José Maria Couto Moreira*

Não se sabe porque a política de tolerância zero como gestão de segurança e defesa social ainda não foi adotada pelo poder público. Todos conhecem a experiência implantada alhures, com inteiro êxito. Mecânica operacional para realizá-la não nos falta, certos da bravura e competência das forças civis e militares.
Estamos lenientes com a repressão à criminalidade, dir-se-ia a um passo da inversão da administração social da violência, visto que os infratores nos laçam e estão nos enforcando pelo pânico que se apossou da população esclarecida, que conhece o risco e com ele se amedronta. Sair de casa, atingir nosso destino e voltar, seja por qual for o meio de condução, hoje nos atemoriza.
A história nos mostra exemplos de ação imediata capaz de suster uma crise, e de inação, que é quase o suicídio.
Singapura, um dos tigres asiáticos, exportou para o mundo o que é tolerância zero (até o chiclete é proibido). Lee Kuan Iew, hoje “ministro mentor”, amado e temido, saneou o lamaçal de corrupção e crimes de sua república impondo rigores a crimes de menor potencial ofensivo e executando a pena capital para homicidas, traficantes e estupradores. Singapura, hoje uma sociedade economicamente pujante, tudo deve a seu líder, que construiu assim uma ordem interna invejável.
A chamada Revolução de 64, disparada pelo saudoso líder democrata Magalhães Pinto, à vista da hesitação de chefes civis e militares, não fosse sua atitude imediata de opor-se contra o estado de indisciplina e balbúrdia que se apossara da nação, promovidas pelo então presidente, não se sabe a que ponto chegaríamos. Não cogitou aquele revolucionário de combate a ideologias que se pregavam, mas preocupou-se, unicamente, com a proteção da organização social, sob risco iminente de perda da autoridade.
Outro acontecimento histórico consulta a tolerância responsável pela tragédia que desabou sobre o rei Luiz XVI e família. Na gênese da barbárie e do inocente e caudaloso sangue francês que manchou Paris quando da revolução resultou da tolerância adotada pelo monarca. Quando desordeiros marcharam até Versalles, forçando e afinal derrubando as grades que os separavam da realeza, o bondoso e sempre otimista Luiz XVI, apesar das advertências de todos que o cercavam, não admitiu reação da guarda real, ali aparelhada para confrontar situações de perigo. Ato contínuo, a turba invadiu o castelo com chuços, vara-paus e com o que mais dispunha, dizimou a guarda, feriu e matou cortesãos, constrangeu a rainha acuada e seus filhos e os levou a todos prisioneiros para as Tulherias. Os revolucionários, que nem sabiam bem o que faziam, mas empurrados por líderes populares, arrecadaram a família real de sua sede, desmantelando assim o poder. Das Tulherias para a guilhotina.
Quanto a esse episódio comentou Napoleão: “Confiassem-me o regimento de Versalles e aqueles arruaceiros iam conhecer o troar dos meus canhões”.
Que as advertências da história nos indiquem, em tempo, a Tolerância Zero.

*Advogado