UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL
UNIDADE DE CACHOEIRA DO SUL
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM AGROPECUARIA: AGROINDÚSTRIA.




Fernanda Elisa de Oliveira Ventorini



RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO

AGROINDUSTRIAS FAMILIARES RURAIS E A CONSTRUÇÃO DE REDES: ESTRATÉGIAS DA QUARTA COLÔNIA - RS





CACHOEIRA DO SUL
2009


SUMÁRIO

1. Introdução 7
2. Referencial Teórico 10
2.1 Agricultura Familiar no Brasil e no Rio Grande do Sul 10
2.2 Agricultura Familiar e a Pluriatividade: a emergência da agroindústria 13
2.3 Os desafios das agroindústrias familiares rurais: legislação e formação de redes 19
3. Objetivos 25
3.1 Objetivo Geral 25
3.2 Objetivo Específico 25
4. Metodologia 26
5. Atividades desenvolvidas 27
5.1 Conhecendo a Quarta Colônia 27
5.1.1 Vivência da realidade da Quarta Colônia a partir dos projetos desenvolvidos junto ao Departamento de Extensão Rural da UFSM. 29
5.1.2 O estudo teórico como fundamento da prática 30
5.1.3 Vivenciando a gestão ambiental na Quarta Colônia 31
5.2 Vivência a campo 33
5.2.1 Vivenciando aspectos da realidade da "Rede da Casa" 33
6. Discussão dos resultados 37
7. Considerações finais 46
8. Referências Bibliográficas 48
9. Anexos 56







1. INTRODUÇÃO

O campo das ciências agrárias é bastante abrangente, envolvendo muito conhecimento prático e embasamento teórico.
Com o intuito de promover o desenvolvimento regional sustentável o curso de tecnologia em agroindústria da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, UERGS, presta-se por estudar as diferentes lógicas de trabalho que envolvem a cadeia agroindustrial, deste modo o estágio veio agregar conhecimentos, desenvolver a prática da percepção de diferentes realidades, diferentes culturas e sua influência no andamento dos sistemas produtivos.
Neste contexto a importância de conhecer as ações extensionistas e o modo de analisar as diferentes realidades agroindustriais oferece uma bagagem interessante para o futuro profissional. Mais do que conhecer a teoria é importante saber aplicá-la na prática.
O referido estágio foi realizado junto ao Departamento de Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria ? UFSM, no Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Alimentação e Sociedade ? NEPALS, o qual há algum tempo dedica-se ao estudo das agroindústrias familiares da Quarta Colônia.
A Quarta Colônia de Imigração Italiana está situada na região centro do estado do Rio Grande do Sul, e é composta por nove municípios, sendo eles: Silveira Martins, Pinhal Grande, Faxinal do Soturno, Dona Francisca, Nova Palma, São João do Polesine, Ivorá, Restinga Seca e Agudo.
Nesta região existe uma construção social baseada na cultura européia, na gastronomia típica e na religiosidade dos nove municípios que a compõe, esta peculiaridade local leva ao aproveitamento turístico da região como forma de desenvolvimento e instiga muitas curiosidades de estudo, dentre elas as agroindústrias que fortificam a economia da região.
As agroindústrias da Quarta Colônia se inserem no contexto da agricultura familiar, onde fortemente existe um aproveitamento "natural" do saber fazer imbuído na cultura local, baseada na diversificação da propriedade e mão de obra familiar.
Ao tratar destas agroindústrias familiares rurais (AFRs) não trata-se apenas de processamento e beneficiamento de alimentos, mas todo um sistema de cunho social, cultural e econômico que gira em torno destas. Estas agroindústrias de caráter, em sua maioria artesanal, produzem alimentos e devem obedecer a legislação vigente para transmitir segurança aos consumidores.
Tendo em vista traçar na região um desenvolvimento sustentável alicerçado no turismo e nas formas culturais que se salientam na região foi elaborado em 1995 o Projeto de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia, o PRODESUS, que viabiliza o desenvolvimento endógeno da região, ou seja, a partir das características próprias. Um projeto grandioso para interligar os nove municípios através do turismo alavancado pela cultura, gastronomia e religiosidade típica da região.
Para viabilidade do projeto é necessário o fortalecimento das estruturas turísticas, pousadas, restaurantes, estradas, pontos de entretenimento, onde dentre estas estruturas estão às agroindústrias da Quarta Colônia, que reportam através dos diversos produtos coloniais uma cultura local. A estratégia de fortalecimento das AFRs, além da melhoria das condições de trabalho, com capacitação e fomentos, trás a formação de organizações como associações e cooperativas.
Em 2003 foi criada a Associação da Rede da Casa uma associação de agroindústrias processadoras de vários produtos coloniais tanto de origem vegetal como animal, com o objetivo de realizar ações voltadas para qualificação dos produtos comercializados e buscar práticas alternativas para atender a legislação vigente produzindo bens de consumo sustentáveis nas esferas ambiental, econômica e social.
Estas AFRs buscam uma estratégia de sobrevivência transformando produtos da subsistência familiar em uma alternativa de mercado, e para tal organizam-se de forma associativista. Como foi organizada esta associação? Como os produtores absorveram esta idéia? Pois bem, a proposta de trabalho foi entender melhor como os atores envolvidos no processo interagem. Afinar o olhar sobre as questões que permeiam as AFRs é de uma complexibilidade altíssima, pois os fatos não estão explícitos.
Tendo em vista a proposta de fazer um resgate do processo de constituição da associação Rede da Casa, como vem articulando suas atuais atividades e a relação entre os atores do processo, esta vivencia junto as AFRs faz refletir que estes sujeitos rurais estão mais atrelados a política do que imaginam.
Dialogar com os atores participantes do processo, compreender a lógica ou falta de lógica de trabalho dos órgãos públicos e interagir com produtores dentro de sua realidade de trabalho é sem dúvida um "parar para pensar".
Neste sentido o trabalho de estágio foi dividido em dois momentos. O primeiro com a realização de estudos dirigidos, com base em leituras e discussões de textos e artigos referentes à realidade sócio produtiva da Quarta Colônia, nosso objeto de observação e no segundo momento vivências a campo da realidade estudada.
Considerando agroindústrias como uma estratégia de desenvolvimento rural, e considerando também que estes empreendimentos possuem pequena porcentagem de sobrevivência em nível de Brasil, entende-se a importância de compreender o que existe nos "entre meios" destas duas considerações contraditórias.








2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Agricultura Familiar no Brasil e no Rio Grande do Sul.
Por volta dos anos 70, no pico da "Revolução Verde", o País vivenciava o afã da modernidade agrícola, com a utilização de mecanização agrícola, fertilizantes, agrotóxicos, em fim um pacote tecnológico que viabilizaria o Brasil como um país produtor de matéria prima.
Historicamente, o desenvolvimento, tem representado a ideologia dominante do Estado enquanto promotor e formulador de políticas públicas. No caso do Brasil ocorreu o chamado milagre brasileiro nos anos 70, com crescimento linear da produtividade pela substituição da mão-de-obra e terra (fatores tradicionais) por fatores modernos e intensivos de capital (máquinas, irrigação, fertilizantes químicos, etc.), através do crédito subsidiado como facilitador de acesso a estas inovações. A década de 80, mesmo continuando sob os mesmos princípios da revolução verde, foi marcada pelas crises e recessões, sendo chamada de década perdida. Nos anos 90, com influências dos movimentos sociais mudou-se a prioridade do enfoque produtivista reducionista para o enfoque da sustentabilidade envolvendo condicionantes ambientais, históricos, sociais, políticos e econômicos, dentre outros. Passa-se a dar maior importância para aspectos sociais, com maior valorização da agricultura familiar em relação à política produtivista anterior. (FLORES e MACEDO, 1999:4)
Segundo Abramovay (1981), existia a finalidade de intensificar a força produtiva do trabalho e aumentar a produtividade por área cultivada, trazendo o fim da autonomia técnica e a dependência dos insumos industrializados e a especialização de produtores em monoculturas com o declínio do regime de policultura. Neste cenário a agricultura familiar perde seu espaço, promovendo a exclusão das famílias que não conseguiram acompanhar este "novo modelo" .
Neste sentido, Corona (1999) salienta que existiam os "modernos", os quais tiveram acesso às inovações tecnológicas e linhas de crédito, e os "atrasados", que não tiveram acesso ás inovações tecnológicas e linhas de crédito.
Este novo modelo de produção agrícola foi muito importante para o país, segundo Gnoatto et al., (sem ano) trouxe modernização para alguns setores, através da produção em grande escala e padronizada, a incorporação e uso intensivo de insumos e tecnologias e integração aos sistemas tradicionais de commodities, foram e são muito importantes para o agronegócio brasileiro, mas nem todos os fragmentos sociais conseguiram acompanhar e ficaram a margem, por não especializarem a cadeia produtiva, por não ter acesso as fontes de subsídios financeiros, disponibilidade de recursos, entre outros.
A racionalidade de trabalho da agricultura familiar trás a diferença da agricultura patronal ou empresarial. Para Carneiro (1999) agricultura familiar é entendida como uma unidade de produção onde trabalho, terra e família estão intimamente relacionados, para Abramovay (2000) a agricultura familiar não emprega trabalhadores permanentes, podendo, porém, contar com até cinco empregados temporários. Já a agricultura patronal pode contar com empregados permanentes e/ou temporários. Barros (2006) em artigo cita a importância da agricultura familiar para economia agropecuária brasileira, pois cerca de 60% dos produtos agropecuários de consumo interno advém da agricultura familiar e reforça que não se deve confundi-lá com agricultura camponesa, ou de subsistência, produtora exclusivamente de alimentos.
Conforme Brose (2000), o desenvolvimento local, baseado na agricultura familiar, depende fundamentalmente da intervenção estatal regulando as assimetrias do mercado através de políticas públicas. Por este fato o quão importante são políticas criadas para este setor, pois se deixada à própria sorte frente às forças do mercado, a agricultura familiar se transforma em alvo fácil de monopólios e intermediários que se apropriam do valor agregado de produção, desmantelando o setor.
Conforme Portugal (2002), que cita em seu artigo "O desafio da Agricultura Familiar":
Este segmento tem um papel crucial na economia das pequenas cidades - 4.928 municípios têm menos de 50 mil habitantes e destes, mais de quatro mil têm menos de 20 mil habitantes. Estes produtores e seus familiares são responsáveis por inúmeros empregos no comércio e nos serviços prestados nas pequenas cidades. A melhoria de renda deste segmento por meio de sua maior inserção no mercado tem impacto importante no interior do país e por conseqüência nas grandes metrópoles. (Portugal, 2002:1)

