Sempre que volto de uma viagem internacional me deparo com algumas dúvidas sobre vários assuntos a respeito do meu país, em especial quando o assunto é sustentabilidade. A sustentabilidade é algo tão essencial no mundo atual que me chama bastante atenção a sua falta de importância recebida pelo Brasil, em termos práticos.

Um pouco é falta de atitude da população. Em outros casos é falta de incentivo do governo, mas no final tudo acaba no mesmo lugar: a falta de projetos sustentáveis que realmente funcionem.

Sabe-se que tudo o que envolve dinheiro, principalmente quando o assunto é recompensa, faz com que a população se dedique um pouco mais, na falta de conscientização trabalha-se com a questão da recompensa.

Estive há pouco tempo fazendo uma viagem pela Europa e os países que mais me chamaram a atenção pelas práticas sustentáveis foram sem dúvida a França, com seus vários carros elétricos circulando ou estacionados pela cidade, e a Alemanha com seus geradores de energia eólica ao longo de qualquer área pelo interior do país, com suas casas de qualquer camada social possuindo placas de energia solar, com seu sistema de recompensa de devolução da garrafa pet nos supermercados, com seu sistema de pagamento por qualquer sacola plástica nos supermercados, com o indescritível número de produtos que são vendidos em embalagens de vidro retornáveis ou ainda com seu sistema de recompensa pelo uso de bicicletas, meio mais sustentável de transporte. São somente alguns pontos e formas de sustentabilidade que tive oportunidade de vivenciar naquele país.

Meu foco neste texto realmente será a Alemanha por possuir mais formas de utilização de energia limpa e meios de economia de fontes energéticas. Viajando de trem por diversas cidades do país me chamou a atenção campos com flores amarelas e seus geradores eólicos de energia além de campos e casas com placas de energia solar. No Brasil, podemos até querer colocar essas placas, mas infelizmente elas têm alto custo financeiro e nenhum tipo de incentivo. Já na Alemanha, o governo oferece subsídio para quem quer instalar placas em suas casas e utilizar a energia solar. Assim, quem produz energia pode até vendê-la para seus vizinhos a um preço competitivo, mesmo porque quem usa energia limpa paga menos impostos.

Outra forma bastante interessante, e que funciona muito bem no país inteiro, é o sistema de recompensa por devolver as garrafas pet para os supermercados a fim de realmente serem recicladas. Quando se compra qualquer bebida em garrafa pet paga-se um depósito, chamado Pfand, que normalmente custa entre EUR 0,25 e EUR 0,50, dependendo do tipo de pet que foi utilizado para fabricar a garrafa, além do custo da bebida. Esse valor pago pode ser recuperado levando-se a garrafa vazia depois a qualquer supermercado que tenha uma máquina especifica que identifica o tipo de material da garrafa e tritura a mesma devolvendo ou o dinheiro ou em crédito para utilização em qualquer compra no mesmo mercado. Sendo assim, esse Pfand pago pela utilização da garrafa pet é devolvido se você devolver as garrafas ao supermercado para ser triturado e reciclado. Isso faz também com que aumente a renda familiar de muitas famílias, pois algumas pessoas não guardam as garrafas e as colocam no lixo, assim famílias recolhem e levam ao supermercado tendo o dinheiro em crédito para fazer compras.

Ainda nos supermercados se podem ver outras duas formas de sustentabilidade: a primeira é o pagamento de sacolas plásticas, que são sacolas muito boas e que podem ser guardadas e utilizadas novamente em novas compras, além de sustentarem bastante peso, o que faz com que se comprem menos sacolas e elas não rasguem. É interessante salientar que dificilmente veremos alguém comprar sacolas, quase todos já carregam sacolas retornáveis, facilmente dobráveis, e que podem ser utilizadas caso as pessoas tenham uma necessidade, ao longo do dia de fazer alguma compra. Quem não usa sacolas, usa as cestinhas da bicicleta. Muito interessante a iniciativa.

Ainda em relação aos supermercados, a outra forma de sustentabilidade percebida é o vasto numero de produtos que encontramos em garrafas de vidro ao invés de embalagens de metal ou plásticas, por exemplo. São pequenas atitudes que fazem bastante diferença.

No Brasil as empresas Coca-Cola e Fruki voltaram a fabricar os refrigerantes em garrafas retornáveis de vidro, porém só são encontradas em pequenos mercados de bairros.

Por fim, entramos na questão das bicicletas, principalmente no programa MO de recompensa por utilizar bicicletas. Este é um projeto na cidade de Munique que faz com que, ao se utilizar bicicletas para locomover-se na cidade com o sistema MO, sejam concedidos descontos em passagens de metrô, ou até mesmo a gratuidade. É uma iniciativa muito interessante sob o ponto de vista de que muitos ainda preferem andar de carro e quando o assunto é recompensa a questão começa a mudar um pouco.

Logicamente, não poderia deixar de falar dos inúmeros quilômetros de ciclovia e de bicicletas que existem pela Alemanha. Em qualquer cidade, seja grande ou pequena, as pessoas utilizam como o melhor e mais eficiente meio de transporte. No país há ruas bem amplas, semáforos, transporte subterrâneo ou sob superfície e ainda assim escolhe-se a bicicleta para circular.

Estamos no início de um grande processo de ciclovias no Brasil, a fim de promover e incentivar o uso deste meio de transporte muito prático e eficiente, porém estamos longes de chegar num ideal tanto quando falamos em ciclovias quanto em formas diversas de sustentabilidade. Este tema ainda é muito discutido em diversos fóruns e seminários, mas percebe-se falta de informação e educação por parte da nossa população como dito no início deste artigo.