UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO (UNICID)

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS)

 

 

 

SELMO ALVES DOS SANTOS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“AH, O DIFERENTE, ESSE SER ESPECIAL!”[1]

REVISANDO CONCEITOS PARA MUDAR CONCEPÇÕES E PRÁTICAS

 

 

Artigo apresentado à UNICID como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Libras.

 

Orientadora: Prof.a Siderly do Carmo Dahle de Almeida

 

 

 

Orientadora: Prof.a Siderly do Carmo Dahle de Almeida

 

 

 

 

 

 

 

SALVADOR

2011

RESUMO

 

A pesquisa apresentou como tema central o estudo do sentido do termo “diferente”, de que maneira ele está associado à palavra “deficiente” e como ambos os termos surgem e evoluem em sociedades e períodos distintos. Trata-se de um estudo descritivo, do tipo bibliográfico e qualitativo, que faz uma revisão conceitual, para mudar concepções e práticas, numa perspectiva inclusionista, com destaque ao grupo dos surdos. Assim, apresenta como Objetivo Geral - Revisar o termo “ser diferente”, como ele foi produzido historicamente e se firmou com o passar do tempo, em algumas instâncias sociais, tendo em vista a perspectiva da inclusão. Os Objetivos Específicos são os seguintes - Refletir sobre a razão de se associar a condição de diferença de uma pessoa à noção de deficiência; Identificar no quotidiano social situações de acolhimento ou não, a partir do simples indício de diferença de uma pessoa; Considerar que a condição de excepcionalidade de alguém pressupõe a necessidade de modificações conceituais e estruturais profundas, que sejam capazes de atender às reais demandas dos indivíduos considerados diferentes, a exemplo dos surdos. Os resultados obtidos apontam para a necessidade de mudança de compreensão da sociedade sobre os termos “diferente” e “deficiente”, numa perspectiva inclusionista. 

Palavras-chave: Diferença. Deficiência. Revisão conceitual e conceptual.   

       ABSTRACT

The survey had as its central theme study of the meaning of "different", how it is associated with the word "disabled" and how such terms arise and evolve in different societies and periods. It is a descriptive study of the bibliographical and qualitative, which is a conceptual review, to change concepts and practical perspective inclusionist, especially the group of deaf people. Thus, as has General Purpose - To revise the term "being different" as it was historically produced and signed with the passage of time, in some instances social perspective with a view to inclusion. The specific objectives are as follows - Reflect on the reason for joining the condition of difference from one person to the notion of disability; Identify everyday social situations in the host or not, from the simple indication of difference in a person, consider that the condition of exceptionality of one presupposes the need for deep structural and conceptual changes, which are able to meet the real demands of the individuals considered different, like the deaf. The results point to the need to change society's understanding of the terms "different" and "disabled", inclusionist perspective.

Keywords: Difference. Disabilities. Conceptual and conceptual review.

 

 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Desde os tempos antigos, o fato de alguém ser considerado diferente sempre causa uma forma de reação nas pessoas.  Se, por um lado, manifestações de rejeição ou até mesmo de compaixão, de uma maneira ou de outra, não passam despercebidas daqueles que sofrem situações dessa natureza.  Por outro lado, há aqueles que, mesmo não despertando tais reações, mas de admiração das pessoas, pelos atributos físicos ou intelectuais que possuam, a exemplo dos superdotados ou belos, reforçam essa ideia.

Tal raciocínio leva a algumas indagações: Que é mesmo ser diferente? Que compreensão se tem sobre a condição de excepcionalidade ou de diferença de uma pessoa? O ser diferente resulta numa condição de prestígio ou de desprestígio social? Como são determinados os padrões de normalidade numa sociedade? 

Num breve olhar sobre a Grécia antiga, encontramos a lendária figura de Narciso, por exemplo, que, por ser considerado belo e atraente, despertava o interesse de outras pessoas, inclusive do mesmo gênero, desprezando-as.

Os gregos acreditavam que contemplar a própria imagem prenunciava má sorte. Das várias versões do mito de Narciso, a de Ovídio é a mais conhecida atualmente. Na obra Metamorfoses (livro III), Ovídio conta a história de Eco, uma ninfa que amava Narciso e não era correspondida.

Por causa da rejeição sofrida, Eco definhou, o que sensibilizou a deusa Némesis, que resolveu punir o rapaz frívolo e vaidoso. Narciso foi, então, condenado a apaixonar-se pelo próprio reflexo na lagoa. Encantado e enamorado da própria imagem e beleza, Narciso se deitou no banco do rio e morreu.