Sherer e Miorin (2005) retratam a importância dos fomentos para o fortalecimento do setor, sendo que até a década de 90, não havia nenhum programa voltado para a agricultura familiar, Em 1996, é criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF , após modificações de programas anteriores, este foi um reconhecimento por parte do governo à agricultura familiar, e tem por objetivo geral, fornecer condições para aumentar a capacidade produtiva, criar empregos, oferecer maior geração de renda a atividade produtiva, ajudando na melhoria da qualidade de vida e ampliando exercício da cidadania.
Segundo Mior 2005) embora anteriormente tenham existido políticas especificas para o agricultor familiar, estas nunca tiveram um alcance nacional como o PRONAF. Para Barros (2006) este foi um dos motivos de crescimento da agricultura familiar na década de 90, que obteve um crescimento de produtividade por unidade de área 35% mais que a agricultura patronal, e complementa que certamente este fato auxiliou na sustentabilidade da agricultura brasileira na década passada.
A partir dos anos 90, segundo Mior (2005) surgem pressões de várias organizações no sentido de formulações de novas políticas públicas para agricultura familiar, tendo em vista a importância deste setor para o desenvolvimento regional através da geração de trabalho e renda no meio rural. Segundo o Instituto de Economia Agrícola ? IEA, no estado do Rio Grande do Sul, cerca de 70% dos alimentos consumidos provem da agricultura familiar, daí mais um dos motivos para o fortalecimento do setor. Mior (2005) contempla no livro "Agricultores familiares, agroindústrias e redes desenvolvimento rural", que em meados dos anos 90 a agricultura familiar passa a conviver com a abertura da economia e a desregularão, onde a política brasileira começa a abrir espaços diferenciados, com políticas dedicadas a trabalhar com questões ambientais, de desenvolvimento rural e de produção agrícola.
O Rio Grande do Sul assim como os outros estados do país, nos anos de decadência da agricultura familiar, pós-revolução verde, como já referenciado anteriormente, teve um aumento fortíssimo do êxodo rural, conforme citado em Guimarães (2001) a população gaúcha diminuiu 31,5%, enquanto que a urbana aumentou 210%, isto retrata o cenário desolador que os produtores rurais viviam na época. Nos anos 80 estes problemas foram ainda mais agravados com a degradação econômica pela abertura comercial e a supervalorização da moeda nacional, pressionando o "homem do campo" a migrar para os centros urbanos.
Conforme Portugal (2002) a agricultura familiar no Rio Grande do Sul é caracterizada por pequenas unidades rurais que por vezes processam alimentos e outras os comercializam in natura. Estas pequenas comunidades tiveram sua matriz produtiva influenciada ao longo da história da colonização do Rio Grande do Sul por várias etnias. Guimarães (2001) demonstra esta situação em sua dissertação de mestrado ao reportar-se aos imigrantes italianos, alemães, negros e índios e sua relação com a produção e processamento de alimentos.
Conforme Anjos (2003) o processo de colonização desta região foi decisivo em torná-lo o mais importante segmento de agricultura familiar do Brasil, estes colonos oriundos da Europa (alemães, italianos e poloneses) se incorporam a esta sociedade impregnando-lhe os traços do campesinato centro-europeu, visto por seu dinamismo e versatilidade na diversificação econômica das unidades familiares de produção.

2.2 Agricultura Familiar e Pluriatividade: A emergência da Agroindústria.

Conforme Schneider (2003) a pluriatividade hoje se salienta como uma estratégia de sobrevivência para a agricultura familiar. Este termo, pluriatividade vem sendo bastante discutido pelos teóricos e pesquisadores na atualidade; segundo o autor, a expansão da pluriatividade deu-se na década de 1970 com a crescente diversificação das fontes de renda das unidades de produção rurais, o autor analisa pluriatividade como sendo uma forma de organização do trabalho familiar e cita:

[...] a situações sociais em que os indivíduos que compõem uma família com domicílio rural passam a se dedicar ao exercício de um conjunto variado de atividades econômicas e produtivas, não necessariamente ligadas à agricultura ou ao cultivo da terra, e cada vez menos executadas dentro da unidade de produção. (SCHNEIDER, 2003:115)

Em geral os conceitos não divergem muito, para Alentejano (1999) a pluriatividade é tida como uma diversificação das formas de organização na agricultura, com multiplicação de estratégias de produção dos agricultores, seja assalariamento urbano, transformação industrial ou artesanal da produção agrícola, ou ainda pelo desenvolvimento de atividades terciárias como serviços e lazer, (turismo rural) na propriedade rural.
Para Sherer e Miorin (2005) as unidades de produção familiar, estão anexando novas atividades em sua matriz de renda produtiva e que nem sempre são advindas de atividades essencialmente agrícolas ou de criação de animais. Seriam atividades não agrícolas como complemento da renda familiar, mas para Schneider (2003) não se pode avaliar somente o fato de complementar a renda familiar, pois existem outros fatores.
Assim como cita Del Grossi e Silva (2002) além da complementação da renda familiar obtida pela diversificação das atividades não agrícolas em detrimento das agrícolas ainda agrega-se a questão da otimização da força de trabalho familiar. O autor ainda discute o deslocamento da mão de obra e do tempo de trabalho em atividades não agrícolas, isto ocorre conforme estas atividades, não agrícolas, vão tornando-se representativas na composição da renda familiar em contraposição as atividades agrícolas. Neste sentido Schneider (2003) reforça que conforme a dedicação do tempo para produção agrícola vai diminuindo, conseqüentemente a renda desta atividade também, observa-se então um aumento crescente das rendas não agrícolas. No entanto, o autor trabalha com a idéia de que a pluriatividade das famílias rurais não significa necessariamente o detrimento das atividades agrícolas, tendo em vista que estas passam a incorporar novas tecnologias capazes de despender uma menor atenção de trabalho.
Autores como Graziano, (2001) apud, Silveira, et al., (2004), comentam que existem outras formas de pluriatividade, como a estratégia encontrada principalmente nas unidades familiares de produção ditas "coloniais", onde há diversificação e para estas, ser auto suficientes é uma questão cultural.
Através desta dinâmica surge outro conceito, onde surgem profissões e outras formas de comércio, como a agroindústria, por exemplo, oriunda destas habilidades que nada mais eram que uma estratégia de se auto sustentar. Segundo Schneider (1999) pode-se dizer que esta é uma das formas do surgimento da pluriatividade no meio rural. O que serve de prova da capacidade de adaptação das famílias viabilizando, desta maneira, a sua permanência no meio rural.
Schneider (1999) ao analisar os motivos que levam o grupo familiar a se utilizar desta estratégia de mesclar atividades, salienta que existe uma tentativa de elevação da renda ou uma busca por trabalhos menos penosos, já que o trabalho na atividade agrícola é um tanto "pesado".
Outro aspecto relevante citado por Graziano, 2001, apud Silveira, et al. (2004), é que a adoção destas atividades não agrícolas mesmo com um aumento da renda pode não significar melhorias na qualidade de vida.
A agroindustrialização segundo Gnoatto et al, (sem ano) é uma nova atividade não agrícola a qual possui critérios fundamentais para sua concretização como estado de saber fazer dos agricultores familiares. O autor ainda cita que uma arte secular de transformação que existia na lógica de reprodução dos agricultores de subsistência passou a ser aprimorada e desenvolvida com um olhar além da família, objetivando espaços nos mercados.
Embora somente a partir dos anos 90 a agroindústria familiar rural obteve seu reconhecimento como estratégia, o ato de processar alimentos é fundamental no desenvolvimento de unidades de produção agrícola há muitos anos (MIOR, 2005).
Por ser algo relativamente novo no atual contexto rural brasileiro, como política pública, as agroindústrias familiares tornam-se objetos pouco compreendidos e elucidados em termos socioeconômicos, o que dificulta, por um lado, compreende-las totalmente numa nova lógica de desenvolvimento (rural e local), e por outro, empreender ações no sentido de fomentá-las. Gnoatto et al., (sem ano). Neste contexto Mior (2005) assumi que agroindústria familiar rural não se resume tão somente ao processamento de alimentos embora esta atividade faça parte, a agroindústria exige uma abrangência maior.
Diante destas ações torna-se indispensável discutir um conceito para agroindústria.
Para Mior (2005:191) "a agroindústria familiar rural é uma forma de organização onde a família rural produz, processa e/ou transforma parte de sua produção agrícola e/ou pecuária, visando, sobretudo, a produção de valor de troca que se realiza na comercialização. Enquanto isso, a atividade de processamento de alimentos e matérias primas visa prioritariamente a produção de valor de uso que se realiza no auto-consumo".
Silveira & Heinz, (2005) que discutem o conceito de agroindústria familiar amparados na vivência da Quarta Colônia de Imigração Italiana, compreendem por agroindústrias familiares, unidades de processamento de alimentos de origem vegetal e animal com instalações e equipamentos específicos que buscam atender as exigências legais, adotando-se procedimentos de produção segundo padrões técnico-científicos. Estas unidades agroindustriais podem, ou não, manter o caráter artesanal de seus produtos, já que a adoção de tecnologias de processamento visando poupar trabalho ou incorporar boas práticas de fabricação, padronizando o processo de produção não implica, necessariamente, que o produto deixe de incorporar o toque específico de quem produz, a arte de produzir, um saber herdado das gerações passadas.
MIOR (2005), ainda cita outros aspectos que também caracterizam a agroindústria familiar rural tais como: a localização no meio rural, a utilização de máquinas e equipamentos e escalas menores, procedência própria da matéria-prima em sua maior parte, ou de vizinhos, processos artesanais próprios, assim como predominância da mão-de-obra familiar. Pode ainda vir a ser um empreendimento associativo, reunindo uma ou várias famílias aparentadas ou não.
É neste cenário conceitual que se insere a discussão acerca da agroindústria familiar rural, como uma alternativa para fortalecimento da agricultura familiar, principalmente pela capacidade desta em valorizar o saber local através do processamento artesanal de alimentos, agregando valor, gerando renda e emprego no campo (SILVEIRA et al., 2007).
Como podemos observar a agroindústria familiar difere dos complexos agroindústrias ao incorporar aspectos do caráter da agricultura familiar, e vem se consolidando como uma forma de reprodução recorrida por muitos agricultores, pois além de ser algo já incorporado ao seu cotidiano, é capaz de verticalizar a própria cadeia produtiva incorporando a transformação e a comercialização dos produtos, possibilitando a agregação de valor da produção agrícola. (Gnoatto et al., (sem ano). Embora existam situações em que os sujeitos rurais aproveitam-se sabiamente de condições favoráveis para a produção agroindustrial sem ter necessariamente nenhum vinculo de saber herdado de família, recriando assim agroindústrias familiares a partir de uma oportunidade, um nicho mercadológico; Silveira et al (2007) exemplifica muito bem citando em artigo:
A região da Quarta Colônia/RS tem na produção artesanal de alimentos uma atividade amplamente difundida e apresenta grande diversidade de produtos, dentre os quais vinho, queijo, salames, etc, sendo que muitos destes passaram a constituir-se enquanto agroindústrias a partir do estímulo das políticas públicas. (SILVEIRA et al, 2007:4)
Vieira (1998), ao analisar os motivos os quais levam produtores rurais a implantarem agroindústrias de pequeno porte, percebeu que existem dois motivos mais comuns; primeiramente o aproveitamento de excedentes que o produtor não consegue colocar no mercado ou por não atender aos padrões de comercialização ou por problemas de qualidade; e o segundo quando o produtor vislumbra na agroindustrialização uma forma de enfrentamento de uma conjuntura desfavorável dos preços ofertados pela sua matéria prima, considerando é claro agroindústrias familiares onde existe um segmento da produção agrícola.
A partir destes motivos evidenciados por Vieira, e ainda englobando uma conjuntura cultural Mior (2008), considera que a partir de um produto com valor de uso, ou seja, para a subsistência da família rural, o produto colonial passa a ser visto pelos agricultores como um produto comercial, com um valor de troca, e portanto como uma fonte de renda da unidade de produção familiar.
Percebe-se assim que, uma das alternativas capazes de impulsionar a geração direta e indireta de novos postos de trabalho e renda, assim como uma importante forma de proporcionar a (re) inclusão social e econômica dos pequenos agricultores, é um modelo descentralizado de agroindustrialização familiar de pequeno porte Gnoatto et al., (sem ano).
Esta análise de Gnoatto gera uma série de estudos sobre até que ponto uma agroindústria é uma estratégia de desenvolvimento rural. Conforme analisou Guivant (2001, 2003), apud MIOR (2005), agroindústria familiar é uma estratégia propulsionadora da geração de trabalho e renda em uma unidade de produção rural, mas existe toda uma lógica de produção que é alterada no momento em que a família adere a atividade agroindustrial. O autor complementa ainda que esta lógica, de trabalho da família rural se transforma num dos principais triunfos para o sucesso da agroindústria familiar.
Ainda neste sentido Schneider (2003) cita que as tomadas de decisão de um grupo familiar perante as condições materiais e o ambiente social e econômico é que irão representar a persistência e sobrevivência social, econômica, cultural e moral de certas unidades produção, bem como a desagregação e o desaparecimento de outras.
Em relação à sobrevivência das agroindústrias familiares rurais Mior (2005) analisa que a partir de meados dos anos 90, estes empreendimentos passam conviver com outro ambiente organizacional e institucional. O autor cita que a atividade de processamento e a comercialização dos alimentos, passam de estratégia de desenvolvimento à obstáculo para o produtor rural, pois a partir de então produzir alimentos não exigiria mais somente saber fazer, e sim todo um conhecimento sobre legislação tributária, ambiental e sanitária.
Esta questão da sobrevivência de agroindústrias familiares rurais é bastante complexa até para os extensionistas rurais, fazer uma avaliação do potencial do produtor para implantar ou não uma agroindústria é uma análise bastante criteriosa (BATALHA, 2001).
Autores como Guimarães e Silveira, (2007) citam algumas capacidades como forma de avaliar o potencial que produtor possui para implantar uma agroindústria, são elas capacidades instaladas; as quais referem-se a instalações, equipamentos e conhecimento inter geracional; capacidades mobilizáveis trata-se de experiência na atividade de comercializar, habilidade para o "brique", capital social; capacidades adquiridas advindas de novas experiências de aprendizagem; capacidade aprimoradas provem de receitas re-elaboradas em cursos de processamento de alimentos; e capacidades adicionadas aquelas experiências que o produtor rural possui como constituição de associações e redes. Segundo os autores através destas capacidades pode-se perceber o nível de emprendedorismo e assim as chances da agroindústria familiar concretizar-se.
Outro aspecto levantado por Mior (2005) em relação ao novo ambiente o qual a família rural passa a enfrentar são as exigências sanitárias que tanto a nível federal como estadual e municipal estão condicionadas em exigências de equipamentos sem o reconhecimento em uma realidade de produção artesanal.
Um outro ponto relevante a ser comentado na esfera de agroindústrias familiares rurais é em relação aos vários tipos que existem e são fadados como simplesmente "agroindústria familiar rural" desconsiderando as diferenças enfrentadas principalmente no que tange ao acompanhamento a legislação sanitária.
Guimarães & Silveira, (2007) tratam em artigo da diferenciação destes empreendimentos para uma melhor aplicação das políticas públicas existentes referenciando que existem agroindústrias caseiras, as quais possuem grande inserção na agricultura familiar, onde a agroindústria não é atividade principal e sim um complemento na renda familiar pelo aproveitamento do excedente.
Os autores trabalham também com a perspectiva de agroindústrias artesanais, que possuem uma lógica de trabalho muito ligada ao "saber fazer" hereditário e que por tal, certas tecnologias em equipamentos e utensílios exigidos pelos órgãos fiscalizados lhes são inviáveis tanto pelo tipo do processo, quanto pela escala de produção e incapacidade de pagamento de investimentos, e por fim agroindústrias de pequeno porte que possuem características semelhantes às agroindústrias convencionais, mas apenas de pequeno porte, neste caso o produto não possui nenhum diferencial do produto de grandes industrias não compete em um nicho de mercado.

