INTRODUÇÃO
O sudeste do Pará compreende os municípios ao redor da cidade de Marabá, situada a 500 km de Belém, onde cerca de 4.000 famílias obtiveram terras por meio da política de reforma agrária. Uma das principais estratégias de permanência na terra é o fortalecimento da produção. Por isso, o governo FHC criou em 1997, o projeto LUNIAR, no qual profissionais de várias áreas foram contratados para trabalhar diretamente nos assentamentos. Ainda durante o governo Fernando Henrique, o LUNIAR foi extinto. No entanto, esses profissionais se juntaram e formaram prestadoras de serviços – cooperativas de técnicos que são contratadas pelo INCRA ou obtém recursos de entidades financiadoras para trabalhar com as famílias “clientes” de reforma agrária in loco. Dentre essas prestadoras, estudamos os profissionais da maior cooperativa de técnicos do Pará-A COPSERVIÇOS, que atualmente trabalha em cerca de 110 assentamentos e com mais ou menos 3.000 famílias.
A Cooperativa de prestação de serviços-COPSERVIÇOS trabalha em parceria com os movimentos de representação dos agricultores: Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STR’s) e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAGRI). Estas entidades têm como direcionamento a diversificação da produção, a inclusão de práticas agroecológicas, o fortalecimento do mercado orgânico e solidário, a valorização da categoria agricultor familiar perante a sociedade e o reconhecimento da importância da assistência técnica na questão da produção e na melhoria da qualidade de vida destas famílias. A FETAGRI e os sindicatos participaram da criação da prestadora, além de exigir do INCRA que ela fosse a única contratada para trabalhar nos assentamentos representados por essas entidades.
Para fechar o elo, estas mesmas entidades fizeram parceria com ONG’s como a CPT (Comissão Pastoral da Terra), criaram em Marabá uma EFA (Escola Familiar Agrícola), na qual, além do ensino fundamental, há o ensino profissionalizante que visa capacitar agricultores e formar técnicos agrícolas. Muitos dos estudantes, após a formatura, vão trabalhar na COPSERVIÇOS.
Assim, queremos destacar que, se os técnicos que exercem esse contato com os agricultores e que levam as demandas do movimento não possuírem conhecimento e formação nos princípios e diretrizes da agroecologia , assim, não poderemos alcançar os objetivos pregados pelas entidades de representação.

MATERIAL E MÉTODOS
Estudamos o caso da cooperativa que atua nos seguintes municípios do Sudeste Paraense: Marabá, São Geraldo do Araguaia, Itupiranga, São Domingos do Araguaia, Piçarra, Parauapebas, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Nova Ipixuna e Xinguara.
Para este trabalho, foram realizadas entrevistas utilizando um questionário semi-estruturado com profissionais que já atuam na área, contratados pela referida prestadora de serviços, além de profesores da Escola Federal Agrotecnica de Casatanha e da Escola Familiar Agrícola (EFA) e estudantes do 3º ano do curso de Técnico Agrícola da EFA e da Escola Agrotecnica de Castanhal.
As questões levantaram dados qualitativos sobre a aprendizagem da agroecologia na escola, a visão dos alunos sobre essa questão e como os profissionais. Para os profissionais perguntamos como apresentam e discutem os princípios agroecológicos com os agricultores. Também tentamos observar se os alunos e os profissionais reconhecem a agroecologia nas práticas cotidianas dos agricultores da região.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na entrevistas com professores da Escola Federal Agrotécnica de Castanhal e da EFA foi possível perceber certa noção e não um domínio quanto ao papel da agroecologia como proposta de desenvolvimento, estes se mostram intereressados em discutir estes conceitos com os seus alunos. Já dos 10 alunos entrevistados, entre alunos da Escola Agrotécnica e da EFA, apenas 1 conseguiu formular e unir os conceitos de agroecologia ao de desenvolvimento sustentável, os demais afirmam que já ouviram falar de agroecologia, mas que não tem uma opinião formada sobre o assunto. Também entrevistamos 6 profissionais pertencentes ao quadro da COPSERVIÇOS, apenas 2 profissionais mostram uma noção de agroecologia que vai além da idéia de substituição de insumos e cerca de 4 profissionais associaram o conceito de desenvolvimento sustentável a uma maior “lucratividade” para o agricultor, vale detectar 100% dos entrevistados acreditam nas propostas agroecológicas, mas não há domínio dos princípios, a maioria cita a substituição de insumos como sinônimo de agroecologia.
Detectamos como avanços, a boa abertura por parte dos profissionais para respeitar e utilizar os saberes locais dos agricultores como alternativas para se alcançar do desenvolvimento local e a interdisciplinaridade no quadro dos profissionais que trabalham com a reforma agrária.
Todos os entrevistados sentem falta de uma formação mais voltadas para os principios agroecológicos e associados a idéia de desenvolvimento sustentável.

LITERATURA CITADA
Soglio, F. K. D. Como Avançar a Agricultura Ecológica para Além da Substituição de Insumos, 2003.

Altiere, M. A. e Yurjevic, A. A Agroecologia e o Desenvolvimento rural sustentável na América Latina, 1993.