Outra versão da lenda conta que, vendo-se na água, Narciso procurou abraçar a própria imagem e afogou-se. No local, segundo a lenda, brotou uma flor, o narciso.

Numa versão arcaica e homoerótica, Narciso é punido por ter desprezado todos os rapazes que o admiravam. Nessa leitura, o jovem Amantis amava Narciso, mas era por ele desdenhado.

A mesma Grécia que, paradoxalmente, admirava e ao mesmo tempo castigava os narcisistas, parece não dispensar tratamento igual às pessoas surdas.

Assim é que, até a Idade Média, Aristóteles ensinava que os que nasciam surdos, por não possuírem linguagem, não eram capazes de raciocinar. Essa crença, comum na época, fazia com que, na Grécia, os surdos não recebessem educação secular, não tivessem direitos, fossem marginalizados (juntamente com os deficientes mentais e os doentes) e que muitas vezes fossem condenados à morte. No entanto, em 360 a.C., Sócrates  declarou que era aceitável que os surdos comunicassem com as mãos e o corpo.

Essas duas breves descrições, a de Narciso e a dos surdos, evidenciam que o ser diferente ou especial, como se queira denominar, sempre suscita algum tipo de atitude numa determinada sociedade.

Nesse sentido, o estudo está estruturado em quatro capítulos, além das Considerações Iniciais e das Considerações Conclusivas, a seguir definidos.

As Considerações Iniciais buscam contextualizar historicamente o tema, bem como apresentar a estrutura do trabalho.

O primeiro capítulo, intitulado De Onde Parte o Estudo, Problema Investigativo, Hipótese e Objetivos, trata dos elementos norteadores da pesquisa.

O segundo capítulo, a Metodologia, apresenta o traçado metodológico do estudo, isto é, como foi ele construído, para se chegar aos objetivos pretendidos.                                                                            

            Na sequência, o capítulo três, intitulado Referencial Teórico, discute os fundamentos da pesquisa, sendo estes aqui concebidos como ferramentas imprescindíveis ao processo de compreensão do “ser diferente” versus “ser deficiente”, numa sociedade contemporânea que se pretende muito mais igualitária.

           O quarto capítulo, intitulado A inclusão como ponto de mudança de conceitos e concepções, busca propor um caminho através do qual, notadamente na instância do ensino, possa ser criado um ambiente de convivência entre indivíduos, respeitando-se as suas naturais particularidades, para, progressivamente, serem superadas as barreiras que tanto ainda distanciam e excluem.       

           Por fim, as Considerações Conclusivas, a partir dos dados levantados, apresenta os resultados e as constatações do estudo.

            Tomaram-se como base, para a construção do estudo, dentre outros autores, primordialmente, as ideias de Sá (2009), Minetto (2010), Távola (2011), Campos e Martins (2011).

 

1 DE ONDE PARTE O ESTUDO, PROBLEMA INVESTIGATIVO, HIPÓTESE E OBJETIVOS

           

A concepção de diferença, construída a partir das condições pessoais, culturais e sociais, parece ser de difícil entendimento até mesmo pela  escola, por apresentar uma argumentação ainda muito centrada no padrão de normalidade ou de homogeneização. Assim, como diz Buscaglia (apud MINETTO, 2010, p. 15), “Cada um de nós é diferente. Tivemos experiências diferentes. Recebemos o sol de maneira diferente. Projetamos nossa sombra de maneira diferente. Por que então não teríamos cores diferentes?”.                                                                  

Corroborando essa tese, segundo Távola (2011),

Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados, magros demais, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheios de espinhas, de mumunha, de malícia ou de baba.

           

Nesse sentido, o estudo tem como elemento norteador buscar compreender a dialética do “ser diferente” numa sociedade que tende a reproduzir os chamados padrões de normalidade, que tanto excluem. Trata-se de uma investigação que, numa perspectiva inclusionista, buscou conhecer a etimologia das palavras diferença e deficiência e em que medida elas estão relacionadas.

Este estudo tem como problema de investigação a seguinte questão: De que maneira ocorre a associação do termo “diferente” à noção de deficiência?

           Como hipótese, reconhece-se que - A sociedade, de uma forma ou de outra, sempre estabelece padrões a serem seguidos, em distintos planos, isto é, intelectual ou físico. Desse modo, qualquer distanciamento a tais padrões representa um sinal de anormalidade. Há de observar, no entanto, que todas as pessoas são únicas, seja nas suas características físicas, psicológicas, atitudinais, seja na sua visão de mundo.