2.3 Os desafios das Agroindústrias Familiares Rurais: Legislação e formação de Redes.

Discutir esta sessão é de extrema importância para o entendimento de agroindústrias inseridas no contexto de agricultura familiar.
Segundo Mior (2005) em meados dos anos 90 iniciam-se as problemáticas aos produtores rurais sob o ponto de vista da regulação da atividade de processamento e comercialização de alimentos, pois a partir de então o aparato legal que regia as agroindústrias foi descentralizado de forma a ficar também sob responsabilidade dos municípios e estados, e neste momento começam surgir mais obstáculos para o produtor.
O autor ainda cita que existem basicamente três barreiras que obstaculizam o desenvolvimento de agroindústrias familiares rurais as quais são de ordem fiscal (tributária), ambiental e sanitária. O autor exemplifica claramente que para a comercialização de produtos processados como carne e derivados, leite e derivados, derivados da cana de açúcar é necessária nota fiscal. A nota de produtor rural pode ser utilizada somente para venda de produtos in-natura, sem processamento.
Estas problemáticas geram desafios e impulsionam a formular alternativas, como por exemplo, o trabalho em grupo, associações, cooperativas, condomínios e microempresas. Cada uma destas possui peculiaridades que podem favorecer e/ou dificultar o processo de estabelecimento legal. No caso de cooperativas existe um número mínimo de 20 sócios para se constituir, também existe uma certa dificuldade cultural por parte dos agricultores familiares e ainda a cobrança de imposto de renda dos cooperados conforme portaria 123 de 1999, da secretaria da Receita Federal. No caso da criação de uma microempresa, o produtor rural deixa legalmente de ser produtor, ou seja, para a previdência social perde sua condição de segurado especial, perdendo assim sua aposentadoria como trabalhador rural (MIOR, 2005).
Em relação à insustentabilidade da legislação sanitária atual para as agroindústrias familiares rurais, Sulzbacher (2007), analisa os entremeios que circundam as políticas públicas neste âmbito, no trecho abaixo trabalha com as perspectivas tanto do consumidor em relação à informalidade quanto do produtor.
[...] as políticas públicas têm representado, na atualidade, a tentativa de retirar a produção artesanal de alimento da informalidade principalmente sob a égide da segurança alimentar. Este processo é uma questão de fundamental importância seja para o consumidor, pois fornece garantia de consumir um produto seguro, seja para o próprio produtor que processa ao passo que obtém a validação legal da qualidade de seu produto. No entanto, ao mesmo tempo em que ela pode potencializar uma produção com maior qualidade, também pode se constituir como um empecilho para que a atividade possa ser desenvolvida e apresentar condições de viabilidade frente à pequena propriedade rural (SULZBACHER, 2006:59).
Importante fazer esta análise em que o processo de legalização pode vir a se transformar em um empecilho para viabilizar o desenvolvimento das AFRs. Frente a estas constatações, Silveira et. al. (2007) evidenciam a importância de uma fiscalização e controle sanitário mas retomam que ao buscar melhoria da renda com a agroindustrialização deve-se ter o cuidado para que o grupo familiar esteja preparado para enfrentar um mercado competitivo. O autor ainda exibe questionamentos do tipo, qual o tipo de legislação necessária para atender a um universo tão diferenciado de produção?
Existem alguns termos trabalhados por autores como Silveira et al (2007) que tratam de validação legal e validação social, como sendo as formas de validar os produtos agroindustrializados legalmente e socialmente respectivamente.
Por validação legal, entende-se o aval do poder público através dos serviços de inspeção sanitária e vigilância sanitária, baseados em normas legais, representada para o consumidor por autorizações, carimbos e alvarás. Por validação social, entendemos a articulação dos diferentes agentes envolvidos na produção distribuição consumo de um determinado produto, normas construídas socialmente que estabelecem padrões e que via controle social são fiscalizadas. Estas aparecem ao consumidor, através de selos, sistemas de certificação e marcas que representam compromisso de que as normas estabelecidas estão sendo cumpridas e que, portanto, este alimento pode ser consumido baseado na confiabilidade entre os atores de uma rede de produção-distribuição-consumo. (SILVEIRA, et al., 2007:5)
Neste sentido, cabe destacar pesquisa realizada por Neumann et al, (2006), financiada pela Fapergs realizada com consumidores da região centro do Rio Grande do Sul, que abrangeu consumidores do município de Santa Maria e Cachoeira do Sul, centros regionais de consumo e os municípios da chamada Quarta Colônia de Imigração Italiana, esta pesquisa revelou que a maioria dos produtores que possuem agroindústrias são informais, mas possuem validação social dos seus produtos, e os que conseguem superar este obstáculo da legalização possuem maior escala de produção, ou seja para obter capacidade de pagamento no que tange as exigências legais é necessária uma elevação na escala de produção.
Sendo a questão ambiental de relevância para a legalização de agroindústria, Sulzbacher, et al., (2008), em análise a referida pesquisa, constataram que a legislação ambiental assim como a sanitária tornam-se empecilhos para uma validação legal das AFRs, sendo estas consideradas pesadas, inadequadas para ao porte e ainda não atendendo as especificações destes empreendimentos, considerando o volume de resíduos gerados e seu poder poluente.
Em meio a tantos obstáculos, legais e mercadológicos alguns produtor rurais se utilizam de mecanismos grupais para suportar estes intempéries; utilizando a estratégia de formação de redes, unindo esforços e garantindo escala em um mercado competitivo (MIOR, 2005).
Redes são estruturas organizacionais que conectam pessoas e entidades de forma democrática, participativa e horizontal. São flexíveis e se sustentam pela vontade de seus integrantes de compartilhar e atingir um objetivo comum (LIMA e PINHEIRO, 2004).
Redes para Mior (2005) são construídas socialmente perante condições de necessidade do agricultor familiar, através de redes de familiares, redes de amigos, redes de movimentos sociais, fechando assim um canal de comercialização que ligue as etapas de produção da matéria prima, transformação, distribuição e consumo final, traçando assim as chamadas redes verticais. Mior (2005) ainda cita que é importantíssimo à construção destas redes sociais antes da consolidação de uma agroindústria grupal. Segundo Tesch, (1999) as redes sociais formam-se a partir da reciprocidade existente sendo os produtores rurais ligados de alguma forma, ou por estrutura (equipamentos), ou parentesco, vizinhança, amizade, associações, cooperativas, entre outras.
Neste sentido a idéia de Mauss (1974), ao tratar do termo reciprocidade onde diz que é um ato de dar de forma generosa e gratuita, de receber e de retribuir, formando um processo de solidariedade, ajuda mútua, fortalecendo a confiança, pois no ato de dar existe mais que uma mera troca, pois existe todo um simbolismo presente que reforça valores humanos além dos valores econômicos envolvidos.
Conforme analisa Tesch, (1999) no artigo "As relações de reciprocidade dos agricultores familiares e a formação de redes de cooperação no noroeste do Rio Grande do Sul", as relações sociais de reciprocidade influenciam de forma determinante nas estruturas formais (associações, cooperativas) que possuem normas e regras, ou seja, de nada valem as regras se nas relações pessoais existem conflitos o que gera a desagregação do grupo ou associação. O autor cita ainda que diversos grupos se extinguem com bons rendimentos econômicos pela falta de reciprocidade nas relações entre seus membros.
A priori as redes se estabelecem no sentido de promover o desenvolvimento local, mas para tal é necessário um grau mínimo de organização social permitindo assim aos atores envolvidos, participação no processo. (Graziano, 2001; apud Silveira, et. al., 2004).
Neste sentido Mior (2005) complementa que a partir de um processo de internalização da problemática regional, assume-se posturas pró-ativas na construção e implementação de novas estratégias de desenvolvimento, estratégias estas, encontradas através da verticalização, redes verticais, que o autor caracteriza como sendo à forma como a agricultura é incorporada em processos mais amplos de produção, transformação, distribuição e consumo de alimentos e matérias primas, dentro de uma abordagem setorial do desenvolvimento.
As redes não servem como um modelo de desenvolvimento rural, e sim se deve reconhecer que existem "diferentes tipos de redes interagindo de maneiras distintas com o conjunto de condições pré-existentes, isto implica que estratégias adotadas pelas agencias de desenvolvimento necessitam se ajustar às diferentes áreas rurais." Então o termo rede vai variar conforme o contexto que for utilizado (MURDOCH, apud MIOR, 2005:21).
É neste sentido que se ressalta a importância de utilização de um diferencial via nicho de mercado específico como estratégia de visibilidade mercadológica, o que se dá nesses casos, por meio da cultura e o saber fazer local, proporcionando novas redes de produção e consumo. O autor salienta ainda que a consolidação destas redes flutua sobre "a capacidade organizacional e institucional local que tem sido atribuída à evolução do capital social existe no território " (MIOR, 2005: 114).
Como exemplo de organização de agroindústrias sob a forma de rede pode-se citar a Associação da Rede da Casa, situada região da Quarta Colônia de Imigração Italiana, que possui como objetivo primordial realizar ações voltadas para a qualificação dos produtos comercializados bem como buscar práticas alternativas para atender a legislação vigente produzindo bens de consumo sustentáveis nas três esferas, ambiental, social e econômica. Como o objetivo discrimina, existe a intenção de "união" dos produtores agroindustriais para sanar problemas de ordem legal dos empreendimentos associados, mas com sustentábilidade. (SANTOS & SILVEIRA, 2008)
Mior (2005) aborda que redes se constituem em grupos de forma associativista ou cooperativista, como estratégia para buscar espaço no mercado, neste sentido Sperry (2003) ao analisar o surgimento de organizações como associações de agroindústrias artesanais que possuem um diferencial no que se refere ao aparato legal, descreve que:
"A ação coletiva não é natural, nasce de uma necessidade sentida por diversos indivíduos sendo, por isto, muito difícil inicia-la e fazer progredir porque seu sucesso depende do grau de interdependência dos que dela participam e das ações de cada um: é necessário que os interessados cooperem entre si". (Sperry, 2003:126)

