Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. (1 Coríntios 13:11)

Lembro-me que quando meus filhos eram pequenos, e aprontavam alguma arte, sempre perguntava a eles: O que você fez? Via de regra a pergunta era respondida com uma argumentação: Ah, mas também foi ela que deixou aquilo ali! Ou: Ah, foi ele quem começou!

Por que as crianças agem assim? Ninguém precisa ensiná-las, mas já faz parte da natureza humana querer justificar-se. Por que? Por dois motivos: primeiro para fugir da culpa ou não assumi-la pelo medo de possíveis conseqüências. Segundo, para reverter o quadro e passar de culpado para vítima.

Muitos adultos agem assim e isto demonstra total ausência de maturidade em suas vidas. Muitas são as diferenças entre um adulto e uma criança. Algumas São visíveis (físico) outras um pouco menos (comportamento), mas muitas são invisíveis ou pouco perceptíveis. Por exemplo: dificilmente um adulto assume suas falhas.

Nesta questão, podemos ver que muitas vezes sofisticamos nossas argumentações e mesmo nossas atitudes diante de um erro, por mais banal que ele seja. A sofisticação destes mecanismos de defesa demonstram que nos tornamos mais inteligentes e hábeis na arte de camuflar, de dissimular, mas que continuamos agindo exatamente como crianças.

Muitos tentam chamar a atenção para si não para anunciar “Gente, sou culpado, me perdoem”, mas para expor ao mundo que suas ações são frutos dos traumas e complexos que desenvolveram na infância e adolescência e que justificam ele agir daquela maneira.

A psicologia freudiana obteve tanto sucesso porque age nestas bases.

Sem dúvida, todos nós trazemos experiências traumáticas em nossas vidas. Uns mais e outros menos. Mas por que será que algumas pessoas que sofreram menos, insistem em carregar um fardo maior do que algumas que sofreram bem mais? Algumas lamentam profundamente que os pais nunca lhe deram aquele brinquedo que sempre desejaram enquanto outras que não tiveram nem pai, nem brinquedo, nem casa, nem comida, e hoje levam uma vida digna e continuam a batalhar, lutar e vivem felizes. Com dificuldades mas felizes! Há aquelas que choram até hoje porque um dia levaram uma palmada no bumbum e ligam este acontecimento ao fato de nunca conseguir concluir nada e se consideram perdedoras e fracassadas... por causa da palmada. Mas há outras ainda que carregam uma marca profunda na sua alma pelo fato de terem sido abusadas sexualmente por pais ou parentes... mas que aprenderam a superar estas barreiras, constituíram família e aprenderam a demonstrar amor verdadeiro aos filhos e cônjuge.

Uma grande maioria usa suas experiências passadas como máscaras, como subterfúgio para esconder seus erros e justificar suas atitudes. Pouquíssimas aprenderam que estas experiências poderiam servir como catalisadoras de seu caráter e foram edificadas com elas (por mais duras e difíceis que fossem). Estes vencedores ‘escalaram’ sobre suas experiências passadas para subirem mais alto.

Penso que um dos maiores segredos para se vencer na vida é aprender a superar seus traumas e o melhor remédio para isto é o perdão. Perdoar é esquecer emocionalmente do fato ocorrido. Seria tão bom se tivéssemos uma tecla delete em nossas mentes... Mas não temos. Dificilmente esqueceremos situações que nos marcaram profundamente, mas quando aprendemos e decidimos perdoar, podemos até nos lembrar, mas aquilo não nos abala mais.

Um passo além do perdão é aprender amar aqueles que nos ofenderam. Para alguns pode parecer difícil, impossível até. Mas amar o nosso inimigo (aqueles que nos feriram) é a mais alta e sublime demonstração de maturidade que podemos dar.

Então: 1. Decida a perdoar (seja lá quem for) a qualquer custo. 2. Fique com o prejuízo (seja lá o que for). 3. Assuma suas falhas independente do que você tenha vivenciado. 4. Aprenda a amar, mesmo que não tenha sido amado como esperava ser.

Na questão com meus filhos, eu insistia: Não estou perguntando por que você fez. Quero saber o que você fez. Então eles admitiam o que tinham feito de errado. O correto entendimento e resposta a esta pergunta era fundamental, porque assim eles poderiam confessar seu erro e desta maneira passaríamos a tratar o assunto da maneira adequada. Podia ser muito duro para eles aceitar todo este processo de reconhecimento, correção e educação. Mas no final, fazia questão de frisar que assim agíamos porque os amávamos.