            Os objetivos norteadores da pesquisa foram os seguintes:

Geral:

- Revisar o termo “ser diferente”, como ele foi produzido historicamente e se firmou com o passar do tempo, em algumas instâncias sociais, tendo em vista a perspectiva da inclusão.

Específicos:

- Refletir sobre a razão de se associar a condição de diferença de uma pessoa à noção de deficiência;

- Identificar no quotidiano social situações de acolhimento ou não, a partir do simples indício de diferença de uma pessoa;

- Considerar que a condição de excepcionalidade de alguém pressupõe a necessidade de modificações conceituais e estruturais profundas, que sejam capazes de atender às reais demandas dos indivíduos considerados diferentes, a exemplo dos surdos.

 

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo teórico, exploratório, qualitativo, de cunho bibliográfico.   

            Para a definição do material bibliográfico, procedeu-se, primordialmente, a consultas às referências estudadas durante o curso, bem como à base de dados do Google Acadêmico, utilizando-se como descritores: Ser deficiente; Ser especial; Padrões de normalidade; Padrões de homogeneização. As fontes de pesquisa constituíram-se basicamente de artigos e de livros que abordaram os temas: “o ser especial”; “o ser diferente”; a pessoa surda.

           Como critério de seleção foram adotados os trabalhos que compreendem o referido tema e os descritores. Como critério de inclusão foram acolhidos os trabalhos que contemplam os descritores supracitados. Por sua vez, o critério de exclusão foram todos aqueles trabalhos que não compreendem o tema do estudo.

A investigação foi desenvolvida em cinco etapas, interligadas entre si, no período compreendido entre abril e outubro de 2011.    

Inicialmente, foi feito o levantamento bibliográfico, através da pesquisa de artigos e outros, para o desenvolvimento do artigo. Na segunda etapa, foram feitas as leituras necessárias para uma melhor compreensão dos assuntos favoráveis ao tema. Essa fase foi divida em duas: a primeira, leitura crítica das obras e a segunda, leitura interpretativa delas.

Na terceira etapa, após a leitura dos assuntos mais relevantes, foram realizados a análise e o tratamento dos dados, sinalizando-se os trechos mais importantes dos trabalhos para o estudo, sob a forma de fichas, e, assim, foi escrito o trabalho propriamente dito. A análise e os resultados se deram de forma descritiva, a partir das leituras, interpretação e seleção feitas dos elementos importantes para a efetivação da pesquisa.

As etapas subsequentes e finais da investigação, isto é, a quarta e quinta, foram efetivadas através da redação e revisão do relatório e apresentação pública do artigo.

 

3 REFERENCIAL TEÓRICO

             Há muito e em diversas civilizações, o olhar sobre a pessoa diferente apresentou situações que provocam, no mínimo, algumas preocupações. Assim é que, tanto nas sociedades antigas quanto nas contemporâneas, o que se constata é que manifestações que fujam aos modelos socialmente preestabelecidos são sempre motivo de algum tipo de reação. Fato é que a sociedade nunca foi educada para lidar com o diferente, razão pela qual atitudes como estereotipar ou simplesmente ignorar são práticas ainda muito comuns no meio social.

Desse modo, pessoas superdotadas, negras ou que possuam algum tipo de deficiência, mental ou física, por exemplo, nunca foram tratadas da mesma maneira que as outras. E tais situações são observadas em vários setores da sociedade.

Por tudo isso, deve-se buscar compreender as motivações que permitiram associar o termo “diferente” ao paradigma da deficiência. É verdade que a estrutura social, com seus valores e estereótipos, acaba por gerar equívocos conceituais sobre ambas as palavras e, por conseguinte, cria também situações de exclusão.

Assim, a palavra diferente se origina do latim “diferens”, aquele “que não é igual, diferente”, de “diferre”, “colocar de lado”, de “dis”, “fora, afastado de”, mais “ferre”, “levar, portar, carregar. Do mesmo modo, a palavra “deficiência” vem do latim “deficiens de deficere”, que quer dizer ter uma falha. Dessa forma, percebe-se que o conceito etimológico de “deficiência” carrega em si a ideia de incapacidade. Parece residir aí a razão central que remete semanticamente a palavra “diferente” à noção de “deficiência”.