Sperry et. al.,(2003:109) sabiamente cita que "a decisão sobre o que produzir deve basear-se nos objetivos do projeto e não depender apenas dos recursos que já existem..." ou até mesmo os esperados por linhas de financiamento, pois para Campanhola & Silva (2000), apud Costabeber & Caporal, (2003) o desenvolvimento local deve ser acima de tudo um processo de reconstrução social, que deve se dar ?de baixo para cima? e contar com a participação efetiva dos atores sociais







3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Acompanhar as atividades do Núcleo Interdiciplinar de Estudos e Pesquisa sobre Alimentação e Sociedade (NEPALS), do Departamento de Extensão Rural, em ações nas agroindústrias da Quarta Colônia durante o período de vigência do Estágio Supervisionado.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

? Vivenciar a realidade de algumas agroindústrias que participam da associação de produtores agroindustriais "Rede da Casa" na região da Quarta Colônia.

? Conhecer o processo de constituição da Associação de produtores agroindustriais "Rede da Casa" e como vem articulando suas atividades.

? Conhecer as exigências da legislação sanitária para os empreendimentos de agroindústria e verificar se são compatíveis com a realidade vivenciada pelos produtores da "Rede da Casa".







4. METODOLOGIA

O referido estágio foi realizado, no Centro de Ciências Rurais, junto ao Departamento de Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria ? UFSM, no Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Alimentação e Sociedade ? NEPALS, o qual há algum tempo dedica-se ao estudo das agroindústrias familiares rurais da Quarta Colônia.
Primeiramente foram realizadas leituras sobre o contexto das agroindústrias da região da Quarta Colônia de Imigração Italiana, e algumas saídas para acompanhar o andamento de um projeto de gestão ambiental, implantado pelo Departamento de Extensão Rural da UFSM. Nesta primeira etapa os grupos de discussões no Nepals, foram de suma importância para compreender os desafios encontrados pelas agroindústrias e tudo o que envolve a agroindustrialização de alimentos na região.
Posteriormente as leituras, na segunda etapa de trabalho foram realizadas saídas a campo, para vivenciar a realidade da região.
Sendo a região um laboratório para um Tecnólogo em Agroindústria explorar as diferentes realidades de agroindústrias inseridas no contexto da agricultura familiar típica da região, o inicio do estágio proporcionou um embasamento teórico para entender as diferentes lógicas de trabalho dos diferentes tipos de agroindústrias.
Esta diversidade leva ao estudo para melhor compreender o desenvolvimento da região da quarta colônia. Este estudo a partir da leitura de textos e dos diagnósticos já realizados na região leva ao entendimento da lógica de trabalho destas agroindústrias, podendo assim inter relacionar outras estruturas, como órgãos públicos e sua forte influência na forma de organização destes agricultores familiares. Todo o embasamento teórico feito com grupos de discussões junto ao núcleo foi importante para as análises realizadas a campo.

5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As atividades desenvolvidas no estágio foram dividas de acordo com transcorrer do referido estágio. Foram dividas em duas etapas, primeiramente "conhecendo a Quarta Colônia" onde juntamente com o Nepals foi realizado um estudo exploratório da região de estudo. Foi realizado um estudo teórico e uma apresentação do projeto de gestão ambiental em andamento pelo Departamento de Extensão Rural nas agroindústrias da respectiva região.
Em uma segunda etapa de trabalho, foi realizada a "vivencia a campo", dado este nome exatamente pelo fato de ter sido uma vivencia com produtores rurais e atores participantes do processo de constituição de uma associação de agroindústrias "A Rede da Casa".
Esta etapa teve como finalidade compreender, através de entrevistas, como e porque se organizaram desta forma (associativista) e ainda como vem se articulando frente às condições legais existentes.
As entrevistas eram abertas, dirigidas aos participantes da Rede e à atores institucionais da Quarta Colônia, como prefeitos e secretários.
5.1 "Conhecendo a Quarta Colônia "

A Quarta Colônia de Imigração Italiana é um laboratório para o grupo NEPALS. Neste sentido existem vários textos produzidos por seus integrantes, sobre as diferentes realidades de agroindústrias desta região, alguns projetos concluídos e outros em andamento.
Como já exposto ao longo deste relatório, a Quarta Colônia é uma região que compreende nove municípios: Silveira Martins, Nova Palma, Faxinal do Soturno, Dona Francisca, Restinga seca, São João do Polêsine, Agudo, Ivorá e Pinhal Grande. Estes, em sua maioria, foram colonizados por imigrantes europeus, principalmente alemães e italianos, tendo assim características culturais, gastronômicas e religiosas semelhantes entre si.

Figura 1: Localização dos municípios da Quarta Colônia.
Fonte: Anuário Estatístico do RS (2001).
Adaptação: Lindner (2007)

Destaca-se ainda, a caracterização geográfica da região, composta por encostas de serra e morros, o que propicia o turismo paisagístico natural do lugar.
Destas caracterizações, culturais e geográficas, surge a proposta de desenvolver a região através do turismo. Projeto este idealizado pelo PRODESUS, Projeto de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia, iniciado no ano de 1995, onde a UFSM, através do Departamento de Extensão Rural teve grande participação.
A partir do PRODESUS, foi criado um Conselho de Desenvolvimento Sustentável da Quarta Colônia ? CONDESUS, o qual une os nove municípios para promoção do desenvolvimento da região. O CONDESUS é composto pelos prefeitos dos nove municípios mais um diretor executivo e uma secretária. É o conselho que organiza as demandas e ações em prol do desenvolvimento da região, buscando recursos e viabilizando a concretização dos projetos.

5.1.1 Vivencia da realidade da Quarta Colônia a partir dos projetos desenvolvidos junto ao Departamento de Extensão.

Para vivenciar a realidade das agroindústrias da Quarta Colônia, houve a necessidade de um embasamento teórico no segmento de AFRs para assim afinar o olhar sobre a perspectiva da realidade a ser vivenciada e suas peculiaridades.
Nesta primeira etapa dos trabalhos foram realizadas leituras e grupos de discussões para analisar as potencialidades, os pontos críticos e possíveis soluções para os problemas das AFRs da região.
Discutir textos que tratam dos problemas que são vivenciados na questão da legalização por estes empreendimentos em sua maioria rurais, e as dificuldades de se adaptar a legislação atual, discutir qualidade ampla novas formas de obter um padrão de qualidade sem ter que obedecer as regras maçantes atuais é um desafio que faz refletir.
Ao realizar leituras sobre a realidade vivenciada pelas AFRs da respectiva região, analisá-las e discutí-las surgem questionamentos como: em meio a tantas políticas públicas de fomento para fixar o homem no campo e ao mesmo tempo em meio a falta de amparo da legislação para o agricultor familiar será que AFR é uma estratégia para o desenvolvimento rural sustentável?
Discutir a viabilidade da produção artesanal se não estaria ameaçada pela atual legislação sanitária e até que ponto uma agroindústria é viável economicamente obedecendo às exigências da atual legislação, são pontos que permeiam este relatório de estágio
Refletir estes aspectos é de uma complexidade muito grande e que envolve muitas variáveis e segmentos institucionais diferentes. Como trabalhar com estes pontos? Como geri-los?

5.1.2 O estudo teórico como fundamento da prática

O objetivo desta seção é apresentar os textos discutidos no núcleo, para melhor entender a realidade das AFRs da região da quarta colônia.
Foram realizadas leituras de vários textos me retratarei a três que são mais instigantes para discussão. O artigo de Silveira & Heinz (2005), com título, "Controle de Qualidade Normativa e Qualidade Ampla: princípios para re-estruturação e qualificação da produção artesanal de alimentos" discute um assunto bastante sólido que é a situação da agroindústrias de caráter artesanal e a legislação atual.
Agroindústrias como produtoras de alimentos devem sim possuir um padrão de qualidade por questão de saúde pública, mas até que ponto para garantir um padrão de qualidade a obediência à legislação atual garante estes padrões, será que outros padrões eleitos de acordo com a realidade não solucionariam?
Produtos artesanais possuem um toque de arte de quem o produz, e ao se adequar à legislação sanitária perde-se em partes este "saber fazer tradicional", pois a tecnificação exigida para alguns processos faz com que o produto se modifique gerando uma questão mais palpável que é o "desgosto" do consumidor pelo produto que perdeu o caráter artesanal.
O texto da Boni (2006) trata da perspectiva da mulher em relação em relação as AFRs, no grupo de discussão o texto aflorou reflexões sobre o aumento da carga de trabalho da mulher com a atividade agroindustrial e como lidar com esta situação que de certa forma torna-se inevitável, pois na maioria dos casos é a mulher que sabe como processar, é ela que dá o toque especial, e passa a não possuir uma vida social, pelas atividades aumentadas. Este é um fato que deve ser trabalhado para melhorar a qualidade de vida da família como um todo. A partir desta problemática que se desenvolve no momento em que se ajustam estratégias para o desenvolvimento, como a criação de agroindústrias, refletem outras questões como sucessão no meio rural. Em geral as filhas destas mães que possuem uma carga de trabalho muito alta não querem continuar no campo levando assim a masculinização do campo.
O texto de Silveira et. al., (2006) "O turismo e a recreação das agroindústrias rurais tradicionais" foi importante para o entendimento desta aliança traçada na quarta colônia entre o turismo rural e a gastronomia através de produtos coloniais produzidos pelas AFRs.
É interessante salientar que ao se notar que existia um potencial turístico buscou-se fortalecer as agroindústrias que já existiam e recriar algumas na busca do desenvolvimento local. Esta percepção gerou uma ótima aliança que deve ser melhor trabalhada, não apenas no marketing destes empreendimentos aliados ao turismo, mas na relação de controle de qualidade destes alimentos produzidos, pois no anseio de fazer turismo X gastronomia, perdeu-se um pouco da noção de alimento saudáveis.
Um exemplo é Silveira Martins cidade turística, berço da quarta possui uma rota turística gastronômica com muito marketing e, no entanto parece às vezes que o marketing se sobrepôs a qualidade, pois ao visitar festivais e agroindústrias nota-se que a qualidade deixa muito a desejar, existe uma "simbologia", provocada pela cultura e que muitas vezes é desfeita para o turista ao visitar.

