui ou destrói a impressão que a história de fadas criou [...] Mas quando o contador dá tempo às crianças de refletir sobre as histórias, para que mergulhem na atmosfera que a audição cria, e quando são encorajadas a falar sobre o assunto, então a conversação posterior revela que a história tem muito a oferecer emocional e intelectualmente, pelo menos para algumas crianças (1980, p. 75).

A despeito disso, as crianças vivem intensamente as aventuras desses heróis imaginários, fazendo relações com o mundo real e percebem a existência de conflitos e valores outros no seu dia-a-dia, na sua relação com a família, com a escola e com os amigos. Enfim o contato com esse mundo fantástico e mágico lhes permite exteriorizar seus sentimentos e, com isso, amenizar seus conflitos internos ( BETTELHEIM, 1980, p. 75).

De acordo com Abramovich, ela distinguiu que, nas atividades de ouvir e contar histórias, “[...] se descobrem palavras novas, entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes. Capta-se o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção” (1991, p. 18). 

Além disso, ressaltamos a importância da criatividade do educador e educando para transformar a tarefa em algo significativo e prazeroso, pois a imaginação ao se trabalhar com leitura é algo fundamental e necessário para que se consigam resultados positivos durante o desenvolvimento da atividade.

2 . MATERIAL E MÉTODO

 

Muitos aspectos do processo de construção e organização da experiência humana são pensados na linguagem.

Concluímos de que o importante é trabalhar com o que é interessante e prazeroso para o aluno; só assim é que ele irá aprender e compreender o que está sendo ensinado. O que é ensinado tem que ter sentido para o aluno se não houver não há interesse, não há compreensão, não há aprendizagem.

Acreditamos que o trabalho desenvolvido pelas professoras contribuiu significativamente para a aprendizagem dos alunos. Nas atividades descritas acima, foi possível perceber como eles se envolveram, participaram, criaram, interagiram e, sobretudo, leram bastante.

Com o trabalho posterior à leitura dos livros, como a recontagem das histórias, as ilustrações, as discussões que emergiram e, as aulas se transformaram, houve um grande interesse dos alunos pelas histórias e, principalmente, em assistir às apresentações dos colegas. Além disso, puderam se expressar livremente aprenderam a tomar decisões e a negociar com os outros estudantes, assim como desenvolveram o senso de responsabilidade e a organização.

Em relação à parceria com a família nesse contar, no primeiro momento houve certa rejeição ao trabalho das professoras, no qual solicitou a família para fazer a leitura com as crianças, mas foi somente o impacto do primeiro momento, tudo que nos remete ao trabalho em família, se torna preocupante, porque não sabemos ainda lidar com compromissos familiares, e sim chegar em casa e jogar-se no sofá e gritar a alguém pra trazer isso ou aquilo. Passou o impacto, os familiares começaram vir à escola e fazer um acordo verbal com as educadoras, no sentido de viabilizar junto aos filhos a leitura.

Aos profissionais da educação, parece-nos que a experiência fez com que acreditassem mais em seu potencial e no dos alunos, mostrando disposição para se aperfeiçoar, aprimorar suas aulas e, principalmente, mudar procedimentos e técnicas, passando a adotar novas atividades que propiciaram momentos agradáveis para eles e para os estudantes.

3 . RESULTADO E DISCUSSÃO

Adotando como hipótese que “[...] todo processo de formação tem de ter como referência fundamental o saber docente, o reconhecimento e a valorização do saber docente [...]” (CANDAU, apud MIZUKAMI, 2002, p. 203), resolvemos, como forma de educação continuada, resgatar o contar das historias entre família, participantes do projeto “Contadores de Historias”, sobre o papel da contação de histórias no desenvolvimento psicológico, sócio-comunicativo e afetivo das crianças, e propor meios para incentivar o gosto pela leitura.

Visamos, assim, (a) abordar a leitura através de historia; b) evidenciar ao professor o imaginário de outra cultura e produzir efeitos estimulantes para a prática da leitura; (c) enfatizar a importância da oralidade e da palavra como instrumentos de comunicação, pois, ao regatar essa tradição, valoriza-se a linguagem no seu aspecto oral, gestual e dramático. Além disso, ao deixar transparecer todas as formas da linguagem no processo de dramatização, a criança demonstra o que traz o texto, ou seja, o seu entendimento e (d) por meio das possíveis leituras e interpretações, levar o professor a despertar nos alunos o gosto pela leitura, de forma que eles passem a ler outros gêneros discursivos e se mantenham em contato com outros tipos de textos e livros.

Assim, iniciamos nosso trabalho com a apresentação de um breve histórico sobre as origens da leitura de historia, realizando discussões sobre o caráter literário dos mesmos e expondo questões que envolvem as adaptações, simplificações e traduções, bem como as tendências de renovação do modelo tradicional.

Também foram apresentadas propostas de atividades para serem realizadas em sala de aula, como as de narração e escutam, leituras em grupo e discussões, leituras dramatizadas com a utilização de fantoches e dedoches, além da exposição de técnicas para incrementar a contação de histórias e a confecção de materiais, como desenhos, colagens e sucatas para a elaboração de personagens das histórias infantis.

Motivados pelos resultados, os educadores aplicaram tais atividades em suas turmas e obtiveram respostas positivas, estimulando nos alunos o gosto e o interesse pela leitura. Ao verbalizarem a disposição para se aperfeiçoar, aprimoraram suas aulas e, principalmente, mudaram procedimentos e técnicas que já não geravam as respostas esperadas, como será possível observar a partir da análise dos depoimentos que constam das avaliações do curso e que serão apresentadas a seguir.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje em dia, contar e ouvir histórias e “causos”, momento tão fértil e prazeroso para a evolução do ser humano, foi banido do contexto familiar e social. Em seu lugar, os indivíduos jogam-se em frente à televisão, computadores e jogos. Apesar desses recursos também ofertarem narrativas e lazer, esses meios de comunicação massificam as experiências, inviabilizam e banem o diálogo, a interação e a integração entre os adultos e as crianças.

Mesmo assim, como já ressaltado neste artigo, as crianças ainda se encantam com as leituras, pois são atraentes, despertando-lhes interesse pela narrativa. Por isso, os educadores possuem um papel de suma importância no resgate da cultura mais tradicional, utilizando a sala de aula como espaço criativo, para desenvolver uma cumplicidade em projetos com parcerias com a família e escola para contar e ouvir historia, a fim de que permaneçam “vivas”, estimulando o imaginário das crianças e, principalmente, estimulando-os e despertando o prazer  de ler.

Dentre as sugestões apresentadas para serem trabalhadas em sala de aula, os professores buscaram textos que motivem e envolvam os alunos e, ao mesmo tempo, sem nunca esquecer de que nossa matéria-prima primordial é o ser humano e que, embora ainda em evolução, possui personalidade, vontades e opiniões que devem ser respeitadas.

A valorização do educando e a criatividade do educador são parceiras desenvolvendo aspectos importantíssimos para que se tenha sucesso no trabalho com a leitura. Por isso, esses profissionais são seres humanos que fazem de suas ações enquanto educadores, uma melhor forma para que a aprendizagem ocorra e os educandos construam seus conhecimentos.

5. REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione,1991, p. 18.

BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1980, p. 75

MIZUKAMI, M. G. N. et al. Escola e aprendizagem da docência: processos de investigação e formação. São Carlos: EDUFS Car, 2002, p. 203.

VILLARDI, R. Ensinando a gostar de ler e formando leitores para a vida inteira.

Dunya: Rio de Janeiro, 1999.