O feijão é uma planta leguminosa cultivada desde tempos pré-históricos, sempre com o objetivo de ser consumido na forma de alimento. É um vegetal pouco exigente, necessitando apenas de solos de fertilidade média e climas que não sejam nem muito quentes ou frios, muito chuvosos ou muito secos. Assim, o plantio de feijão pode-se fazer com razoável facilidade em quase todas as áreas agrícolas do planeta.

Apresenta grande numero de variedades: algumas centenas de tipos diferentes que variam em tamanho, cor e sabor. Todas são consumidas como alimento, mas algumas são também industrializadas para a produção de farinhas, fertilizantes e rações.

Embora seja hoje cultivado em todos os continentes, sua origem ainda é bastante discutida. Alguns estudiosos afirmam que seu cultivo começou na Ásia tropical, particularmente no sul da Índia; outros acreditam que surgiu na América do Norte, nos altiplanos do México, para a maioria dos especialistas, porém, o feijão teve origem na América do Sul (Paraguai e sul do Brasil), onde era cultivado junto com o milho, a mandioca e o fumo. Dessa área expandiu-se para todo o continente americano e só por volta de 1540 foi introduzido na Europa, sendo mais tarde levado para a Ásia e para a África.

O feijão é um alimento muito rico em diferentes nutrientes para o organismo humano, apresentando uma composição média com os seguintes valores: 64% de carboidratos, 25% de proteínas e 11% de gorduras. Contém ainda uma grande concentração de vitaminas B e C, ácido cítrico; sacarose, globulina, entre outros componentes.

Nos países em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, as leguminosas de grão são utilizadas como fonte mais barata de proteínas e, por este motivo, são chamadas de "carne do pobre" .

A cultura do feijão no Brasil é uma das mais importantes, não só por fazer parte em grande proporção, da mesa da população, mas também por ser uma das principais fontes protéicas de nosso povo, alem de envolver uma grande área da produção cultivada na maior parte, por pequenos agricultores. O país é o maior produtor e consumidor mundial desta leguminosa.

Ao longo das últimas décadas, ocorreu substancial redução do consumo de feijão per capta no Brasil, caindo de 20,6 Kg/ano em 73/77 para 17,1kg/ano, em 1998/1990.Vários fatores podem explicar essa redução dentre eles o aumento do nível de urbanização, que provoca mudanças dos padrões de consumo, e o fato de o feijão exigir muito tempo de cocção, o que dificulta o seu consumo, visto que as mulheres estão cada vez mais se inserindo no mercado de trabalho, com redução no tempo de trabalho doméstico. Também o aumento na renda e a redução dos preços de produtos substitutos, entre eles a carne de frango, tem favorecido o consumo de outros alimentos, com a substituição da proteína vegetal pela animal. Apesar da tendência de redução no consumo per capta, o feijão continua a ser importante alternativa de suprimentos de proteínas para as classes de menor poder aquisitivo.

Com o objetivo de atender a demanda de crescimento da população surge a Revolução Verde, isto é, o rápido aumento da produtividade e da produção de trigo, arroz e milho em determinados países em desenvolvimento. Se persistir essa tendência sem o correspondente aumento da produção de feijão, o brasileiro sofrerá uma deterioração da qualidade de sua alimentação, pelo menos os operários e os camponeses, mais dependentes da proteína de origem vegetal.

A produção do feijão na região nordeste é menor que em outras regiões do Brasil pois é cultivado em suas maior parte, por pequenos produtores, com baixa tecnologia e que pouco usam sementes melhoradas. A média de produção na região é de 419 kg/ha, a região centro-oeste que apresenta a maior produtividade, a média é de 1060 kg/ha (VIEIRA:2000).