Entende Jimenez (1997, apud CAMPOS; MARTINS, 2011) que a evolução conceptual da deficiência pode dividir-se em três épocas: a primeira, considerada pré-histórica, engloba as sociedades primitivas e se prolonga até a Idade Média; a segunda, em que emerge a ideia de que os deficientes são pessoas a quem é preciso prestar assistência; e finalmente a terceira, que corresponde à época atual, cujo conceito de deficiência se desenvolve em função de uma sociedade que ideologicamente se afirma como sendo inclusiva.

Assim é que, na opinião de Fernandes (2002, p.33, ibid.):

[...] os conceitos de norma e normalidade são socialmente estabelecidos pela maioria representada pelo conjunto de indivíduos […] é esta maioria que estabelece as normas, entendidas estas como aquilo que se observa com mais freqüência e com as quais cada qual será contrastado, derivando daí que os indivíduos resultem classificados e etiquetados como normais ou anormais.

 

Reforçam as autoras que desta visão resulta a concepção de “deficiência”, correspondendo esta a uma diferença que é intuída como negativa. Desse modo, compreende-se a segregação a que foram sujeitos os indivíduos com deficiência (notadamente na dimensão do ensino), uma vez que decorre duma óptica de valoração negativa.

No caso dos surdos, o problema da exclusão social, desde muito, se dá, dentre outras razões, principalmente pela ideia de incapacidade de uma comunicação satisfatória entre o filho surdo e a família ouvinte, bem como da concepção de que este necessita de cuidados especiais, iniciando-se aí o processo de exclusão. Esta ideia é reforçada pela escola, quando deixa de criar condições adequadas, tanto físicas quanto de recursos humanos, para atender às demandas desse grupo de indivíduos.

Portanto, a noção de diferença ou de deficiência é socialmente construída, e tais categorias estão intimamente associadas aos valores vigentes numa sociedade dada e em um tempo determinado, e são discursivamente elaboradas.

 

4 A INCLUSÃO COMO PONTO DE MUDANÇA DE CONCEITOS E CONCEPÇÕES

A questão do “diferente”, no Brasil e no mundo, apresenta, ao longo de sua história, algumas mudanças animadoras. Todavia, fato é que ainda há um grande fosso entre o ideal e a realidade concreta. E alguns pontos precisam ser aqui debatidos.

Inicie-se pela família, que, como qualquer outra instância social, enfrenta conflitos e medo. Medo dos rótulos sociais, medo de não saber lidar com o filho não planejado, visto que “A criança perfeita que esperavam não veio e, em seu lugar, os pais terão que aceitar algo muito aquém de suas expectativas. Essa tomada de consciência traz consigo uma dor profunda e a decepção para toda a família” (BUSCAGLIA, 1997, apud MINETTO, 2010, p. 119).

No plano social, em que se configuram as postulações ideológicas e culturais, poder-se-ia dizer que, do mesmo modo que a família, a sociedade ainda não sabe lidar com o “diferente”.  Assim sendo, segundo Charlot (2000, apud MINETTO, 2010, p. 35), o “[...] verdadeiro responsável é a própria sociedade, que produz e reproduz desigualdades, faltas e deficiências”.

No plano religioso, sobretudo na Idade Média, acreditava-se que o “deficiente”, a exemplo do surdo, estaria passando por um processo de pagamento de pecados e que precisaria, por isso mesmo, ser curado pela fé.                

            No campo escolar, lidar como o “diferente” é algo desafiador. Historicamente, a escola demonstra resistência a mudanças, bem como dificuldade de formar profissionais capazes de organizar situações de aprendizagem que atendam ao estudante com necessidades educacionais especiais. De acordo com Nóvoa (1995, apud MINETTO, 2010, p. 15), “Em meio a esses conflitos, não é a prática pedagógica a ser definida com as soluções propostas, e sim o papel que o professor ocupa nessa prática que produzirá algum efeito”.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  

Quanto aos professores que atuam na educação inclusiva, após superadas as questões que mais os afligem, por exemplo, “Como organizar a aula? Como propiciar o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos? Como manejar eficazmente as  diferentes e, em muitos casos, inesperadas demandas apresentadas por estes alunos?” (SÁ, 2009, p. 102), devem articular-se com outros profissionais da equipe escolar, a fim de desenvolverem tarefas compartilhadas.

            Por assim dizer, é inovadora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB n.º 9.394/19996), quando, no art. 58, estabelece que a educação especial seja oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. Para tanto, a sociedade em geral, as equipes multiprofissionais e, sobretudo, os professores e a família, numa perspectiva interdisciplinar, precisam estar imbuídos do relevante papel de acolherem essa nova clientela.