5.1.3 Vivenciando a gestão ambiental na Quarta Colônia.

O objetivo desta seção é descrever o acompanhamento do projeto de gestão ambiental, realizado através do monitorando das unidades de tratamento de resíduos em algumas AFRs da região de estudo.
Este projeto de gestão ambiental é realizado nas AFRs pertencentes a associação de agroindústrias "REDE da CASA" na região da quarta colônia. Este projeto tem o objetivo de estabelecer outras normas de tratamento de resíduos líquidos para estas agroindústrias, que não as exigências atuais, as quais estabelecem os mesmos critérios dos complexos industriais para as AFRs que possuem uma realidade bastante diferente.
As primeiras saídas a campo foram interessantes para observar a paisagem da região, e fazer as primeiras análises baseadas na realidade local.
No projeto de gestão ambiental foram realizadas coletas de água nas fontes de várias das propriedades, participantes do projeto e ao nos deslocarmos de uma propriedade para outra se notava a dificuldade de localização destas pela falta de sinalização e informações sobre a localidade, sendo a quarta colônia um local turístico é intrigante esta falta de informação para os andantes.
Nas propriedades visitadas era notória a receptividade, os produtores faziam questão de ser agradáveis servindo alimentos típicos da cultura do Imigrante.
As coletas de água foram realizadas nas fontes, nos açudes das propriedades, nas caixas de água e poços, no intuito de avaliar a contaminação tanto microbiológica, quanto química e também avaliar as condições físicas da água. Para tal foram utilizados matérias esterilizados, foram feitas analises de temperatura ambiente, temperatura da água e demanda bioquímica de oxigênio (DBO), com aparelho específico no local da coleta. Todos os dados eram criteriosamente anotados para posterior análise.
É mais esclarecedor este acompanhamento a campo antes de fazer as análises no laboratório, para entender o resultado posterior.
Nota-se que alguns produtores têm a preocupação de entender porque ocorrem certas situações ambientais, como por exemplo, eutrofização .
É notório o receio de investir, pela falta de estabilidade do mercado, sendo pouca a escala não existe a liberdade de muitos produtores de trabalhar com um mercado mais consistente, sendo esta uma realidade retratada em quase todos os empreendimentos que compõem a associação da Rede da Casa.
Esta vivência faz refletir sobre a importância do curso de Tecnologia em Agroindústria neste segmento, esta aliança das técnicas de processamento com a promoção de desenvolvimento rural.
Após as coletas de água foram realizadas as análises microbiológicas e químicas, no laboratório das águas da UFSM, onde pude colocar em prática a teoria já aprendida na Uergs, foi uma ótima experiência poder coletar e analisar os resultados e ainda trabalhar possibilidades de melhorar a qualidade da água e trabalhar em cima das dificuldades encontradas nas estações experimentais implantadas pelo projeto nas AFRs da "Rede da Casa".


5.2 "A vivência a campo"

5.2.1 Aspectos da realidade da Rede da Casa

O objetivo deste capítulo é abordar alguns aspectos da vivência junto aos agricultores que desenvolvem atividades agroindustriais e participam da Rede da Casa. Para compreender o processo de constituição da Rede da Casa e os conflitos que existem em torno das agroindústrias pertencentes a esta associação foi realizado uma pesquisa a campo, através de entrevistas com os atores participantes do processo em cinco dos nove municípios pertencentes a quarta colônia, são eles Faxinal do Soturno, Silveira Martins, São João do Polêsene, Dona Francisca, Restinga Seca e Ivorá.
Foi realizado portanto, um estudo exploratório com os atores envolvidos no processo de constituição da associação da Rede da Casa, ou seja, os produtores rurais, os representantes das instituições (prefeitos e secretários da agricultura) e o CONDESUS , este estudo foi realizado com a finalidade de compreender a constituição, funcionamento e assim analisar as estratégias utilizadas para implantar e manter esta organização.
A Rede da Casa é uma associação de produtores da Quarta Colônia criada em 2003. Fruto de ações para consolidação da Quarta Colônia como uma identidade diferenciada no contexto regional, valorizando as especificidades locais dadas pela interação entre a cultura dos imigrantes europeus, em sua maioria, e os recursos naturais disponíveis. Possui por objetivo principal realizar ações voltadas para qualificação dos produtos comercializados e buscar práticas alternativas para atender a legislação vigente produzindo bens de consumo sustentáveis nas esferas ambiental, econômica e social.
Sendo a Quarta Colônia economicamente envolvida pela produção de produtos coloniais que retratam a cultura local, e pela falta de políticas publicas locais principalmente em relação à legalização dos empreendimentos com menor escala de produção, produtores buscam organizar-se.
Através do CONDESUS, no ano de 2002, inicia-se um projeto para capacitação de produtores agroindustriais onde são selecionadas pelo Sebrae, (empresa contratada para capacitação) trinta famílias de acordo com a expectativa de crescimento do empreendimento. Inicia-se então uma etapa de vários cursos tanto de gestão, contabilidade, assim como boas práticas de fabricação (BPF), gestão ambiental entre outros na área de processamento de alimentos, visto que as unidades processadoras selecionadas possuem uma diversidade de produtos coloniais, trabalhando com vinhos, queijos, panificados, embutidos, etc.
Este projeto de capacitação das agroindústrias foi uma estratégia para enobrecer o desenvolvimento da região com base no turismo gastronômico, oferecendo aos turistas produtos típicos "qualificados".
Esta etapa de capacitação foi de suma importância para o desenvolvimento de muitos empreendimentos dos trinta selecionados. Ao sentirem-se capazes de "crescer" na agroindústria os produtores resolvem unir-se para facilitar a compra de material e matéria prima, como açúcar embalagem e outros, então fundam a associação da "Rede de Casa", no ano de 2003, com 16 sócios.
Os produtores passam então a comercializar, embora na informalidade, trabalham buscando canais de comercialização em prol do turismo da região conquistando vários feitos. Alguns conseguem legalizar-se e ampliam canais de comercialização alargando redes de contato, mas nem todos conquistam a validação legal.
A partir de então se iniciam alguns conflitos como a questão da legalização dos empreendimentos e a busca de um canal de comercialização, dentre outras questões que envolvem os agentes de desenvolvimento, representados pelas instituições, organizações e indivíduos.
Atualmente, a Rede da Casa possui 13 sócios que comercializam seus produtos tanto nos municípios da Quarta Colônia quanto em outros municípios como Santa Maria, que possui um grande público consumidor dos produtos da região.
As agroindústrias que participam atualmente da Rede são "Padaria Delícias de Ivorá" e "Irmãos Simonette" ambos de Ivorá, "Cantina do Vô Beppi", "Padaria Giacomini" e "Licores Sabor do Vale", de São João do Polêsine, "Padaria Bisognin", "Abatedouro Felin" e "Produtos Coloniais Cervo" ambos de Faxinal do Soturno, "Cantina Dal Pino" e "Parlacto" de Pinhal Grande, "Conservas Irmãos Rossato" de Nova Palma, "Agroindústria M. Lobler" de Dona Francisca, "Mel Shuller" de Agudo, e "Agroindústria Saziare" de Restinga Seca.
Estas treze agroindústrias familiares receberam capacitação para produzir alimentos com qualidade, principalmente sanitária. Os produtos comercializados por estas agroindústrias recebem um selo certificando a origem do produto (em anexo), carregando consigo todo um apelo cultural trazido pela "marca" Quarta Colônia. Com o objetivo de oferecer ao consumidor produto de boa qualidade e que tem procedência, embora muitos sem validação legal.
Após a criação da associação, houve a necessidade de criar uma cooperativa para comercializar em grupo, mas a quantidade de sócios da associação da Rede da Casa não era suficiente para formar uma cooperativa que necessita no mínimo 20 sócios, então foi criada a COPAGRO ? Cooperativa de Produtores Agropecuários, que possui como sócios os produtores das AFRs, que pertencem a Rede da Casa, e ainda produtores de produtos in natura e de artesanatos da região da Quarta Colônia.
Atualmente a COPAGRO, possui em torno de 70 sócios com os mais variados tipos de produtos tanto in natura como agroindustrializado.
Como o objetivo da cooperativa é comercializar, foi construído um terminal de comercialização na RST 287, no município de Restinga Seca, denominado "A Casa da Quarta Colônia" (em anexo). Este terminal contou com o auxilio do CONDESUS para a conquista da verba.
A criação da COPAGRO com a finalidade de se formar um canal de comercialização, mais sólido para estas agroindústrias pertencentes à associação Rede da Casa e ainda englobando produtores rurais de produtos in natura não correspondeu ao desejado, ao ponto que a obra foi concluída em 2006 e ainda não foi inaugurada.
Os conflitos se dão inicialmente por causa de legislação sanitária hierarquizada e compartimentada entre município, estado e federação, como já referenciado.
Existe também a questão do terminal estar situado no município de Restinga Seca, ocasionando problemas com a legislação sanitária. Os sócios do respectivo município que possuem inspeção municipal poderiam, pela lógica comercializar no terminal, já os associados do município de Faxinal, por exemplo, que possuem a inspeção municipal, não podem comercializar no terminal. Para tal teriam que ter inspeção estadual ou federal, a qual é inviável para o contexto da AFRs.
As agroindústrias da Rede da Casa em geral possuem problemas com a legislação sanitária, apresentando validação social e não legal, pois a legislação sanitária possui exigências fora do contexto destas agroindústrias inseridas em sua maioria na agricultura familiar. A escala de produção de alguns empreendimentos, principalmente dos que se utilizam de produção artesanal é pequena, além de existir o risco de perder o caráter original do produto ao legalizar-se, pela adequação da produção a equipamentos não costumeiros dos produtores. Esta mesma escala inviabiliza a capacidade de pagamento dos empreendimentos se legalizados e muda toda uma lógica de produção característica da região.
A falta de mão de obra qualificada é um ponto a ser analisado devido à reclamação de muitos dos produtores neste fragmento, pois em geral as agroindústrias possuem mão de obra familiar onde os que trabalham, possuem um "saber fazer" hereditário para produzir, e no momento em que se pretende aumentar a escala precisará aumentar o quadro de recursos humanos e este novo quadro não possui o mesmo "saber fazer".
A falta de incentivos do poder público municipal para com estas agroindústrias é visível, onde dentre os nove municípios que compõem a Quarta Colônia apenas quatro possuem o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), seria o mínimo que o município deveria fazer. Neste seguimento os atores que representam as instituições deixam a desejar pela desorganização e falta de apoio as agroindústrias de seus municípios.
No ponto de vista de muitos dos atores participantes do processo de constituição da Rede a capacitação não continuada foi uns dos pontos culminantes para desistência de alguns produtores. Para eles é complicado inovar, todos os cursos oferecidos eram novas propostas de trabalho, a capacitação deveria ir além dos cursos oferecidos, para transformar técnica, em rotina.
Nota-se que a qualidade de vida dos sujeitos rurais que conquistaram a validação legal (os empreendedores que se sobressaem em relação ao mercado) não é a ideal, pois as tarefas aumentaram e os sujeitos trabalhadores são os mesmos.
Geralmente, os produtores que trabalham com agroindústria familiar possuem outras atividades principalmente para a subsistência familiar. Já nas agroindústrias familiares urbanas, não existem outras atividades, em geral estas são de farináceos e a quantidade de horas trabalhadas é bem maior, todos os dias precisam-se ter produtos novos, como os pães, biscoitos e cucas. Embora não existam outras atividades o serviço exige muita força de trabalho do empreendedor que quase sempre não assume somente a tarefa de gerir, mas também todas as outras tarefas.
Após estas articulações para consolidar as agroindústrias da Rede da Casa o sucesso total ainda não chegou, necessita-se de maior organização por parte dos atores participantes do processo de buscar práticas alternativas para atender a legislação vigente, ou seja o principal objetivos da Rede ainda não foi alcançado.
A organização num sistema como este é mais complexa, pois envolve vários atores de nove municípios com realidades semelhantes, mas diferentes entre si e cabeças pensantes com diferentes conceitos, assim como cita Graziano da Silva (2001) para que ocorra o desenvolvimento local é necessário um grau mínimo de organização social que permita aos atores envolvidos o acesso ao processo.