Dentre os genótipos cultivados no Brasil predomina o tipo "carioca" , representado por cultivares de grãos bege com estrias marrons. A maior parte da produção brasileira é proveniente do gênero PHASEOLUS (feijoeiro comum), originário das regiões elevadas da América Central (México, Guatemala e Costa Rica). Em menor percentual cultiva-se o gênero Vigna (feijão de corda) ou feijão macassar que tem a região nordeste como maior produtora. O Brasil tem produzido, nos últimos anos, em torno de 2,2 a 2,5 milhões de toneladas em aproximadamente 5 milhões de hectares cultivados. Os estados que mais produzem feijão são Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Goiás, e correspondem a quase 70% da quantidade produzida no Brasil. No Estado de Sergipe, a produção gira em torno de 20 mil toneladas com área plantada em torno de 50 mil hectares A área em estudo se destaca por ser a maior produtora desta leguminosa no Estado com uma produção de cerca de 5 mil toneladas por ano. No ano de 2004 a expectativa era que a produção atingisse a 38500 toneladas. No município de Poço Verde se planta uma variedade de mais de dez tipos de feijão, sendo que o mais plantado e conseqüentemente o mais procurado pelos atravessadores, segundo os donos de depósitos, é o tipo "carioca" que é exportado para São Paulo, Belo Horizonte, Espírito Santo e Recife. Em seguida o feijão do tipo "preto" que tem como destino o Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo e o tipo mulatinho que segue para Pernambuco e Alagoas. Alguns pequenos produtores poçoverdenses relataram estarem substituindo o plantio do feijão do tipo "carioca" (o de maior procura) pelo tipo "badajó", justificando que o primeiro é mais sensível as intempéries climáticas.

O feijão tem sua oferta assegurada durante todo o ano devido aos seus três sistemas produtivos distintos: feijão das águas, feijão da seca e feijão de inverno. O feijão das águas ou de primeira safra é colhido nos períodos de novembro a abril, e representa a maior parte da produção nacional (41%) tendo produtividade média de 926 kg/ha. O feijão de segunda safra ou da seca é colhido nos meses de maio, junho e julho, e tem a segunda maior produção (34%), e a menor produtividade (média de 521kg/ha). Essa baixa produtividade decorre dos maiores riscos de veranicos e ocorrência de ataque de mosca branca e mosaico dourado. O feijão de inverno ou terceira safra é colhido nos meses de agosto, setembro e outubro, sendo responsável por 25% da produção nacional. Apresenta o maior nível de tecnificação e produtividade (média de 925kg/ha). Este último é o sistema utilizado na área em estudo, já que esta se situa em região de clima semi-árido e sem o uso da irrigação. O plantio é feito nas primeiras chuvas de maio e a colheita entre os meses de agosto e setembro.

Com a predominância do cultivo em pequenas propriedades, o feijão no passado teve grande importância na absorção de mão-de-obra agrícola, especialmente a familiar. No município de Poço Verde,localizado no semi-árido sergipano, a produção do feijão até décadas passadas era feita de forma tradicional. Utilizava-se o trabalho humano feito com enxada, e a adubação era realizada com esterco animal. A produção era quase que totalmente destinada ao sustento da família. Mutirões, ou "adjutórios" eram organizados e as pessoas se reuniam para ajudar na roçagem, no plantio e na colheita. Após a colheita a produção era levada para as casas das fazendas e colocadas nos terreiros. Durante o dia batia-se o feijão, ou seja, pisava-se e batia-se com varas nas vagens para retirar as sementes. A noite era a hora de retirar a palha do milho. Esses trabalhos que envolviam todas as famílias eram desenvolvidos sobre o acompanhamento de comida, bebida e cantorias folclóricas. Essas descrições são relatadas pelos moradores mais antigos que demonstram grande saudosismo desse tempo. Atualmente no município de Poço Verde, os pequenos produtores já utilizam a mecanização tanto para o plantio como para a bata de feijão, por isso, na maioria das vezes a própria família dá conta do trabalho na roça e aluga o serviço do trator para o plantio e a colheita. Os empregados temporários são em número reduzido, cerca de 03 a 05 trabalhadores.

Clima

Devido ao sistema radicular pouco desenvolvido, o feijoeiro não é considerado muito tolerante à seca; daí a necessidade de um suprimento contínuo e adequado de água. Plantas com crescimento normal consomem de 2 a 3mm de água por dia na fase vegetativa e de 4 a 5 mm por dia durante o florescimento e enchimento dos grãos. A estimativa de consumo de água aproximada é de 300 a 400mm em todo o ciclo.

