Eduardo Chaves de Sousa1
José Robério de Sousa Almeida²

1 - Graduando em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM). Avenida Dom Aureliano Matos, 2058, Limoeiro do Norte – Ce.

E-mail: [email protected]

2 - Professor Especialista do Curso de Ciências Biológicas - FAFIDAM/UECE
 

 


INTRODUÇÃO

                  

                   Período fundamental do desenvolvimento dos indivíduos, a adolescência marca a transição da infância para a maturidade. É caracterizada pelo aumento da liberdade e por maior mobilidade social e exige o rápido desenvolvimento de habilidades em muitas áreas. Os adultos começam a esperar atitudes mais responsáveis por parte das pessoas que deixam de ser crianças e cobram dos adolescentes a adoção de comportamentos compatíveis com os seus. E imitar o comportamento dos adultos inclui beber (Fishman, 1988).                       

                   Segundo Vieira et al. (2007), apesar das diferenças socioeconômicas e culturais entre os países, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta o álcool como a substância psicoativa mais consumida no mundo e também como a droga de escolha entre crianças e adolescentes. No Brasil, o álcool também é a droga mais usada em qualquer faixa etária e o seu consumo entre adolescentes vem aumentando, principalmente entre os mais jovens (de 12 a 15 anos de idade) e entre as meninas.

                   De acordo com o “V Levantamento Nacional com Estudantes” realizado em 2004 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), 65,2% dos estudantes relataram uso na vida de álcool; 44,3% nos últimos 30 dias; 11,7% uso freqüente, ou seja, seis ou mais vezes no mês; e 6,7% uso pesado, isto é, 20 ou mais vezes no último mês.

                   Além da alta prevalência do consumo de álcool por adolescentes, dois outros fatores são relevantes: a idade de início do uso de álcool e o padrão de consumo. Estudos sugerem que a idade de início vem se tornando cada vez mais precoce – no Brasil, a média de idade para o primeiro uso de álcool é 12,5 anos. Por sua vez, quanto mais precoce a experimentação, pior as conseqüências e maior o risco de desenvolvimento de abuso e dependência de álcool (Meloni & Laranjeira, 2004).

                   Quanto ao padrão de consumo, a literatura revela que quando adolescentes bebem, tendem a fazê-lo de forma pesada, apresentando episódios de abuso agudo, ou seja, beber cinco ou mais doses em uma ocasião. Tal comportamento aumenta o risco de uma série de problemas sociais e de saúde, incluindo: doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, infarto do miocárdio, acidentes de trânsito, problemas de comportamento, violência e ferimentos não intencionais.

                   Galduroz et al. (2004) defende que a população jovem é vulnerável às conseqüências negativas, e muitas vezes trágicas, do uso de bebidas alcoólicas. Nos Estados Unidos, o álcool está envolvido nas quatro primeiras causas de morte entre indivíduos na faixa de 10–24 anos: acidentes de trânsito, ferimentos não intencionais, homicídio e suicídio. Dados brasileiros associados ao uso de álcool e estas conseqüências ainda são escassos. Sabe-se, porém, que os acidentes de trânsito são freqüentemente relacionados à alta concentração de álcool no sangue. Tais acidentes acontecem mais freqüentemente à noite e aos finais de semana e a maioria dos envolvidos são homens, majoritariamente jovens e solteiros.

                   Segundo Carlini et al. (2000), um estudo toxicológico com 5.960 amostras de sangue e vísceras de vítimas com ferimentos fatais realizado em 1994 no Instituto de Medicina Forense em São Paulo mostrou que 48,3% das vítimas tinham alcoolemia positiva. As proporções, entretanto, variaram com a causa da morte: foi detectada a presença de álcool no sangue em 64,1% das vítimas de afogamento; 52,3% dos homicídios; 50,6% das vítimas de acidentes de trânsito e 32,2% dos casos de suicídio. Especificamente quanto à relação entre uso de álcool e homicídio, estudo realizado entre 1990 e 1995 na cidade de Curitiba (Paraná) mostrou que 53,6% das vítimas e 58,9% dos autores dos crimes estavam intoxicados no momento do crime.

                   Desse modo, nota-se que a compreensão dos problemas relacionados ao consumo de álcool entre adolescentes deve se estender para além da prevalência do uso, e considerar também os diversos fatores que influenciam o comportamento de beber. Conhecer os motivos que levam os adolescentes a abusar do álcool e as conseqüências desse ato é particularmente importante para a implementação de políticas públicas de prevenção e combate ao consumo de bebidas alcoólicas pelos jovens. Partindo dessas premissas, o presente estudo tem como objetivos identificar e relacionar os principais fatores que influenciam os adolescentes ao uso e abuso do álcool e as conseqüências mais relevantes desse comportamento.

