Numa manhã reluzente, ele partiu
A cidade ao longe, pouco a pouco, ficava.
E a Maria Fumaça avançava rumo à Grande Ilha.
No horizonte, nuvens leves e pesadas anunciavam
A chegada das águas
Águas de Maio,
Que trazem dias longos de pura preguiça,
Banham as ruas e ladeiras,
Escorrem pelos muros, em ruínas, verde-lodo.
Verde de saudades, de tempos idos
Para os que não viveram
A dura realidade do negro escravo, do branco falido
Do mulato metido.

Águas de Maio,
Que banham o Santo,
Que esmola, passeia, visita
Num rito cerimonioso, majestoso.
Uma nobreza imaginaria
Feita da fina seda, do grosso sal,
Do áspero e do remoto camarão

Águas de Maio
Que forçam, escorrem, desagregam
Fazem ceder
Cada pedra cimentada
Com calcário, suor e sangue afro-brasileiro.
Águas que transformam em poeira:
A opulência,
A violência,
As graças e desgraças,
Os sonhos e a realidade,
Enfim, a vida.
Da minha gente
Tanto dos presentes,
Como dos ausentes

Águas de Maio
Que banham as ruas, ladeiras,
Muros de minha Divina Cidade,
Enchem-me de verde,
Ver-te verde
Do meio da Baia de São Marcos
Em plena correnteza do Batata
És tu a Alcântara do Maranhão
Onde cravei raízes,
Profundamente,
Eternamente.

Não bebi do teu leite,
Mas, sou Leite,
Fruto de Ubiratan Leite
Que gerou muitos outros Leites,
Que são, também, teus filhos, netos e bisnetos,
Todos Tabaréis,
Ainda que por paixão.
Paixão por solver
O cheiro de tuas ruínas,
De ouvir as tuas caixas do Divino,
De beber o teu chocolate no ovo
Ou de banhar em tuas águas
Águas de Maio,
Que trazem dias longos,
De pura preguiça.
Que banham as ruas, ladeiras,
Escorrem pelos muros.
Muros em ruínas, verde-lodo!

Obra publicada pelo Viva Cidadão. Projeto Rabiscando Momentos.