A diminuição das precipitações pluviais após a maturação dos grãos e a ausência de chuva na colheita beneficia a qualidade do produto. O ideal para o desenvolvimento e produção de feijão é que a precipitação pluviométrica ocorra até o ponto de maturação fisiológica.

Os riscos para produção dessa leguminosa são muitos. Os produtores poçoverdenses tem um dito popular que o plantio do feijão seria a cultura do "se" : se eu tivesse plantado uma semana antes ..., se tivesse chovido aquela semana ..., se eu tivesse deixado para colher na semana que vem .... enfim são riscos que o pequeno produtor descapitalizado enfrenta e que compromete a adimplência destes com o Banco. A exemplo do Sr. Dício, pequeno produtor rural residente no povoado Amargosa I- Poço Verde, que perdera toda sua produção de feijão já depois de colhida devida a uma chuva inesperada.

Solo

As considerações sobre o manejo da matéria orgânica, nas áreas onde vai ser cultivado o feijoeiro, merecem destaque especial. Essa planta é uma das que respondem mais acentuadamente á adubação verde e a orgânica, e tem sido demonstrado a importância da presença de massa vegetal semi-decomposta no crescimento e produção do feijoeiro. Efeitos semelhantes aos de adubação verde são obtidos com a aplicação de estercos, compostos e tortas. Os pequenos produtores de Poço Verde quando perguntados sobre a utilização de adubo na terra, em sua maioria declararam o uso de adubação química (MAP1-18/20) justificando que como o feijão tem um ciclo curto o resultado se torna imediato, já com o adubo orgânico o resultado só seria obtido de um ano para outro.

Sementes

A qualidade das sementes é de grande importância na lavoura de feijão, já que elas podem transmitir diversas doenças e é garantia de germinação. Ensaios de pesquisas mostraram aumentos de até 15% na produtividade somente com o uso de sementes escolhidas.

O governo manda sementes selecionadas para a prefeitura de Poço Verde que distribui para os pequenos produtores. A queixa desses agricultores é que a quantidade tem sido insuficiente e a semente chega com grande atraso. Neste ano de 2004 cada agricultor recebeu a quantia irrisória de 2 litros, nos anos anteriores a média era de 10 kg por produtor.

Tratos Culturais

Para se ter sucesso com a cultura de feijão, a lavoura deve ser mantida no limpo, isto é, livre de plantas daninhas pelo menos até o inicio do florescimento. Estas concorrem em água, luz e nutrientes com o feijoeiro, prejudicando a produção, além de hospedarem agentes que causam doenças e pragas. No município nenhum dos produtores perguntados utilizavam agrotóxicos, a justificativa é que não há necessidade. A única loja que vende este tipo de produto no município está para fechar pela venda inexpressiva. Foi comentado pelos produtores a presença da erva daninha ZABUMBA que se não retirada pode comprometer toda a produção. Esta não é nativa do município acredita-se que deve ter sido trazida ou no adubo, ou nas máquinas que vieram da Bahia.

Consórcio

Nos sistemas de consórcio duas ou mais culturas, com diferentes ciclos duas ou mais culturas, com diferentes ciclos e arquiteturas vegetativas, são exploradas concomitantemente no mesmo terreno. Elas não são semeadas necessariamente ao mesmo tempo, mas, durante grande parte de seus períodos de desenvolvimento, há uma simultaneidade, forçando uma interação entre elas.

O feijão é preferido nos consórcios culturais pelas seguintes razões:

a) é cultura de ciclo vegetativo curto e pouco competitiva;

b) pode ser semeado em diferentes épocas;

c) é cultura relativamente tolerante com a competição movida pela planta consorte;