 

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

            O presente estudo foi realizado por meio de levantamento bibliográfico feito na Biblioteca da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM), no dia 24 de julho de 2008, e na Biblioteca Pública Municipal de Limoeiro do Norte Dr. João Eduardo Neto, no dia 25 de julho de 2008. Também foram utilizados artigos científicos obtidos através da Internet, publicados na página da Scielo, todos obtidos no dia 18 de julho de 2008.

            Com o material bibliográfico obtido foi feito um estudo do tema aqui discutido, evidenciando diversos aspectos sobre a questão do Álcool, incluindo os fatores de risco ao uso e abuso, além dos seus efeitos na saúde e na vida familiar e social dos adolescentes.

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO


 

Fatores influentes ao uso do álcool

 

            Tendo como base os estudos de Fishman (1988) e Vieira et al. (2007), podem-se listar seis principais fatores que influenciam o comportamento de beber:

  1. Contexto Familiar e Social. A crença de que uma reunião social possa não ser agradável sem que inclua consumo de álcool é comum na nossa sociedade. Os adolescentes são inclinados a imitar os pais, outros parentes e heróis da televisão, dos livros, do rádio ou do cinema. É comum um adolescente dizer que começou a beber porque viu que isso era um hábito de alguém que ele admira. Uma pesquisa realizada por Vieira et al. (2007) com estudantes de Paulínia (SP), revela que 40,4% dos alunos relataram que familiares foram os primeiros a lhes oferecer bebida alcoólica e, que quase metade (47,9%) afirmou que há alguém na família que bebe demais;
  2. Curiosidade e Experimentação. Muitos adolescentes sentem curiosidade de experimentar o sabor da bebida que eles vêem os outros os outros ingerir. Além disso, querem explorar os efeitos da bebida, por meio do abuso. Querem saber como é estar embriagado ou intoxicado;
  3. Pressão dos amigos. Para muitos garotos e garotas seguir a moda pode ser uma necessidade, assim como gostar de certos tipos de música. Nesse estágio eles se encontram psicologicamente imaturos para exercer o senso crítico e a capacidade de julgamento, absorvendo influências sem refletir sobre elas. Se beber está na moda entre determinado grupo de adolescentes, poucos serão dotados de segurança e senso crítico suficientes para criticar a bebida ou simplesmente recusar-se a beber. No estudo de Vieira et al. (2007), 35,5% dos alunos disseram que amigos foram os primeiros a lhes oferecer bebida alcoólica e 62,4% relatam beber mais freqüentemente na companhia de amigos.
  4. Prazer. Muitos adolescentes usam o álcool como estimulante para a diversão e o namoro, isto é, para os prazeres. Incluem bebidas em festas, idas ao cinema ou ao jogo de futebol como elementos favoráveis ao prazer. Trata-se de um mecanismo cultural que identifica o álcool com o prazer e que deve ser desmascarado.
  5. Problemas emocionais. Um dos efeitos imediatos do álcool é o de tranqüilizante ou de causador de euforia e bem-estar. Um indivíduo que esteja enfrentando momentos de tensão, nervosismo, conflitos com a família, com amigos ou dificuldades no relacionamento pode entregar-se ao álcool para suprimir temporariamente a depressão, a ansiedade e os sentimentos de medo. Acabam aí agravando os problemas em vez de resolvê-los.
  6.  Facilidade de acesso. Além de tudo que já foi citado, um outro fator que contribui fundamentalmente para o uso do álcool entre adolescente é a disponibilidade comercial e o preço. As bebidas alcoólicas são encontradas facilmente, em qualquer lugar e com preços acessíveis aos jovens. Apesar de existirem leis que proíbem a venda de bebidas a menores de 18 anos, essa é uma prática comum e que deve ser combatida.

 

Conseqüências do uso do álcool

 

            No que diz respeito às conseqüências do uso e abuso do álcool, podemos dividir seus efeitos em duas categorias:

I)                   Efeitos do álcool na saúde;

II)                Efeitos do álcool na vida familiar e social.

 

I) Efeitos do álcool na saúde

           

            De acordo com o trabalho de Balbach (s.d.) podemos listar como principais efeitos do álcool na saúde:

1.      Efeitos do álcool sobre o esôfago, o estômago e os intestinos. O álcool provoca irritações na mucosa gástrica e nas paredes do intestino, prejudicando a digestão e diminuindo o apetite. Além disso, o câncer no estômago é mais freqüente nos alcoólatras que nos abstinentes e, 90% dos casos de câncer do esôfago são devidos ao abuso do álcool;

2.       Efeitos do álcool sobre o fígado. Autoridades competentes reconhecem que 90 % dos casos de cirrose hepática têm como causa o alcoolismo. Quando o fígado sofre engrossamento pela cirrose as veias procedentes do intestino são constringidas e o sangue é obrigado a deixar escapar, por escoamento, a parte líquida, reunindo muito líquido no ventre. Daí, a ascite, vulgarmente conhecida como “barriga d’água”;

3.      Efeitos do álcool sobre os rins. O álcool provoca irritação nos rins, prejudicando seu funcionamento normal, acarretando a hidropisia (infiltração da água da urina nos tecidos) e, posteriormente, a uremia (presença de grande quantidade de substâncias tóxicas no sangue).