6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Dada a vivência com atores participantes do processo de constituição desta associação, chamada Rede da Casa e da cooperativa COPAGRO, criada posteriormente; esta seção se propõe a discutir os resultados encontrados a campo e tratar de uma suposta intervenção para a atual situação da Rede.
Tendo em vista que as problemáticas observadas a partir da vivência são a organização e legalização dos empreendimentos que compõe o sistema de comercialização da Rede da Casa, as observações realizadas no estágio, bem como as reflexões advindas deste, permite a construção de algumas considerações. O que segue.
- Com relação à organização dos participantes do Processo e suas responsabilidades:
Os produtores rurais neste processo de organização têm papel fundamental, pois são a "máquina da fábrica". Precisam buscar capacitação, maximização de recursos, empenhar-se em produzir com qualidade e melhorar o produto, sem perder, é claro o caráter colonial que é peculiar da região. Para tal já foram capacitados.
Os gestores públicos, por sua vez, possuem um papel muito importante no processo, vê-se a falta de conhecimento que os secretários de agricultura têm da situação de seus municípios, a falta de atitude focalizada, o pouco conhecimento sobre legislação, a falta de profissionais adequados para tratar do assunto. O que de certa forma faz pensar, como devem estar outros municípios não pertencentes à Quarta Colônia, pois onde existe uma certa prioridade pelo setor de agroindústrias, existe este descaso!
Como atuar em uma situação onde um dos maiores entraves é a legislação, sem conhecê-la? Os municípios devem possuir no mínimo um serviço de inspeção municipal ? SIM eficaz e competente é crucial, pois a partir de fiscais competentes que trabalhem em conjunto com órgãos de extensão do município dando o auxilio necessário para os produtores é que se constroem alternativas para o desenvolvimento das AFRs. Para assim se legalizarem com segurança, procurando formas viáveis, tanto em relação ao crédito, quanto em relação à abertura de mercado.
Em geral os produtores não conseguem analisar os três ambientes que o circundam, o ambiente interno, operacional e externo. Quase sempre dominam em partes o ambiente interno, um pouco do operacional e praticamente nada do macro ambiente, o que dificulta esta visão de mercado, mas existem pessoas capacitadas para tal, que organizadas com o auxilio das instituições poderiam fazer esta assistência técnica e viabilizar mercado.
A outra problemática visualizada na associação de produtores da Rede da Casa é a legalização, como já referenciado. Existem três legislações que regem um empreendimento produtor de alimentos, as quais os produtores rurais devem se adequar para então tomar a tão sonhada validação legal de seus produtos.
A legislação tributária, a sanitária e a ambiental. A questão ambiental é bastante delicada, pois o agente rural não vê, na maior parte dos casos, os resíduos gerados na sua propriedade como um risco ambiental, e o agricultor familiar não consegue muitas vezes capacidade de pagamento para obedecer as regras impostas pela legislação vigente.
Em se tratando da questão tributária existe hoje uma legislação que não permite comercialização de produtos processados através do bloco de produtor o que lhe impede de comercializar sendo mais uma barreira para o desenvolvimento. A legislação sanitária como já foi comentada está fora da realidade local dos agricultores familiares.
Os produtores ao formar a associação Rede da Casa vislumbravam a alternativas viáveis para a legislação atual, alternativa para manter-se como trabalhador rural, perante o INSS e processando alimentos de forma artesanal.
Embora existam políticas públicas voltadas para a agricultura familiar que fomentam a agregação de valor, ainda não existe o aparato completo de leis que consolide esta política, proporcionando o desenvolvimento sustentável, através da agroindústria.
Na região estudada, percebe-se a olhos vistos, a necessidade de uma legislação diferenciada da que hoje é aplicada, sendo imprescindível também a participação dos agentes, indivíduos, instituições e organizações, na elaboração de alternativas.
Os gestores públicos tem papel fundamental na implantação de um sistema de fiscalização sanitária de acordo com a realidade regional da Quarta Colônia. Para tal é de extrema importância à implantação de um SIM nos municípios. Muitos dos atores entrevistados acreditam que uma das alternativas para a questão de legalização das agroindústrias é a implantação de um SUASA ? Sistema Unificado de Atenção a Sanidade Agropecuária.
O incrível é que a justificativa de alguns dos gestores públicos por não implantar o SIM, são os altos custos, por causa da contratação de técnicos, implantação de laboratórios, investimento em automóveis, entre outros, o que não justifica, pois isto é um custo benefício necessário para o desenvolvimento dos empreendimentos.
O SUASA exige mais investimento que o SIM e além do mais este sistema unificado trás para os municípios o Serviço de Inspeção Federal ? SIF, com algumas modificações para a realidade, mas não muitas. As experiências vivenciadas em Criciumal/RS, onde o sistema já foi implantado, mostram que é uma realidade não coerente com as características das agroindústrias da Quarta Colônia.
A Emater tem sua incumbência no processo, a assistência técnica é o suporte para a transformação da capacidade adquirida virar rotina da família.
O CONDESUS como um conselho que faz a intermediação entre os nove municípios deveria agir como um organizador e mediador entre os municípios, como fiscalizador dos projetos, e para que isto ocorra precisa haver uma abertura maior do consórcio para discutir as prioridades para a Quarta Colônia, e para isto precisa que os gestores tragam idéias palpáveis de seus municípios, idéias baseadas em diagnósticos, o que muitos não possuem.
O papel fiscalizador do consórcio perante os municípios seria cobrar se realmente as verbas conquistadas pelo consórcio para projetos estão sendo destinadas para as prioridades eleitas pelo consórcio. O CONDESUS possui facilidade de conseguir verbas para projetos nos municípios da Quarta Colônia, esta facilidade deve ser aproveitada, mas as verbas devem ser melhor trabalhadas para que realmente se destinem ao bem comum dos atores envolvidos e não se transformem em "elefantes brancos".
Outra problemática nesta conjuntura que estão inseridas as agroindústrias pertencentes à Rede da Casa é a situação do terminal de comercialização construído com a finalidade de escoar a produção, dos produtores e AFRs associados a COPAGRO.
Este terminal foi projetado pelo CONDESUS para ser uma vitrini da Quarta Colônia, ou seja, não apenas com a finalidade principal de escoar os produtos da região com venda a varejo e atacado, aproveitando o ponto que é rota para capital, mas também ser um centro de apoio ao turista, com informações sobre os pontos turísticos, pousadas, restaurantes e hotéis, ser um ponto de encontro com uma praça de alimentação, e ter um funcionamento de no mínimo 16 horas diárias.
Este projeto amplo almejado pelo CONDESUS para o terminal eleva os custos de manutenção, os quais a Cooperativa não quer arcar. Então se iniciam os conflitos, pois, quem vai administrar o terminal "A casa da Quarta Colônia" é a COPAGRO, que não quer assumir custos para o desenvolvimento turístico da região.
Se o terminal "A casa da Quarta Colônia" for estruturado da forma como o CONDESUS idealiza, inviabiliza a manutenção pela cooperativa, este seria um dos impasses pelo qual o terminal ainda não foi inaugurado. Definir esta questão é importante para inauguração deste terminal, que é um patrimônio público sofrendo intempéries há três anos.
A importância de inaugurar o terminal vai além da destruição pelo tempo, é uma questão de motivação para os produtores da COPAGRO, e outros que esperam "abrir as portas" para se associar.
Uma outra questão que aflora neste contexto é a informalidade da maioria das agroindústrias pertencentes a Cooperativa, como já foi comentado, estes produtores receberam vários cursos de capacitação para melhorar a produção e a qualidade de seus produtos sem perder o caráter do produto colonial, mas por um aparato de leis fora do contexto da agricultura familiar não conseguem validar legalmente seus produtos. O consórcio não admite a comercialização de produtos informais, ou seja, com validação social, apelando para as questões de segurança alimentar dos consumidores.
Ninguém nega a importância de agir pensando na saúde publica, pois se tratam de alimentos, seria um antimarketing para marca "Rede da Casa" se alguns produtos causassem danos à saúde dos consumidores. Mas também se sabe que a forma como os órgãos fiscalizadores trabalham, exigindo instalações e equipamentos, não garantem qualidade sanitária dos produtos.
Para tal deve-se pensar numa alternativa viável de normatizar os produtos, pois possuem validação social, e os produtores pertencentes à rede da casa foram capacitados para produzir, ou seja, seus produtos possuem qualidade sanitária, mas por todo o contexto que se encontra a agricultura familiar é inviável a adequação as exigências da legislação sanitária atual da qual o CONDESUS não abrem mão.
Quem irá administrar o terminal? O Consórcio ou a Copagro? Como se manterá economicamente o terminal, com tantas despesas e pouca escala de produção? Estes questionamentos em sua maioria sem respostas concretas tratam de uma questão de organização das partes envolvidas, parar, avaliar, conversar e se entender.
O custo para manter o terminal não pode ser muito alto, pois se torna inviável. Atualmente a Cooperativa possui em torno de 70 sócios, sendo que a minoria trabalha no setor de agroindústrias, apenas os 13 sócios da Rede da Casa. O custo mensal orçado pelo Condesus para a Cooperativa manter o terminal é de R$12.000,00 mensais, os quais os cooperados devem pagar com 20% da venda dos produtos comercializados no terminal. Para a maioria dos produtores este custo é inviável, pois a escala ainda é pequena e existem outros custos, como o transporte.
Para entender melhor esta questão, os municípios formadores da Quarta Colônia, distam, em média cerca de 20 Km de distância entre si e o referenciado terminal localiza-se na RST 287 (figura 2).