d) é um dos alimentos básicos do povo brasileiro, e

e) seu preço geralmente alcança bons níveis,

Consórcio do feijão com o milho

O plantio associado de milho com feijão é pratica extremamente comum, não só no Brasil, mas também em outros países latino-americanos e mesmo fora do continente. No Brasil, esse sistema apresenta diversas modalidades. Quando o feijão é plantado simultaneamente com o milho este é denominado - feijão das "águas". Plantado quando o milho já está desenvolvido e começando a secar é chamado de - feijão da "seca" .Nas "águas" as fileiras de feijão ficam dentro da linha da outra cultura ou, então uma fileira do maio da rua do milho, mas por vezes, a leguminosa é semeada sem obedecer a nenhum alinhamento. Na "seca" , o feijão constitui cultivo de subsistência e, em geral, é distribuído entre os pés de milho, sem obedecer a nenhuma ordem, fechando todo espaço livre. Já o plantio do feijão antes do milho é menos comum. Os estudiosos afirmam que o plantio do feijão com alguma antecedência em relação ao milho beneficia o rendimento do primeiro, mas prejudica o segundo. (VIEIRA, 1989). Entre os pequenos produtores de Poço Verde o plantio das duas culturas é feita ao mesmo tempo.

O consorciamento de culturas tem sido desenvolvido entre os pequenos agricultores que procuram aproveitar ao máximo os limitados recursos ambientais de que dispõem. Assim, utilizando um nível tecnológico mais baixo, procuram maximizar os lucros, utilizar melhor a mão-de-obra muitas vezes apenas a da própria família. Quando uma cultura não vai bem, a outra poderá compensá-la.

Outras vantagens, apontadas por aqueles que defendem o consórcio são de dar melhor cobertura ao solo, diminuindo ou controlando a erosão, e garantir diversidade de dieta e fonte de renda. Alguns estudos provam ser mais lucrativo, em certos casos, plantar as duas culturas juntas do que separá-las.

A grande desvantagem do processo é que impede a utilização em maior grau de técnicas agrícolas mais eficientes e capazes de conduzir a altos rendimentos culturais. À medida que o nível tecnológico da agricultura evolui as culturas consorciadas tornam-se crescentemente mais difíceis de ser manejadas (VIEIRA: 1989).

Quando perguntado aos pequenos produtores de Poço Verde sobre o porque da opção pelo consorciamento estes afirmam que: "quando um não dá o outro dá...", além do que permiti um melhor aproveitamento da terra que é pouca. Vale destacar que alguns declaram que se pudessem não se utilizariam do consórcio pois para estes quando o plantio é feito separado possibilita uma rotação entre a cultura do feijão e do milho em um mesmo solo tornando o rendimento maior e facilitando a utilização das máquinas.

É importante ressaltar que o Banco do Brasil, maior fonte de financiamentos dos pequenos produtores do município, cortou os investimentos para aqueles que plantam o consorcio do feijão com o milho. A justificativa do banco é que o consórcio acaba atrapalhando o rendimento das culturas. O milho é extremamente exigente além de sombrear o feijão comprometendo assim seu desenvolvimento.

COMERCIALIZAÇÃO

A não organização dos agricultores em qualquer sistema associativista, na maioria dos estados da federação, a dispersão e o pequeno tamanho dos estabelecimentos produtores de feijão, deixam o setor produtivo vulnerável e dependente da atuação dos vários tipos de intermediários e contribuem, via de regra, para o rebaixamento da rentabilidade do agricultor e para a elevação do custo de distribuição. (VIEIRA , 1988)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VIEIRA. José Luiz Teixeira Marques ? ARTIGO: Produção e comercialização no Brasil ? livro Cultura do feijoeiro- 1988)

Manual Técnico das Culturas. 2ª ed. Ver. Atual. 2ª imp. Tomo I ? Cereais, Fibrosas, Leguminosas, Oleaginosas, Raízes e Tubérculos, Plantas Tropicais, Sacarinas.

VIEIRA, Clibas. O feijão em cultivos consorciados, Viçosa, UFV, Imp. UNIV, 1989.

VIEIRA, Clibas; JUNIOR, Trazilbo José de Paula; BORÉM, Aluízio. Feijão: aspectos gerais e cultura no Estado de Minas Gerais ? Viçosa: UFV, 1998.

VIEIRA, Edson Herculano Neves. Sementes de feijão: produção e tecnologia ? Santo Antônio de3 Goiás: Embrapa Arroz e feijão, 2000.