            Assim é que, como bem expressa Guimarães (apud MINETTO, 2010, p. 45), “Mais do que criar condições para os deficientes, a inclusão é um desafio que implica [...] mudar a escola como um todo, no projeto pedagógico, na postura diante de todos os alunos [...]”.    

 

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS

Diante do elenco de conceitos levantados e, tentando compatibilizá-los com o objeto do estudo, optou-se pela metodologia da investigação a partir de uma dialética que buscasse descortinar alguns equívocos conceituais construídos historicamente acerca do “diferente” e do “deficiente”, sobretudo numa sociedade que se pretende inclusiva. Considera-se que tal proposição permite enxergar os sujeitos da pesquisa, através de sua experiência vivida, do meio sociocultural e familiar em que vivem.

 Por tal prisma, faz-se necessário compreender o diferente sob a óptica da diversidade, questão aqui considerada como ponto de partida para a interpretação do que significa, hoje, o ser diferente, a partir de uma dialética que possibilite a revisão de conceitos para a mudança efetiva de concepções e práticas sociais e a superação de preconceitos.

Partindo-se dos resultados obtidos durante a pesquisa, foi possível organizar as constatações em dois níveis: primeiro, quanto à real compreensão etimológica das palavras “diferença” e “deficiência” e, depois, como foram tais palavras construídas historicamente, tomando-se por base a hipótese levantada.

 Nesse sentido, foi possível perceber que a suposta relação semântica entre essas duas palavras seria responsável pela confusão conceitual que se arrastou durante muito tempo, gerando preconceitos e exclusão. Todavia, há de se reconhecer que já existem avanços sociais, notadamente na área educacional, no sentido de superar a resistência e promover o processo de mudança.

Tal projeto de inclusão envolve, segundo denominação de Nóvoa (1995, apud MINETTO, 2010, p. 38), o Triângulo da Práxis Pedagógica, a saber: i) Novas ideias, isto é, novas teorias, novos paradigmas; ii) Condições do meio, isto é, o meio institucional em que a prática pedagógica acontece; iii) Significados e usos práticos do professor, sua formação e a experiência adquirida na sua vivência profissional e pessoal [...]. Assim, poder-se-ia dizer que é preciso conhecer a etimologia do preconceito, para transformar a inclusão em ação e realidade, o que impõe a revisão de conceitos para a efetiva mudança de concepções e práticas em todos os planos sociais.  

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação e dos Desportos. Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996.

CAMPOS, Sofia Margarida Guedes de; MARTINS, Rosa Maria Lopes. Educação Especial: Aspectos Históricos e Evolução Conceptual. Disponível em: < www.ipv.pt/millenium/Millenium34/17.pdf>. Acesso em: 3 mai. 2011.

FERNANDES, H. S. Educação especial – Integração das crianças e Adaptação das Estruturas de Educação. Braga: Edições APPACDM Distrital de Braga, 2002.

 

História dos surdos. Disponível em: < www.libras.ufsc.br/.../Fundamentos%20da%20Educação%20de%20Surdos>. Acesso em: 10 mai. 2011.

JIMÉNEZ, R. B. Educação Especial e Reforma Educativa. In. R. Bautista (Coord.). Necessidades Educativas Especiais. Lisboa: Colecção Saber Mais, Dinalivro, 1997.

MINETTO, Maria de Fátima Joaquim et al. Diversidade na Aprendizagem de Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais. Curitiba, PR. IESDE Brasil, 2010.

OLIVEIRA, Eloiza da Silva Gomes de; SÁ, Márcia Souto Maior Mourão; NOGUEIRA, Mário Lúcio de Lima. Legislação e Políticas Públicas em Educação Inclusiva. 2. ed. Curitiba, PR. IESDE Brasil, 2009.

TÁVOLA, Artur da. Ah, o diferente, esse ser especial! Disponível em: < willok.blogspot.com/.../artur-da-tvola-ah-o-diferente-esse-s... ->. Acesso em: 20 mai. 2011.

TOZONI-REIS, Maria Freitas de Campos. Metodologia da Pesquisa. 2. Ed. Curitiba, PR: IESDE Brasil, 2009.

UZDÊDA, Eduarda. A Tarde, Salvador, 10 dez. 2006. Caderno 2.p.3. (Adaptado).



[1]    Poema de Artur da Távola