Figura 02: Localização dos Municípios da Quarta Colônia.
Fonte: RS VIRTUAL, 2009

Na prática, por exemplo, o transporte de produtos de Pinhal Grande para o terminal, gera um custo alto, principalmente em se tratando de produtos de abastecimento diário, como hortigrangeiros e panificados.
Através da vivência com atores participantes do processo de constituição desta organização "Rede da Casa" pela observância dos conflitos entre estes atores elaborei um plano de intervenção referentes aos aspectos legais observados, buscando uma caminho para sua efetivação.
A elaboração de um plano de intervenção foi uma solicitação do NEPALS como parte das atividades de estágio, buscando assim propostas em relação à problemática da legalização das agroindústrias vivenciadas.
Para tanto dividi a construção deste plano em duas etapas: pré-legalização dos empreendimentos familiares e legalização propriamente dita.
- A pré-legalização
Como já referenciado o processo atual para legalização dos empreendimentos é insustentável economicamente na maioria dos casos, gerando também outros problemas de descaracterização dos produtos em alguns casos de produtos tradicionalmente artesanais.
Sendo assim a proposta que serve como alternativa para a realidade vivencia pelos produtores da rede da casa segue com a primeira etapa; uma etapa que deve ser compreendida como uma pré-legalização onde haveria um processo de qualificação dos produtores interessados com cursos de capacitação no setor do empreendimento, tanto do processamento propriamente dito, com o objetivo de melhorar as técnicas de produção, de gestão do empreendimento, contabilidade, gestão ambiental, entre outros.
Os produtores qualificados então podem comercializar com o selo da rede, passando por este período de informalidade de acordo com um termo de ajuste de conduta (TAC) que é um termo que propõe ao produtor um período de dois a três anos para ajustar-se à legislação. Assim capacitados deve haver incentivo para melhorias nas agroindústrias no sentido de fazer um enquadramento básico do fluxograma de produção.
Estes fomentos financeiros existem, precisam apenas de assistência técnica capacitada para elaborar projetos viáveis a realidade dos produtores.
A segurança dos alimentos depende basicamente de uma manipulação correta, um fluxo de produção correto, para que não ocorra contaminação cruzada e matéria prima de boa qualidade, estes itens são indispensáveis no que tange a saúde sanitária do consumidor, sendo assim porque não adaptar estes normas, como forma de legalização.
Este período de pré-legalização é o período que o produtor, que pretende implantar uma agroindústria familiar possui para validar seu produto junto ao consumidor, pois é inviável alavancar investimentos para adequação sanitária do empreendimento e o produto não ser aceito pelo consumidor. Para o produtor que possui uma agroindústria, mas ainda informal e já possui um produto validado pelo consumidor este período serve para angariar fundos para adequar-se a legislação.
Neste período o produtor com capacitação e principalmente assistência técnica continuada, a qual fará parte do programa, deve fazer as melhorias necessárias conforme o tempo do TAC que o transcorrer, para atingir assim a validação legal.
O TAC é um termo que transcorre em um tempo pré-determinado pelos envolvidos, dois ou três anos e que deve ser regionalizado, no que tange a fiscalização sanitária, pois o público consumidor é regional e principalmente de Santa Maria, ou seja, precisa haver liberdade de comercialização em outros municípios da região.
Após este período de adaptação às normas legais e ao mercado o produtor deve seguir para próxima etapa que se trata da etapa de legalização propriamente dita, após a capacitação, a conquista de mercado, então a legalização.
Então este sistema de legalização é como se fosse um processo de amadurecimento do empreendimento perante a legislação. Para que o processo se suceda como um fluxograma contínuo, seguindo as etapas de capacitação, de adesão ao termo, de legalização do empreendimento e comercialização de um produto validado socialmente e legalmente, os atores do processo devem ter consciência que possuem responsabilidades e devem cumpri-las.
- Legalização
Imprescindível na segunda etapa que é a validação legal do produto que todos os municípios que compõem a Quarta Colônia tenham o SIM, e disponham de um quadro de bons profissionais para auxiliar na legalização dos empreendimentos.
Uma alternativa, até mesmo citada em entrevista pelos atores envolvidos, seria a adaptação ao SUASA, mas é importante compreender que o SUASA deve sofrer adaptações a realidade local para promover o desenvolvimento das AFRs, do contrário é inviável aos produtores com menor escala de produção.
Este sistema de legalização reduziria os índices de insucesso das AFRs, sendo que hoje com as exigências legais e faltas de estratégias de mercado estes empreendimentos possuem 5% de sobrevivência a nível de Brasil
Acredito que com organização e uma legislação adequada para realidade local a Rede da Casa ainda será referência por apresentar produtos diferenciados, com a característica "da colônia" e com qualidade.








7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A participação nas ações da Quarta Colônia de Imigração Italiana através do grupo Nepals do Departamento de Extensão da UFSM foi o impulso para melhor entender os aspectos da realidade das agroindústrias.
Afinar o olhar sobre a lógica de trabalho dos sujeitos rurais foi instigante e de grande valia para o futuro profissional.
Tendo em vista a dimensão das ações trabalhadas pelo núcleo o estágio proporcionou trabalhar com diversas situações de uma região com realidades semelhantes, mas que se diferem pela diversificação intrínseca dos produtos elaborados e a lógica de trabalho que é influenciada por fatores sociais e culturais da região.
Resgatar e analisar um processo de formação da uma organização de um grupo de produtores, a "Rede da Casa" foi muito interessante, sabendo das dificuldades que existem nos dias atuais em trabalhar sozinho, analisar as dificuldades de trabalhar em grupo foi algo de uma validade incrível, embora bastante complexo pela inexperiência no assunto.
Os discursos no meio acadêmico retratam a atividade agroindustrial como uma estratégia para o desenvolvimento rural, como forma de permanência do sujeito rural e sua família no campo, mas ainda não é muito discutido o quanto este sujeito rural está preparado para esta atividade não agrícola. Mesmo sendo uma atividade herdada de família que comporta um "saber fazer" hereditário existe toda uma capacidade organizacional para a atividade e um conhecimento institucional que o grupo familiar passará a gestar.
Esta realidade da agroindústria visando os obstáculos que produtores rurais enfrentam deve ser mais abordada nas universidades e centros de ensino, os quais são "fábricas" que produzem assistência para este nicho. Neste intuito o referido estágio proporcionou o acúmulo de conhecimentos que serão difundidos para promoção do desenvolvimento de cada região a ser trabalhada, sendo o futuro profissional o veículo para tal.

8. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVAY, R. Transformações na vida camponesa: o sudoeste paranaense. São Paulo: Universidade de São Paulo. 1981. 274p. (Dissertação de mestrado)

ABRAMOVAY, R., "Agricultura, Diferenciação Social e Desempenho Econômico". Projeto IPEA-NEAD/MDA ? Banco Mundial, São Paulo, FEA-USP, 2000, p. 03.

ALENTEJANO, P. R. R. Pluriatividade: uma noção válida para a análise da realidade agrária brasileira? In: TEDESCO, J.C. (organizador). Agricultura Familiar: Realidades e Perspectivas. 2º Edição. Passo Fundo: EDIUPF, 1999.

BARROS, G. S. C., Agricultura Familiar, CEPEA, ESALQ/ USP, São Paulo, 2006.

ANJOS, Flávio Sacco dos. Pluriatividade e desenvolvimento rural no sul Brasil Caderno de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 20, nº1, p. 11-44, jan./abr. 2003.

BATALHA, O. Gestão Agroindustrial GEPAI: grupo de estudos e pesquisas agroindsutriais. Vol. 2. ed. Atlas, São Paulo, 2001.

BONI, V. Agroindústrias familiares: uma perspectiva de gênero. In: XXX Encontro Anual da ANPOCS. Anais, 2006.

BROSE, M. Agricultura familiar, desenvolvimento local e políticas públicas. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 199p. 347p.

BRUNET, R. Lê territoire dans lês turbulences. Paris: Reclus, 1990.

CAMPANHOLA C. & GRAZIANO DA SILVA, J. Desenvolvimento local e a democratização dos espaços rurais. In: Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.17, n.1, p.11-40, jan./abr. 2000.

CARNEIRO, M. J. Agricultores familiares e pluriatividade: tipologias e políticas p. 323 ? 344. In: Costa, L. F. C.; Bruno, R.; Moreira, R. J. (orgs); Mundo rural e tempo presente. Rio de Janeiro: Mauad, 1999. 352p.

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Análise multidimencional da sustentábilidade "Uma proposta metodológica da agroecologia". Publicado em Revista Agroecol. e Desenvol. Rural e Sustent., Porto Alegre, V.3, n.3, Jun/Set 2002.

COSTABEBER, J. A.; CAPORAL, F. R. "Possibilidades e alternativas do desenvolvimento rural sustentável". In: Vela, Hugo. (Org.): Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural Sustentável no Mercosul. Santa Maria: Editora da UFSM/Pallotti, 2003. p.157-194.

CORONA, H. M. P. Resistência inovadora: a pluriatividade no sudoeste paranaense. Curitiba: UFPR, 1999. 231p. (Dissertação de Mestrado em Sociologia).

CORONA, H. M. P. & POSSAMAI, E.J.. Agroindústrias Familiares do Leite da Micro Região de Pato Branco-PR. In: CEFET-PR. Anais do VII Seminário de Iniciação Científica. Curitiba: CEFET-PR, 2002. pág.122-125.

CASAROTTO FILHO, Nelson; PIRES, Luis Henrique. Redes de pequenas e médias empresas e desenvolvimento local: estratégias para a conquista da competitividade global com base na experiência italiana. São Paulo: Atlas, 1998.
DEL GROSSI, E. & SILVA, J. G. Novo rural: uma abordagem ilustrada. Instituto Agronômico do Paraná, Londrina-PR, 2002.

DEL GROSSI, E. & SILVA, J. G. Desenvolvimento Rural e Ruralidade, Movimento Recente da Agricultura Familiar. Universidade de Brasília - Brasília - DF ? Brasil, ano 2002.

FLORES, M. X. e MACEDO, M. M. C. Novos Rumos do Desenvolvimento Rural. Anais do XXXVI Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, Foz do Iguaçu, Paraná, 1999, p. 4.

FLORES, M. A identidade cultural do Território como base de estratégias de desenvolvimento - uma visão do estado da arte. In: Séries Territórios com Identidade, São Paulo, 2006.

GNOATTO, A. A., et al., Pluriatividade, Agroindústria e agricultura familiar., Sober, sem ano. DISPONIVEL EM <http://www.sober.org.br/palestra/12/09P445.pdf, acesso em 22/07/2009

GUIMARÃES, G. M. e SILVEIRA, P. R. C. da. Por Trás da Falsa Homogeneidade do Termo Agroindústria Familiar Rural: Indefinição Conceitual e Incoerências das Políticas Públicas In: VI Encontro da Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção. Anais. Fortaleza: SBSP, 2007.

GUIMARÃES, G. M. A legislação industrial e sanitária dos produtores de origem animal: o caso das agroindústrias de pequeno porte. 2001. 146 f. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) ? Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2001.