4.      Efeitos do álcool sobre os brônquios e os pulmões. Parte do álcool é eliminada pelos pulmões e pelos brônquios, provocando irritações nesses órgãos. Os alcoólatras são muito sujeitos às bronquites, e também às afecções pulmonares, especialmente à tuberculose.

5.      Efeitos do álcool sobre o coração. O álcool, a princípio, acelera as contrações cardíacas. Em seguida, o coração diminui seus batimentos e a circulação sanguínea se torna mais lenta, acarretando má circulação do sangue. Além disso, o álcool provoca lesões nas fibras nervosas e nos vasos do próprio coração.

6.      Efeitos do álcool sobre o sistema vascular. O álcool é responsável por cerca de 25% dos casos de arteriosclerose. Ele também atua aumentando a pressão arterial e maximizando os riscos de acidente vascular cerebral (AVC);

7.      Efeitos do álcool sobre o sistema nervoso. O álcool prejudica o funcionamento dos centros de coordenação motora e o sistema nervoso sensitivo. Ao agir sobre os centros superiores do cérebro, priva o indivíduo, momentaneamente, do uso da razão. Esse estado de loucura passageira é um fator muito importante na produção de crimes. É também um fator de risco para uma diversidade de doenças mentais.

                   As estatísticas provam que o uso do álcool diminui a longevidade proporcionalmente à quantidade ingerida e à duração do vício por parte do indivíduo.

 

II) Efeitos do álcool na vida familiar e social

 

                   As conseqüências negativas devido ao uso de álcool interferem em diferentes áreas da vida dos adolescentes: vida escolar, comportamento sexual, problemas de comportamento, violência e acidentes.

                   Segundo o estudo de Vieira et al. (2007), as principais conseqüências do uso de álcool apontadas pelos estudantes são apresentadas na tabela a seguir:

 

Tabela 01. Conseqüências do uso de álcool relatadas pelos adolescentes segundo o estudo de Vieira et al. (2007).

 

                   Como conseqüências do consumo, o álcool potencializa a propensão dos jovens a se engajarem em comportamentos de risco. Mesmo o consumo eventual revela poder expô-los a problemas como acidentes de trânsito, comportamento sexual de risco (doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada), violência, ferimentos não intencionais, problemas acadêmicos e outros. Tais prejuízos estão relacionados principalmente ao abuso agudo, e as complicações mais relatadas foram concordantes às propriedades farmacológicas do álcool sobre o organismo.

 

 

CONCLUSÃO


 

                   Os resultados encontrados permitem tirar as seguintes conclusões:    

  1. Apesar de álcool e jovens não combinarem, essa “mistura” acontece muito freqüentemente, e o comportamento de beber dos adolescentes ocorre a olhos vistos. É provável que fatores como a omissão do poder público e a permissividade da sociedade em relação ao álcool contribuam para o quadro observado neste estudo;
  2. O consumo de álcool constitui-se um problema de saúde pública, uma vez que não afeta só o consumidor, mas toda a sociedade, resultando num alto custo social evitável;
  3. Ao poder público cabe, por meio de estratégias adequadas, proteger a sociedade dos problemas relacionados ao consumo de álcool, conscientizar seus cidadãos e possibilitar que exerçam sua cidadania exigindo e colaborando para uma comunidade mais segura e saudável.

 

 

REFERÊNCIAS


 

BALBACH, Alfons. O Álcool e a Saúde. 17 ª ed. São Paulo: A Edificação do Lar, [s.d.].

 

CARLINI, Cotrim B.; GAZAL, Carvalho C.; GOUVEIA, N.. Comportamentos de saúde entre jovens estudantes das redes pública e privada da área metropolitana do Estado de São Paulo [online]. Revista Saúde Pública, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?. Acesso em: 18.07.08.

 

FISHMAN, Ross. Alcoolismo. Coleção tudo sobre Drogas. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

 

GALDUROZ, J.C.F.; NOTO, A.R.; FONSECA, A.M.; CARLINI, E.A.. V levantamento nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino nas 27 capitais brasileiras [online]. Centro Brasileiro de informações sobre Drogas psicotrópicas, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?. Acesso em: 18.07.08.

 

LARANJEIRA, R.; ROMANO, M.. Consenso brasileiro sobre políticas públicas do álcool [online]. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?. Acesso em: 18.07.08.

 

MELONI, J.N.; LARANJEIRA R.. Custo social e de saúde do consumo do álcool [online].  Revista Brasileira de Psiquiatria, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?. Acesso em: 18.07.08.

 

VIEIRA, Denise Leite; RIBEIRO, Marcelo; ROMANO, Marcos; LARANJEIRA, Ronaldo R..  Álcool e adolescentes: estudo para implementar políticas municipais [online]. Revista Saúde Pública, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?. Acesso em: 18.07.08.