GUIVANT, J. Conflitos e negociações das políticas de controle ambiental: o caso da suinocultura em Santa Catarina. Ambiente e Sociedade, Ano I, nº 2, 1998. p. 101-123

------------ A Comparative Gender Perspective Of Family Farming And Agrarian Reform Settlements In Brazil. Relatório de pesquisa preparado para UNRISD Project on agrarian Change, Gender and Land Rights. 2001: 61pp.

----------- Agrarian Change, Gender and Land Rights: a Brazilian case study. Social Policy and Development Programme Paper. Genebra: UNRISD, n.14, p.1 - 51, 2003. GUIVANT, J.; MIRANDA, C. As duas faces de Jano: agroindústrias e agricultura familiar diante da questão ambiental. Cadernos de Ciência e Tecnologia. Brasília:Embrapa, v. 16, n.3 set/dez. 1999

IBGE, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em <http://www.ibge.gov.br Acesso em 20/07/2009

LIMA, Pedro Jorge B. F.; PINHEIRO, Maristela Calvário A. Abordagem das relações sociais em experiências de produção e comercio de produtos ecológicos no Brasil in Agricultura familiar, agroecologia e mercado no Norte e Nordeste do Brasil/Organizadores: Angela Küster, Jaime Ferré Martí. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer; DED, 2004.

LINDNER, M. Turismo rural e desenvolvimento local: estudo da rota gastronômica de Santa Maria - Silveira Martins - RS. 2007. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural, UFSM, Santa Maria, 2007.

MAUSS, M. Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas. In: Sociologia e antropologia. São Paulo: EDUSP, 1974. v.2, p. 49-209.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (MDA). Secretaria da Agricultura Familiar. Programa de Agroindustrialização da Produção de Agricultores Familiares 2003/2006. Brasília, 2004.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (MDA). Secretaria da Agricultura Familiar. Programa de Agroindustrialização da Produção da Agricultora Familiar 2007/2010. Documento Referencial. Brasília, 2008.

MIOR, L. C. Agricultores familiares, agroindústrias e redes de desenvolvimento rural. Chapecó: Argos, 2005.

MIOR, L. C. Desenvolvimento Rural: A contribuição da Teoria das Redes. In; "I Colóquio sobre agricultura familiar e Desenvolvimento Rural". Porto Alegre Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS). Nov. 2005.

MIOR, L. C. Trajetórias das Agroindústrias Familiares Rurais no Estado de Santa Catarina (Brasil). In.: In.: IV Congreso Internacional de la Red SIAL (ALFATER). Anais... Mar del Plata/Argentina: IICA, 2008.

MURDOCH, J.; MARSDEN, T.; BANKS, J. Quality, Nature, and Embeddedness: Some Theoretical Considerations in the context of the Food Sector. Economic Geography. v. 76, n. 2, April 2000.

MURDOCH, J. Networks ? a new paradigm of rural development? Journal of Rural Studies n. 16, 2000, p. 407-419.

NEUMANN, P. da et al. Diagnóstico e cadastro das unidades de produção de hortigranjeiros e de produtos coloniais da microrregião da Quarta Colônia e Estudo Regional de mercado na região central do Estado. Relatório de Pesquisa FAPERGS. Grupo de Pesquisa Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Rural e Núcleo de Estudos em Economia Agroalimentar da UFSM-RS. 2006.

NEUMANN, P. S. Desenvolvimento local: o debate do ?modelo rural? x ?modelo agrícola?. In: FROEHLICH, J. M. e DIESEL, V. (org) Desenvolvimento rural: tendências e debates contemporâneos. Ijuí: Ed. Unijuí, 2006.

PORTUGAL, A. D., O desafio da Agricultura Familiar, Revista Agroanalysis, 2002. p, 1.

PREZOTTO, L. L. A agroindustrialização de pequeno porte: higiene, qualidade e aspectos legais. Revista Agropecuária Catarinense. Florianópolis. v. 10, n. 4, dez. 1997.

PREZOTTO, L. L. Principais procedimentos para registrar uma pequena agroindústria. Texto de referência ? Pronaf/agroindústria. MDA/SAF, Brasília, 2001.

PREZOTTO, L. L. Uma concepção de agroindústria rural de pequeno porte. In: Revista de Ciências Humanas. EDUFSC. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Florianópolis. n. 31, abr. 2002a.

PREZOTTO, L. L. Qualidade Ampla: referência para a pequena agroindústria rural inserida numa proposta de desenvolvimento regional descentralizado. In: LIMA, Dalmo M. de Albuquerque e WILKINSON, John (Org.) Inovações nas tradições da agricultura familiar. Brasília: CNPq/Paralelo 15, 2002b.

RS VIRTUAL (Rio Grande do Sul). História, turismo e informações sobre municípios do RS. Disponível em: <http://www.riogrande.com.br/turismo/quarta.htm>. Acesso em: 4 jun. 2009


SANTOS, D. R; SILVEIRA, P. R. C. Diagnóstico Parcial do Sistemas de Gestão Ambiental na Agroindustrias Famiiares da Rede da Casa, na área da Quarta Colônia/RS.(Relatório Parcial) UFSM, 2008.

SCHNEIDER, S. Agricultura familiar e pluriatividade 1999. 405f. Tese (Doutoramento em Sociologia) ? Universidade Federal do Rio grande do Sul, Porto Alegre, 1999.
SCHNEIDER, Sérgio. Agricultura familiar e industrialização: Pluriatividade e descentralização industrial no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. Universitária/UFRS, 1999.

SCHNEIDER, S. Pluriatividade na agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003, p. 99 ?120.

SCHNEIDER, S. Teoria Social, Agricultura Familiar e Pluriatividade., Revista Brasileira de Ciências Sociais ? RBCS. São Paulo: Vol. 18 N°. 51, fev. 2003.

SHERER, F. B.; MIORIM, V. M. F. Caracterização da Agricultura Familiar no Município de São Sepé, RS. In: III Simpósio Nacional de Geografia Agrária ? II Simpósio Internacional de Geografia Agrária. Presidente Prudente. Nov, 2005.

SILVEIRA, P. R. C. da et al. O Turismo e a Recriação das Agroindústrias Rurais Tradicionais. In.: V Congresso Internacional de Turismo Rural e Desenvolvimento. Anais... CITURDES. Santa Maria: UFSM, 2006.

SILVEIRA, P. C. da et al. A produção artesanal de vinhos na região da Quarta-Colônia/RS: (re)criação e transformação do circuito de produção-distribuição-consumo. In: Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Anais... Londrina/PR : SOBER, 2007.

SILVEIRA, P. R. C. da. et al. A construção da identidade territorial em sistemas agroalimentares localizados: o caso da região da Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul/Brasil. In.: IV Congreso Internacional de la Red SIAL (ALFATER). Anais... Mar del Plata/Argentina: IICA, 2008a.

SILVEIRA, L. B.; NEUMANN, P. S.; SANTOS, V. F.; Pluriatividade na Agricultura Familiar, as diferentes visões teóricas, Anais do VI Encontro da Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção. Aracajú/SE. Out, 2004.

SILVEIRA, P. R. C. da.; HEINZ, C. Controle de qualidade normativo e qualidade ampla: princípios para re-estruturação e qualificação da produção artesanal de alimentos. In.: Seminário sobre Agroindústria Familiar e Desenvolvimento Rural. Anais... São Luis Gonzaga: UERGS, 2005.

SPERRY, S. A fábrica das associações. In.: CARVALHO JÚNIOR et al (org.). Ações coletivas praticadas pelos produtores rurais. Brasília - DF: Embrapa Cerrados, 2003.

SULZBACHER, A. W. A agroindústria familiar rural enquanto alternativa para agricultura familiar: estudo de caso no município de Chapada/RS. Monografia (Curso de Geografia ? Licenciatura Plena) Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2007.

SULZBACHER, A. W. e DAVID, C. de. A agroindústria (não integrada): alternativas para a agricultura familiar. In: XVIII Encontro Nacional de Geografia Agrária. Anais... Rio de Janeiro: UERJ [et al.], 2006. p. 1-20. CD-ROM.

SULZBACHER, A. W.; SILVEIRA, P. R. da; GENRO, C. M. A gestão dos riscos ambientais no espaço rural: os conflitos diante das diferentes percepções entre os atores sociais. In: VII Bienal do Colóquio de Transformações Territoriais. Anais Curitiba: Editora da Universidade Federal do Paraná/Brasil, 2008.

SULZBACHER, A. W. e DAVID, C. de. Alternativas para o Espaço Rural: importância de compatibilizar políticas públicas com saberes locais. In.: Campo-Território: Revista de Geografia Agrária. v.3, p.14 - 37, 2008a.

TESCH, R. Wladimir. As relações de reciprocidade dos agricultores familiares e a formação de redes de cooperação no noroeste do Rio Grande do Sul., Sober, 1999.

VIEIRA, L. F. Agricultura e Agroindústria familiar. In: Revista de Política Agrícola. Ano VII (01), Jan-Mar, 1998.

WILKINSON, J.; MIOR, L.C. Setor informal, produção familiar e pequena agroindústria:interfaces. Estudos Sociedade e Agricultura. nº 13, 1999, p. 29-45.



ANEXOS
ANEXO A
ROTEIRO TEMÁTICO DAS ENTREVISTAS
PRODUTORES
1. Agroindústria
2. Como surgiu a idéia de agro industrializar, como teve inicio a agroindústria? (se cultural através de herança familiar de saberes...ou foi re-criada)?
3. Quais as atividades na propriedade? (Caso seja mais que uma, quais as vantagens e desvantagens de ter muitas atividades)
4. A mão de obra é toda familiar? Se não quantos funcionários? Ou esporáticos?
5. Utilizou algum financiamento para implantação da agroindústria? Qual? Se não qual o motivo?
6. Situação Legal e Orientação Técnica
? O que produz?
? Possui Registro dos Produtos?
? Possui Inspeção Sanitária? Qual agente?
? Possui Alvará Municipal?
? Possui Licenciamento Ambiental? ( )Sim ( ) Não
7. Já teve problema com a inspeção sanitária? Tanto por estar legal quanto por estar ilegal.
8. Qual seria o custo para legalizar o empreendimento, se ainda não estiver totalmente legal? Ou seja o valor é um entrave?
9. Quais foram às dificuldades iniciais?
10. Quais são as maiores dificuldades em termos de adequação a legislação, tanto sanitária quanto ambiental?
11. Qual o objetivo da formação da Rede?
12. Porque entrar no projeto da Rede da Casa? Como foi realizada a proposta para os produtores em relação ao projeto, quais os benefícios que o produtor teria? Qual foi a intenção do projeto? O que foi discutido com os produtores?
13. Na visão do produtor, qual o "defeito" do projeto da Rede da casa? Como deveria acontecer?
14. Qual o papel da prefeitura municipal e da secretaria da agricultura?
15. Qual o papel da Emater?
16. Qual o papel do Condesus?
17. Qual foi o ponto que mais atrapalhou a progressão do projeto?
( )Legislação sanitária
( )legislação ambiental
( )mercado (comercialização ? falta de consumidor local)
18. Porque você acha que o terminal de comercialização não esta em funcionamento ainda? Quais são os pontos de extrangulamento?
19. O projeto trouxe mais desenvolvimento para região?
20. Qual é a expectativa hoje em relação ao terminal de comercialização do Santuário?
21. Comercializa mais no local (agroindústria) ou em outros pontos de venda, mercados, feiras?
22. Se você tivesse que enumerar, quais são os principais problemas enfrentados na atividade?
QUESTIONÁRIO PREF. / EMATER / CONDESUS
1. Como foi o process